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quarta-feira, 9 de julho de 2014

RAZÃO E EMOÇÃO

Retorno ao Leopideas por um choque, um trauma sem precedentes: a derrota do Brasil na semifinal da Copa do Mundo de 2014, em Belo Horizonte, Minas Gerais, por 7 x 1 perante a Alemanha. Mas para tentar fazer uma análise do impacto deste fato terei que dividir em duas partes, uma para a razão e outra para a emoção.

Iniciando pela razão, tendo a considerar o fato ocorrido como algo em certa medida antecipado. Sabíamos que a maior probabilidade era de uma derrota para a Alemanha, em que pese esta ter tido seus altos e baixos também durante a Copa, tínhamos clareza que sua equipe tinha um arsenal maior à disposição. Não concebíamos, porém, que a derrota se daria de forma tão acachapante.

Alguns motivos surgem, ao se dar uma olhada com a cabeça mais fria. Duas correntes se digladiavam entre os analistas esportivos, os especialistas de plantão: uma de que o Brasil deveria tentar enfrentar de igual para igual os germânicos, pois somente assim poderiam criar verdadeiras dificuldades para eles, dado que ainda não teriam tido sua defesa devidamente testada durante o torneio. Outros, dentre os quais me incluo, pregavam maior cautela – nas minhas palavras, “jogar como time pequeno, trancado” – em função do maior poderio para criação de jogadas ofensivas pelo nosso adversário.

No final das contas Felipão se alinhou com o primeiro grupo e deu no que deu. Nossas linhas de defesa, talvez à exceção do jogo contra a Colômbia – o que pode ter sido fatal para a miopia de nosso treinador – disputaram um campeonato muito distantes umas das outras. A própria inoperância do Fred é um exemplo deste defeito. Por estar isolado, distante do meio de campo, viveu na esperança de lampejos do Neymar para deixa-lo em condição de algum arremate final. Porém o craque do Barcelona não se encontrava em campo contra a Alemanha.

Vivemos quase exclusivamente de duas possibilidades: criatividade de nossos laterais – somente Marcelo se destacou nesse quesito, mas é muito pouco para enfrentar toda uma equipe – ou então lançamentos diretos de nossos defensores para nossos atacantes – Hulk, Fred e Neymar/Bernard. Enquanto isso, do outro lado, enfrentávamos uma equipe compacta, com toques rápidos – o tic-tac da Espanha ultraturbinado – que envolvida facilmente nossa defesa, com o acréscimo de que não tinham pudor em finalizar, diferentemente dos espanhóis, que mesmo no seu auge quase sempre preferiam finalizar as jogadas na pequena área.

Em resumo, não tínhamos a mínima chance e nos iludimos que a força da massa iria fazer a diferença. E se havia alguma chance, a estratégia equivocada adotada tratou de enterrá-la definitivamente. Porém, aí surge outra questão: essa derrota faz com que a realização da Copa do Mundo em nosso território tenha sido um erro? Deve ela ser objeto de uso pelos detratores do torneio a favor das teses defendidas anteriormente – de que os recursos destinados para a Copa do Mundo deveriam ser voltados para as necessidades básicas da população?

Inúmeras foram às vezes às quais me vi envolvido em debates pelas redes sociais sobre o tema. Minha visão sempre foi favorável à realização do campeonato, por ser este um antigo sonho de qualquer amante do futebol – ter o maior torneio do planeta em seu próprio país. Na edição anterior, na Copa de 1950, vivemos outro drama, que foi a derrota por 2 x 1 na final contra o Uruguai. Havia, assim, a esperança de que nesta nova edição pudéssemos exorcizar este fantasma de uma vez por todas, mas não com um trauma maior (o que é relativo, dado que naquela Copa éramos franco-favoritos, enquanto nesta já éramos vistos como zebras), mas sim com uma conquista ao final. Muito provavelmente não teremos essa nova chance tão cedo. É possível que eu, como meu pai, tenha que esperar passarem mais de 60 anos para ter essa perspectiva de emoção novamente, o que me leva a ser, necessariamente, um desses raros fenômenos de longevidade humana.

Ou seja, pelo lado esportivo, mesmo com a derrota, não me restam dúvidas de que deveríamos, sim, ter buscado ser sede. A Copa acabou se apresentando, inclusive, com um alto índice técnico, jogos super-emocionantes, decididos ao final, ou até mesmo na prorrogação e na disputa de penalidades. Pelo lado administrativo ainda estou convicto que muito foi iniciado por conta da alavanca que a Copa apresentou, porém, é claro, não sou cego à má administração de recursos, que por vezes se viram escoados para suportarem obras com valor absurdo. De outro lado, também acredito, tal qual o discurso governamental, de que os valores destinados para as necessidades da população estavam reservados e à salvo do desvio para outros rumos por conta da competição. Assim, os orçamento da educação, saúde e segurança em nenhum momento foram ameaçados. O que reforça o meu argumento mais utilizado: quero que todas estas necessidades sejam atendidas, assim como também quero e entendo ser meu direito enquanto cidadão, de ter também um lazer de qualidade garantido. E a Copa do Mundo se apresenta como uma grande oportunidade para isso – além de todo o aspecto econômico de inflar o turismo, atrair investimentos, etc.

Por isso não consigo compreender que os proprietários do slogan “Não Vai Ter Copa” se regozijem com a derrota, em campo, da seleção brasileira. Como afirmei para amigos próximos, torço e sempre torcerei pela seleção, quaisquer que sejam as circunstâncias. Tenho esse lado que alguns consideram piegas, o do patriotismo, sou assim, obrigado. Questões políticas são e devem ser resolvidas nas urnas, com votos conscientes, com campanhas que apresentem plataformas sérias e positivas de construção de uma sociedade igualitária, respeitadora das leis e que possa construir oportunidades para todos os seus. O lado esportivo não deveria ser afetado por este aspecto.

Well, até agora fiquei com o meu lado racional. Agora vou para a emoção. Obviamente que no dia 08 de Julho fiquei estupefato como tantos de nós. Porém, nas palavras de uma colega de trabalho, “após o 3º gol ficamos meio que anestesiados”. Passei a observar as reações dos meus diversos grupos de amigos via celular, alguns com tiradas engraçadíssimas, outros com lamentações e análises esportivas. Mas creio que ali, naquele momento, a ficha emocional ainda não tinha caído.

Passada a partida, minha primeira reação foi a de não querer ouvir nenhuma declaração dos participantes daquela tragédia esportiva. Dessa forma, estava dado o exemplo de como aquilo havia me afetado: eu não tinha condições e nem mesmo vontade de ver a tristeza e explicações para o inexplicável deles. A dor deles estava sendo a minha. Com muita dificuldade assisti os depoimentos de Júlio César e David Luiz, ambos às lágrimas, ainda em campo. O primeiro emocionou de tal forma o repórter – Tino Marcos – que este ficou com a voz também embargada.

Fui ler um livro, contrariamente dos outros dias da Copa, quando após atualizar o Bolão que organizo no trabalho, ia diretamente ouvir e ver as resenhas esportivas nos canais de TV a Cabo. Após adiantar a leitura e cochilar um pouco, jantei e, enquanto escovava os dentes, me dei o direito de tentar ver como estava o clima nos programas esportivos. A ESPN Brasil, a qual já foi objeto de análise da minha parte neste mesmo blog, continuava sua linha dura para com a seleção. Mauro Cézar Pereira bradava em alto e bom som que esperava que nunca mais o Felipão, o Murtosa e o Parreira assumissem a seleção. O José Trajano fazia ironia, comparando a atuação de Júlio César a do goleiro alemão, Manuel Neuer, citando a defesa que este último o fez no jogo das quartas de final contra a França, defendendo um chute do atacante francês Karim Benzema no último minuto. Ora, será que o cronista não percebeu que as circunstâncias eram totalmente distintas? Júlio César, no lance do último gol – Schuerer – já se encontrava moralmente batido, enquanto o goleiro alemão disputava então uma partida super-equilibrada, fato que faz com que a adrenalina fique no seu nível máximo, turbinando o metabolismo e deixando os reflexos mais apurados? Ou seja, o estilo “jogar pedra” e se regozijar com a derrota permaneceu. Realmente não dava para acompanhar. Passei para um canal de filmes, e assisti um daqueles, estilo “água com açúcar”, até dormir.

No dia seguinte, trabalhar. Tomei a barca cedo, na perspectiva de uma reunião que se aproximava. Não queria ouvir ninguém comentando sobre o jogo em meio a multidão, então tentava desviar a minha atenção daqueles grupos de pessoas que praticavam um dos esportes humanos mais comuns, que é o de rir da desgraça alheia. Em dado momento, de pé na barca, fechei os olhos e fiquei rezando, somente me dando conta então do peso, da carga que levaria enquanto torcedor para os anos – que deverão ser longos – vindouros. Quatro derrotas anteriores exemplificam isso: a de 50, já citada, e mesmo que não vivida pessoalmente, era por mim sofrida, tão lembrada que era a todo momento pelos vizinhos uruguaios; a de 82, na qual o sofrimento se dá pelo potencial da seleção que possuíamos, e não tanto pela ação de nossos carrascos, reconhecedores que são do feito alcançado naquela ocasião; a de 90, tão relembrada pelos argentinos, nossos arquirrivais no futebol – como eu lamento o Alemão não ter dado uma banda no Maradona quando teve oportunidade... -; e a de 98, objeto de um gesto dos franceses, de abrir a mão com os três dedos à mostra, denotando a sova que nos haviam aplicado na final daquela Copa. Pois bem, espero que os alemães tenham mais espírito esportivo – tocados pela cerveja e euforia os torcedores alemães, no próprio Mineirão, cantavam “Rio de Janeiro” e “Brasil”, este último em ironia, ao final do jogo – no porvir, para que não tenhamos motivos adicionais para relembrar desta humilhação.

Ou seja, emocionalmente estou tocado. Sei que isto é apenas esporte, que o lado racional diz que existem coisas mais importantes na vida, mas sou assim. Amo de paixão o futebol, o acompanho desde pequeno, ele é parte intrínseca da minha vida. Vou sentir esse fardo pesar durante muito tempo. Uma grande amiga uruguaia me ligou e eu simplesmente lhe disse: “Não estou autorizado a falar sobre futebol, hoje”. Pode ser que esse “hoje” se prolongue por muito tempo. Espero que não. Mas levando-se em conta que nossa maior derrota até então era um 6 x 0 para o Uruguai, em 1920, não nutro muitas esperanças de um troco à altura enquanto estiver vivo.


Sei que a vida nos prega peças, que por vezes somos surpreendidos, mas espero que na próxima seja por um motivo de alegria. Vai ser duro assistir uma partida da seleção de agora em diante. Deus queira que eu esteja errado e isso passe rápido, que uma nova mentalidade surja e que passemos a jogar um futebol moderno, de toques de primeira, ocupando os espaços, sem depender tanto das individualidades. A Espanha dominou o futebol durante 08 anos assim e teve o seu modelo aprimorado pela Alemanha. Resta-nos aprender esta lição para que tenhamos nossos corações apaziguados o mais rapidamente possível. E pensar que tem Copa América no Chile, no ano que vem. Já posso até imaginar qual será o mote das torcidas adversárias. Mas tudo passa. A nossa hora virá.

sábado, 30 de junho de 2012

DESPEDIDA

A jornada foi longa. Pude trocar idéias com vocês por praticamente dois anos. Conversamos sobre diversas coisas, comportamento, esportes, filmes, livros, religião, etc. Alguns de vocês apresentaram seus pontos de vista. Outros, compartilharam os meus com seus amigos e talvez tenham, neste momento, pontuado suas considerações. Alguns permaneceram em silêncio, mas tocados de alguma forma. E ainda deve ter existido aquele grupo que pensou: “Mas que saco esses e-mails, textos, posts, etc”.

Mesmos esses últimos os considero meus leitores. Uma linha que me acompanhou – e creio, acompanhará sempre – é que o ser humano é complexo, multifacetado, dando margem a diversas interpretações e ações. Não temos que julgar ninguém, afinal, também temos nossos dias de fúria, aqueles em que cometemos erros ou acertos, dependendo do ponto de vista.

Colocaram para mim certa vez que eu, em meus escritos, sempre deixo uma porta aberta para a alternativa. Conscientemente ou inconscientemente não vejo como ser diferente. Minha meta, com Leopideas, era instigar a reflexão a partir da minha visão, mas sem negar as dos outros jamais.

Interessante observar como os assuntos mais polêmicos giraram em torno de dois temas, na qual opiniões sólidas, extremas, não convergiam para um consenso: religião e a extradição ou não de um estrangeiro em terras brasileiras. E os que mais fizeram sucesso foram vinculados a trajetória dos seres humanos em retomada das suas vidas ou até mesmo pela construção paulatina de seus parâmetros comportamentais: André Agassi e domesticação (de animais ou seres humanos).

Ou seja, pelo lado mais polêmico, tínhamos questões as quais posições totalmente divergentes, aparentemente sem possibilidade de consenso, geraram um debate que apontou os diversos prismas de uma mesma questão. Êxito! De outro, mesmo não gerando polêmica, foram distribuídas por um grande público, por iniciativa de vocês mesmos, talvez porque muita gente precisasse refletir sobre tais temas. Êxito novamente! Consenso, dissenso. Dois lados de uma mesma moeda. Não existe vitória única no diálogo. A conquista é de todos.

Dessa forma, penso que cumpri minha missão. Não somente para com vocês, mas para comigo mesmo. Eu também usufruí da sua presença, pois vocês me instigaram a escrever, algo que faço com grande prazer. Mas, ao mesmo tempo, também sou muitas vezes fustigado por um sentimento de obrigação, o que não é nada bom. A fluidez se perde, e isso é transposto para o texto.

Além disso, há um fator de prioridade! Etapas da vida são ultrapassadas, e temos que saber dosar nosso tempo para bem aproveitá-lo. É fato que o início desta caminhada foi, mais uma vez, uma válvula de escape para o vale em que me encontrava. Não saí totalmente dele, mas já me sinto forte o suficiente para subir a montanha. Isto devo a vocês, que me ouviram, leram, olharam para os olhos desse pingüim, apontaram meus erros e qualidades, abriram a clareira para que eu pudesse ver a trilha.

Fica aqui, nessa despedida, nesse até breve, o meu agradecimento. Foi sugerido que eu concentrasse meus escritos nas resenhas literárias, gênero o qual eu teria uma qualidade maior. Talvez essa seja uma empreitada futura, não sei ainda. Já comecei a refletir num nome para um novo blog nesse sentido, mas certamente vocês serão os primeiros a saber. Pois, se eu me auto-intitulo companheiro para vida, um companheiro precisa de parceiros, senão seria um solitário. Vocês estão comigo e eu estou com vocês, senão fisicamente, em mente e coração. Até a próxima!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

QUITO

O turismo histórico, aquele que baseia seu sucesso na visita de uma leva de curiosos a ruínas, museus, cidades antigas, etc, tem distintas vertentes se olhados para os diferentes continentes. Na Ásia faz sucesso o Palácio do Imperador na China, assim como a Grande Muralha, reflexos de tempos idos que parecem querer voltar, quando aquele país dominava grande parte do mundo.

No Japão, por sua vez, pouco se fala das relíquias históricas, sendo a única exceção um ser humano, o próprio Imperador. Seria como se todo o país tivesse parado no tempo quando as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki assombraram o mundo. Quando se fala em história no Japão, este seria o marco zero, o da retomada. Talvez o cineasta Akira Kurosawa negasse isso, mas aos olhos do mundo moderno de hoje, Japão é sinônimo de tecnologia – pelo menos é o que os turistas buscam primeiro ao pisar na terra do Sol Nascente.

Quando nos dirigimos para a Europa, existe todo um circuito financeiro pautado pelo interesse turístico em torno de castelos, museus, da cultura de seus antigos escritores, reis e cientistas. Seria como se a Europa, organizada como é, tivesse conseguido o feito de bem catalogar suas qualidades, potencializando sua divulgação. Um exemplo disso é a bela Paris turística, que tem seus méritos na Torre Eiffel e no Louvre, mas que passa ao largo dos subúrbios cheios de imigrantes e das mazelas do desemprego.

Obviamente o intuito de chocar é explícito nesta colocação, mesmo que não esteja distante da verdade, uma vez que este autor se aproveita do símbolo máximo, da créme de la creme, como diriam os próprios franceses, que a Europa tem a nos oferecer. Se bem que eu, particularmente, salvo infortúnios na alfândega, acho que irei preferir a Espanha, quando tiver a oportunidade de conhecer os dois países.

Este já longuíssimo prólogo é para bem contextualizar meus sentimentos para com Quito, capital do Equador, a qual tive oportunidade de visitar, profissionalmente, por duas vezes nos últimos 3 anos. Quando pensamos no estereótipo de uma cidade andina imaginamos os representantes da cultura inca, maia e asteca – e aqui posso estar falando uma grande bobagem geográfica, pelo pouco conhecimento que possuo sobre a matéria, o que de uma certa forma não deixa de representar a típica soberba do turista que se acha culto – se esbaldando pelas ruas, a importunar os estrangeiros, como pedintes ou para vender os apitos típicos da Praça XV no Rio de Janeiro.

À parte a gigantesca profusão de Igrejas, que faz com que Quito, em seu Centro histórico nos lembre demais Salvador, na Bahia, nada tão longe de uma cidade multifacetada. Quito possui parques arborizados, ótimos para se manter a forma, isso para quem consegue correr com o ar rarefeito de lá. Na sua parte moderna, a cidade apresenta um casario de grande beleza, assim como prédios que não ficam a dever a nenhuma metrópole.

Da mesma forma, porém, que Paris, isso não dá para esconder os rincões de pobreza existentes em seu entorno. E é engraçado fazer essa comparação. Porque o que será tão globalizado quanto a desigualdade social hoje em dia existente em todo o mundo? Não importa o nível de desenvolvimento da sociedade, salvo, talvez, raras exceções escandinavas, mas todos os países possuem seus pobres, parcela da população que muitas vezes fica escondida aos nossos olhos deslumbrados por estarmos fora de nosso país.

Quito, como a maioria das cidades latino-americanas, tem, pelo menos, esta qualidade: a sinceridade em não esconder o seu povo. Enquanto isso, na Europa, discursos direitistas pregam o isolacionismo dos seus em relação aos bárbaros. Meu Deus, as letras, o que as letras nos fazem! Imaginei eu em escrever sobre Quito, inicio falando de História, faço um libelo contra a desigualdade de sentimentos entre os povos, para então retornar, encerrando com a lembrança de que todos nós temos um pé na cozinha, quer seja uma cozinha dos vikings, ou de uma taba, ou de uma pequena aldeia na África! Viva Quito!

sábado, 23 de junho de 2012

GRAMADO

No final do ano passado fomos, em família, à Gramado, para viver a experiência do evento conhecido como Natal Luz. Posso dizer que em termos pessoais valeu cada centavo pago. Permanecemos bem localizados, num hotel próximo ao centro da cidade. O deslocamento, que já não seria um problema, foi de todo modo facilitado pela agência de viagens que nos auxiliou no agendamento das três atrações principais.

Destas a que mais encantou ao casal foi o Nativitaten. Um misto de ópera ao ar livre com show de fogos de artifício, em que os artistas principais ficam localizados em meio a um lago. Levando-se em conta que para dar maior brilho à festa existem ainda canhões de laser fazendo imagens caleidoscópicas, e o famoso gelo seco de todo entretenimento. Mesmo com o ar de programa de turista, não deixa de impressionar – como acredito que impressionem as mulatas do Plataforma e o tango em Buenos Aires.

Porém, para a nossa pequena, assustada que ficou com o barulho gerado pelos fogos, a preferência recaiu sobre o desfile de Natal, na principal avenida da cidade. Parecia uma parada daquelas que vemos os americanos fazerem, sem, porém, os gigantescos balões de gás. A organização impressiona, com lugares marcados por toda a extensão da pista nas arquibancadas laterais. A lastimar os preços dos alimentos e lembranças – um DVD custava R$ 60,00. Ou seja, só mesmo sendo muito turista típico para entrar nessa!

Em terceiro lugar tivemos a peça de teatro infantil, encenada num gigantesco espaço ao ar livre, chamada “A Fantástica Fábrica de Natal”. Em que pese a beleza dos figurinos, extremamente coloridos para chamar a atenção das crianças, estávamos por demais distantes do palco, nas arquibancadas ao fundo, prejudicados ainda por uma coluna que estava bem a nossa frente.

Mas estas atrações foram todas realizadas durante a noite, naquela semana que passamos por lá. Havia ainda os passeios durante o dia, dos quais o que fez mais sucesso, não somente pela linda paisagem, mas também pelo apelo histórico, foi a visita à produção de vinhos no Vale dos Vinhedos. Tivemos direito, inclusive, a uma degustação. Ora, vocês sabem que não sou um apreciador de bebidas alcoólicas. Porém, cumprir o ritual – até mesmo porque a dose é mínima – foi divertido.

Um aspecto a parte foi a guia que nos acompanhou a maior parte do tempo. De típica ascendência alemã, era extremamente rigorosa com os horários, ameaçando a todo momento com a saída do ônibus e o possível esquecimento de alguém, que ficaria para trás. De tão constante era o clima tenso nesse sentido que acabou ficando engraçado.

Por último devo dizer que fazer este programa em família é uma lavagem na alma. Voltamos à infância e o simples fato de ver a felicidade nos olhos de nossos entes queridos já vale à pena. Deve ser por isso que é denominado Natal Luz: é a chance de iluminar mentes e corações por um mundo melhor.

OBS 1: o mundo quase de faz de conta de Gramado, sem cercas, com seus jardins, como se fosse uma cidade européia, impressiona tanto quanto as atrações festivas. A cidade é muito bem cuidada, com casas que parecem saídas de postais suíços. Se não fosse o calor típico do verão brasileiro a nos lembrar que estávamos nos trópicos poderíamos nos enganar facilmente.

OBS 2: ainda sob o aspecto apontado na observação anterior, é impressionante o contraste com a cidade vizinha, Canela. Esta parece descuidada em relação à irmã mais famosa.

OBS 3: perdi o apontador de meu celular no Nativitaten. Sem problemas. Foi o que menos importou...

domingo, 17 de junho de 2012

A QUEM DE DIREITO

O que é gestão? E o que é o bom gestor? Essas são perguntas que nos cercam quando somos convidados a assumir uma função, projeto, cargo, whatever que tenha a ver com a condução de uma equipe, ou seja, pessoas. Mas quando vamos ao dicionário o vínculo direto com a “gestão de pessoas” inexiste. Seria como se esse último fosse um subconjunto daquela primeira.

Passamos então a procurar boas referências, algo no qual possamos nos espelhar para nos bem conduzir na atividade para a qual estamos abraçando. Essas referências normalmente estão vinculadas com uma ideologia pessoal que vamos construindo com o passar dos anos. Chamo de ideologia pessoal aquelas teorias que mais nos tocam e que pelo nosso bom senso entendemos ser a mais adequada para ser aplicada no ambiente em que vivemos. Outros poderiam dizer que isso é a pura definição de política. Nesse sentido, uma serve a outra? A gestão é alimentada e induzida pela política e vice-versa?

Para o Houaiss, gestão é “1. Ato ou efeito de gerir; administração, gerência 2. Mandato político [...]” e política é “1. Arte ou ciência de governar [...] 8. Fig. Habilidade no relacionar-se com os outros tendo em vista a obtenção de resultados desejados [...]”. Dessa forma, nessa obra de referência a junção das duas definições alcança, enfim, a ligação que me toca diretamente quando falamos em gestão.

Esse extenso prólogo tem como propósito expor para vocês uma experiência que tive ao final de 2011, em testemunhar a excelência de gestão que existe no Brasil. Na verdade, a expressão “ilhas de excelência” nunca foi tão adequada, uma vez que um dos exemplos que tive a oportunidade de testemunhar localiza-se justamente numa ilha – Florianópolis.

Fui, por motivos profissionais, à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Lá chegando, após ter cumprido minha missão acadêmica, mantive contato com a estrutura do Curso de Pós-Graduação em Direito daquela Universidade. Equipamentos e estrutura de primeiro mundo, mobiliário moderno e novo, todas as condições para que o estudante possa se dedicar de corpo e alma ao seu objeto de pesquisa. E aí novamente me assaltou aquela pergunta inicial: o que é gestão?

De minha experiência universitária – e porque não dizer, de vida – nota-se claramente que o Judiciário e tudo que tem algum tipo de conexão com esta seara da comunidade, consegue efetivamente condições benéficas para sua condução. Prédios modernos são construídos para ser sede de tribunais, a melhor remuneração no serviço público se encontra naquele Poder, e os magistrados são respeitados como uma classe à parte da sociedade. Seria a gestão deles diferenciada de todo o resto ou seria meramente um sólido casulo político, por ser a base de todo o entendimento da humanidade como o pilar para se viver em comunidade?

Obviamente contatos com os mais altos escalões auxiliam demasiado o gestor a ser prolífico quando atua no campo do Direito. Dessa forma, a política por mim anteriormente citada surge como o principal instrumento facilitador de uma gestão nesta área. Conceitualmente as Faculdades de Direito são tidas como núcleos de defesa do conservadorismo. E isto seria um atrativo e tanto para que as elites incentivassem sua estruturação. Mas essa seria a única razão? Além disso, preconceitos dos setores ditos “de esquerda” invalidariam a área do Direito como exemplo a ser seguido em termos de gestão?

Tentando responder a essas perguntas partimos para a análise de um paradigma: conhecimento é poder, parece que sobre isto não cabe mais dúvida. Em meados do século XX as famílias ansiavam ter seus filhos trilhando os caminhos do Direito, Engenharia ou Medicina, todas carreiras nas quais a cultura aprofundada é condição sem a qual ninguém prospera. Mas esta é uma verdade que, levando-se em conta a evolução da disseminação da informação, com a internet, e sua filtragem a partir das referências que construímos como pessoas, moldando a nossa personalidade, passaram a permear um sem número de outras profissões, facilitando o alcance de objetivos traçados.

Tendo em vista este novo contexto em que a sociedade humana está inserida, cabe hoje que apenas determinados grupos tenham acesso às facilidades e ao que existe de melhor no mundo moderno? Penso que a resposta é não. Dessa forma, resta trabalharmos por uma melhor gestão, de pessoas e recursos, que se reflitirá na distribuição de conhecimento e melhores condições a todos os pesquisadores, de todas as áreas, utilizando de maneira inteligente os artifícios políticos para tal, alcançando a quem de direito, ou seja, a toda a Humanidade.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

COISAS DAS QUAIS SENTIMOS FALTA

Recebi no final do ano passada a dica de leitura e possível sugestão de escrita sobre um tema o qual o Sr. Cassius Medauar, jornalista free-lancer, teria elaborado. Ele escreveu um texto sobre as “Sete Coisas de que o Freela Sente Falta” – http://www.publishnews.com.br/telas/colunas/detalhes.aspx?id=66523 .

Inspirado pela abordagem então adotada, imaginei o que poderia escrever em termos similares. Uma alternativa seria produzir algo genérico, do tipo “o que eu sinto falta”. Mas, acompanhando o ponto de vista de que ele o fez a partir de sua experiência profissional, escolhi escrever com base no que um servidor público sente falta. Não sei se alcançarei o número de 07 coisas, mas farei um esforço pela minha inventividade.

(1)    Como servidor do Poder Executivo, sentimos falta da possibilidade de ganhar salários similares aos praticados no Poder Judiciário e no Legislativo. Porém, o senso de cidadão aponta, de modo contrário, por um maior equilíbrio de valores. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Antes precisamos fazer valer o reconhecimento por nossos serviços, o que leva ao segundo ponto;
(2)    Maior reconhecimento. O serviço público é uma área em que a máxima de que muitos pagam por poucos é válida para diversos campos, inclusive o financeiro acima apontado. Porém, o que me incomoda mais é que enquanto alguns literalmente “se encostam no balcão”, reforçando o estereótipo do servidor público que não quer nada com o trabalho, tantos outros, de grande dedicação à sociedade para qual trabalham, têm que agüentar os comentários do tipo: - “Ah, você é servidor público? Que vida boa, heim!?”. Poucos são os que vêem aqueles que chegam cedo e saem tarde, que dão sangue, suor e lágrimas para bem representar o Brasil e conduzir dignamente suas ações;
(3)    Algum tipo de Fundo de Garantia, como existe na área privada. Muito se discute a construção de algo nesse sentido, em função do impacto benéfico que poderia ter sobre as contas públicas caso isso minorasse o buraco da Previdência. Porém, pouco se evolui nesse sentido, pois o temor pela perda dos benefícios é maior do que a vontade de ter um instrumento deste tipo;
(4)    Algo que Medauar citou no seu texto e que temos em comum: trabalhar de bermudas. Ele se corrigiu ao final, falando que possui tal benesse por trabalhar em casa, mas os servidores públicos – e da área privada também – não o tem. Num país tropical como o nosso o Casual Day poderia ser pensado de maneira mais flexível, radical mesmo;
(5)    Estrutura. Um dos grandes dilemas do serviço público é como lidar para construir uma estrutura que beneficie aqueles que o buscam sem termos os melhores instrumentos de mercado para atender o contribuinte. Isso se reflete em função da Lei 8.666, que regula todo o processo de compras na área pública. A política da vitória do menor preço, sempre, contribui, por exemplo, para desvios de conduta. Recentemente foi divulgado como servidores mal-intencionados, de conluio com empresas privadas, podem burlar esta regra num processo licitatório. Caso nós tivéssemos a possibilidade, com o devido acompanhamento e transparência, de praticar a política de preço e qualidade do produto, com uma abordagem de custo-benefício, certamente a máquina do Governo poderia ter os melhores instrumentos – equipamentos, software, profissionais especializados para o desenvolvimento de um projeto, etc – para construir a melhor estrutura possível de trabalho;
(6)    O estabelecimento do exame psicotécnico como uma das etapas do concurso público. Levando-se em conta a indústria de concursos hoje em dia, mais e mais profissionais bem qualificados iniciam carreira junto ao Governo. Porém, também existem os chamados “Concurseiros Profissionais”, que muitas vezes são a semente daqueles servidores “de balcão” citados acima. E existem até mesmo os casos de loucura típica. O contrangimento em limá-los do trabalho quando do estágio probatório é tanto que estes são mantidos em detrimento da boa condução do trabalho – e da segurança dos colegas, algumas vezes;
(7)    Por último – e não é que eu cheguei ao ponto 7 – voar de executiva em viagens longas, a trabalho. Este privilégio é reservado apenas aos dirigentes máximos das instituições. Porém, muitos são os gerentes de nível médio que dedicam horas de trabalho em viagens de longo curso, representando os interesses do Brasil, e que têm que viajar de econômica, chegando “quebrados” para tal tarefa de alto relevo.

Entenderei perfeitamente as considerações contrárias ao que muitos já entendem como uma classe superprivilegiada. Isso faz parte do processo de reconhecimento supracitado – de longe, a meu ver, o ponto mais importante da lista acima, pois geraria benefícios sobre todos os demais apontados. Mas não podemos exigir que o contribuinte entenda a realidade de pressão e pouca estrutura com a qual convivemos. Diria, assim, que isto foi apenas um desabafo. E vida que segue, pois há muito trabalho a se fazer.

domingo, 10 de junho de 2012

TOCA DE ASSIS

Já fui chamado de mestre do desapego. Em que pese gostar do título – e de elogios diversos, quem não gosta, até mesmo aqueles que dizem não gostar! – infelizmente não acredito ser merecedor do mesmo. Para avaliar essa questão deveríamos começar pelo que entendemos como “desapego”.

Na minha visão, desapego, para ser total, deveria ser a desvinculação irrestrita de tudo que venha a ser um bem material. Poucos podem, portanto, trazer essa alcunha para si. Mesmo os comunistas mais ferrenhos – Oscar Niemeyer, por exemplo – não se “desapegam” dos seus bens materiais. Continuam a viver nos seus palácios de cristal, pregando a igualdade entre os povos e distribuição igualitária de posses – desde é claro que tais não compreendam os seus já ditos palácios de cristal.

Mas aí, para não dizer que eu fui demais parcial na minha análise, o que o sistema capitalista tem a oferecer como contraponto? Aqueles que têm posses, digamos, “exageradas”, descobriram um grande veio para contribuir para a sociedade, muitas vezes – a maioria, digamos – com interesses fiscais e de conquista de consumidores para os seus produtos. São as atividades de cunho social que servem não somente como propaganda de suas empresas, mas como também para apaziguar almas conturbadas com seus ganhos, como dito acima, “exagerados”.

Ora, fiz acima dois retratos caricatos de situações extremas. O exagero no meu discurso tem o objetivo de demonstrar, claramente, que o desapego irrestrito é extremamente difícil. Assim como o ser humano é por demais complexo, com múltiplas facetas. Mas aí lhes pergunto: por conta disso, de não sermos completamente “desapegados”, devemos nos condenar? Claro que não. Mas também não podemos avocar para nós mesmos essa qualidade quase super-humana.

Digo a vocês, porém, que existem sim exemplos muito próximos desse perfil. Os franciscanos, uma ordem católica que prega a dedicação extrema ao semelhante, sem nada em troca, poderia ser um exemplo. Os críticos da Igreja Católica poderiam argumentar que eles seriam um instrumento de manipulação para sua própria propaganda, no sentido de atrair multidões com sua face de beneplácito extremo. Mas e se olharmos para os indivíduos engajados, será que eles têm realmente este tipo de preocupação?

Para tanto, sugiro a vocês que conheçam o projeto chamado “Toca de Assis” – www.tocadeassis.org.br . Localizada em diversos pontos do Brasil e até mesmo do exterior, é uma instituição na qual franciscanos respeitam de forma rígida os votos de pobreza, castidade e obediência, tendo como missão, além do aspecto religioso, cuidar dos pobres em situação de rua.

Pois bem, era aí que eu queria chegar. Quem já tentou sair da proteção do seu lar, com a iniciativa de buscar um diálogo com a população de rua, deve saber o quão difícil é esta empreitada, principalmente no aspecto emocional. E olha que eu estou falando de pessoas que se predispõem a fazer isso tendo a segurança de que voltarão para o seu ninho com toda a estrutura que ele pode oferecer. Então, o que dizer de pessoas que largam suas famílias, seus lares, para viver em abrigos simples, sem aceitar nenhum bem material para si, mas somente para a ordem, de maneira a criar um sustentáculo que lhes propicie a oportunidade de cuidar de moradores de rua? Muitas vezes passando noites em claro abordando esses mesmos moradores, tentando indicar-lhes um caminho de retomada da vida. Isso sim é desapego!

Olha, vou ser sincero, mestre do desapego, não, estou muito longe disto. Se eu puder, ao menos, seguir um pouco da filosofia de São Francisco, talvez eu esteja um centésimo próximo do exemplo que dei acima:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa , que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido,
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se nasce para a vida eterna...
Fonte: http://www.caminhosdeluz.org/A-116Ca.htm - acessado em 31/12/2011.