Pesquisar este blog

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

ANTROPOCENO

Por várias vezes me vi interessado por filmes pós- apocalípticos, em que humanos têm que lidar com os escombros de sua interferência no planeta Terra, buscando a sobrevivência às custas uns dos outros. Alguns exemplos seriam a trilogia “Mad Max”, iniciada em 1979 e que teve Mel Gibson como astro principal; a série “Exterminador do Futuro”, que teve seu primeiro episódio em 1984, capitaneada por Arnold Schwarzenegger; e o mais recente – e por mim ainda não vista – “O Livro de Eli” (2010), tendo como protagonista Denzel Washington.

O que chama atenção em cada um destes é que existe uma perspectiva tremendamente negativa do impacto da humanidade sobre o planeta. Na comunidade científica esta Era de prevalência do homem vem sendo chamada de Antropoceno. Mesmo não sendo ainda uma unanimidade – e isto fica claro na reportagem da National Geographic Brasil (NGB) – edição Março/2011 – págs. 62-83 – tal nomenclatura ou honra a ser dada ao Homo Sapiens fica difícil ignorar que nós efetivamente estamos influenciando o meio que nos cerca.

O que me questiono é se as teorias cataclísmicas estão realmente mais próximas da verdade ou se ainda há tempo para revertermos um processo maléfico de deteriorização do ambiente em que vivemos. A reportagem da NGB tem um tom negativo, até mesmo pelas fotos nelas presentes – uma cidade árabe com seus arranha-céus em pleno deserto; uma praia da Toscana gerada a partir da poluição da indústria química circunvizinha; postos de exploração de petróleo na Califórnia, etc. Quando olhamos de uma perspectiva macro, parece-nos difícil deter tal tendência. Mas e se olhamos em termos micro, estaríamos cada um de nós tentando realmente paralisar tal processo?

Não vou começar aqui um discurso ecologista extremista. Até mesmo porque sendo bem sincero não é o meu perfil. Mas algumas pequenas atitudes tomo. Sempre jogo lixo na lixeira, tendo o cuidado de que quando existe uma destinação específica – papel, metal, orgânico – fazer a devida separação. Porém a estrutura de nossas cidades ainda não está suficientemente voltada para estas iniciativas – pelo menos no Brasil. Não desperdiço comida. O que vai ao prato será consumido. E algumas vezes consumo o que está nos pratos dos amigos – isso eles bem o sabem. Procuro deixar os ambientes com a luz apagada e desligo as máquinas da Academia que freqüento quando não as estou utilizando – é muito comum encontrar as esteiras com seus visores ligados, mesmo sem ninguém as utilizando.

É o suficiente? Claro que não. Mas eu não gostaria de olhar para daqui a duzentos anos e encontrar escombros de megacidades como sendo a única herança a deixar para os meus descendentes. Aí lhes faço uma outra pergunta: aquelas caixas do tempo que são enterradas vez em quando em jardins e solenidades, o que vocês gostariam que elas contivessem como lembrança do período atual? Elas contém, além de objetos dos dias de hoje, uma carta na qual apontamos nossos desejos para o futuro e até mesmo indicamos como este o será. Da minha parte ela seria assim constituída:

Camisas das seleções brasileiras de futebol e vôlei
Um livro
Um CD de música
Uma foto da minha família
Sementes
Um prato e talheres

Na carta eu desejaria que as lembranças ali contidas representassem o modo como a cultura mais me tocava, desejando que os homens do futuro ainda pudessem praticar esportes; ler um bom livro sem ser na tela do computador, mas editado em papel reciclado; pudessem ouvir uma boa música sem serem interrompidos pelo som de balas perdidas; que minha família tivesse uma descendência orgulhosa do futuro que foi plantado; e que se mesmo assim, nada disso existisse, que as sementes servissem para germinar o alimento que seria consumido com o prato e os talheres que lá se encontrariam.