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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

OS PRÓXIMOS 3 DIAS

Ansiedade e princípios. Se existe um filme que lida diretamente com estes temas este atende pelo nome de “Os Próximos 3 Dias” (2010), com Russell Crowe como protagonista de uma estória também conhecida como “72 horas”. Neste filme o personagem de Crowe, cujo nome é John Brennan, tem sua esposa acusada de um crime. Todas as evidências apontam para a sua culpabilidade, mas ele duvida de que tal fato seja verdade e se empenha para desvendar o caso, aparentemente sem sucesso.

Diante da inevitabilidade da condenação da esposa, e observando sua vida se esfacelar, sem a possibilidade de reconduzi-la, juntamente com o seu filho pequeno, ao estágio anterior ao turbilhão em que se viu inserido, toma uma decisão radical. O desenrolar dos acontecimentos vai se dando em ordem decrescente – 3 anos antes, 3 meses antes, 3 dias antes... – o que vai elevando a tensão e o suspense entre os espectadores para o que está para acontecer.

Desta forma o filme desafia a todos nós refletirmos sobre os temas que apontei no início do post: ansiedade e princípios. Ansiedade está aí inserida uma vez que vivemos numa sociedade em que tudo é para ontem. De repente somos observadores de uma estória em que o personagem principal é obrigado a ter paciência, a ser meticuloso, a planejar tudo nos mínimos detalhes para que na hora correta nada possa dar errado.

Quantas vezes nos damos tempo para tal atitude em nossas vidas? Ainda mais quando somos submetidos a uma pressão extrema! Desse modo, a alegoria do filme se presta a esse sentido, uma vez que o seu protagonista sofre a maior das pressões: alcançar um objetivo sem o qual sua amada será sacrificada, mortalmente. Teríamos algo próximo disso em nosso dia a dia?

Em paralelo ao controle extremo da ansiedade, John Brennan se vê tendo que lidar com um mundo com o qual não está habituado, com novas referências, nem sempre boas. Além disso, terá também que proteger seus entes queridos – pais e filho – de toda a influência maléfica do furacão pelo qual sua vida está passando. Como se vê, não é um filme para fracos de espírito.

Uma série de decisões ele terá que tomar, algumas delas vão contra os princípios que norteiam a vida das pessoas de bem. Aí a questão colocada é: até que limite nos propomos a ir para defender nossa família, o amor de nossa vida? Não basta apenas coragem, mas segurança de que a decisão tomada não está equivocada, em que pese tudo apontar ao contrário. Quantos de nós seríamos capazes de superar a tudo e a todos os olhares da sociedade dizendo que estamos errados, que estamos agindo contrariamente ao que toda uma comunidade entende como o correto?

A cada momento somos desafiados por pequenas decisões – quantas colheres de açúcar colocaremos no café; quantas laudas escreverei hoje na minha tese; lerei aquele livro que está na prateleira ou aproveitarei o sol para uma boa caminhada? Decisões simples, leves, mas quando percebemos nos agoniamos por bobagens e somos arrastados para dar um simples passo para frente. Temos nossa estrutura dilapidada pouco a pouco, a tal ponto que quando nos vemos desafiados por desventuras de maior peso, potencialmente já estamos fracionados o suficiente para sequer mover um músculo. Precisamos de ajuda...

Assim, convido-os a uma reflexão:

Pare
Pense
Respire
Expire
Viva
Deleite-se
Aproveite
Enjoy yourself
And your life will be much better!

E por muito mais que 72 horas!!!

O pinguim reflete, sob o Sol de Búzios.

Fonte:
http://www.imdb.com/title/tt1458175/ - acessada em 07 de Agosto de 2011.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

QUEDA DE GIGANTES

Não devo negar que sou chegado a “novelas mexicanas”, alcunha construída no seio familiar para aquelas histórias longas, algumas vezes piegas, que tem muita fofoca e armações dos personagens uns contra os outros. Tal característica “colou” principalmente quando eu acompanhava “Barrados no Baile”, em sua primeira versão, que durou 10 temporadas (1990-2000) (1).

Feita esta colocação vocês vão entender um pouco melhor à conclusão que chego sobre o primeiro livro da nova trilogia, denominada “O Século”, do escritor Ken Follet – autor de “Pilares da Terra”, épico lançado a mais de 20 anos e até hoje um grande sucesso de vendas. Nesta nova trilogia, cujo “Queda de Gigantes” – 912 págs – Ed. Sextante – RJ – 2010 - é apenas o primeiro capítulo, o autor pretende acompanhar a saga de 5 diferentes famílias durante o transcorrer do século XX – mais “Dallas” impossível, apenas para citar mais uma série célebre da televisão, esta produzida entre 1978 e 1991 (2).

É claro, portanto, que no ato da compra do livro o que me instigou tenha sido justamente aquela minha faceta de espectador de “novelas mexicanas”, porque não dizer. Porém a obra em si demonstrou porque Follet já é um autor consagrado como produtor de Best Sellers. Ele consegue aliar a faceta “melodramática” – “Na Grã-Bretanha, o destino dos Williams, uma família de mineradores de Gales do Sul, acaba irremediavelmente ligado por amor e ódio ao dos aristocráticos Fitzherberts, proprietários da mina de carvão onde Billy Williams vai trabalhar aos 13 anos e donos da bela mansão em que sua irmã Ethel, é governanta” – com uma acurada pesquisa histórica, situando o primeiro ato em meio à Primeira Guerra Mundial.

Ou seja, além de ter o lado “popular”, “Queda de Gigantes” serve para instigar e introduzir, de maneira equilibrada, o leitor no universo de um dos mais importantes períodos da História, e que veio a pautar uma série de desdobramentos no decorrer do século passado. A preocupação mesmo com o equilíbrio e o respeito aos fatos, assim como o cruzamento dos acontecimentos entre fatos reais e fictícios, foi tão explícito que autor escreveu um pósfácio para explicar o seu método em termos de isenção – “Minha regra é: ou a cena de fato aconteceu, ou poderia ter acontecido; ou as palavras foram de fato usadas; ou poderiam ter sido. E, caso eu encontre algum motivo que impossibilite a cena de ter acontecido na vida real, ou as palavras de terem sido ditas – como, por exemplo, se o personagem estivesse em outro país na ocasião-, deixo a passagem de fora”.

Para terminar, devo dizer que outro mérito da obra é o de equilibrar as visões dos distintos lados envolvidos no conflito bélico, obviamente contextualizando em relação às suas realidades nacionais internas. Digo isto porque além da família britânica, temos russos, alemães e norte-americanos. E em cada um desses núcleos, diferentes opiniões são apresentadas a respeito do mérito ou não de se iniciar e desenvolver uma guerra (3).

Enfim, resta-me agora esperar pelos próximos capítulos. O segundo está previsto para este ano (2012), quando terá como pano de fundo a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, e o terceiro para 2014, ambientado durante a Guerra Fria. Mas isto não será difícil para quem já leu todos os seis livros de “Duna”, de Frank Herbert, os sete livros de “A Torre Negra”, de Stephen King, os quatro livros de “As Brumas de Avalon”, de Marion Zimmer Bradley, os dois volumes de “Musashi”, de Eiji Yoshikawa, e assim por diante...

(3)    Acredito que, de maneira menos profunda do que Clint Eastwood tenha feito em “Cartas de Iwo Jima” e “Conquista da Honra”, ambos de 2006, em que o diretor e produtor apresenta, respectivamente, a visão japonesa (inclusive no idioma original) e norte-americana sobre os combates na Segunda Guerra Mundial no Oceano Pacífico.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

BÚZIOS

Viajar é uma ação voltada para a reflexão. Ficamos fora do nosso habitat, nos vemos ao lado de referências estranhas, quer sejam coisas, lugares ou pessoas. Isto nos leva a avaliar se o nosso cotidiano, tão cheio de deveres, não poderia ser mais leve, ou pelo menos baseado em valores distintos.

Vocês poderiam dizer: ah, mas ele está falando disso porque está pensando em viagens de férias. Pois eu lhes digo: as viagens a trabalho – eu as faço muitas – também têm essa característica. O problema é quando as viagens de férias se tornam viagens de trabalho. O seu interior, que necessitava de uma imersão, se vê submerso e atolado em problemas que não lhe deixarão viver o melhor da vida ao lado das pessoas que você mais ama.

Nas viagens a trabalho, temos colegas, alguns mais próximos, outros nem tanto. Nas viagens a trabalho, algumas vezes só, se enfrentam problemas do seu cotidiano, mesmo estando longe fisicamente. Isso significa dizer que não existe um relaxamento real. Mesmo no happy hour sua consciência lhe deixa em alerta para que os mínimos movimentos não sejam mal interpretados. Se você não está consciente nesta hora, no dia seguinte provavelmente sua consciência virá pela boca dos outros, e isso num ambiente profissional, em que pese a galhofa, não ajuda muito. O trabalho passa a ser de 24 hs, full time mesmo, e é por isso que parafraseio Jesus quando ouço pessoas falando que gostariam de trabalhar viajando – perdoai, Senhor, eles não sabem o que fazem ou o que dizem.

A vida nos ensina muitas coisas, mesmo que não percebamos naquele exato instante em que a estamos vivendo. Na primeira vez que fui a Búzios com minha família – esposa e filha – me desloquei para um balneário que somente tinha ouvido falar durante toda a minha infância. A imagem que me chegava era de uma localidade de pessoas ricas, de bem com a vida. Ficamos em Geribá, na Pousada Corais e Conchas (www.coraiseconchas.com.br). Foi ótimo, constatamos que a Argentina efetivamente tem uma província no Brasil. Pude treinar meu espanhol, ferramenta essencial no trabalho. Trabalho, trabalho este o qual não deixava de checar ao ver os e-mails no computador com acesso a internet na recepção.

Na segunda vez que fomos, tão agradável foi a primeira viagem, levamos um grupo maior de pessoas, para a mesma pousada. Cunhada, prima, meus pais nos acompanharam, e nos divertimos muito – meu pai adorou a TV a Cabo e o ar-condicionado, evitando pegar Sol e resmungando o tempo todo. Mas é meu pai e eu o amo assim mesmo. Os e-mails continuavam chegando e eram checados em tempo real, a rotina do trabalho ofuscando a retina.

Na terceira vez, novamente somente o nosso núcleo familiar, nos hospedamos na praia da Ferradura – Ferradura Resort (www.ferraduraresort.com.br). Desta vez, porém, o clima no trabalho não andava bom. A pressão atingira níveis insuportáveis, levando a destruir o clima de paz em que eu me encontrava com a minha família. Trabalho e família. Viagem no meio. O isolamento precioso não foi alcançado. Palavras duras foram jogadas ao vento. O abatimento derruba os mais fortes. Porém, se são fortes, se são bravos, vergam, mas não quebram.

Na quarta vez, voltamos ao Ferradura Resort. Com uma diferença, eu havia prometido a mim mesmo que ninguém iria me alcançar, que o trabalho não iria me perturbar. Off line fiquei por duas semanas, resgatei a alegria e a imagem de um lugar de péssima lembrança para mim. Li três livros, ri com minha esposa e filhas, senti o Sol e as gotas de chuva. Vivi a vida!

Búzios para mim portanto significa diversas facetas da minha vida: o ultra-workaholic assumido, devorado pelas circunstâncias, mas desapercebido de suas conseqüências; a pessoa que se preocupa com sua família como um todo; e por último aquele que busca se desapegar por completo. Cada uma dessas fases – ou momentos – não são isolados. Fazem parte de um contínuo que pode ir e voltar. Resta a nós cicatrizar as feridas e nos tornarmos cada vez mais fortes. Se a sorte significa alguma coisa nessa trajetória? Sim, claro, sem ela não teria encontrado minha filha, que não teria surgido da esposa maravilhosa que tenho. Este texto, e tudo que vivi e vivo, são dedicados a elas. E ao Sol de Búzios...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

THOR E CAPITÃO AMÉRICA

Se aproxima a época da folia momesca e nada melhor do que falar de dois super-heróis. Afinal, se é de fantasia que o povo precisa, não existe melhor inspiração.

Em verdade, assisti recentemente estes dois filmes por conta de minha preparação para assistir “Os Vingadores”, que deve estrear ainda este ano, reunindo estes supracitados no título do post a Hulk e Homem de Ferro, para falar somente dos mais conhecidos, sob o guarda-chuva da Shield (escudo), uma organização que lutaria contra malfeitores de toda espécie. Mas este é um post para o futuro. Vamos falar isoladamente destes dois heróis.

“Thor” (2011) tem como personagem central um super-herói saído das lendas nórdicas. Seria o Deus do Trovão, filho de Odin, irmão de Loki. No início da película, ambos irmãos, ainda meninos, ouvem de Odin sobre a grande tarefa que terão pela frente quando herdarem o reino de Asgard (1). Este seria um dos noves reinos que conformariam a estrutura planetária básica em torno da qual giraria o universo. A Terra seria outro desses reinos, por assim dizer.

Ora, para uma trama que envolve traições dentro da realeza, além de sentimentos de lealdade entre cavaleiros que cresceram juntos, para enfrentar uma derradeira batalha longe dos seus domínios, ou seja, um enredo muito próximo do universo shakesperiano, nada melhor do que convidar um diretor com experiência no gênero. Nesse sentido os produtores acertaram em mão cheia, pois Kenneth Branagh (2) tem em sua biografia inúmeros trabalhos de sucesso tendo como base o bardo inglês, tais como “Henrique V” (1989), “Muito Barulho Por Nada” (1993), “Othelo” (1995) e “Hamlet” (1996).

Dessa forma, o tom cadenciado de uma obra do grande autor é transposto para os personagens mitológicos escandinavos. Um pouco se perde, em favor da ação e da comédia, na segunda parte do filme, mais focada, aí sim, na caracterização de herói dos quadrinhos tendo que salvar os terráqueos de mais uma ameaça. Um amigo meu fez uma crítica adicional ao filme que foi o fato da atriz Natalie Portman, posteriormente consagrada por sua atuação em “Cisne Negro” (2011) ter sido subutilizada. Ambos os aspectos podem ser debitados, porém, a necessidades práticas. A faceta caricatural de Thor era necessária até mesmo para uma ponte futura com os Vingadores e seu relacionamento contínuo com a realidade dos meros mortais. Ou seja, ele não viveria eternamente em seu reino de deuses com poderes sobrenaturais. Já Ms. Portman (3) ainda não tinha desabrochado para os holofotes, e sua função no filme era mesmo de ser um chamariz romântico para o astro principal da história, e não para ofuscá-lo.

Já em relação ao “Capitão América” (2011) existe um ganho na clarividência imediata para o telespectador, qual seja, este não é enganado pensando em que vai receber uma coisa e recebe outra (4). Desde o princípio o mote principal do filme é retratar o esforço norte-americano durante a 2ª Guerra Mundial tendo como base o estereótipo do super-soldado – gancho para a criação do personagem principal, interpretado por Chris Evans, o mesmo ator que interpretou Tocha Humana (5) do “Quarteto Fantástico” (2005).

Dessa forma, a ênfase na caricaturização do ambiente, típico do folhetim que lhe deu origem, com um vilão – o Caveira Vermelha – identificado desde seu início para fazer o contra-ponto, com sua ambição desmedida – ser o dono do mundo! – em favor de um personagem caracterizado como um homem bom, de coração puro, é nada mais nada menos a corrente que prende os fãs das novelas – a eterna luta do bem contra o mal, mocinho e bandido, bonito e feio, etc. Se alguém vai esperando algo mais desse tipo de filme, esqueça, coloque a pipoca para esquentar e relaxe! E, como tem sido típico nas sagas dos heróis da Marvel na telona, não deixe de assistir as cenas extras pós-créditos. Costumam reservar as melhores surpresas – isso sem falar em que fazem a devida amarração entre os universos dos distintos heróis. Se vocês fossem me perguntar se valeu a pena, então, devo dizer apenas que estou doido para que os Vingadores estréiem. O que vocês acham?

(1)    Para mais detalhes ver http://www.adorocinema.com/filmes/thor/ .
(2)    Para mais detalhes ver http://www.imdb.pt/name/nm0000110/filmotype .
(3)    Para mais detalhes sobre Cisne Negro ver http://www.cinepop.com.br/filmes/cisnenegro.php

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

MOURINHO

“MOURO adj. e s.m. (Do lat. maurus) [...] 2. Na Idade Média e no Renascimento, os sarracenos que conquistaram a Espanha e Portugal. [...]”
Fonte: Grande Enciclopédia Larousse Cultural – pág. 4108 – Ed. Nova Cultural – 1995

José Mourinho, o polêmico treinador português, vem fazendo de sua trajetória à frente do Real Madrid uma verdadeira cruzada contra o time que vem dominando o cenário internacional, o Barcelona. Seria uma batalha perdida? A história do futebol diz que não, pois é mais do que normal que de tempos em tempos uma equipe se sobressaia e acabe deixando as demais como meras coadjuvantes. Mas esse tempo passa, e é bom estar preparado para ocupar esta lacuna.

A diferença é que aparentemente pela sua qualidade como treinador Mourinho não tem muita paciência. Na sua primeira empreitada a frente do Porto, de Portugal, conquistou a Liga dos Campeões da Europa – num time que tinha, entre os brasileiros, Carlos Alberto (ex-Flu, Vasco, Bahia, Grêmio, Botafogo, Corinthians, São Paulo - ufa!) e Diego (um dos meninos da Vila, da geração do Robinho) – e o Mundial Interclubes. Depois se transferiu para o Chelsea, colocando o time inglês no patamar dos gigantes, com uma boa ajuda dos cofres de um magnata russo. Por último, antes de chegar no Real, fez da Inter de Milão novamente campeã da Europa, após uma sucessão de títulos italianos. Ou seja, é um cara que busca incessantemente suas metas, e normalmente as alcança.

Por isso tudo que lhes disse acima, e não pelos destemperos em seus tempos de Espanha – com direito a dedo no olho do auxiliar-técnico do Barcelona! – é que Mourinho era o meu favorito para ser o técnico da Seleção Brasileira pós-Dunga.

Esperem, quando digo isto coloco um cenário o qual poderíamos escolher qualquer um. Num contexto mais, digamos, “realista”, eu havia imaginado o Muricy para o lugar. E quase que emplaco essa aposta. Porém o atual treinador dos Santos fez forfait – se proposital ou não, usado de artifícios escusos ou não, é uma discussão para outro momento – e não assumiu este desafio. E aí está o meu gancho para justificar o que escrevi no parágrafo anterior.

Quando o cargo de treinador da seleção ficou vago, após a Copa de 2010, comecei a fazer um exercício mental de quem teria coragem e estaria mais talhado para dirigir o Brasil numa Copa a ser realizada por aqui mesmo. Teria que ser alguém especial, pois a pressão seria enorme, a crítica seria implacável durante o período de preparação, tamanha a expectativa gerada. Não importa se estamos ou não passando por uma entressafra, um novo 1950 é inaceitável para os brasileiros!

Pois bem, tendo isso em mente perguntei-me: “Por que não um treinador estrangeiro? Um olhar de fora, alguém que não se sentiria tão apegado às paixões ou mesmo à responsabilidade seria o ideal”. O problema de imediato que me surgiu foi a questão do idioma. Porque a arte de domar 23 jogadores de futebol de alto nível é, mais do que simplesmente passar a tática específica para o jogo, é demonstrar a paixão e o sentimento que o cerca no discurso a ser conduzido pelo treinador para com os treinandos. Nisso o Joel Santanna é um mestre, e a campanha da África do Sul na Copa das Confederações de 2009 não me deixa mentir. Quem poderia ultrapassar estas barreiras, então?

José Mourinho era a solução! Treinador de altíssimo nível, falava português, estudioso e ao mesmo tempo tinha a paixão necessária para passar o combustível que a equipe canarinho necessitaria para enfrentar tudo que viria pela frente até 2014, pensei eu à época. Perguntariam vocês: mas e o salário? Ora, eu é que lhes pergunto: será que ele não aceitaria um desafio profissional como esse – ser campeão mundial dirigindo a Seleção Brasileira, numa Copa no Brasil???? A perspectiva de ser campeão – algo que a Seleção Portuguesa, a qual ele não aceitou dirigir, não dá até o momento – certamente seria um fator em termos de diferencial para ele aceitar uma remuneração um pouco mais baixa. Porém, aparentemente tal idéia não passou na cabeça de nenhum dirigente. É pena, mano, porque nossa vida promete ser dura até 2014.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

JOHN E O JACARÉ AMARELO

Sonhos são manifestações do inconsciente sobre temas os quais guardamos para nós mesmos, normalmente. Porém, para aqueles com alguma necessidade de interpretação – quer seja por curiosidade, quer seja por motivos profissionais – eles parecem sim ser algo muito doido em seus enredos. Na noite anterior em que escrevo estas linhas tive um daqueles, o qual passo a narrar:

Eu e minha esposa havíamos sido convidados para um final de semana prolongado na casa de veraneio de Susana, que ficava no litoral da Bahia. Chegando por lá na véspera do início do dito período, e como a anfitriã já tinha reservado outros quartos para outros hóspedes, pernoitamos na sala mesmo – imensa, com um sofá em L no canto. Muito chique, era de muito bom gosto, como é peculiar na minha amiga Desenhista Industrial.

No meio da noite ouço uma voz como a me convidar para jogar frescobol. Isso mesmo, bem no meio da sala. Ora, é um sonho, então tudo é possível. Passo a jogar com alguém que não aparece na penumbra do outro canto da sala. A bola vai e vem e tenho pleno domínio do jogo. Para alguém tão desastrado como eu, somente em sonho mesmo. Pergunto o nome da pessoa que está jogando comigo e ele se identifica como John Ritter.

Curiosamente Ritter é o sobrenome de família, por parte materna, do meu pai. Peço uma prova de que ele é realmente bom de mira. O porquê, sei lá. Ele atira duas flechas. Ambas saem do mesmo canto, na mesma penumbra, não dando para ver sua origem, e se alojam na mesinha de canto, no eixo do supracitado sofá em L.

Pela manhã, consulto Susana sobre a existência do tal John Ritter, o qual ela desconhece. Me traz então as regras da casa – algo como uma convenção de condomínio – para ver se ajuda na minha investigação. Me chama a atenção que o andar superior da casa é reservado para os empregados. Moderna e muito chique a minha amiga. Acho que ela tem a pretensão de distribuir iPads para todos da comunidade. Está esperando apenas um patrocinador, via Lei Rouanet.

Reclamo que aquele texto, conforme apresentado, estava muito “quadrado” no que diz respeito a sua apresentação, levando-se em conta o perfil de Susana. É o que os especialistas chamam “Efeito Moerbeck” – uma vez atingido este nível, não há como retroagir, sob o risco de virar chacota pública. Digo a ela com todas as letras: - “Susana, índice é coisa antiga. Vou lhe dizer como leio um texto, qualquer que seja: vou lendo; caso chegue a um ponto eu que eu acho ele chato – ‘boring’ – aí sim procuro o índice para ver se existe algo que se possa aproveitar naquela obra”. Acredito que eu tenha quisto dizer que escritor que se preze, se garante e não coloca índice.

Como aquele texto não adiantou nada para elucidar o mistério do fantasma Ritter, Susana chama por seu marido, que atende pela estranha alcunha de Olhento. Não sei a origem do nome, provavelmente deve ser holandesa. Não Susana, é um sonho, mas ele não tinha a cara do Brad Pitt. Tava mais para Francisco Cuoco – “dinheiro na mão é vendaval” – com bigodinho e óculos de grau. Ok Susana, eu sei que o Brad Pitt já fez personagens assim, mas definitivamente não era ele. Se contente com o Chico, ou melhor, o Olhento. Ah, ele não sabia nada sobre o tal de John.

Vou então passear próximo ao lago que fica dentro da propriedade, em frente à casa – já falei que Susana é muito rica, né!? Porém, uma força estranha me agarra e me joga para dentro do lago. E adivinhem: nele habita um jacaré amarelo!!!!!! Não é do papo amarelo, é amarelo mesmo! E com uma cauda bipartida. Pensei que iria virar comida de jacaré, sacanagem do John – só podia ter sido ele – me jogar dentro do lago! E o jacaré era imenso. Mas o cachorro de estimação da Susana salta no lago para lutar com o dito cujo. Consegue distraí-lo, mordendo e rosnando para a tal cauda. Não a dele, a do jacaré, a bipartida. Aí descubro que a cauda, em cada ponta, tem uma cabeça diferente!!!!! A cabeça do cachorro da Susana vira uma cabeça de leão!!!! Tudo muito louco, mas o que interessa é que consigo escapar.

Naquela noite tenho um sonho. É isto mesmo: um sonho dentro do sonho. Sonho que conheço um Padre, tipo do filme “Padre”, justiceiro que só (1)! Este padre tem uns super-heróis que ele carrega dentro da batina. Não são bonecos, são, sei lá, almas fortes para chuchu, com roupa de super-herói. Eles se prontificam a destruir o tal do John Ritter. Para isso o Padre decide ir por um caminho, no meio de uma floresta. Só que, como tava muito calor, ele decide que não é hora de liberar os amigos super-heróis. Guarda a batina e monta no cavalo – como se fosse um caubói – para ir atrás de um cortejo fúnebre. Este é composto por um carro com 4 cavaleiros, 2 de cada lado. O problema é que quando o padre tira a batina, ele fica só de cueca. Isso é lá jeito que se apresente um padre!!!! De cueca e chapéu de caubói!?

Pela manhã, quando acordo, conto este sonho para todos os convidados da casa. Todos riem e falam para deixar essa estória de John para lá. E a partir daí aproveitamos o fim de semana prolongado na Bahia.

Conclusões a que chego:

(a)    John Ritter é um pé no saco. E eu não conheço nenhum John Ritter;
(b)   Padre de cueca e chapéu de caubói só na Bahia mesmo;
(c)    Me amarro no cão de estimação da Susana;
(d)   Que diabos eu comi no dia anterior deste sonho???

(1)    O mundo foi devastado por uma guerra entre humanos e vampiros que durou séculos. Com o final do combate, um Padre Guerreiro foi forçado a viver escondido entre os cidadãos comuns em uma cidade completamente controlada pela Igreja. Mas tudo muda quando sua sobrinha é sequestrada por um grupo de sanguinários vampiros, que estão voltando a atacar após o breve período de paz. Contrariando as ordens da Igreja, o Padre parte em busca de sua familiar, contando com a ajuda do namorado da garota e de uma poderosa Padre Guerreira, especialista em combate”. Para mais detalhes ver http://www.interfilmes.com/filme_17191_priest.html . O filme é de 2011.