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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM TEM JUÍZO

Uma pergunta que atormenta a todos que estão iniciando sua trajetória profissional, logo ao saírem da faculdade, é como lidar com a pressão de se manter no emprego, ainda mais se for aquele que sempre foi almejado e que, por seu talento, obtido quando ainda se está em início de carreira. Particularmente sempre achei que a melhor resposta para esta questão é a dedicação esmerada em suas tarefas, que, via de regra, lhe trará um crescimento qualitativo paulatino, na medida em que se adquire maior e mais profundo conhecimento sobre as ferramentas atinentes ao seu trabalho.

Porém, a resposta não é tão simples assim. Na maior parte das vezes estamos inseridos numa competição ferrenha por espaço, o que nos leva em dado momento a nos questionarmos se os princípios os quais sempre acreditamos são realmente válidos para nos tornarmos vitoriosos em meio à luta na selva. Este é o início da derrocada, a meu ver. Por receio ou por uma falta de competência ainda não adquirida nos aferramos a práticas que inibem nossa participação e crescimento profissionais efetivos mediante a exposição ao risco, inerente a cada ato e decisão que tomamos em nossas vidas.

O célebre ditado popular “Manda quem pode, obedece quem tem juízo” espelha a situação acima descrita. O profissional muitas vezes se vê tolhido diante de um superior hierárquico que não necessariamente possui as mesmas qualificações e não tem coragem de expor claramente suas idéias com receio de ser, no mínimo, advertido aos olhos de todos os demais colegas. Na pior das hipóteses, infelizmente fato corriqueiro na iniciativa privada, corre até mesmo o risco de ser demitido. Afirmo: pior para a empresa que referenda tal atitude.

O problema é que em tempos de busca desenfreada por emprego, não se pode condenar aqueles que passam a jogar na defensiva, sem se expor, por adotarem esta atitude. Lamenta-se, mas não se condena. O bom colega, ao observar uma situação como essa, deve ser prestativo e apontar possíveis saídas e oportunidades para que aquele profissional possa crescer. Estaria eu sendo ingênuo ao afirmar isso? Sou sabedor da disputa direta existente por cargos e funções. Mas pense em longo prazo. Se a empresa em que trabalhas for bem sucedida e lucrativa, seu emprego estará garantido e novas oportunidades surgirão. Além disso, ganharás um companheiro tremendamente agradecido pelo apoio que destes.

Talvez, nesse momento, os críticos “realistas” do discurso até aqui por mim apresentado digam: - “Mas e a vaidade humana, meu caro? É, esta mesma que impede que fiquemos alegres em elogiar um amigo? Aquela que gera a inveja e nos imobiliza em tomar uma boa atitude?”. É verdade. Rotineiramente nos vemos enredados por tais sentimentos, e não sabemos em lidar com eles. Ou pior. Escolhemos o caminho mais fácil, que é o de não se envolver. Afinal, o problema não é nosso, não é?

Não é? Mais uma vez lhes digo: falta visão de longo prazo, falta visão sobre que imagem será gerada e deixada não somente para os colegas de trabalho, mas também para aqueles amigos e entes próximos que tanto de admiram. Ou vocês acham que estes passarão a mão em suas cabeças quando observarem que você adotou atitudes vis para subir na carreira?

Outros poderiam dizer: - “Ah, mas você fala isso porque está no serviço público, não tem o que temer. Não pode perder o emprego!”. É fato! A estabilidade é um bem enorme dado ao serviço público e muitas vezes subestimado. Ele foi dado em prol de que o profissional uma vez lá instalado possa atuar da melhor forma possível, consciente dos seus limites enquanto um prestador de serviços ao povo. E uma das principais qualidades geradas por essa característica é liberdade irrestrita de questionar decisões consideradas equivocadas, para o bem da atuação governamental em prol da população que paga seus salários.

Mas o pior é que mesmo em ambientes assim vemos, infelizmente, o quanto a luta pelo poder gera profissionais que mais bem buscam seu próprio benefício, alçar sua imagem a um patamar elevado, em detrimento de valores e princípios éticos de conduta e atuação na busca por um melhor resultado visando o bem da população. Se perdem nos descaminhos mesquinhos da vivência na “repartição”, tal qual séria produzida há alguns anos pela Globo, denominada “Os Aspones”, conhecida corruptela para “assessores de p... nenhuma”.

Estaremos nós um dia livres de tal mazela? Infelizmente penso que não, pois desde que o homem é homem se entende que poderá dobrar o outro pelo meio da força e persuasão. E se compraz com o prazer de fazê-lo sem se preocupar com as conseqüências. Seria isso uma singela definição de “poder absoluto”? Acredito que sim. Porém, lhes digo que se depender de mim o mundo será melhor nesse sentido, pois sempre buscarei respeitar o trinômio ética, bom senso e justiça. O trabalho pautado por estas características sempre será duradouro em longo prazo, não importa o ambiente, se privado ou público, não importa se grande ou pequeno, se com cargo ou sem função. Temos que preservar nossa humanidade, e nada mais importa. Aos demais, lamento, pois estes podem até mandar, mas não têm juízo algum. E os loucos, com o passar do tempo, fenecem.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

MUNIQUE EM TRÊS LIÇÕES

Estive ao final de Março/2011 em Munique, Alemanha. Fui à convite do Escritório Europeu de Patentes (EPO, de sua sigla em inglês), que lá possui uma de suas sedes – as outras seriam Haia, Viena e Bruxelas, sendo esta última uma pequena representação em função da atuação junto à Comunidade Européia, que tem seus principais órgãos administrativos localizados na capital belga.

Em meio às diversas reuniões às quais compareci tive tempo de conhecer alguns pontos turísticos da capital bávara. O primeiro – e que se tornou uma área comum de trânsito, pois ficava muito próximo do hotel em que me hospedei, NH Hotel Deutscher Kaiser, que fica a 500 metros do centro da cidade – foi a Marienplatz, onde localiza-se o prédio da prefeitura, que segundo uma espanhola que nos ciceroneou na visita ao EPO, é a prefeitura nova, que data de 1900.

Na Marienplatz tive minha primeira lição sobre o povo alemão: permissão. Estava andando por esse centro nervoso da cidade, cheio de lojas, algumas de grife, outras típicas lojas de departamento para compras mais populares, restaurantes, etc, quando me deparei com uma – não era a única, devo ressaltar - barraca de frutas. Nela, uma penca de bananas sendo vendida. Tive a idéia de tirar uma foto, para mostrar para minha esposa quanto valia esta fruta, de que tanto gosto, na Alemanha.

Pois bem, ao efetuar tal aquisição fotográfica a dona da barraca chamou a minha atenção por não ter solicitado permissão para que tirasse a foto. Expliquei para ela minha intenção, ao que aparentemente amainou o sentimento de revolta e ultraje por tal ousadia.

A banana da discórdia

Naquela mesma jornada localizei a loja em que no penúltimo dia de viagem compraria uma camisa do Bayern de Munique. Minha intenção era comprar também do primo pobre, o Munique 1860, mas percebi que quem manda mesmo são os alvirrubros, pois as camisas deste segundo time da cidade não têm nem o nome dos jogadores estampados, o que a desvaloriza. Acabei por adquirir a nº 25, de Thomas Müller, jovem jogador que foi destaque da seleção alemã durante a Copa da África do Sul. Mas não sem antes em levar um choque ao descobrir que no elenco do tradicional time alemão existia um brasileiro, chamado Gustavo – mais um daqueles que surge do nada e vai para a Europa sem ter feito carreira no Brasil, para deleite do meu companheiro de viagem, homônimo do rapaz que viria a ser convocado por Mano Menezes meses depois.

Nessa loja tive minha lição nº 2: quando nos dirigimos a ela era próximo às 20h, horário de fechamento. Gustavo estava a procurar mais alguns artigos esportivos, enquanto eu aguardava no corredor. Acercou-se de mim então uma funcionária, falando alemão – devo ter cara de germânico, pois o primeiro contato era sempre assim. Quando lhe expliquei que não falava alemão, ela me informou de maneira firme: - “Vamos fechar!”. Disse que Ok, que meu amigo estava apenas vendo os preços, mas que já iríamos nos retirar.

A prefeitura "nova" de Munique na Marienplatz

Como disse anteriormente, a Marienplatz e seu entorno, por estar localizada tão próximo de nosso hotel, foi o meu meio ambiente comum nesses dias. Quando não tinha nada para fazer, dava uma caminhada por lá. Tive a oportunidade de conhecer a Catedral de Munique, que fica em suas cercanias, assim como jantamos um dia por lá num restaurante localizado no basement da prefeitura e denominado “Ratskeller”. Nessa ocasião, pedi um peixe, que veio acompanhado de uma erva que quase me fez chorar de tão ardida. O pior foi que eu nem descobri o que era afinal aquilo, mesmo olhando o cardápio em Inglês.

O passeio mais longo se deu após o término dos trabalhos. Fomos ao Mundo da BMW – BMW Welt, no original alemão – que nada mais é que um show-room com direito a carros e motos históricas da famosa marca alemã. Nos restringimos ao prédio principal, mas observando a folheteria que foi colocada à disposição, percebemos que existe passeio guiado pago, mas a entrada no local para o qual nos dirigimos era franca. Depois fomos ao Parque Olímpico, onde se concentraram as competições de 1972. Nossa expectativa era tirar uma foto do Estádio, onde até antes da inauguração da Allianz Arena se davam os principais jogos de futebol da cidade. Porém, este encontrava-se fechado, e não foi possível. Deu tempo apenas para um alemão gritar “Ronaldo” ao ver o meu gorro com a bandeira brasileira.

O mundo da BMW

Minha 3ª lição se deu, em meio a essas andanças. Ao utilizar a escada rolante, devemos nos postar ao lado direito, dando passagem para o mais apressado ao lado esquerdo. Aprendi isto após levar pelo menos uns dois esporros em alemão por estar de maneira folgada frente a frente com o meu colega.

O que tirei desta jornada? Ora, sou descendente de alemão, mas bem longínquo. O traço que carrego é o de ser um amante da organização, e isso se confirmou em relação ao estereótipo imaginado para aquele povo. Se isto é bom ou ruim? Tudo em exagero tende a ser problemático, e o brasileiro, com sua flexibilidade, poderia auxiliar em alguns momentos – lembrem-se do que falei, flexibilidade em exagero também atrapalha. Provavelmente eu ganharia uma banana de graça se estivesse no Brasil; a vendedora tentaria empurrar mais uma comprinha de última hora; e a escada rolante, pois bem, após o horário de trabalho as pessoas deveriam ser mais relaxadas. Enfim, adoro conhecer novas culturas, mas o que eu amo mesmo é o meu Brasil.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

CARTÃO-FIDELIDADE

Algumas vezes gostamos de ser enganados. Um engodo muito comum que acompanha aqueles que não trazem almoço de casa para ser esquentado no trabalho e tem que sair para aproveitar as delícias de um self-service é o cartão-fidelidade.

Assim funciona: após uma pesquisa abalizada, em que contamos com o palpite cirúrgico dos amigos sobre qual será o point da vez, invariavelmente acabamos nos restringindo a um grupo, quando muito, de 5 ou 6 restaurantes. E mesmo com essa restrição de opções, ainda dá briga na hora da decisão. Mas tudo bem, meu raciocínio nos levará mais adiante.

Será que vale o esforço repetido 10X???

Uma vez escolhido o local ideal dentre o perfil de todos os companheiros de comilança, é comum sua repetição com o passar dos dias. Afinal de contas, já foi referendado como sendo aquele que nos poupa da eterna indefinição acompanhada de fome súbita quando nos vemos na rua sem ter para onde ir – literalmente – nada mais natural do que caminhar para o endereço tão conhecido.

Eis então que de repente somos agraciados, tendo isto como a maior das benesses, com o cartão-fidelidade. Sua proposta é que uma vez que tenhamos ido ao mesmo lugar no mínimo 10 vezes, teremos o direito de almoçar pela 11ª “de graça”. As aspas aqui não são mera coincidência.

Prestem atenção: na verdade o que fizemos foi pagar parceladamente a 11ª refeição. Ou seja, subliminarmente o dono do restaurante está nos falando que ele até poderia cobrar mais barato pela refeição, mas não o faz ou por ganância ou porque conta com aquele contingente “fiel” que retornará ao restaurante para conseguir o intento de almoçar de graça pelo menos uma vez.

Vamos avaliar a questão por um outro caminho: já foi objeto de estudo a volúpia humana pela coleção, afinal ela “(...) é, também, o legítimo ‘saco sem fundo’. Isso porque o colecionador nunca está satisfeito e sente, a cada nova conquista, que sua coleção ainda está longe de ficar completa. O que pode ser, também, uma boa maneira de se acostumar com o impossível. Não importa a medida do esforço, alguma coisa vai sempre ficar de fora. E essa é a parte boa, dizem os colecionadores: buscar o fundo do ‘saco sem fundo’, mergulhar nesse impossível e descobrir onde vai dar” (1). O cartão-fidelidade é apenas um meio por intermédio do qual este nosso desvio de conduta se torna mola mestra para mais uma oportunidade de lucro da sociedade capitalista de consumo. Pena que normalmente nós estamos do lado errado do bolso – aquele em que o dinheiro só sai!

Este ano mesmo, a fidelidade foi posta a prova de duas outras formas. Primeiramente, nossa amiga Susana, já personagem de um post anterior (2), não coincidentemente vinculado a nobre arte de comer em companhia dos amigos, é uma fã inveterada do iPad. O tablet causou frisson em Março deste ano quando teve sua segunda versão lançada pela Apple. Imediatamente Susana foi assaltada por mensagens de solidariedade dos amigos para com a obsolescência do seu querido original # 1, todos contando com a boa vontade da mesma quanto a uma doação futura em prol de sua aquisição, sem peso na consciência, mas com o devido peso no bolso, do exemplar mais novo! Ora, não é que foram todos, eu inclusive, surpreendidos com sua afirmação: - “Preciso pedir aumento de salário à Administração para poder completar minha coleção de iPads... assim vai ficar complicado” (via Facebook – entre os dias 03 e 04 de Março).

É bem verdade que a companhia da Maçã não utiliza um cartão-fidelidade. Eles são mais, digamos, sutis. Os apreciadores de seus aplicativos somente podem adquiri-los e utilizá-los nos hardwares Mac. Dessa forma, quer seja por sua qualidade, quer seja pela sua beleza, e até mesmo por sua funcionalidade, caindo no cerceamento de escolha daqueles que não têm saco para procurar vias alternativas tal qual o galeão do rei espanhol, cheio de mercadorias pirateadas, os iPédicos se vêem, então, “fidelizados”.

Já eu próprio fui “vítima” de outro cartão-fidelidade disfarçado – os brindes do MacLanche Feliz. No meu caso, foi por uma causa nobre! Afinal, sou fã incondicional dos Pingüins de Madágascar, personagens de animação surgidos em filme produzido pela DreamWorks Studios em 2005. Uma vez iniciada a coleção, não tinha como deixar de ir até o seu final, o que consegui, jurando para mim mesmo que não mais cairia nesta armadilha. Até a próxima promoção, é claro!

(1)    Revista Vida Simples – Editora Abril- Março/2011 – “A Arte da Memória”, de Kelvin Falcão Klein – págs. 50-53. A citação aqui mencionada encontra-se na pág. 51;
(2)    Post “Almoço, Tablets e Afins” – Fevereiro/2011.

Fontes – acesso: 04 de Março de 2011




quarta-feira, 10 de agosto de 2011

ROBIN HOOD, DE RIDLEY SCOTT

Quando pensei em escrever este post sobre o filme “Robin Hood” (2010), estrelado por Russel Crowe, imaginei centrar minha atenção no peso do ator principal ao personagem que tantas vezes já fora retratado na telona. Porém algo me deteve, uma centelha dizendo que este filme contém a assinatura de um diretor. Todavia tal filme não teria alcançado nível que atingiu sem a presença de Crowe personificando o protagonista.

Dessa forma, após “Gladiador” (2000), primeiro filme de uma série de parcerias entre os dois, que veio a culminar agora com “Robin Hood”, reencontramos a força da palavra “épico” para designar uma película. Para mim, é fato: Robin Hood, após esta versão, não mais poderá ser contado de outra forma. Esta encontra-se para a estória do herói inglês tanto quanto “Batman – o Cavaleiro das Trevas” (2008) está para as edições anteriores do herói-morcego de Gotham City. A estória foi efetivamente reescrita, e para melhor.

O filme aponta para a origem da lenda de Robin Hood. Ou seja, explica como ele chegou à decisão de ser um bandoleiro que rouba dos ricos para dar para os pobres. Mas esse mote, que de tão piegas, associado à qualidade inata de comando de múltiplas personalidades – o que dizer de um bando que tem João Pequeno e Frei Tuck? – e sua extrema habilidade com o arco e a flecha, acabou por transformar o personagem quase em um emblema de conto de fadas – característica essa aumentada, sem dúvida, quando a estória foi ambientada pela Disney (1973), com direito a sua personificação com os famosos bichinhos da produtora norte-americana de desenhos animados.

Robin Hood, por Walt Disney

Com Crowe como protagonista e Scott no leme, seria difícil seguir esta receita de bolo – que por outro lado foi abraçada com gosto, por exemplo, por Kevin Costner, na versão lançada em 1991 e denominada “Robin Hood, o Príncipe dos Ladrões”. Dessa forma, são construídas cenas que lembram, por exemplo, as batalhas retratadas em “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), filmado por Steven Spielberg, e que não por acaso aponta para um embate quando de uma tentativa de invasão pela praia – semelhanças muito sutis poderão ser observadas nessa seqüência em questão.

Passamos então a entender como Lady Marion, de Loxley, interpretada por Cate Blanchet, caiu de amores por Robin Hood. E como este tinha um dúbio caráter, típico dos seres humanos, e que antes não havia sido retratado de forma tão clara como no filme dirigido por Scott. Seu surgimento se deve, por exemplo, a uma tentativa de ludibriar as autoridades assumindo outra identidade com fins bem menos nobres, após ter escapado de uma punição imposta pelo Rei Ricardo Coração de Leão, que até então era tido como redentor do próprio Robin nas versões anteriores – haja vista a participação de Sean Connery no filme de 1991, estrelado por Costner, supracitado.

Sean Connery como Ricardo Coração de Leão no filme de 1991

Dessa forma, a realeza é exposta de maneira crua, apontando para as torpezas que a cercavam naquela época, assim como aquele lema de “viveram felizes para sempre” fica para um momento futuro, se é que realmente será alcançado. De todo modo, se fica uma mensagem – e todo filme tem uma – é a de que valores morais podem ser construídos mesmo em meio a uma engrenagem viciada e tendo como origem atitudes não tão "corretas". O ser humano é uma obra em eterna construção, e Robin Hood, de Ridley Scott, com Russel Crowe no papel título, demonstrou isso de maneira inequívoca.

Fontes acessadas em 22 de Abril de 2011:

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

GNOMEU E JULIETA

Uma das tarefas das quais eu como pai mais tiro proveito é poder acompanhar a safra contínua de bons títulos cinematográficos no gênero desenho animado, ainda mais depois da consolidação da tecnologia 3D. Imediatamente informo a vocês um aspecto assaz polêmico: acredito que este método de projeção não tem o mesmo impacto quando utilizado em filmes com personagens em carne e osso. E digo isto após minha experiência com o filme “Avatar” (2009), de James Cameron, talvez um dos que mais aventou para si o senso de que seria o ápice desta abordagem.

Mas venho aqui não para tratar deste tema, o qual posso voltar em outro momento, mas sim de um filme que recentemente assisti e que traz outras lições inseridas. Trata-se de “Gnomeu e Julieta” (2011), que teve como um dos aspectos centrais a trilha sonora baseada na obra do seu produtor-executivo, nada mais nada menos do que Elton John.

Elton John e um dos seus óculos inconfundíveis

Ouvi não faz pouco tempo de um amigo que filmes que são baseados em histórias já conhecidas, muitas vezes verdadeiras, quando fazem sucesso, têm mais mérito que filmes com roteiro original, como é dito no jargão cinematográfico. “Gnomeu e Julieta” passa um pouco por esta teoria, uma vez que lida com o gancho da super-conhecida – ah se Shakespeare tivesse tido contato com o termo blockbuster! – “Romeu e Julieta”, obra do bardo conterrâneo de Elton John.

Desse modo, travestir em uma nova roupagem tal clássico tem lá seus méritos. A breve introdução aos pequenos dessa tragédia dramática por si só já validaria sua produção, reforçada ainda mais quando vemos esta acompanhada de um conjunto de notas musicais que está na alma dos seus pais como standards do século XX musical. A trilha sonora é composta – para citar apenas os hits do cantor inglês de óculos colorido que, aliás, surge numa cena hilária com uma serenata para uma rã em que o próprio aparece inserido num dos personagens – pelas seguintes canções:

Hello Hello (Album Version)
Crocodile Rock
Saturday Night's Alright (For Fighting)
Don't Go Breaking My Heart
Love Builds A Garden
Your Song
Rocket Man (I Think It's Going To Be A Long, Long Time)
Tiny Dancer
Bennie And The Jets

Nesse sentido, “Gnomeu e Julieta” segue pelo caminho do sucesso comercial por conta de atender distintos públicos por interesses diversos. Em relação à história em si, as famílias são compostas por anões de jardim – isso mesmo! – inimigos, responsáveis por backyards vizinhos. Os vermelhos e os azuis não se suportam, e para que ocorra uma aproximação um amor impossível deve surgir.

Existem algumas lições óbvias, que vistas por um certo ângulo poderiam até parecer piegas, mas que sempre devem ser lembradas para que possamos viver num mundo melhor, talvez, um dia: ser mais tolerante com as diferenças; valorizar o amor e a amizade; reconstruir o mundo a partir da solidariedade; etc. Seria por isso que as canções de Elton John se eternizaram? Por dizerem coisas óbvias que outras pessoas não têm coragem de dizer? De repente me vem à mente em como é engraçado ver as linhas do mundo da pop music se cruzarem na Inglaterra, berço dos Beatles, para citar apenas um único ícone de múltiplas gerações. Logo a Inglaterra, dita como um país em que as pessoas são indiferentes ao vizinho. E em “Gnomeu e Julieta” pode-se dizer tudo, mas não se pode acusar os vizinhos de serem indiferentes uns aos outros, ah isso não! Eu mesmo não fiquei indiferente, e quando cheguei em casa deixei o rock & roll rolar, na voz vocês sabem de quem...

Love Builds A Garden

You hear it every day
Once upon a time they say
Once upon a time in this place
I looked and saw on your face
A smile that spoke to me
In oh so many ways
The Sunday morning bells
Rang out that all was well
Sunshine across the yard
We'd rest when we worked hard
We take a little time off
To appreciate the day
And love builds a garden
Grew it from the ground up
Each one of us knowing
Every inch of it was us
We pulled it all together
Hoping and believing
That love built this garden
For the two of us to dream in

We'd get a little rain
Then the sun came out again
But a frost it's hard to fight
Once it takes hold flowers die
There's only so much you can do
To keep some things alive

And love builds a garden
Grew it from the ground up
Each one of us knowing
Every inch of it was us
We pulled it all together
Hoping and believing
That love built this garden
For the two of us to dream in
Sad to say, it's true
Without a lover who
Cares as much
Well I guess, I guess it goes to prove

That love built a garden
Growed it from the ground up
Each one of you knowing
Every inch of it is trust
Pulled it all together
Hoping and believing
That love builds a garden
For the two of you to dream in

Fontes – acesso em 26 de Março de 2011