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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O TEMPO

Vez por outra nos deparamos em relembrar os tempos passados e a imaginar os tempos futuros, e apenas administramos o tempo presente. Buscamos no nosso interior o poder de prolongar os momentos de felicidade e de apressar os momentos de tristeza, sem apurar a necessidade de simplesmente senti-los em sua plenitude.

O tema do controle do tempo volta e meia retorna, como sendo uma ambição suprema da humanidade. Fala-se em elixires da juventude, identificam-se novos métodos e cirurgias plásticas, adotam-se modelos de dietas e exercícios físicos em sua maior parte buscando atender um ego estético que cultivamos minuto a minuto, como se quiséssemos derrotar algo que está além de nossas forças.

Existem locais, porém, em que verdadeiramente nos sentimos parados no tempo, tal qual a Shangri-lá decantada no romance de James Hilton, datado da década de 30 do século passado, “O Horizonte Perdido” – Ed. Círculo do Livro, São Paulo – 254 págs.. Shangri-lá era uma cidade em que as pessoas não envelheciam, e viviam sua sabedoria com paciência, desfrutando de cada momento.

Aqui no Brasil poderíamos pinçar diversos exemplos disto. Tive contato com um deles por três vezes nos últimos anos: Conservatória, no interior do Estado do Rio de Janeiro. Aglomerado urbano que viveu seu auge no ciclo do café, hoje vive da fama de ser a “cidade das serenatas”. Composta, em seu núcleo central, por duas ruas principais apenas, sente-se no ar o seu ritmo mais vagaroso em saborear o passar do tempo. Tem como principal atrativo turístico uma série de pousadas e hotéis fazenda que sugerem os mais distintos tipos de lazer, desde os mais agitados, em que se podem curtir gincanas e brincadeiras que mais agradam às crianças que aos adultos, como também se podem encontrar estabelecimentos que têm como principal ambição apenas o descanso integral, o lagartear ao sol sem nada mais fazer, à beira da piscina.

Algo em comum é a dificuldade, por incrível que pareça, de acesso à internet e ao contato via celular. Identificar um ponto onde a banda larga funcione a contento é uma pescaria daquelas dignas das feitas em alto mar, muito diferentes dos pesque-pagues que existem por lá. Outro aspecto é a fartura em termos culinários, com todos os empreendimentos buscando superar os dotes caseiros sabidamente reconhecidos em nossas progenitoras maternas.

Na minha última passada por lá, por motivos profissionais, tive a experiência de contato com quatro animais: o cão vira-lata, doido por um colo para se encostar; galos e galinhas, fugindo da chuva e se demonstrando incomodados com a invasão que parecíamos representar ao terreno de sua propriedade; um sapo chamado “Jorge”; e passarinhos que vinham enfeitar as refeições diurnas, quer seja o café-da-manhã ou o almoço, invadindo, de maneira esvoaçante, o restaurante do hotel em que nos encontrávamos.

Cada um deles pareceu dar o seguinte recado: aqui não há necessidade de pressa. O tempo é mais vagaroso, se apresenta como um deleite para ser desfrutado. Isole-se do resto do mundo e curta natureza. Devo confessar, porém, que sou um ser urbano. Já me deparei com aquele questionamento clássico – mar ou montanha? Normalmente opto pelo mar, com uma especial exceção à Petrópolis, cidade que aprendi a admirar.

Digo isto e acrescento ainda – não consigo viver isolado. Estar num lugar em que o celular não funciona de maneira adequada, que a internet vive caindo, e que a TV a Cabo é uma raridade, não combina exatamente com a minha idéia de paraíso. Ainda mais se for acompanhado de mordidas de pernilongo! É fato: o tempo passa a incomodar mais que apaziguar quando estamos com uma coceira braba!!!

Para mais detalhes sobre Conservatória ver:

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ZEBRA EXISTE?

A recente vitória de um time da República Democrática do Congo – o Mazembe – sobre o todo poderoso Internacional de Porto Alegre, “vencedor de tudo” como gostam de dizer os colorados, foi aclamado por alguns como o maior vexame do futebol nacional e como uma zebra monumental. No que diz respeito ao vexame, levando-se em conta a polaridade de gostos no Rio Grande do Sul – ou se é Grêmio ou se é Inter – debito isto a certo exagero, uma vez que temos inúmeras outras histórias para relatar. Eu mesmo como flamenguista tenho algumas, infelizmente. Ou seja, o torcedor que não tiver um maracanazo nas costas que atire a primeira pedra. Mas torcedor é torcedor, e paixão não se discute, se tolera.

A questão que quero levantar com vocês hoje aqui diz respeito à segunda afirmação, ou melhor dizendo, a um aspecto da sentença de que este resultado teria sido uma zebra monumental. Pergunto-lhes: zebra existe, de fato? Pois lhes digo, para mim não, e já explico.

Na minha ótica o que existe é competência. E este meu corolário, digamos assim, pode ser confirmado ao extremo quando falamos de esportes. Se você enaltece sua equipe e todo o seu trabalho de preparação, esquece-se por vezes que o adversário tem as mesmas intenções e treina tanto quanto para atingir o seu objetivo.

Poder-se-ia argumentar então a questão do talento. Ah, mas o Internacional tinha muito mais talento que o Mazembe.... Tal afirmação tem um caráter relativo, uma vez que pela força do talento dos atacantes africanos eles conseguiram fazer dois gols no time gaúcho. Aí diriam: mas e as falhas dos zagueiros, que não bloquearam os chutes? E aí eu volto ao meu ponto inicial: competência.

Vou me ater apenas ao futebol no raciocínio que apresento a seguir, mas creio piamente que tal pensamento pode ser trasladado para todos os setores. O que existe é a seguinte equação: competência + estratégia bem aplicada = resultado efetivo = vitória. Falando de conceitos. Efetividade = eficiência + eficácia. Eficiência = trabalho bem feito. Pode ser lido como trabalho feito com competência. Eficácia = alcançar o resultado pretendido. Eu acrescentaria, com uma estratégia bem aplicada.

Voltando ao jogo o qual estamos utilizando como exemplo desta minha teoria. Ambos os times se prepararam fisicamente para enfrentar a peleja. Portanto no aspecto fôlego estavam igualados. Já afirmei que talento é um conceito relativo, ou subjetivo, isto é, depende do interlocutor, leia-se torcedor, o que sempre complica o diálogo. Ou seja, vamos “congelar” este dado. Resta-nos então avaliar a estratégia. O Mazembe propôs jogar no contra-ataque, neutralizando os ataques do Inter na medida do possível. Quando o time gaúcho ultrapassava a linha de zaga africana encontrava o competente goleiro Kidiaba (ô nome, um verdadeiro inferno para os atacantes!) impedindo a finalização em gol de seus atacantes.

Enquanto isso, no ataque, as poucas oportunidades que o time congolês teve efetivou-as em gol. Ou seja, pode-se dizer, racionalmente, que o Inter jogou melhor que o Mazembe? O time africano traçou sua estratégia, foi eficiente em sua aplicação e teve eficácia em obter os gols necessários para a sua vitória. A defesa foi melhor que o ataque, poder-se-ia pensar. Mas o ataque do Mazembe não foi melhor que a defesa do Inter?

Assim, deixemos os preconceitos de lado. O time africano mereceu a vitória, e esta não foi uma zebra, foi apenas o resultado de uma ação competente associada a uma estratégia bem aplicada. Mesmo no futebol temos outros exemplos mais longínquos, e para ficar em apenas um, vou citar a seleção da Argentina na Copa de 1990, que eliminou o Brasil no jogo em que este aplicou o seu melhor futebol, mas que não redundou em gol. A Argentina, que só tinha o Maradona – o que já era uma baita vantagem – jogava por uma bola, e foi o que teve. Ou seja, foi efetiva quando precisou. E mais, levou a Copa inteira ultrapassando adversários mais potentes na base das disputas de pênaltis, quando contava com a competência de Goycochea debaixo das traves. Apenas parou na final, quando os mestres da competência futebolística – a Alemanha – mostraram que daquele tipo de jogo eles entendiam mais.

Por último, para vocês não dizerem que eu sou um cético por natureza, como tudo na vida a sorte tem que acompanhar os vencedores. Assim, abro o meu conceito para incluí-la. O imponderável sempre ajudará, mas é impressionante como ajuda muito mais aqueles que trabalham duro, não?

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

BASTARDOS INGLÓRIOS

Depois de uma longa espera finalmente consegui ver “Bastardos Inglórios” (2009), de Quentin Tarantino. O filme sofreu do que chamo “excesso de expectativa”. Isto não é raro de ocorrer sobre os espectadores tardios de um filme de grande sucesso. Os sintomas são bem conhecidos.

Primeiramente, um filme é lançado com grande pompa e circunstância pelas pretensas qualidades que o cercam: um diretor famoso, um astro do cinema – no caso Brad Pitt, em papel que se pretende ir além dos atributos físicos, afinal seu personagem tem uma queixada de fazer inveja ao Mário Gomes – e um tema de recorrente sucesso, desta feita, a Segunda Guerra Mundial e a cruzada antinazista.

Posteriormente, filas se formam, repletas dos fãs de carteirinha do diretor e/ou do ator principal que interpreta o protagonista. E aqueles primeiros espectadores, ao saírem do cinema, justificando e se congratulando pela proeza de terem assistido o filme tão esperado, exaltam suas virtudes, ou com desdém identificam um defeito ou outro, que passa a ser objeto do desejo daqueles que ainda não o assistiram para a sua confirmação ou não.

Quando finalmente então estes espectadores tardios conseguem assistir ao filme, estão eles esperando a suprema obra-prima, uma película que os marcará pelo resto da vida, quer seja por sua alta qualidade ou pelo aspecto mais mesquinho de conseguir apontar defeitos naquele alvo de tantas atenções. O que geralmente ocorre estes mesmos espectadores tardios se desiludem, ou se decepcionam, saindo das salas de cinema como se alguém lhes houvesse passado um engodo.

Em “Bastardos Inglórios”, infelizmente para mim, à parte a excelente atuação de Christoph Waltz no papel do oficial nazista ‘Caçador de Judeus’, o roteiro se demonstra apenas uma pálida representação de violência sem um propósito específico. Este ponto destoa dos demais filmes de Tarantino, em que esta mesma violência representava um papel significativo nas histórias, principalmente como instrumento para fazer a ligação das distintos "contos" paralelos representados na tela. Podemos citar como exemplos máximos desta característica “Pulp Fiction – Tempo de Violência” (1994), “Jackie Brown” (1997) e “Kill Bill” (o qual particularmente exulto a 1ª parte) – 2003/4.

Mesmo o humor sarcástico presente nas obras citadas acima como pano de fundo de cada uma das cenas não encontra igual nível em “Bastardos Inglórios”. Porém, como mérito estilístico, devo dizer que existe algo que está em alta conta neste filme: a tensão permanente pelo que vai acontecer. Como os filmes de Tarantino são reconhecidos pela ação violenta de grande intensidade, não economizando em sangue e closes explícitos – se bem que depois de “Tropa de Elite 1” (2007) isso pode ser relativizado em termos de excelência – a cada take fica-se na espera, em tom crescente, por quando se desencadeará a volúpia sanguinolenta. E o diretor se aprimora em esticar tal ato ao máximo.

Finalmente, talvez o fato que tenha prejudicado o filme tenha sido justamente sua ambientação numa das épocas mais sangrentas da história da humanidade. A Segunda Guerra Mundial, além de já ter sido filmada com distintos olhares, a meu ver atingindo o grau máximo de representatividade em “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), de Steven Spielberg, já é por si só uma época que dispensa malabarismos para ser pintada com cores fortes. Na tentativa de dar um toque diferenciado, Tarantino erra a mão no roteiro e caminha por trilhas desnecessárias. Melhor faria ele se buscasse, como já o fez anteriormente, enaltecer personagens do submundo, do que tentar envolver nomes históricos em tramas de frágil estrutura para serem sustentadas.

Enfim, resta-me melhores perspectivas após ter assistido “Tropa de Elite 2”. O Capitão Nascimento, que agora subiu na vida, não deixou que o poder lhe subisse a cabeça e deu seu recado. Mas isso é conversa para outro post.

Sites consultados:

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A TRILATERAL

Quando começamos a lidar com o dia a dia de uma área internacional em termos profissionais nos vemos inseridos perante um antigo dilema: trabalhar pelo ideal de um mundo melhor ou tentar harmonizar seus anseios perante um cenário conturbado em que muitas vezes não temos idéia das verdadeiras intenções dos atores principais?

É claro que esta não é uma questão com respostas excludentes entre si. É possível se mudar o sistema atuando dentro dele. Algumas vezes é uma batalha até mesmo mais simples, uma vez que as ferramentas se encontrarão sob seu controle, o que é bem diferente de olhar de fora e imaginar o que fazer sem ter como. Porém, algo é extremamente importante em todo esse processo: a consciência do entorno em que se está inserido. E ser consciente é saber fazer escolhas mediante as opções que se apresentam.

Expressa essa filosofia – o que faz com que os especialistas na área das relações internacionais possam seguir em frente sem perder de todo aquela chama da qual se alimentam: ver a sociedade global progredir para um mundo mais equilibrado – passaremos então a verificar uma importante questão, central nos dias de hoje, mas que veio a ganhar contornos concretos a partir da década de 70: como o Brasil se coloca diante da estrutura de poder que se alojou num mundo globalizado?

Essa é a expectativa que está presente em uma obra que em certa vista, levando-se em conta o contexto em que foi lançada – o ano é de 1979 – como panfletária. Estamos falando do livro “A Trilateral: Nova Fase do Capitalismo Mundial” – ASSMAN, Hugo e tal – Petrópolis, RJ – Ed. Vozes – 216 págs. Este livro é a coletânea de uma série de artigos que tem como mote principal analisar a política externa norte-americana do então recente Governo Jimmy Carter e como por trás do discurso de defesa dos direitos humanos se buscava, na verdade, a manutenção do status quo econômico, com a prevalência dos interesses das empresas dos Estados Unidos, unidas às corporações européias e japonesas – por isso o nome Trilateral.

Naquela ocasião tal fato ganhava ares de uma grande e megalomaníaca conspiração mundial, digna dos filmes de espionagem. Grandes cérebros infiltrados nas principais posições de governo maquinavam estratégias no sentido de manipular a opinião pública nos quatro cantos do mundo de modo a buscar o lucro máximo para as multinacionais dos países desenvolvidos. O cenário hoje em dia mudou de tal forma e esse discurso parece incorporado como uma realidade pura e simples do mundo em que vivemos. A pergunta é: teriam dessa forma sido seus arquitetos os grandes vencedores? Teriam eles conseguido o seu intento de efetuar uma “lavagem cerebral” em todos a ponto de que nos acomodemos com a situação que vivemos?

A meu ver não. Isto é uma falácia, um exagero que serve a discursos extremistas. A luta do Governo é constante por fazer prevalecer os interesses nacionais em nossas negociações. Mais ainda: o mundo globalizado de hoje em dia permite ter acesso a um volume tal de informações que dificilmente podemos alegar desconhecimento dos reais interesses presentes do outro lado da mesa.

Mas nada disso seria possível se não houvesse os primeiros alertas em obras como a citada acima. Elas serviram para que os especialistas daquele tempo mantivessem sua guarda alta, buscando oportunidades sem se deixar enganar por discursos politicamente corretos. Dos artigos presente no livro chamo atenção para três, essenciais para a compreensão de sua mensagem:

“O Caso Carter: um Fenômeno Planejado” – Alberto Micheo;
“Da Segurança Nacional ao Trilateralismo” – Arturo Sist e Gregorio Iriarte;
“Os EUA Contra os Direitos Humanos no Terceiro Mundo” – Noam Chomsky e Edward S. Herman

Em que pese o tom raivoso típico das obras de Chomsky, um anticapitalista ferrenho, desta feita ladeado pelo também norte-americano, o economista Edward S. Herman, entendo que o seu artigo serve como fechamento do livro por dar o tom imaginado naquela ocasião pelo editor Hugo Assman, economista brasileiro, militante da Teologia da Libertação (1). Assim, o leitor entende o objetivo da obra e seu viés, não a lerá enganado.

Porém, em termos informativos e históricos e pela penetração ambicionada, ganham relevo, a meu ver os outros dois artigos por mim citados, tendo como autores o cientista político venezuelano Alberto Micheo, assim como os demais latino-americanos Arturo Sist e Gregorio Iriarte. Estes apresentam o panorama de maneira objetiva, trazendo informações sem um apelo demasiado forte ao discurso inflamado. Acredito que, no mundo de hoje, tal abordagem seja mais produtiva, pois ao mesmo tempo em que trás subsídios para uma atuação esclarecida dos representantes dos países em desenvolvimento, alcança um público mais amplo, que já não tolera discursos por demais radicalizados.

A Trilateral hoje em dia é uma realidade. A articulação entre os vértices EUA, Europa e Japão, apresentados no livro em seu começo (falamos de uma obra do final da década de 70) e apenas como perspectiva futura para o cenário internacional, hoje está consolidada (2). Resta a nós saber navegar nesse mundo, de maneira a torná-lo melhor. Para tanto, as cartas estão expostas, então. Saberemos jogar esse jogo, esta é a questão? Que teremos que jogá-lo, se pensamos em ser grandes, para mim não resta dúvida nenhuma.

(1)      “(...) corrente, que poderíamos denominar como "cristianismo da libertação" no começo dos anos 60, quando a Juventude Universitária Católica brasileira (JUC), alimentada pela cultura católica francesa progressista (Emmanuel Mounier e a revista Esprit, o padre Lebret e o movimento "Economia y Humanismo", o Karl Marx do jesuíta J.Y. Calvez), formula por primeira vez, em nome do cristianismo, uma proposta radical de transformação social. Esse movimento se estende depois a outros países do continente e encontra, a partir dos anos 70, uma expressão cultural, política e espiritual na ‘Teologia da Libertação’”. http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=40899 – acessado em 15/Nov/2010.

(2)      O nível de interlocução hoje em dia alcançou tal força que é feito de maneira explícita nos foros internacionais. Como exemplo, podemos citar no campo da Propriedade Intelectual o site oficial que os três escritórios de patentes – norte-americano, europeu e japonês – mantém, traçando objetivos comuns - http://www.trilateral.net/ .

Sites acessados (15/11/10):


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

MANO MENEZES + DUNGA = MURICY RAMALHO

Passados alguns meses da última Copa do Mundo e da definição do novo técnico da seleção brasileira, aqueles que me acompanham no Facebook sabem qual era a minha preferência: Muricy Ramalho, atual técnico do Fluminense.

Muricy possui como filosofia o trabalho contínuo, a preservação de seus princípios, mas não sem ser flexível o suficiente para tomar decisões que podem beneficiar o grupo, mesmo que não estejam a contento de estrelas do elenco e até mesmo da diretoria do clube ao qual está vinculado. Sua única preocupação é com o resultado a ser alcançado: o(s) título(s), e para isso baliza a escolha de seus jogadores pela meritocracia.

Reflexo disto estão os números: alcançou um tricampeonato brasileiro seguido com o São Paulo, teria sido campeão pelo Internacional de Porto Alegre caso a confusão no campeonato de 2005 não tivesse prejudicado o andamento do mesmo, e no ano passado conduzia o Palmeiras por um bom caminho até faltarem 6 rodadas para o término. Ou seja, é o rei do campeonato por pontos corridos, modelo utilizado somente a partir do início desta década, com (quase) 5 triunfos nesse período.

Todos estes aspectos me levavam a crer que ele seria um bom técnico para a seleção. Imaginava mais ainda, que ele realmente seria a primeira opção, como se confirmou posteriormente – cheguei a postar no Facebook meu contentamento, antes da reviravolta que levou Mano Menezes ao comando da seleção brasileira. Baseava essa minha convicção no fato de que Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), sempre pautou por escolher os melhores treinadores em termos de resultado ou então, em momentos de crise, treinadores dispostos a reverter uma filosofia inteira.

Vou exemplificar:

Treinadores Revolução – colocou Sebastião Lazaroni, que implantou o 3-5-2 pela primeira vez na seleção; colocou Paulo Roberto Falcão para fazer uma renovação de valores – foi o primeiro a convocar Cafú; pela primeira vez uma dupla efetiva, com muita experiência de Copas – Parreira-Zagallo, para acabar de vez com o jejum brasileiro que já alcançava 24 anos; colocou Leão para convocar apenas jogadores que atuavam no Brasil (2000-2001); e colocou Dunga para impor linha dura depois da moleza de 2006.

Treinadores Consagrados – repetição Zagallo (1998); repetição dupla Parreira + Zagallo (2006); Wanderley Luxemburgo (1999-2000); Luiz Felipe Scolari (2001-2002).

Dessa forma, a sua escolha sairia do perfil de um dos dois grupos acima. Uma prova de que ele não estava preocupado com o relacionamento com a imprensa foi que sua primeira opção era o Muricy Ramalho, que notoriamente tem tantas dificuldades com o chamado 4º poder quanto teve o seu antecessor, Dunga. Suas vantagens sobre este último, na qualidade de “consagrado” eram: ser um treinador na acepção da palavra, com conhecimento técnico, vivência e capacidade para lidar com um grupo de estrelas. E mais, sem problemas para fazer modificações no grupo caso surgisse uma novidade estupenda. Faria uma revolução – principal demanda para a nova gestão, mas com conhecimento de causa.

Devo dizer ainda que, para finalizar a comparação, mais do que opções táticas – os resultados alcançados durante os últimos 4 anos remetem à qualidade do trabalho – o grande pecado do Dunga foi ter abraçado um grupo sem estar aberto às possíveis novidades. Recentemente Jorginho, seu auxiliar-técnico durante a última Copa, comentou em entrevista concedida ao canal a cabo Sportv que a decisão mais difícil para fechar a lista de convocados foi a de deixar Paulo Henrique Ganso de fora da Copa de 2010. Perdíamos assim uma vantagem em relação aos nossos adversários: qualidade no banco e o fator surpresa. Mas Dunga, e sua filosofia de preservação dos mesmos componentes de um grupo – fator extraído de sua experiência como jogador nas Copas de 1990 e 1994 (nesta última o Parreira teria feito um pacto com o grupo de jogadores – Dunga incluído - que com ele pelejou durante as eliminatórias de 1993), algo natural para quem nunca tinha exercido a função de treinador, fracassou justamente na hora principal, a da escolha final dos jogadores.

Acredito que seleção é momento, e que não devemos permanecer de olhos fechados para as múltiplas possibilidades que o futebol brasileiro nos apresenta cotidianamente. Muricy era o melhor técnico, a melhor opção, não tenho dúvidas. Apenas não foi confirmado por uma ausência de habilidade profissional da própria CBF, que não foi cuidadosa nas negociações nesse sentido – poderia ter aberto mão, por exemplo, para que este acumulasse os cargos – Flu e Seleção - durante este semestre, para somente no ano que vem exigir exclusividade. Resta a Mano Menezes provar que a equação presente no título deste post não é verdadeira, ou seja, que é um técnico tão melhor que a transforme em Mano = Muricy > Dunga. E isso vai além de ser um cara bem educado nas entrevistas.

Site acessado: http://www.cbf.com.br/php/campeoes.php?ct=1 – em 14/Nov/2010

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

CAUSA E CONSEQUÊNCIA, OBJETIVIDADE E SUBJETIVIDADE

A recente incursão da polícia do Rio de Janeiro, apoiada por tropas federais e motivada pela série de ataques a veículos na capital carioca suscitou uma grande diversidade de manifestações de todos os tipos. A maior parte dela centrava foco sobre a eficácia da ação em si e seu impacto não somente sobre a comunidade diretamente atingida, mas no sentimento da população em torno da segurança pública, seu estado atual e como alcançar sucesso por uma melhora nesse sentido.

Tal avaliação passa necessariamente, a meu ver, por quatro aspectos, de certa forma entrelaçados: a análise de causas e conseqüências, suportada por critérios objetivos e subjetivos. Como a própria formação dos analistas influencia suas conclusões, deveremos ter o devido respeito pelas opiniões, por mais distintas que sejam. Em verdade, esta deveria ser a postura em quaisquer debates, mas como este está repleto de emoções muito próximas do ser humano – o medo e o bem-estar da própria família – verificar frieza e objetividade no discurso passa a ser uma tarefa quase impossível.

Dito isto, vamos a minha opinião sobre o tema. As causas do estado de violência que atingimos são inúmeras. Objetivamente muito se fala sobre o crescimento exponencial do poderio do tráfico de drogas no Rio de Janeiro a partir da leniência de seguidos governos municipais e estaduais que preferiram o não enfrentamento como estratégia para o estabelecimento de um sentimento mal-disfarçado de tranqüilidade – do tipo “você me deixa no meu canto que eu não crio problemas para você”.

Porém somos sabedores de que não basta somente o enfrentamento direto, como estamos observando atualmente, para resolver tal questão definitivamente. A solução para esta situação passa por políticas contínuas que privilegiem a educação e a criação de oportunidades para a ascensão social daqueles que pertencem às comunidades mais carentes. Porém, sabemos igualmente que tal abordagem tem resultado somente a longo prazo. Cabe então a pergunta: o que fazer neste meio tempo?

As ações não são excludentes. Enquanto o poder público ocupa essas comunidades, e não somente com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s) mas também com serviços de apoio – creches públicas, escolas, serviços de auxílio ao emprego, etc – ao mesmo tempo se faz necessário, sim, o embate direto com os traficantes. E é nesse sentido que se vê com bons olhos a atuação realizada recentemente. Este, a meu ver, é o aspecto objetivo do problema: atacar as conseqüências, pontualmente, sem se esquecer de resolver as causas.

A subjetividade por sua vez está diretamente vinculada aos sentimentos emanados deste horrendo filme ao vivo e a cores que estamos acompanhando no noticiário. A boa notícia de uma ação coordenada entre diversas forças traz ao mesmo tempo o receio de que se chegou a conclusão, enfim, de que não há outra maneira do que institucionalizar a guerra na sua plenitude.

Vivemos, pois, um paradoxo: ao mesmo tempo em que a nossa cultura, construída com base nos mitos do heroísmo tão veiculado pelo cinema, por exemplo, num culto contínuo pelo uso da força, causa uma ansiedade por vermos cenas de vitória da polícia sobre a bandidagem, caímos em si finalmente de que a guerra está próxima de nós, e não há mais como evitá-la. Ou seja, a camuflagem de que vivíamos – ou melhor, suportávamos – um ambiente de tensa tranqüilidade em meio ao descompasso em que outros cidadãos vivenciavam no seu dia a dia, cai por terra. Encontramos com o nosso pior pesadelo, e não somos mais apenas expectadores passivos de uma película de cinema.

Como reagir a isso: sermos cidadãos na plenitude da palavra, praticando o bem em cada ato, dá trabalho, mas não se pode mais ser postergada essa nossa atitude perante a nós mesmos, aos nossos entes queridos e mesmo os não tão próximos, ao outro enfim, criando uma sinergia positiva que poderá gerar uma sociedade melhor. E se não for para nós, pouco importa, mas que o seja para os nossos filhos, netos, bisnetos, ou seja, é a nossa responsabilidade para com as gerações futuras.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A FARSA

A literatura possui diversos campos, extratos diferenciados para identificar o público alvo e segmentar, de uma certa forma, os autores. Christopher Reich se encaixa dentre aqueles que exploram, pelo menos através da série iniciada pelo livro “A Farsa” – Ed. Sextante – RJ – 2008 – 335 págs. – o campo da espionagem.

Esta era uma das áreas mais lucrativas durante a Guerra Fria, por possuir uma fórmula fácil a de ser seguida – adrenalina acompanhada da identificação imediata dos antagonistas e protagonistas. Os autores mais bem sucedidos nesta seara eram aqueles que davam uma pitada mais, ou criavam algum tipo de diferencial sobre esta fórmula. Poderíamos citar entre eles, por exemplo, Sidney Sheldon e Federick Forsyth.

Desta forma os leitores se vêem presos a uma série de perseguições e enlaces e desenlaces para evitar uma grande tragédia, um plano maquiavélico que normalmente é destrinchado até a metade do livro, pois o protagonista tem que ter o devido tempo para alcançar a solução imaginada. Porém, como alcançar sucesso, não somente literário como financeiro também, com o término da Guerra Fria? É esse dilema que o livro de Reich resolve de maneira interessante, porém que já se torna recorrente, como veremos.

A primeira solução é buscar heróis que sejam mais próximos de nossa realidade. Reich identifica como herói, em “A Farsa”, o Dr. Jonathan Ramson, médico dedicado às causas humanitárias através do seu trabalho junto à organização Médicos Sem Fronteiras. A conexão com o leitor se faz de forma imediata – temos um herói eivado de boas intenções e que ao mesmo tempo tem a possibilidade e o conhecimento suficiente para transitar sobre distintas situações, qualidade inequívoca para o antigo estereótipo de espião. Tal estratégia também foi utilizada, por exemplo, por Dan Brown ao criar o famoso personagem, interpretado nos cinemas por Tom Hanks, Robert Langdon, um professor de simbiologia de Harvard, na famosa série iniciada com “Anjos e Demônios” e que teve seu ponto alto com “O Código Da Vinci”.

Outro aspecto interessante buscado pelos autores mais recentes é a dinâmica acelerada da narrativa, com um tempo adequado para as chamadas adaptações cinematográficas. Um mestre em tal característica é Tom Clancy. Para tanto basta ler “A Caçada ao Outubro Vermelho”, com os seus cortes temporais e o seu vai e vem entre as diferentes locações (cenários) para entender o que eu estou dizendo. Não é a toa que o seu espião da CIA, Jack Ryan, esteve presente em diversos romances transferidos para a telona. “A Farsa” possui o mesmo potencial, já tendo seus direitos adquiridos pela Paramount Pictures.

Por último, outro detalhe facilitador para os autores é trazer a história para ter como pano de fundo um cenário por ele conhecido intimamente. Isto é mais facilmente percebido nos livros dedicados a dilemas que se passam nos tribunais, sendo Scott Turow, advogado em Chicago, um dos seus expoentes. Reich igualmente se aproveita desta característica, uma vez que ambienta “A Farsa” na Suíça, com o seu jogo intrincado entre os banqueiros internacionais e sua manipulação do dever de ofício do sigilo em benefício de retribuições políticas e ganho de capital fácil. Reich, antes de se tornar escritor, foi justamente banqueiro, e na Suíça.

Para mim particularmente Reich se mostra inteligente ao costurar uma trama que não se distancia dos standards da literatura de espionagem – envolvendo as agências – CIA já citada, MI6 da Inglaterra, Mossad de Israel – como agrega cenários em que os turistas que circulam (ou que ambicionam circular um dia) pelo mundo conhecem muito bem. Além disso, ter um herói que encontra-se, além de tudo, sentimentalmente envolvido com a trama cria um laço com o leitor típico dos truques dos romances mais açucarados – é o cavaleiro que deve sair de uma situação de abalo profundo – no caso, a morte da esposa, que terá um papel importante no enigma apresentado – para salvar o mundo.

Enfim, encontrar novos vilões e tramas verossímeis num mundo sem Guerra Fria não é tarefa fácil. Mas os escritores de suspense têm se mostrado bem hábeis nesse desafio, e vocês não ficarão desapontados ao ler “A Farsa”.

Leituras recomendadas:

CLANCY, Tom – A Caçada ao Outubro Vermelho – Ed. Record – Rio de Janeiro – 1984 – 451 págs;
TURROW, Scott – Erros Irreversíveis – Ed. Record – Rio de Janeiro – 2003 – 459 págs;
BROWN, Dan – O Código Da Vinci – Ed. Sextante – Rio de Janerio – 2004 – 475 págs.

sábado, 13 de novembro de 2010

ESPN Brasil e o Fã do Esporte

Tenho acompanhado inúmeras coberturas esportivas com o passar dos anos. Sempre fui aficionado do talento do jornalismo esportivo brasileiro, e não me atenho tão somente ao futebol, carro-chefe deste, mas a todas as modalidades que o esporte tem a apresentar.

Lembro-me de quando Luciano do Valle era o principal narrador da Globo – até a Copa de Mundo de 1982, na Espanha, de tão doce e dolorosa lembrança ao mesmo tempo - acompanhando logo depois sua transição para a Bandeirantes. Naquela época o invejava por ter tido a idéia de criar um dia totalmente dedicado à programação esportiva – domingo, preenchendo uma lacuna até hoje existente na TV aberta, precária em sua programação dominical.

O advento dos canais fechados trouxe uma nova perspectiva para os apreciadores de esportes em geral. Passamos a ter acesso, não somente aos domingos, mas em todos os dias da semana, a um sem número de atrações esportivas para todos os gostos. Se formos nos restringir somente ao futebol, hoje um dia um viciado nessa modalidade pode assistir os campeonatos Brasileiro, Inglês, Argentino, Espanhol, Alemão, Italiano, Francês, Português, Holandês, Norte-Americano e Russo, além das ligas continentais.

Este fenômeno hoje somente é possível por termos como principais competidoras duas grandes empresas, com profissionais de qualidade – a Sportv, do Sistema Globo, e a Entertainment and Sports Programming Network (ESPN) do Brasil (ESPN Brasil), que pertence à rede americana ABC e à Hearst Corporation, um dos maiores conglomerados jornalísticos do mundo.

Em que pese o alto nível de todos os profissionais presentes nesta última existem alguns pontos que me incomodam nas suas diretrizes jornalístcas. A ESPN Brasil baseia suas ações nos seguintes preceitos:

·         Valoriza o fã do esporte: ele opina, critica, elogia, participa dos programas, além de dezenas de promoções todo o ano;
·         Jornalismo independente: analisa o esporte com imparcialidade e sem ufanismo;
·         Inovação: além dos dois canais de TV, tem ainda o seu premiado site, a parceria com Rádio Eldorado ESPN e a presença ativa no celular. Hoje, o resultado é uma empresa multiplataforma provedora de conteúdo esportivo;
·         Preocupação social: desenvolveu o projeto Caravana do Esporte, que atendeu mais de 60 mil crianças e 9 mil professores da rede pública de ensino em 15 estados.

Seguindo a linha do politicamente correto, tudo que foi aqui acima elencado teria pouca resistência de quaisquer pessoas em se entender como algo legítimo e razoável, até mesmo louvável para uma empresa de comunicações. Porém existe, em cada um desses pontos, questões em aberto, senão vejamos:

1º - de fato todo o telespectador tem acesso, por diversos meios, aos inúmeros programas, podendo participar com perguntas e opiniões. Porém, o tratamento dado às opiniões contrárias, na maior parte das vezes, em especial pelos comentaristas Juca Kfouri, Paulo Calçade e Mauro Cezar Pereira, é de desdém. Devo ressaltar que respeito a qualidade técnica de suas opiniões, porém da mesma forma gostaria de ver as opiniões diversas respeitadas e não diminuídas;

2º - a colocação clara de jornalismo sem ufanismo tem dois problemas – um que parece uma premissa divulgada para criticar diretamente seus concorrentes, que enalteceriam exageradamente as vitórias esportivas brasileiras; e o segundo é que não me parece que eles se perguntaram algum dia qual é a característica principal daqueles que acompanham o esporte, ou seja, não seria torcer e se locupletar com a vitória de seu time e país? A isenção e apontar possíveis erros é sempre válido, mas também é válida a comemoração exacerbada quando alcançamos um êxito após duras penas, fato não raro para um país que enfrenta tantas dificuldades como o nosso. Neste segundo ponto cito como exemplo o tratamento dado pela Globo na última Copa do Mundo a um problema entre o Dunga e um dos seus principais representantes, o jornalista Alex Escobar. Enquanto a Vênus Platinada tratava a questão de maneira objetiva, não alimentando polêmica em prol de seus interesses, quer sejam financeiros quer sejam de preservação de acesso às fontes, a ESPN Brasil preferiu pisar e repisar um ambiente que já era de difícil convivência com a comissão técnica de seleção brasileira, atitude esta que considero supérflua. O torcedor que ver o Brasil ganhar, isso é o que interessa, e não esse tipo de debate;

3º - a inovação aqui pregada em verdade pode ter sido promovida pela dificuldade de acesso à transmissão dos campeonatos nacionais – ela transmite os jogos pela rádio Eldorado. Será que eles teriam adotada a solução da parceria com a rádio se tivessem os mesmos direitos alcançados pela Globo em termos de exclusividade? Será que a ESPN Brasil, se tivesse oportunidade, não teria fechado contratos em termos exclusivos também? De qualquer forma teremos uma idéia melhor dessa estratégia para o próximo ano, uma vez que a emissora carioca perdeu na justiça esse artifício;

4º - o balanço social é uma arma de marketing usualmente utilizada hoje em dia pelas grandes empresas. Nada contra, uma vez que beneficia diretamente a sociedade em que se encontra inserida. Tenho certeza, no entanto, que esta não é uma exclusividade ESPN Brasil.

Por último, devo dizer que sou fã das análises e do debate esportivo empreendido pela ESPN Brasil. Assisto o Linha de Passe às segundas-feiras, o Futebol no Mundo e o Fora de Jogo sempre que posso, assim como as diversas transmissões esportivas. Porém, percebo uma preocupação exagerada em questionar o concorrente, quando o mesmo não se dá no sentido inverso. Acredito que a ESPN Brasil só teria a ganhar caso se preocupasse mais com a análise técnica do que com a de contexto. Não digo para não deixar de fazê-lo, porém poderia ser mais propositiva, ou até mesmo, positiva, ao invés de impor a negatividade no discurso.

Fonte: http://espnbrasil.terra.com.br/quemsomos - acessado em 03 de Novembro de 2010

sábado, 6 de novembro de 2010

A QUÍMICA DA ALEGRIA

Você já se perguntou a quantas anda seu ritmo de vida? Se percebeu em algum momento envolto em questões insolúveis, que lhe causam agonia? Teve tempo para refletir sobre si próprio e a qualidade do seu relacionamento com os entes mais queridos, família e amigos?

Vez por outra essas questões que nos afligem, mas rapidamente deixamos de lado, uma vez que uma tarefa nos aguarda, um programa já foi acordado para noite, ou aquele joguinho que você tanto ansiava vai passar na TV. Enfim, seguimos adiante, pois o tempo não para, já dizia o poeta.

Pois bem, chamo a vocês então para se voltarem, verdadeiramente, para as questões postas acima. Todas elas giram em torno de um único aspecto: estamos ou não aproveitando a vida em sua plenitude, em tudo que ela pode nos oferecer?

Recentemente li um livro chamado “A Química da Alegria” – Editora Gente, SP – 2007 – 274 págs - do Dr. Henry Emmons, em co-autoria com a Dra. Rachel Kranz. Eles abordam diretamente tais questões por um simples fato – elas são centrais no tratamento da depressão, uma doença que atinge cerca de 20% da população mundial e 10% da população brasileira, este último dado divulgado pelo Ministério da Saúde no ano passado.

O approach do Dr. Emmons se baseia no ataque ao problema da depressão por três caminhos – o físico, o mental e o espiritual. O físico seria baseado no equilíbrio na dieta alimentar e nos exercícios físicos propriamente ditos, o que leva não somente à criação de uma verdadeira fábrica produtora de elementos químicos naturais no cérebro como também recupera a auto-estima estética, fatores que contribuem no processo de recuperação de uma crise depressiva.

No que tange ao fator mental existe um ataque baseado no que de melhor proporciona a medicina ocidental – medicamentos e terapia - e a medicina oriental, com especial ênfase nesta última no que se relaciona com a medicina ayurvédica, ramo desenvolvido especialmente na Índia. Neste segundo ponto interessante também é o livro “O Demônio do Meio-Dia – uma anatomia da depressão” – Ed. Objetiva, RJ – 2002 – 483 págs - de Andrew Solomon. Neste último, após um levantamento ambicioso de todo o tipo de abordagem para o problema, chega-se à conclusão que os tratamentos mais bem sucedidos são aqueles que combinam, pela ótica ocidental alopata, os medicamentos e a terapia. Ambos podem ser também utilizados isoladamente, mas o grau de êxito diminui.

Já o que o Dr. Emmons nos proporciona de maneira direta em seu livro é a possibilidade de, quem sabe, não ser necessária a utilização dos medicamentos. Deve-se ressaltar que ele não é contrário aos tratamentos convencionais. Ele apenas tenta outras abordagens que podem traçar um quadro mais completo do paciente, atacando outros aspectos por vezes negligenciados pela medicina ocidental. Inclusive sempre coloca a importância de se consultar o profissional que está acompanhando o caso antes de qualquer atitude precipitada que o paciente possa vir a querer tomar.

Existe ainda a questão espiritual. Para tal o Dr. Emmons utiliza-se, em seu livro, de alguns exercícios – em especial do da atenção dirigida – muito disseminados pela filosofia budista. Ele coloca, no entanto, que não existe a necessidade de conversão. Tais exercícios transcendem que religião é professada, servindo até mesmo para um reforço de quaisquer uma destas, pois aproxima o ser humano daqueles momentos necessários de reflexão e oração que todos nós deveríamos ter todos os dias – e que deixamos de lado, por exemplo, em prol daquela reunião inadiável. Na semana passada me surpreendi, por exemplo, ao assistir a missa de domingo e ver o padre pedir aos fiéis que fizessem, conscientemente, um controle da respiração – expirando pela boca e inspirando pelo nariz – para poderem alcançar o nível de concentração necessário para rezar, algo que está presente fortemente como um dos conselhos do Dr. Emmons para meditação atingida via a prática do yoga.

Fiquei muito satisfeito ao tomar conhecimento do trabalho do Dr. Emmons pelo fato de que ele reforça uma crença antiga que possuo sobre os poderes benéficos de uma dieta equilibrada e da prática contínua de exercícios físicos. Se eu já tinha a vontade de manter uma qualidade de vida baseada nesses preceitos por conta de suas benesses estéticas, tal disciplina foi fortalecida com a possibilidade efetiva de alcançar o equilíbrio mental através destes mesmos princípios.

Como resultado concreto, fica o meu testemunho do aumento na valorização da vida e do relacionamento com os entes queridos, família e amigos, que tal abordagem proporciona. Eles estão acima de tudo, nos auxiliando, até mesmo indiretamente, em sermos uma pessoa melhor, pois, além dos medicamentos, dos exercícios, da dieta, o bem querer faz com que nossa alma se torne leve e que possamos enfrentar o dia-a-dia como sendo, sim, uma rotina de desafios, porém com prazer em serem vencidos.

Sites consultados:


Leituras adicionais sugeridas:

HOUSTON, Nancy – Marcas de Nascença – Ed. L&PM – Porto Alegre, RS – 2008 – 272 págs.
WALLS, Jeannette – O Castelo de Vidro – Ed. Nova Fronteira – Rio de Janeiro, RJ – 2007- 367 págs.
Revista VIDA SIMPLES – periodicidade mensal – Ed. Abril.

sábado, 30 de outubro de 2010

HERÓIS E VILÕES

A vitória de Fernando Alonso no último Grande Prêmio da Coréia do Sul fez dele um dos principais favoritos ao título do Campeonato Mundial de Pilotos da Fórmula 1 (F1) este ano. Seria o seu terceiro título mundial, se juntando a grandes campeões, como Ayrton Senna, Niki Lauda e Nelson Piquet, por exemplo.

Este fato suscitou em mim um misto de sentimentos: primeiro, não gostei de tal perspectiva, pois considero o piloto espanhol, em que pese de grande qualidade, ter um caráter para lá de duvidoso – tal qual um certo piloto alemão que já ganhou por sete vezes o título mundial; e em segundo lugar me fez um tanto quanto reflexivo. Em que sentido, poderiam perguntar vocês. Vejamos então.

Busquei na minha memória os sentimentos que nutrimos – e aí falo na primeira pessoa do plural para entrar o campo dos generalismos, o que é sempre perigoso – quando pilotos brasileiros com grande potencial se encontram envolvidos na disputa pelo campeonato. Mais: quando pilotos brasileiros cometem “erros” em prol de buscar a conquista do título mundial, ou de uma vitória, que seja.

Observei, em meio a este raciocínio, que na F1 facilmente elegemos nossos heróis e vilões. Venho acompanhando o campeonato há muito tempo – basta dizer que me lembro, quando criança, de ter visto corridas em que a Copersucar, com Emerson Fittipaldi ao volante, teria participado (final da década de 70) – e um certo padrão é perceptível: temos o nosso herói, cheio de virtudes, contra o vilão, aquele que busca derrotá-lo.

Porém, quando um brasileiro estava envolvido, este facilmente se tornava o nosso herói. E quaisquer estrangeiros que se interpusessem em seu caminho seriam os vilões. Tivemos até mesmo o privilégio de termos dois heróis e dois vilões ao mesmo tempo, quando usufruímos da existência simultânea de Senna e Piquet. Cada um com sua torcida, que obviamente via o contrário como seu antagonista.

O ponto a que quero chegar é o de quanto somos enviesados em nossa análise. Senna, um dos baluartes de nosso esporte, tem em sua carreira dois momentos que são emblemáticos desta dicotomia. Em 1989 Senna buscava seu segundo título Mundial e disputava o campeonato palmo a palmo com Alain Prost, piloto francês que no circuito era conhecido por sua alcunha de “Professor”. Ambos estavam na mesma equipe – McLaren – e nem mesmo isso serviu para acalmar os ânimos. No Grande Prêmio do Japão daquele ano, Prost ao perceber que seria ultrapassado pelo brasileiro obrigou a ambos saírem da pista. Caso isto ocorresse ele seria automaticamente campeão.

Porém, Senna conseguiu retornar a corrida, cortando caminho, sendo ao final, mesmo obtendo o 1º lugar, desclassificado pela direção de prova. Tal fato deu o título ao francês, que não teve que esperar mais do que 1 ano para ter o seu troco. No mesmo autódromo, em Suzuka, no Japão, Senna tiraria Prost da prova logo na primeira curva, conquistando assim o título naquele ano. Este ato foi ovacionado naquela temporada como um ato de justa vingança, pelo menos por nós brasileiros.

Pois bem, poderíamos citar inúmeros outros casos, mas vou ficar em apenas mais outros dois – Nelson Piquet e seu destempero dos tempos de piloto eram tratados como um exotismo de campeão; e a palhaçada em que se envolveu o seu filho, Nelsinho Piquet, em 2008, em Cingapura, teve defensores como se este o fosse alguém que estava suficientemente pressionado para fingir um acidente e dar a vitória ao seu companheiro de equipe, o mesmo Alonso citado no início deste texto. Enfim, um erro de principiante em sua carreira.

Enquanto isso, observamos e julgamos pilotos estrangeiros, elencando seus pecados e falhas de caráter. Schumacher, heptacampeão, ganha a alcunha de Dick Vigarista por suas tramóias; Alonso seria um safado, por obrigar a Ferrari a dar ordens de abertura de passagem ao Massa; Nigel Mansell seria um piloto destemperado a bordo de um carro que corrigia seus defeitos; etc. Ou seja, elegemos nossos heróis e vilões, aportando defeitos com uma facilidade incrível nestes últimos.

Estaríamos ou não movidos pela paixão quando adotamos tais posturas? Me parece que sim, mas ao mesmo tempo entendo que isto é inerente ao ser humano. Ele constrói uma novela da vida para poder acompanhar, e a F1 seria apenas mais um reality show dos tempos modernos a 300 Km/h. Quanto ao resultado deste ano, acho que o espanhol vai levar, para o meu desgosto. Enquanto isso, na Espanha, ele é visto como um Dom Quixote. Nada mais natural, não?

sábado, 23 de outubro de 2010

O VOTO

Não, eu não irei declarar o meu voto tal qual fez Caetano Veloso no primeiro turno. Aliás, eu nunca disse meu voto para ninguém, nem mesmo para a minha família – e a pressão não foi pouca.

Lembro-me que tomei esta decisão desde que comecei a minha vida de eleitor. Primordialmente por entender que não tinha o direito de influenciar as pessoas para um determinado lado. Afinal, a grande conquista de uma verdadeira democracia deveria ser a possibilidade do eleitor, com grau de informações que tivesse sobre o seu futuro representante político, decidir pelo melhor candidato baseando-se em seus princípios e naquilo em que ele acredita ser o melhor para a sociedade, não? Mas eu volto para esse tema – formação do voto ideal - mais adiante.

Não achava correto, por exemplo, dizer para a minha mãe – “Léo, diz em quem você vai votar? Assim eu posso votar também!” - com a consciência tranqüila de que isso não seria um retorno canhestro ao antigo voto de cabresto. Depois outro fato reforçou essa minha atitude: passei a trabalhar nas eleições, sempre como Presidente de Seção, algo que o fiz por 10 anos. Entendi então que a posição mais adequada e ética seria de realmente nunca informar o meu voto para quem quer que seja. E assim tem sido desde então, mesmo já tendo passado esse meu período de contribuição eleitoral “voluntária”.

Eu diria que quem me conhece tem uma leve desconfiança do meu voto, mas aqui vou aproveitar então para descrever o que considero a formação de pensamento ideal para proceder com tal ato cívico. Para isso vou relatar a situação em que pela primeira vez pude verbalizar essa minha teoria de viva voz, mesmo que não tivesse sido necessariamente bem sucedido naquela ocasião, creio.

Estava em Brasília, a trabalho, perto de um período eleitoral, quando o motorista de táxi, a guisa de puxar assunto, me perguntou – “E o senhor, Doutor – nada como botar um terno em Brasília, viramos PhD automaticamente – em quem vai votar?”. Então iniciei a seguinte explanação, após informar que não declarava meu voto para ninguém:

“Acho que o voto tem que ser formado do seguinte modo: a avaliação entre três dimensões – a pessoal, a da comunidade e a da sociedade. O melhor voto seria aquele que pudesse incluir a combinação equilibrada destes três elementos. Explico.

Primeiramente o eleitor deveria avaliar como aquele candidato poderia beneficiá-lo diretamente, quer seja por apoiar teses que vão garantir sua manutenção no emprego – por exemplo, obras, caso ele fosse da trabalhador da construção civil – como o bem estar de sua família. Depois o eleitor deveria avaliar como o candidato iria beneficiar a comunidade em que está inserido – promessas de postos de saúde para o seu bairro, por exemplo; e finalmente como o candidato, baseado em seu programa de governo, traria um bem maior para a sociedade de seu país, para o Brasil enfim.

Esse último aspecto talvez seja o mais difícil, pois se faz necessário acreditar em princípios, em ideais que devem (ou pelo menos deveriam) ser seguidos. Porém, como o nosso sistema eleitoral privilegia o personalismo, ou seja o candidato em si, e não programas político-partidários – em linguagem simples, vota-se na pessoa, não importando o partido, pois estes são fracos e não seguem programa nenhum, fazendo acordos espúrios com qualquer um – a construção deste voto que considero ideal se complica.

Como eu enfrento esta situação: para as eleições de cargos de maior peso – Presidente, Governador, Prefeito e Senador – normalmente escolho um candidato, mesmo que seja o menos ruim, mas escolho. Me recuso a votar em branco ou nulo. Seria um desrespeito a um direito duramente conquistado. Para os demais cargos – Vereador, Deputado Estadual e Deputado Federal – voto em legenda. É a minha parcela ingênua em acreditar um ideal, em um modelo para a nossa sociedade, mesmo vivendo no cenário político que coloquei anteriormente. Existe uma tática interessante ainda – reflexo da fraqueza partidária – que é votar num candidato do partido A para o cargo do Executivo e na legenda do partido B para os cargos do Legislativo, criando um equilíbrio e reforçando o caráter fiscalizador que a oposição deve (ou pelo menos deveria) ter. E assim se formaria o voto ideal e mais equilibrado, a meu ver”.

Pergunto a vocês: depois desta minha explicação, em quem que você acha que o motorista de táxi votou? Eu não sei, porque a explanação acima relatada tomou todo o tempo do trajeto até o aeroporto, e eu não o questionei, mas eu tenho a ligeira impressão que ele pensou – “É, é melhor mesmo eu votar no deputado X, que me prometeu um emprego de motorista do Congresso”. Enfim, a luta continua!

sábado, 16 de outubro de 2010

RAZÃO, PAIXÃO E ÉTICA NO ESPORTE

No final de semana passado terminou mais uma epopéia dos comandados do Bernardinho. Em meio a um novo êxito muitos questionamentos surgiram em função da trajetória seguida para alcançá-lo, especificamente a derrota – aparentemente manipulada – para a Bulgária por 3 x 0.

Para aqueles que não têm o hábito de acompanhar os esportes explico: o regulamento do Campeonato Mundial de Vôlei é decidido de comum acordo entre a Federação que irá hospedar o torneio e a Confederação Mundial. A Federação Italiana arquitetou uma estrutura que facilitava o caminho da seleção da casa. Até aí, tudo normal, pois esse é o procedimento padrão. Exemplo: no futebol, normalmente a seleção que hospeda a Copa do Mundo, tudo dando certo, tem como prerrogativa se deslocar menos entre as sedes – isso quando não fica jogando apenas em uma cidade, enquanto as outras seleções giram pelo país.

O problema no caso do Mundial de Vôlei masculino é que as regras geradas acabaram por criar uma situação que é a pior possível para um esporte de competição: a derrota na segunda fase propiciaria ao perdedor a vantagem de poder escolher um número menor de deslocamentos até a fase final, poupando seus jogadores. Ao contrário do foco de muitos dos comentários, a escolha do Brasil teve esse motivo principal – além de algumas questões passionais que tratarei mais a frente. Como desdobramentos secundários cairiam num grupo “teoricamente” mais fácil – ao invés de enfrentarmos Cuba e Espanha, enfrentaríamos República Tcheca e Alemanha.

Esse fator secundário foi somente gerado pela derrota do Brasil, ainda na primeira fase, para a própria Cuba por 3 x 2, o que criou este cruzamento imprevisto. Se tudo tivesse corrido como todos imaginavam, o Brasil teria vencido Cuba e sido o primeiro de seu grupo, evitando toda essa confusão.

Pois bem, explicada a situação, vamos aos reflexos sobre a tríade do título: razão, paixão e ética. Eu separo as reações da seguinte forma: a do torcedor – eu incluído; a dos atletas – Bernardinho incluído; e a dos analistas.

O torcedor em geral pouco está se importando a maneira como o time vai alcançar o título. Existe até mesmo aquela célebre frase: “Quero ganhar o jogo de 1 x 0, aos 48 do segundo tempo, com gol de mão e impedido!”. Esse querer está calcado na paixão, não existe uma preocupação com a ética. No meu caso, vibrei com o título como sempre, mas toda vez quando peso a situação de derrota para a Bulgária confesso que preferia que o Brasil tivesse lutado com todo o seu ardor pela vitória. O raciocínio de um apaixonado pelo esporte me traz esse sentimento. Gostaria que o Brasil demonstrasse na quadra que era muito superior a qualquer tipo de armação, enfrentando todas as dificuldades, e assim a ética do esporte estaria preservada.

Na ótica dos atletas, eles querem ganhar sempre. O próprio Bernardinho prega essa filosofia. Houve muito disse me disse sobre quem teria tido a iniciativa de facilitar o jogo contra a Bulgária. A mais forte é a de que teria partido dos próprios atletas, que teriam convencido o treinador de que era o que tinha que ser feito. As declarações antes do jogo, de revolta com o regulamento que beneficiava a Itália, já denotavam que a paixão estava se sobrepondo à razão na avaliação deles. Isso se refletiu em quadra. As declarações posteriores – Giba: “Isso é uma mancha na minha carreira!” – demonstra que após o feito, com a cabeça mais fria, a razão e a ética tinham sido maltratadas em sua própria auto-avaliação. Tal destempero continuou com o título já ganho, na entrevista coletiva aqui no Brasil, com os jogadores irritados com as perguntas sobre um assunto que os incomodava. Mas aí o leite já estava derramado.

Por último os analistas: enquanto alguns se mostraram tremendamente decepcionados com a postura da seleção brasileira, indicando que a derrota forçada havia ferido a ética do esporte – calcada na busca pela vitória sempre – os defensores da tática adotada afirmavam que o Brasil não havia ferido esta mesma ética, uma vez que havia aproveitado uma oportunidade que a regra lhe concedia. Ou seja, não havia desrespeitado o regulamento do torneio.

Reitero: na minha modesta opinião a ética do esporte foi sim ferida. Mas nem por isso condeno os jogadores e o treinador. Somente quem está vivendo uma determinada situação sabe onde “aperta o calo”. Imaginem vocês jogar um campeonato em que as regras foram criadas para te prejudicar e mais, para beneficiar o time da casa. Tendo um contratempo no meio do caminho – a derrota no primeiro jogo contra Cuba – o time buscou as alternativas para voltar a trilhar o caminho da vitória. E efetivamente conseguiu. Continuo fã do trabalho da nossa Federação de Vôlei, dos jogadores – todos que construíram esta bela história nos últimos 30 anos – e do Bernardinho, a quem considero um ícone do esporte nacional.

domingo, 10 de outubro de 2010

UMA BREVE FÁBULA DA VIDA

O cão olhava ao redor e não compreendia: como os demais animais não percebiam a beleza da vida? Como isso era possível?

Olhava para o gato, sempre ensimesmado, afoito pela sua comida e casa, sem observar o céu azul que se avizinhava.

Olhava para o macaco, preocupado que estava em correr atrás das bananas, troféus fugazes em torno de uma busca maior – a felicidade.

Olhava para o leão a alisar sua juba, contente que estava em receber as benesses de ter uma leoa que tudo lhe dava. E ainda assim reclamava do calor da savana.

Olhava a girafa, penalizada que estava por não poder reclamar seu direito a brincar de esconde-esconde.

Olhava para a baleia, que questionava o porquê de ter que buscar ar na superfície, uma vez que seu verdadeiro habitat era o fundo do mar.

E assim por diante, todos os animais tinham um motivo de reclamação. Mas o que é a vida senão superação?

O gato, com suas carícias e ronronar, trazia a reboque os humanos a lhe acariciar.

O macaco, com suas peraltices, trazia o sorriso das crianças a lhe alegrar.

O leão, com o seu rugir, a todos protegia, imponente como era considerado o rei dos animais.

A girafa, majestosa, alcançava o topo das árvores a vislumbrar o sem fim da beleza natural que a cercava.

A baleia traçava os sete mares, respirando por breves momentos para depois retornar alvissareira para o seu mundo subaquático.

O cão assim entendia que mesmo por vezes incompreendido, mesmo que por vez sendo alvo do ralhar dos seres humanos, ainda assim tinha um papel a cumprir, uma lacuna a preencher. Ao se superar, ao vencer as dificuldades da vida, cada pequeno passo lhe trazia um saborear daquele momento de vitória que fazia com que ele seguisse adiante.

Mesmo no momento de maior turbilhão, percebia que a esperança expressa no céu azul, no sabor das frutas, no sol a brilhar, no verde das árvores, e no frescor das ondas do mar pintava um quadro que nem mesmo o maior dos impressionistas poderia igualar. Assim, quando um dos seus companheiros do mundo animal se aproximava para reclamar ele falava:

- Olhe a sua volta. Veja como a vida é bela. Veja como você se supera a cada dia e como até mesmo a possibilidade de contestar pode ser considerada uma dádiva. Não existem verdades absolutas. O tempo dos reis que tudo podiam, que tudo sabiam, já passou. Hoje nós somos seres conscientes de que o nosso próprio esforço é que faz a diferença no mundo. E se tivermos como premissa de que este é o nosso mundo, a nossa vida, e de que merecemos de que ela seja bela, nada poderá impedir o nosso caminhar.