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sábado, 30 de junho de 2012

DESPEDIDA

A jornada foi longa. Pude trocar idéias com vocês por praticamente dois anos. Conversamos sobre diversas coisas, comportamento, esportes, filmes, livros, religião, etc. Alguns de vocês apresentaram seus pontos de vista. Outros, compartilharam os meus com seus amigos e talvez tenham, neste momento, pontuado suas considerações. Alguns permaneceram em silêncio, mas tocados de alguma forma. E ainda deve ter existido aquele grupo que pensou: “Mas que saco esses e-mails, textos, posts, etc”.

Mesmos esses últimos os considero meus leitores. Uma linha que me acompanhou – e creio, acompanhará sempre – é que o ser humano é complexo, multifacetado, dando margem a diversas interpretações e ações. Não temos que julgar ninguém, afinal, também temos nossos dias de fúria, aqueles em que cometemos erros ou acertos, dependendo do ponto de vista.

Colocaram para mim certa vez que eu, em meus escritos, sempre deixo uma porta aberta para a alternativa. Conscientemente ou inconscientemente não vejo como ser diferente. Minha meta, com Leopideas, era instigar a reflexão a partir da minha visão, mas sem negar as dos outros jamais.

Interessante observar como os assuntos mais polêmicos giraram em torno de dois temas, na qual opiniões sólidas, extremas, não convergiam para um consenso: religião e a extradição ou não de um estrangeiro em terras brasileiras. E os que mais fizeram sucesso foram vinculados a trajetória dos seres humanos em retomada das suas vidas ou até mesmo pela construção paulatina de seus parâmetros comportamentais: André Agassi e domesticação (de animais ou seres humanos).

Ou seja, pelo lado mais polêmico, tínhamos questões as quais posições totalmente divergentes, aparentemente sem possibilidade de consenso, geraram um debate que apontou os diversos prismas de uma mesma questão. Êxito! De outro, mesmo não gerando polêmica, foram distribuídas por um grande público, por iniciativa de vocês mesmos, talvez porque muita gente precisasse refletir sobre tais temas. Êxito novamente! Consenso, dissenso. Dois lados de uma mesma moeda. Não existe vitória única no diálogo. A conquista é de todos.

Dessa forma, penso que cumpri minha missão. Não somente para com vocês, mas para comigo mesmo. Eu também usufruí da sua presença, pois vocês me instigaram a escrever, algo que faço com grande prazer. Mas, ao mesmo tempo, também sou muitas vezes fustigado por um sentimento de obrigação, o que não é nada bom. A fluidez se perde, e isso é transposto para o texto.

Além disso, há um fator de prioridade! Etapas da vida são ultrapassadas, e temos que saber dosar nosso tempo para bem aproveitá-lo. É fato que o início desta caminhada foi, mais uma vez, uma válvula de escape para o vale em que me encontrava. Não saí totalmente dele, mas já me sinto forte o suficiente para subir a montanha. Isto devo a vocês, que me ouviram, leram, olharam para os olhos desse pingüim, apontaram meus erros e qualidades, abriram a clareira para que eu pudesse ver a trilha.

Fica aqui, nessa despedida, nesse até breve, o meu agradecimento. Foi sugerido que eu concentrasse meus escritos nas resenhas literárias, gênero o qual eu teria uma qualidade maior. Talvez essa seja uma empreitada futura, não sei ainda. Já comecei a refletir num nome para um novo blog nesse sentido, mas certamente vocês serão os primeiros a saber. Pois, se eu me auto-intitulo companheiro para vida, um companheiro precisa de parceiros, senão seria um solitário. Vocês estão comigo e eu estou com vocês, senão fisicamente, em mente e coração. Até a próxima!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

QUITO

O turismo histórico, aquele que baseia seu sucesso na visita de uma leva de curiosos a ruínas, museus, cidades antigas, etc, tem distintas vertentes se olhados para os diferentes continentes. Na Ásia faz sucesso o Palácio do Imperador na China, assim como a Grande Muralha, reflexos de tempos idos que parecem querer voltar, quando aquele país dominava grande parte do mundo.

No Japão, por sua vez, pouco se fala das relíquias históricas, sendo a única exceção um ser humano, o próprio Imperador. Seria como se todo o país tivesse parado no tempo quando as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki assombraram o mundo. Quando se fala em história no Japão, este seria o marco zero, o da retomada. Talvez o cineasta Akira Kurosawa negasse isso, mas aos olhos do mundo moderno de hoje, Japão é sinônimo de tecnologia – pelo menos é o que os turistas buscam primeiro ao pisar na terra do Sol Nascente.

Quando nos dirigimos para a Europa, existe todo um circuito financeiro pautado pelo interesse turístico em torno de castelos, museus, da cultura de seus antigos escritores, reis e cientistas. Seria como se a Europa, organizada como é, tivesse conseguido o feito de bem catalogar suas qualidades, potencializando sua divulgação. Um exemplo disso é a bela Paris turística, que tem seus méritos na Torre Eiffel e no Louvre, mas que passa ao largo dos subúrbios cheios de imigrantes e das mazelas do desemprego.

Obviamente o intuito de chocar é explícito nesta colocação, mesmo que não esteja distante da verdade, uma vez que este autor se aproveita do símbolo máximo, da créme de la creme, como diriam os próprios franceses, que a Europa tem a nos oferecer. Se bem que eu, particularmente, salvo infortúnios na alfândega, acho que irei preferir a Espanha, quando tiver a oportunidade de conhecer os dois países.

Este já longuíssimo prólogo é para bem contextualizar meus sentimentos para com Quito, capital do Equador, a qual tive oportunidade de visitar, profissionalmente, por duas vezes nos últimos 3 anos. Quando pensamos no estereótipo de uma cidade andina imaginamos os representantes da cultura inca, maia e asteca – e aqui posso estar falando uma grande bobagem geográfica, pelo pouco conhecimento que possuo sobre a matéria, o que de uma certa forma não deixa de representar a típica soberba do turista que se acha culto – se esbaldando pelas ruas, a importunar os estrangeiros, como pedintes ou para vender os apitos típicos da Praça XV no Rio de Janeiro.

À parte a gigantesca profusão de Igrejas, que faz com que Quito, em seu Centro histórico nos lembre demais Salvador, na Bahia, nada tão longe de uma cidade multifacetada. Quito possui parques arborizados, ótimos para se manter a forma, isso para quem consegue correr com o ar rarefeito de lá. Na sua parte moderna, a cidade apresenta um casario de grande beleza, assim como prédios que não ficam a dever a nenhuma metrópole.

Da mesma forma, porém, que Paris, isso não dá para esconder os rincões de pobreza existentes em seu entorno. E é engraçado fazer essa comparação. Porque o que será tão globalizado quanto a desigualdade social hoje em dia existente em todo o mundo? Não importa o nível de desenvolvimento da sociedade, salvo, talvez, raras exceções escandinavas, mas todos os países possuem seus pobres, parcela da população que muitas vezes fica escondida aos nossos olhos deslumbrados por estarmos fora de nosso país.

Quito, como a maioria das cidades latino-americanas, tem, pelo menos, esta qualidade: a sinceridade em não esconder o seu povo. Enquanto isso, na Europa, discursos direitistas pregam o isolacionismo dos seus em relação aos bárbaros. Meu Deus, as letras, o que as letras nos fazem! Imaginei eu em escrever sobre Quito, inicio falando de História, faço um libelo contra a desigualdade de sentimentos entre os povos, para então retornar, encerrando com a lembrança de que todos nós temos um pé na cozinha, quer seja uma cozinha dos vikings, ou de uma taba, ou de uma pequena aldeia na África! Viva Quito!

sábado, 23 de junho de 2012

GRAMADO

No final do ano passado fomos, em família, à Gramado, para viver a experiência do evento conhecido como Natal Luz. Posso dizer que em termos pessoais valeu cada centavo pago. Permanecemos bem localizados, num hotel próximo ao centro da cidade. O deslocamento, que já não seria um problema, foi de todo modo facilitado pela agência de viagens que nos auxiliou no agendamento das três atrações principais.

Destas a que mais encantou ao casal foi o Nativitaten. Um misto de ópera ao ar livre com show de fogos de artifício, em que os artistas principais ficam localizados em meio a um lago. Levando-se em conta que para dar maior brilho à festa existem ainda canhões de laser fazendo imagens caleidoscópicas, e o famoso gelo seco de todo entretenimento. Mesmo com o ar de programa de turista, não deixa de impressionar – como acredito que impressionem as mulatas do Plataforma e o tango em Buenos Aires.

Porém, para a nossa pequena, assustada que ficou com o barulho gerado pelos fogos, a preferência recaiu sobre o desfile de Natal, na principal avenida da cidade. Parecia uma parada daquelas que vemos os americanos fazerem, sem, porém, os gigantescos balões de gás. A organização impressiona, com lugares marcados por toda a extensão da pista nas arquibancadas laterais. A lastimar os preços dos alimentos e lembranças – um DVD custava R$ 60,00. Ou seja, só mesmo sendo muito turista típico para entrar nessa!

Em terceiro lugar tivemos a peça de teatro infantil, encenada num gigantesco espaço ao ar livre, chamada “A Fantástica Fábrica de Natal”. Em que pese a beleza dos figurinos, extremamente coloridos para chamar a atenção das crianças, estávamos por demais distantes do palco, nas arquibancadas ao fundo, prejudicados ainda por uma coluna que estava bem a nossa frente.

Mas estas atrações foram todas realizadas durante a noite, naquela semana que passamos por lá. Havia ainda os passeios durante o dia, dos quais o que fez mais sucesso, não somente pela linda paisagem, mas também pelo apelo histórico, foi a visita à produção de vinhos no Vale dos Vinhedos. Tivemos direito, inclusive, a uma degustação. Ora, vocês sabem que não sou um apreciador de bebidas alcoólicas. Porém, cumprir o ritual – até mesmo porque a dose é mínima – foi divertido.

Um aspecto a parte foi a guia que nos acompanhou a maior parte do tempo. De típica ascendência alemã, era extremamente rigorosa com os horários, ameaçando a todo momento com a saída do ônibus e o possível esquecimento de alguém, que ficaria para trás. De tão constante era o clima tenso nesse sentido que acabou ficando engraçado.

Por último devo dizer que fazer este programa em família é uma lavagem na alma. Voltamos à infância e o simples fato de ver a felicidade nos olhos de nossos entes queridos já vale à pena. Deve ser por isso que é denominado Natal Luz: é a chance de iluminar mentes e corações por um mundo melhor.

OBS 1: o mundo quase de faz de conta de Gramado, sem cercas, com seus jardins, como se fosse uma cidade européia, impressiona tanto quanto as atrações festivas. A cidade é muito bem cuidada, com casas que parecem saídas de postais suíços. Se não fosse o calor típico do verão brasileiro a nos lembrar que estávamos nos trópicos poderíamos nos enganar facilmente.

OBS 2: ainda sob o aspecto apontado na observação anterior, é impressionante o contraste com a cidade vizinha, Canela. Esta parece descuidada em relação à irmã mais famosa.

OBS 3: perdi o apontador de meu celular no Nativitaten. Sem problemas. Foi o que menos importou...

domingo, 17 de junho de 2012

A QUEM DE DIREITO

O que é gestão? E o que é o bom gestor? Essas são perguntas que nos cercam quando somos convidados a assumir uma função, projeto, cargo, whatever que tenha a ver com a condução de uma equipe, ou seja, pessoas. Mas quando vamos ao dicionário o vínculo direto com a “gestão de pessoas” inexiste. Seria como se esse último fosse um subconjunto daquela primeira.

Passamos então a procurar boas referências, algo no qual possamos nos espelhar para nos bem conduzir na atividade para a qual estamos abraçando. Essas referências normalmente estão vinculadas com uma ideologia pessoal que vamos construindo com o passar dos anos. Chamo de ideologia pessoal aquelas teorias que mais nos tocam e que pelo nosso bom senso entendemos ser a mais adequada para ser aplicada no ambiente em que vivemos. Outros poderiam dizer que isso é a pura definição de política. Nesse sentido, uma serve a outra? A gestão é alimentada e induzida pela política e vice-versa?

Para o Houaiss, gestão é “1. Ato ou efeito de gerir; administração, gerência 2. Mandato político [...]” e política é “1. Arte ou ciência de governar [...] 8. Fig. Habilidade no relacionar-se com os outros tendo em vista a obtenção de resultados desejados [...]”. Dessa forma, nessa obra de referência a junção das duas definições alcança, enfim, a ligação que me toca diretamente quando falamos em gestão.

Esse extenso prólogo tem como propósito expor para vocês uma experiência que tive ao final de 2011, em testemunhar a excelência de gestão que existe no Brasil. Na verdade, a expressão “ilhas de excelência” nunca foi tão adequada, uma vez que um dos exemplos que tive a oportunidade de testemunhar localiza-se justamente numa ilha – Florianópolis.

Fui, por motivos profissionais, à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Lá chegando, após ter cumprido minha missão acadêmica, mantive contato com a estrutura do Curso de Pós-Graduação em Direito daquela Universidade. Equipamentos e estrutura de primeiro mundo, mobiliário moderno e novo, todas as condições para que o estudante possa se dedicar de corpo e alma ao seu objeto de pesquisa. E aí novamente me assaltou aquela pergunta inicial: o que é gestão?

De minha experiência universitária – e porque não dizer, de vida – nota-se claramente que o Judiciário e tudo que tem algum tipo de conexão com esta seara da comunidade, consegue efetivamente condições benéficas para sua condução. Prédios modernos são construídos para ser sede de tribunais, a melhor remuneração no serviço público se encontra naquele Poder, e os magistrados são respeitados como uma classe à parte da sociedade. Seria a gestão deles diferenciada de todo o resto ou seria meramente um sólido casulo político, por ser a base de todo o entendimento da humanidade como o pilar para se viver em comunidade?

Obviamente contatos com os mais altos escalões auxiliam demasiado o gestor a ser prolífico quando atua no campo do Direito. Dessa forma, a política por mim anteriormente citada surge como o principal instrumento facilitador de uma gestão nesta área. Conceitualmente as Faculdades de Direito são tidas como núcleos de defesa do conservadorismo. E isto seria um atrativo e tanto para que as elites incentivassem sua estruturação. Mas essa seria a única razão? Além disso, preconceitos dos setores ditos “de esquerda” invalidariam a área do Direito como exemplo a ser seguido em termos de gestão?

Tentando responder a essas perguntas partimos para a análise de um paradigma: conhecimento é poder, parece que sobre isto não cabe mais dúvida. Em meados do século XX as famílias ansiavam ter seus filhos trilhando os caminhos do Direito, Engenharia ou Medicina, todas carreiras nas quais a cultura aprofundada é condição sem a qual ninguém prospera. Mas esta é uma verdade que, levando-se em conta a evolução da disseminação da informação, com a internet, e sua filtragem a partir das referências que construímos como pessoas, moldando a nossa personalidade, passaram a permear um sem número de outras profissões, facilitando o alcance de objetivos traçados.

Tendo em vista este novo contexto em que a sociedade humana está inserida, cabe hoje que apenas determinados grupos tenham acesso às facilidades e ao que existe de melhor no mundo moderno? Penso que a resposta é não. Dessa forma, resta trabalharmos por uma melhor gestão, de pessoas e recursos, que se reflitirá na distribuição de conhecimento e melhores condições a todos os pesquisadores, de todas as áreas, utilizando de maneira inteligente os artifícios políticos para tal, alcançando a quem de direito, ou seja, a toda a Humanidade.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

COISAS DAS QUAIS SENTIMOS FALTA

Recebi no final do ano passada a dica de leitura e possível sugestão de escrita sobre um tema o qual o Sr. Cassius Medauar, jornalista free-lancer, teria elaborado. Ele escreveu um texto sobre as “Sete Coisas de que o Freela Sente Falta” – http://www.publishnews.com.br/telas/colunas/detalhes.aspx?id=66523 .

Inspirado pela abordagem então adotada, imaginei o que poderia escrever em termos similares. Uma alternativa seria produzir algo genérico, do tipo “o que eu sinto falta”. Mas, acompanhando o ponto de vista de que ele o fez a partir de sua experiência profissional, escolhi escrever com base no que um servidor público sente falta. Não sei se alcançarei o número de 07 coisas, mas farei um esforço pela minha inventividade.

(1)    Como servidor do Poder Executivo, sentimos falta da possibilidade de ganhar salários similares aos praticados no Poder Judiciário e no Legislativo. Porém, o senso de cidadão aponta, de modo contrário, por um maior equilíbrio de valores. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Antes precisamos fazer valer o reconhecimento por nossos serviços, o que leva ao segundo ponto;
(2)    Maior reconhecimento. O serviço público é uma área em que a máxima de que muitos pagam por poucos é válida para diversos campos, inclusive o financeiro acima apontado. Porém, o que me incomoda mais é que enquanto alguns literalmente “se encostam no balcão”, reforçando o estereótipo do servidor público que não quer nada com o trabalho, tantos outros, de grande dedicação à sociedade para qual trabalham, têm que agüentar os comentários do tipo: - “Ah, você é servidor público? Que vida boa, heim!?”. Poucos são os que vêem aqueles que chegam cedo e saem tarde, que dão sangue, suor e lágrimas para bem representar o Brasil e conduzir dignamente suas ações;
(3)    Algum tipo de Fundo de Garantia, como existe na área privada. Muito se discute a construção de algo nesse sentido, em função do impacto benéfico que poderia ter sobre as contas públicas caso isso minorasse o buraco da Previdência. Porém, pouco se evolui nesse sentido, pois o temor pela perda dos benefícios é maior do que a vontade de ter um instrumento deste tipo;
(4)    Algo que Medauar citou no seu texto e que temos em comum: trabalhar de bermudas. Ele se corrigiu ao final, falando que possui tal benesse por trabalhar em casa, mas os servidores públicos – e da área privada também – não o tem. Num país tropical como o nosso o Casual Day poderia ser pensado de maneira mais flexível, radical mesmo;
(5)    Estrutura. Um dos grandes dilemas do serviço público é como lidar para construir uma estrutura que beneficie aqueles que o buscam sem termos os melhores instrumentos de mercado para atender o contribuinte. Isso se reflete em função da Lei 8.666, que regula todo o processo de compras na área pública. A política da vitória do menor preço, sempre, contribui, por exemplo, para desvios de conduta. Recentemente foi divulgado como servidores mal-intencionados, de conluio com empresas privadas, podem burlar esta regra num processo licitatório. Caso nós tivéssemos a possibilidade, com o devido acompanhamento e transparência, de praticar a política de preço e qualidade do produto, com uma abordagem de custo-benefício, certamente a máquina do Governo poderia ter os melhores instrumentos – equipamentos, software, profissionais especializados para o desenvolvimento de um projeto, etc – para construir a melhor estrutura possível de trabalho;
(6)    O estabelecimento do exame psicotécnico como uma das etapas do concurso público. Levando-se em conta a indústria de concursos hoje em dia, mais e mais profissionais bem qualificados iniciam carreira junto ao Governo. Porém, também existem os chamados “Concurseiros Profissionais”, que muitas vezes são a semente daqueles servidores “de balcão” citados acima. E existem até mesmo os casos de loucura típica. O contrangimento em limá-los do trabalho quando do estágio probatório é tanto que estes são mantidos em detrimento da boa condução do trabalho – e da segurança dos colegas, algumas vezes;
(7)    Por último – e não é que eu cheguei ao ponto 7 – voar de executiva em viagens longas, a trabalho. Este privilégio é reservado apenas aos dirigentes máximos das instituições. Porém, muitos são os gerentes de nível médio que dedicam horas de trabalho em viagens de longo curso, representando os interesses do Brasil, e que têm que viajar de econômica, chegando “quebrados” para tal tarefa de alto relevo.

Entenderei perfeitamente as considerações contrárias ao que muitos já entendem como uma classe superprivilegiada. Isso faz parte do processo de reconhecimento supracitado – de longe, a meu ver, o ponto mais importante da lista acima, pois geraria benefícios sobre todos os demais apontados. Mas não podemos exigir que o contribuinte entenda a realidade de pressão e pouca estrutura com a qual convivemos. Diria, assim, que isto foi apenas um desabafo. E vida que segue, pois há muito trabalho a se fazer.

domingo, 10 de junho de 2012

TOCA DE ASSIS

Já fui chamado de mestre do desapego. Em que pese gostar do título – e de elogios diversos, quem não gosta, até mesmo aqueles que dizem não gostar! – infelizmente não acredito ser merecedor do mesmo. Para avaliar essa questão deveríamos começar pelo que entendemos como “desapego”.

Na minha visão, desapego, para ser total, deveria ser a desvinculação irrestrita de tudo que venha a ser um bem material. Poucos podem, portanto, trazer essa alcunha para si. Mesmo os comunistas mais ferrenhos – Oscar Niemeyer, por exemplo – não se “desapegam” dos seus bens materiais. Continuam a viver nos seus palácios de cristal, pregando a igualdade entre os povos e distribuição igualitária de posses – desde é claro que tais não compreendam os seus já ditos palácios de cristal.

Mas aí, para não dizer que eu fui demais parcial na minha análise, o que o sistema capitalista tem a oferecer como contraponto? Aqueles que têm posses, digamos, “exageradas”, descobriram um grande veio para contribuir para a sociedade, muitas vezes – a maioria, digamos – com interesses fiscais e de conquista de consumidores para os seus produtos. São as atividades de cunho social que servem não somente como propaganda de suas empresas, mas como também para apaziguar almas conturbadas com seus ganhos, como dito acima, “exagerados”.

Ora, fiz acima dois retratos caricatos de situações extremas. O exagero no meu discurso tem o objetivo de demonstrar, claramente, que o desapego irrestrito é extremamente difícil. Assim como o ser humano é por demais complexo, com múltiplas facetas. Mas aí lhes pergunto: por conta disso, de não sermos completamente “desapegados”, devemos nos condenar? Claro que não. Mas também não podemos avocar para nós mesmos essa qualidade quase super-humana.

Digo a vocês, porém, que existem sim exemplos muito próximos desse perfil. Os franciscanos, uma ordem católica que prega a dedicação extrema ao semelhante, sem nada em troca, poderia ser um exemplo. Os críticos da Igreja Católica poderiam argumentar que eles seriam um instrumento de manipulação para sua própria propaganda, no sentido de atrair multidões com sua face de beneplácito extremo. Mas e se olharmos para os indivíduos engajados, será que eles têm realmente este tipo de preocupação?

Para tanto, sugiro a vocês que conheçam o projeto chamado “Toca de Assis” – www.tocadeassis.org.br . Localizada em diversos pontos do Brasil e até mesmo do exterior, é uma instituição na qual franciscanos respeitam de forma rígida os votos de pobreza, castidade e obediência, tendo como missão, além do aspecto religioso, cuidar dos pobres em situação de rua.

Pois bem, era aí que eu queria chegar. Quem já tentou sair da proteção do seu lar, com a iniciativa de buscar um diálogo com a população de rua, deve saber o quão difícil é esta empreitada, principalmente no aspecto emocional. E olha que eu estou falando de pessoas que se predispõem a fazer isso tendo a segurança de que voltarão para o seu ninho com toda a estrutura que ele pode oferecer. Então, o que dizer de pessoas que largam suas famílias, seus lares, para viver em abrigos simples, sem aceitar nenhum bem material para si, mas somente para a ordem, de maneira a criar um sustentáculo que lhes propicie a oportunidade de cuidar de moradores de rua? Muitas vezes passando noites em claro abordando esses mesmos moradores, tentando indicar-lhes um caminho de retomada da vida. Isso sim é desapego!

Olha, vou ser sincero, mestre do desapego, não, estou muito longe disto. Se eu puder, ao menos, seguir um pouco da filosofia de São Francisco, talvez eu esteja um centésimo próximo do exemplo que dei acima:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa , que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido,
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se nasce para a vida eterna...
Fonte: http://www.caminhosdeluz.org/A-116Ca.htm - acessado em 31/12/2011.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

GATO DE BOTAS

Duas visões sobre um mesmo tema. Primeiramente avaliarei a produção cinematográfica “O Gato de Botas” (2011) - http://www.adorocinema.com/filmes/filme-123532/ - pelo que representa como esgotamento de um produto. Posteriormente avaliarei a mensagem inserida no personagem em si. O que é mais relevante eu deixarei para o leitor decidir.

Com relação à primeira parte “Gato de Botas”, que é um subproduto da série “Shrek”, megaprodução dos Estúdios DreamWorks (http://www.shrek.com/), demonstra a exploração exaustiva de um modelo. Shrek em si teria dado fim às suas peripécias após a última película – “Shrek para sempre” (2010). Porém os produtores buscaram identificar no Gato de Botas, um dos personagens coadjuvantes com maior potencial para crescimento, um meio de alcançar mais um pouco de rendimento ($).

A estória em si diverte, levando-se em consideração que a figura do Gato é extremamente atrativa para os diferentes públicos. A dubiedade de sua personalidade é explicada quando se tem acesso a sua origem e as implicações destas para suas decisões futuras. Porém, sinceramente, minha avaliação é de que este produto já deu o que tinha que dar. Mesmo Shrek chegou a um ponto em que não tinha mais tantas alternativas para “esticar a corda”. E todos os demais personagens não tinham cacife para um reaproveitamento, à exceção do Gato.

Para vocês terem uma noção de que forma estou avaliando, basta observar o potencial contínuo de atração dos “concorrentes” ao público – “A Era do Gelo” (da Fox) e “Madagáscar” (da mesma DreamWorks), outras franquias da área do desenho animado, vão caminhando céleres para seu 4º e 3ºs filmes, sem uma perspectiva de término em suas peripécias. Ambas têm muito mais personagens interessantes que Shrek, muito centrado no protagonista. De Madagáscar gerou-se até mesmo uma série de desenhos animados baseados nos Pinguins, por exemplo – se bem que eu sou um pouco suspeito neste caso. Certamente o sucesso desta última fez com que a DreamWorks revisse seus planos de negócios, centrando fogo nela.

Voltando ao Gato de Botas, o que ele representa desde sua aparição em Shrek? É a possibilidade do bem viver, da ambigüidade de caráter, o que lhe dava uma certa humanidade em suas características. Interessante observar que o próprio Shrek era um personagem que possuía tais aspectos. O Burro Falante pendia mais para a caricatura, obviamente calcada na personalidade de seu dublador principal, o ator Eddie Murphy – quase dava para vê-lo dublando, tal como era parecido com a atuação deste.

Seria, assim, o Gato de Botas o sinal de que, se conduzirmos as coisas, os atos de nossas vidas, tendo em mente perspectivas imediatistas, o ganho de curto prazo, alcançaremos algum fruto a longo prazo? É claro que como mensagem subliminar, ao bom senso não parece algo, digamos, saudável para ser implantado na mente de nossas crianças. Mas a visão que temos como adultos deste filme pode de certa forma diferir da que imaginamos ser a de nossos rebentos.

A diversão pura e simples com as cenas de ação ali mostradas é possível. Enfim, “Gato de Botas”, para mim, não é para ser levado a sério. Mas será que o seria desde o princípio? Como vocês podem ver, a própria análise de um filme de poucas pretensões acaba por salientar seu baixo impacto. Dentre as atrações desta linha foi o que menos gerou em mim um apelo para assistir uma continuação – que não creio que virá. Outros menos cotados – como por exemplo “Meu Malvado Favorito” (2010), da Universal Pictures - http://www.adorocinema.com/filmes/filme-140623/ - geraram em mim muito mais boas lembranças do que este. Posso eu estar enganado? Claro, isso é questão de gosto, de sentimento. Provavelmente os donos de gatos se sentiram mais identificados com um ou outro aspecto. Mas como eu prefiro cães...

domingo, 3 de junho de 2012

AMANHÃ VOCÊ VAI ENTENDER

Mais um livro lido, mais lições aprendidas. A expectativa que cerca a leitura pode ser vista de duas formas: a ânsia por aumentar o conhecimento e o prazer de imergir numa estória, extraindo da mesma uma mensagem que lhe seja útil de alguma forma. Estas duas características são factíveis de estar numa mesma obra principalmente no gênero ficção, em que o autor pode viajar para transmitir o que deseja.

Nesse sentido, o livro “Amanhã Você Vai Entender” – Rebecca Stead – Ed. Intrínseca – RJ – 2011 – 224 págs. – encaixa-se como uma luva dentre aqueles que marcam toda uma geração com o desenrolar de sua estória e o que ela sinaliza como alento. A mesma gira em torno de Miranda, uma menina de 12 anos, e sua rede de relações no seu micro-universo casa-escola.

Vocês poderiam imaginar que esta obra tem todas as características da linha infanto-juvenil. E não estão de todo errados. Lá poderão encontrar a amiga invejosa, a descoberta do amor, a primeira experiência no trabalho, o relacionamento mãe-filha, etc. Ou seja, todos os paradigmas comuns da construção de uma narrativa atrativa para aquela faixa etária, em especial para meninas. Mas como isto não poderia tocar o pai de uma garota de 08 anos?

Quero dizer que ao mesmo tempo que serve como um descortinar de um novo mundo para o público a que se destina primariamente, vem a atingir também aqueles que estão em seu entorno, por melhor compreender suas ânsias e medos. Dessa forma a receita do sucesso está traçada: alcança tanto aqueles que o pressionarão pela aquisição, quanto aos que possuem o poder de compra!

Fora todos estes aspectos, deve-se ressaltar que a estória é muito bem construída, com um grande mistério por desvendar, mas que aponta, a meu ver, como principal pilar, a atenção que temos que ter com as mínimas atitudes em relação ao próximo, em como elas podem gerar reações que perduram por toda uma vida. Ou seja, o carinho e o cuidado para com o próximo, seja um parente, um amigo ou até mesmo um desconhecido se apresentam como condição necessária para o bem viver e o bem estar interno de cada um de nós.

A autora, Rebecca Stead, tem dois filhos e foi criada em Nova York, onde ambientou esta estória, em que pese esta poder se dar em qualquer outra grande cidade do mundo. Por esta obra ganhou a Medalha Newbery, entregue anualmente pela American Library Association às mais importantes contribuições norte-americanas à literatura jovem. O mais engraçado é que na parte final, dos agradecimentos, a autora faz uma menção especial a uma colega, a escritora Madeleine L’Engle, que recebeu menção honrosa pela obra “A Ring of Endless Light”, neste mesmo prêmio, no ano de 1981 e foi vencedora já nos idos de 1963, com “A Wrinkle in Time” (1).

Ou seja, existem pessoas, que por sua capacidade de externar sentimentos e pontos de vista, acabam por influenciar toda uma vida, gerando novos multiplicadores de emoções. Nas palavras de Rebecca Stead: “[...] gostaria de expressar minha admiração especial pela surpreendente imaginação e trabalho de Madeleine L’Engle, cujos livros me cativaram quando era jovem (e ainda cativam) e fizeram-me querer explorar os segredos do universo (e ainda fazem)”. Bem, se ainda não captaram a importância da leitura, amanhã vocês entenderão!

Sugestões de Leitura

Apresento a vocês alguns livros que me influenciaram na minha infância, adolescência e juventude, cujos limites temporais são difíceis de traçar, e que continuam ecoando na minha mente com suas lições:

DRUON, Maurice – “O Menino do Dedo Verde” – Livraria José Olympio Editora – 1978 – 149 págs;
MORAES, Leir – “Bola de Gude” – Ediouro – 1981 – 154 págs;
PAIVA, Marcelo Rubens – “Feliz Ano Velho” – Ed. Brasiliense – 1986 – 232 págs;
RADICE, Marco L. & RAVERA, Lidia – “Porcos com Asas” – Ed. Brasiliense – 1985 – 175 págs;
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de – “O Pequeno Príncipe” – Ed. Agir – 1987 – 97 págs.

(1)    Traduções livres – “O Anel de Luz Infinita” e “Uma Ruga (Fissura) no Tempo”. Para mais detalhes e com a lista completa de ganhadores da Medalha Newbery ver http://www.ala.org/alsc/awardsgrants/bookmedia/newberymedal/newberyhonors/newberymedal .

sexta-feira, 25 de maio de 2012

LE PETIT NICOLAS

Quantas histórias guardamos de nossa infância? As amizades construídas, as traquinagens de criança, os lanches, a não-preocupação constante, tudo isso mais tarde que demonstra-se ser o que nos dá a base para seguir em frente.

O personagem principal de “Le Petit Nicolas”, de René Goscinny e Jean-Jacques Sempé – Ed. Folio Jr – 168 págs. – 2007 – serve justamente para que rememoremos a graça daquela época com um humor tipicamente francês. O pequeno Nicolas gerou uma série de estórias desde 1959 quando foi criado pela dupla acima citada. Goscinny, que juntamente com Uderzo criou também o famoso Asterix (além de Lucky Luke), veio a falecer ao final de 1977, o que impediu a continuidade desta criação (1).

Eu tive o primeiro contato com o universo de Nicolas enquanto estudava na Aliança Francesa, entre 2007-2010. Havia uma estória colada na parede da sala, porém como não tinha vocabulário o suficiente, ou pela correria do dia-a-dia e dos afazeres do próprio curso, nunca tive tempo para lê-la toda. Essa curiosidade ficou, e terminado o curso, no ímpeto de me manter em contato com o idioma, resolvi comprar o livro.

Para vocês terem uma idéia da criatividade dos autores, os “esquetes”, podemos assim dizer, giram em torno de situações normalíssimas. Isso por si só denota a capacidade de criação dos mesmos, que devem buscar a comicidade em cada um dos atos. Depois que os lemos, damo-nos conta de que vivemos situações similares hilárias de igual maneira em nossas vidas como crianças.

No livro em questão temos os seguintes cenários: o dia em que se tira a foto da turma no colégio; uma brincadeira de cowboy e índios; o dia em que o monitor do recreio substituiu a professora; o jogo de futebol no terreno baldio; a visita do inspetor ao colégio; o dia em que Nicolas tentou levar um cão para casa; o aluno estrangeiro que entrou na turma no meio do ano; a tentativa de dar um presente para mãe; ficar doente em casa e faltar a aula; o recreio em si; etc...

Em meio a estas situações, temos uma série de personagens típicos, além do próprio Nicolas – Agnan, o cdf da turma e “le chouchou de la maîtresse”, o qual não podia ser atingido no rosto por usar óculos; Geoffrey, o filhinho de papai – “Geoffrey a un papa três riche qui lui achète tous les jouets qu’il veut”; Alceste, o gordinho que come todo o tempo; entre outros.

Tais estórias alcançaram tanto sucesso que foram objeto de uma adaptação cinematográfica no ano de 2009. Nesta ocasião “[...] Nicolas (Maxime Godard) é um garoto muito amado pelos pais, que leva uma vida tranquila. Até o dia em ouve uma conversa entre seus pais, que o faz achar que a mãe está grávida. Nicolas entra em desespero e já pensa no pior: ao nascer um irmão, eles deixarão de lhe dar atenção. Para escapar de seu terrível destino, o menino faz campanha para mostrar a seus pais o quanto é indispensável e, por tentar agradá-los demais, acaba cometendo vários tropeços o que faz com eles fiquem enfurecidos com Nicolas. Desesperado, ele muda de tática e, com seus amigos desastrados, bola diversos planos para achar uma solução para seu problema” (2).

Interessante notar que algumas das cenas do filme foram justamente retiradas do livro ao qual tive acesso. O roteiro foi adaptado a partir das distintas estórias, tendo como linha central o tema acima apontado. Ou seja, recomendo o filme, mas antes a leitura do livro, que sempre aguça o desejo de resgatar a criança que temos em cada um de nós.

(1) Para mais detalhes sobre estes personagens ver www.asterix.com e www.lucky-luke.com .

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O IMPÉRIO CONTRA-ATACA

Já faz alguns anos que o técnico Bernardinho aceitou o desafio de trocar o comando da seleção feminina de voleibol para ficar a frente da seleção masculina. Naquele momento era situação repleta de incertezas, uma vez que ele vinha de um trabalho de excelente nível, levando o Brasil a conquistar duas medalhas de bronze em Olimpíadas, além de algumas conquistas em Grand Prix. Porém se almejava algo mais. E parecia que a geração de Fernanda Venturini, Márcia Fú e Ana Moser não supririam o nível imaginado. Pelo menos não com a metodologia que então estava sendo aplicada.

Por outro lado, na seleção masculina havia o diagnóstico de que após o ouro olímpico de Barcelona (92) aquele grupo havia perdido o rumo, tendo como único sucesso relevante posterior a conquista de uma Liga Mundial em 1993. Ou seja, vínhamos, em ambos os casos, de uma década de relativo êxito, mas o século XXI se avizinhava, e havia a sensação de que o vôlei brasileiro poderia alçar vôos mais altos.

Desta forma, com a assunção de Zé Roberto Guimarães no feminino e Bernardinho no masculino se iniciava uma nova era. Passamos a viver os tempos dourados do esporte, com inúmeras conquistas – ouros olímpicos, campeonatos mundiais (no masculino), além de diversas Ligas Mundiais e Grand Prix. Passava a ser desenhado um predomínio verde-amarelo no jogo de seis contra seis, com uma rede levantada no meio.

Italianos, russos e norte-americanos, entre outras potências as quais víamos como fora de nosso alcance (não podemos nos esquecer de citar Cuba, principalmente no feminino), passaram a invejar não somente os nossos jogadores como também nossa organização fora de quadra. Mas havia um plano sendo arquitetado. Uma tentativa de retorno a tempos passados que podem até ter sido devidamente camuflados, mas que não passaram despercebidos pelo menos aos meus olhos.

O ícone maior de Bernardinho era a geração dourada norte-americana de Karch Kiraly, maior jogador de todos os tempos. A seleção americana havia sido bicampeã olímpica e campeã mundial entre os anos de 84 e 88. Hoje somos tricampeões mundiais – igualando a poderosa Itália de Zorzi – e temos dois campeonatos olímpicos, porém não seguidos. Esse era o nosso indicador de sucesso, e assim o buscamos incessantemente e os ultrapassamos.

A Itália, perdida em meio ao seu modelo de um campeonato nacional forte, porém recheado de estrangeiros, não conseguiu até hoje retomar um nível de excelência e supremacia que tinha no passado. Mas os mestres da estratégia e organização atendem pelo nome de Estados Unidos da América. E o seu retorno ao topo do pódio já está bem traçado, tendo já alcançado alguns frutos.

Sob o comando do neo-zelandês Hugh McCutcheon os EUA iniciou o seu contra-ataque. A estratégia norte-americana está baseada na sua já reconhecida organização e, mais do que isso, em beber na fonte pela qual vinha sendo sobrepujada. Ou vocês acham que é mera coincidência que nos últimos anos a nossa Superliga tem convivido com a presença de jogadores das seleções masculina e feminina de voleibol dos Estados Unidos?

Isso mesmo: além de melhorarem a metodologia interna de treinamento e darem o devido incentivo individual para que cada jogador viesse buscar atuar junto dos expoentes da nação que estava dominando o panorama mundial, existia ainda a possibilidade inerente a se ter acesso a novas táticas e a identificar os possíveis futuros adversários.

Fato é que desde que o Sr. McCutcheon surgiu no palco, temos sofrido alguns reveses. Primeiro no masculino, com a derrota na última Olimpíada, em Pequim. E no feminino, com os EUA ganhando a Liga Mundial e trazendo sua seleção feminina para um patamar do qual estava distante já havia algum tempo. E sempre está lá, o carequinha que fala inglês, o Sr. Mc sei lá o quê. Vocês tem dúvida de que ele se encontra motivado pessoalmente a igualar o feito do Zé Roberto, qual seja, ser medalha de ouro no masculino e no feminino? E vocês têm dúvida de que cada vez mais, pelo menos enquanto eles acharem necessário, os atletas americanos estarão por aqui?

Não defendo um fechamento de fronteiras, longe disso. Nos beneficiamos também com a presença dos americanos em nossos campeonatos, com maior visibilidade, mais patrocinadores, e um intercâmbio internacional que é tremendamente salutar. Não devemos cometer o mesmo erro de Cuba, por exemplo, com o fechamento das fronteiras esportivas. Mas devemos sim ter a noção de que o Império acordou. E seus súditos estão entre nós para colher vitórias contra nós. Se liguem!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

PHILIP K. DICK

Recentemente li a coluna publicada em um periódico eletrônico interno do meu trabalho em que um colega – Cristóvam, minhas loas! – relata seu estranhamento e, ao mesmo tempo, deslumbramento para com a narrativa presente no filme “Agentes do Destino” (2011) - http://www.adorocinema.com/filmes/filme-144404/ . Este filme é mais um daqueles que lida com um provável futuro, no qual identificamos estranhos desdobramentos, em função de um controle externo. Complicado, não!? Vou tentar facilitar.

O que temos em comum entre Blade Runner (1982), Minority Report (2002) e Total Recall (O Vingador do Futuro [i]) (1990), apenas para citar os mais conhecidos, e o filme acima citado, cujo título original é “The Adjustment Bureau”? Philip K. Dick é a resposta!

Autor de ficção científica norte-americano, que morreu precocemente aos 53 anos, em 1982, Philip K. Dick tem sido o responsável, por intermédio de suas obras, por ser uma das maiores influências cinematográficas na desde as últimas décadas do século passado, até estes primeiros anos do novo milênio [ii].

Isso não se dá por acaso. Sua obra caracteriza-se por questionar o desenvolvimento dos parâmetros de convivência em sociedade por conta dos requisitos que pouco a pouco a humanidade vem se auto-impondo com o passar dos tempos. Controles externos cada vez mais extremados, sendo a representação máxima desta alegoria a interface que temos via redes sociais, para citar apenas um exemplo, acabam por representar a velocidade em que vamos nos inserindo numa cadeia global de circulação de informações. Será que em algum momento vamos nos perguntar se é necessário um agente externo para produzir alguma ordem no caos e no grau de acessibilidade que nos predispomos em favor de uma interação cada vez maior? É o fantasma do Big Brother se tornando realidade sem sentirmos.

Em “Agentes do Destino”, o filme supracitado, estrelado por Matt Damon – astro da trilogia Bourne – a fantasia de Dick indica a existência de um Escritório (o Bureau, do título original em Inglês) que mantém os acontecimentos ocorridos com cada um – pelo menos os mais relevantes – dentro do chamado Plano estabelecido pelo Presidente. Porém, quando algo sai errado, o Bureau tem que entrar em ação para corrigir (Adjustment), colocando a história de volta para o “destino” que havia sido traçado “externamente”, anteriormente.

Existe uma brecha no filme para que este Plano seja “retraçado”, digamos. Observa-se ainda o fato do Presidente – nunca visto – ter deliberado, em dados momentos da História, para que a Humanidade se autorregulasse, sem sucesso, no entanto. Loucura ou uma representação válida das maiores crenças por um Deus controlador e o poder do Livre Arbítrio? Poderia o amor alterar os rumos da vida de cada um? Essas são respostas que ficam para serem dadas individualmente. Generalismos são perigosos. Mas a principal função de Dick, neste caso, é trazer à baila tais temas para serem discutidos. Pelo suas estórias, que geraram tantos filmes de sucesso – de linhas muito próximas no que diz respeito à discussão sobre os nossos parâmetros de vida em sociedade – acreditamos que ele tenha alcançado seu intento.

[i] A mesma obra de Philip K. Dick que deu origem a este filme estrelado por Arnold Schwarzenegger em 1990 – “We Can Remember It For You Wholesale” (Nós podemos lembrar isso para você, atacadista [tradução livre]) http://www.imdb.com/title/tt0100802/ – serviu de inspiração para uma nova adaptação para o cinema, desta feita com Colin Farrell, neste ano de 2012 - http://www.imdb.com/title/tt1386703/ ;

[ii] De acordo com o seu site oficial - http://www.philipkdick.com/aa_biography.html - “(...) That's an average of roughly one movie every three years since Dick's passing - a rate of cinematic adaptation exceeded only by Stephen King. And there are other big-money film options currently held by Hollywood studios”;

[iii] Tenho um único livro de Philip K. Dick em minha biblioteca. Trata-se do “O Homem do Castelo Alto” – Ed. Brasiliense – 2ª Edição (1987) – 269 págs. Neste livro o autor elabora “um desconcertante conflito de verdades, (narrando) a história da Terra sob a hegemonia nazista, sob o jugo de um império tecnologicamente superdesenvolvido e racista. Mas há alguém que vislumbra um universo paralelo, onde os vencedores foram os aliados...”. O livro foi publicado originalmente em 1962, o que não deixa de ser emblemático, por conta de ser no início de uma época marcada pela Guerra do Vietnã, ainda não totalmente alheia ao discurso propagandista herdado da 2ª Guerra Mundial.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

QUANDO NIETZSCHE CHOROU

Todos que nunca fizeram análise têm uma grande curiosidade de como se dá o processo de abertura entre o paciente e o psicólogo, quaisquer que sejam suas correntes teóricas que dão base a sua prática. O romance “Quando Nietzsche Chorou” – Irvin D. Yalom – Rio de Janeiro – Ediouro – 2005 – 408 págs. – presta este importante serviço: desnudar o mistério da relação paciente e analista, descortinando o ambiente de uma Viena em que Freud era jovem e as primeiras práticas da psicanálise estavam ainda em fase embrionária.

Para tanto, o autor, Irvin Yalom, professor de psiquiatria da escola de Medicina de Stanford, 80 anos, constrói uma novela envolvendo personagens históricos e fictícios vinculados ao tema. Temos o próprio Freud, ainda tateando à procura do seu caminho profissional, mas em verdade a estrutura do enredo é centrada no relacionamento Dr. Josef Breuer e célebre filósofo Friedrich Nietzsche.

Esses dois personagens históricos (1), contemporâneos de uma Viena efervescente culturalmente durante o século XIX, em verdade jamais se encontraram. Mas a junção da capacidade analítica de Breuer perante as incertezas e divagações do filósofo Nietzsche ensejaram ao autor confrontá-los, numa relação a qual o personagem-médico sinalizava como “terapia da conversa”, em que fica clara a exposição em que analisando e analisado se vêem inseridos ao avaliar o peso carregado de toda uma existência.

Um aspecto que fica subjacente ao leitor, pois o mesmo centra a atenção e expectativa sobre a possível cura de Nietzsche – algo que é sutilmente exposto desde o título da obra – é a mensagem de como aqueles especialistas, talhados por anos de prática e teoria, não são seres à parte em relação aos dramas com os quais são confrontados. Seres humanos, talvez expiem tal peso ao conseguir diferenciar o lado profissional do pessoal, ao fazer efetivamente o seu trabalho, colocando no papel as características do paciente para melhor montar o quadro demandado. Mas que não se iludam, pois isto é um desafio, que eles mesmos se propõem ao fazer tal opção de imersão no drama alheio, e esta é uma carga pesada, mesmo para os profissionais.

Dois pequenos deslizes, a meu ver, em termos formais na obra, em nada empanam sua qualidade enquanto romance, pois alcança o principal objetivo que é o de reter o leitor com sua curiosidade elevada ao máximo até o fim da estória. Os erros os quais citei seriam: nos chamados excertos, ou simplesmente notas, do Dr. Josef Breuer sobre o paciente Nietzsche, aquele se refere a este pelo seu nome verdadeiro. Porém, a título de preservação da privacidade do analisando Breuer havia acordado denominá-lo Eckart Müller, e assim o faz no título das anotações, em que pese ter se “esquecido” ao escrever seu conteúdo.

O segundo deslize pode ser até mesmo um engano de minha parte, pois não sou profundo conhecedor da história da Psicologia. Porém como o livro se propõe justamente a isso, apresentar em meio a um enredo romanceado o início da aplicação, conforme já dito, da “terapia da conversa”, em dado momento ao final da obra o autor que até então vinha chamando genericamente os profissionais da medicina que um dia utilizariam o método que ali estava sendo testado de “doutores da conversa”, resvala e utiliza o termo “psicólogos”.

Mas como disse anteriormente, são pequeníssimos senões no valor altamente meritório da obra. A meu ver, de grande utilidade esta se enquadra naqueles que se encontram em meio a chamada crise dos 40 anos, pois deslinda questões as quais são diretamente afetas às indagações dos que buscam um, digamos, “sentido” para suas vidas passada esta fronteira emblemática do “primeiro nascimento”. Esta apresenta ainda, em dado momento, a importância do relaxamento por intermédio da respiração, prática a qual eu já mencionei anteriormente no post “A Química da Alegria”. Nietzsche, após mais uma de suas crises de enxaqueca, a utiliza:

Mas primeiro, deixe-me tentar relaxar os músculos das têmporas e do couro cabeludo. – Durante três ou quatro minutos, respirou lenta e profundamente enquanto contava suavemente. Depois disso, disse: - Pronto, melhorei. Costumo contar minhas respirações e imaginar meus músculos se relaxando a cada número. Às vezes, mantenho-me centrado concentrando-me apenas na respiração.
Pág. 386.

Para finalizar, devo dizer que o livro se presta múltiplos objetivos – o teórico, o de se conhecer personagens emblemáticos da história da humanidade; ainda mais, o de se conhecer as diversas práticas adotadas na terapia analítica, de maneira suave, em seus primórdios; e, para mim, o central, que é o de expor as contradições e os pensamentos dos seres humanos inquietos na busca dos seus alicerces para viver. Para aqueles que estão justamente em meio a tais questionamentos, pode ser exemplar e muito útil, principalmente no sentido de se olhar para suas conquistas e escolhas, e abraçá-las como sendo realmente suas.

(1)    Breuer (Josef) – médico austríaco (Viena – 1842-1925), conhecido principalmente por sua colaboração com Freud de 1882 a 1895, período fundamental tanto para a compreensão da histeria como para o início da elaboração da teoria do inconsciente e do método analítico, antecipado por Breuer com o nome de método catártico. [Grande Enciclopédia Larrousse Cultural – 1995/1998 – pág. 949]; Nietzsche (Friedrich Wilhelm), filósofo alemão (1844-1900). [...] A crítica que Nietzsche faz do idealismo metafísico, ou “ontoteologia”, focaliza as categorias do idealismo (ser, essência, sujeito) e os valores morais que o condicionam, e propõe nova abordagem: a genealogia dos valores. Questionar o valor dos valores morais implica descrever sua origem e sua história. Para Nietzsche, os valores morais originam-se da reação dos fracos, que colocam o bem como a negação das ações dos poderosos. [...] Advogando a eliminação desse modo de ver, Nietzsche propõe substituí-lo pela vontade da potência, da qual deveria surgir um super-homem criador, além do bem e do mal. [Idem – pág. 4210].
Traduzindo para a linguagem popular, Nietzsche contesta a submissão do ser humano, do “fraco”, aos desígnios de sua própria história – inclusive o apelo deste aos valores religiosos, sobre-humanos, para alterá-los. O homem faz a sua própria história, tendo total poder para tal. Por isso o título da obra – “Quando Nietzsche Chorou” – evoca sua própria cura em detrimento de sua filosofia de vida, ou seja, todos nós temos nossas fraquezas. E não há demérito nenhum em assumi-las!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

OS VINGADORES

A grande incógnita do aguardado filme “Os Vingadores” (2012) - http://www.adorocinema.com/filmes/filme-130440/ - tido como o ápice de uma estratégia bem sucedida de encadeamento de uma seqüência de estórias baseadas nos heróis da Marvel, para culminar com o encontro de uma parte deles num mesmo filme – o que se revelou um êxito de marketing, pela expectativa gerada – era como equilibrar tantos heróis num mesmo filme. Em resumo: o que não é novidade para qualquer pessoa que trafega no meio cinematográfico, o segredo do sucesso começa num bom roteiro.

Acreditamos que o desafio proposto foi vencido de maneira adequada. Teríamos que analisar, para se chegar a esta conclusão, cada um dos personagens e seu espaço de atuação. Então vamos a esta empreitada.

Gavião Arqueiro e Viúva Negra, vividos respectivamente por Jeremy Renner e Scarlet Johansson, tiveram momentos de protagonismo equilibrados com o que haviam tido anteriormente. Personagens secundários, de apoio aos heróis centrais, mantiveram o nível neste filme, em que pese sua importância relativa para o início da película – no caso do Gavião Arqueiro – e de cenas de destaque – em especial quando da entrada da Viúva Negra na trama e de seu diálogo com o vilão, Loki, irmão de Thor, estes dois personagens incorporados por sua vez por Tom Hiddleston e Chris Hemsworth.

No que diz respeito a estes dois últimos, interessante notar que pelo fato de ser o antagonista principal, Loki acabou ganhando maior destaque do que Thor, desta feita. Talvez isso possa ser debitado ao fato de que este último tenha tido que dividir o palco com outros tantos heróis, ao passo que aquele reinou absoluto em meio aos vilões. De toda forma já é sabida que a saga de Deus Nórdico terá uma seqüência independente (1), o que deverá equilibrar quaisquer vaidades atingidas.

O Capitão América fez um interessante contraponto, utilizando-se da defesa de seus valores e princípios – a mensagem é de que teriam sido herdados da época distinta vivida pelo herói (década de 40 do século passado) - em relação ao ar bonachão do Homem de Ferro. Se tornaram, assim, o eixo central da equipe. Chris Evans deve ter avaliado, de maneira inteligente, que caso conduzisse o personagem de modo suave, contracenando com o furacão Robert Downey Jr., somente teria a ganhar em termos de exposição no filme. Os comentários – ver link abaixo – do diretor Joss Whedon parecem confirmar esta teoria.

Dito isto, antecipo a minha conclusão sobre o destaque do filme, aquele herói que se tornou “o protagonista dos protagonistas”: o Homem de Ferro. A escolha me agradou particularmente. Sempre fui fã do estilo, por exemplo, do Homem Aranha nos quadrinhos. O herói das teias entremeia suas lutas com piadas de timing perfeito. E assim foi composto o Homem de Ferro para os cinemas. Em todos os filmes se caracterizou pelo bom humor e pela chacota em relação aos “valores altruísticos” que movem os típicos super-heróis “água com açúcar”, o que não deixa de trazer um pouco de realismo e humanidade para o personagem.

Por último, gostaria de destacar o que para mim foi a grande surpresa: o Hulk, que teve seu alter-ego, David Banner, vivido por Mark Ruffalo. A escolha do ator, já reconhecido por outros ótimos trabalhos no cinema (2), demonstrou-se acertada, dando o tom certo para um Banner por vezes contido por vezes sarcástico. Não sou muito adepto de inúmeras trocas de ator para um mesmo personagem – Banner já havia sido interpretado no cinema por Eric Bana (2003) e Edward Norton (2008) – mas desta vez espero que tenha continuidade – o que com certeza é compartilhado por todos os outros fãs da série Vingadores. Devo dizer ainda que o personagem computadorizado do gigante verde é responsável por três das cenas mais hilárias do filme. Mais que isso não posso dizer para não perder a graça.

Well, meus amigos, após essa longa explanação, acredito que realmente valeu a pena todo o esforço para assistir o filme – comprar o ingresso antecipado, me deslocar pós-trabalho em meio a uma chuva torrencial, enfrentar cinema lotado, etc. O filme divertiu, foi equilibrado em diversos pontos, e ainda deixou ganchos para mais alguns da série. Alvissareiras são as notícias dos contratos já firmados entre os atores e a Marvel, para novos episódios e novas produções. Os quadrinhos, por intermédio do cinema, resgatam assim aquele sentimento de menino, de infância, que todos nós gostamos de preservar. Avante, Vingadores!

(1)    http://www.adorocinema.com/filmes/filme-193108/ - o mais interessante desse fato é a confirmação da continuidade de Natalie Portman no elenco, mesmo após o Oscar por Cisne Negro (2011) - http://www.adorocinema.com/filmes/filme-125828/ ;
(2)    Somente para citar alguns – “Ilha do Medo” (2010), “Ensaio sobre a Cegueira” (2008) e “Códigos de Guerra” (2001), entre muitos outros – para mais detalhes ver http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-25190/filmografia/ .

OBS.: Para ter conhecimento de toda a trajetória de construção dessa epopéia cinematográfica, no que diz respeito aos bastidores da produção - http://cinema.uol.com.br/ultnot/2012/04/26/presidente-da-marvel-explica-etapas-do-plano-de-cinco-anos-que-deu-em-os-vingadores.jhtm .

segunda-feira, 7 de maio de 2012

CONTRASTES

Duas competições, nomes idênticos, porém objetivos distintos. Distintos não apenas em sua materialidade, ou seja, no que realmente buscavam, mas em sentimentos e dedicação também. Estamos falando da Copa América de Futebol e da Copa América de Basquetebol Masculino, em 2011.

Enquanto na primeira tivemos o auge de uma etapa inicial de trabalho, envolvendo jogadores profissionais que possuem uma remuneração considerável dentro do universo em que habitam, na segunda também encontramos jogadores profissionais, mas o nível de rendimento financeiro está longe do alcançado nos centros mais desenvolvidos, em especial nos Estados Unidos (1).

É claro que estamos generalizando para melhor compor a idéia que vamos expor a seguir. Existe uma forte corrente entre a população que advoga que a questão financeira é a preponderante para estabelecer o estímulo e dedicação dos profissionais do esporte a uma determinada meta a ser atingida. Creio, porém, que esta não é o caminho para melhor compreender os fatos. As variáveis são múltiplas. Vamos olhar caso a caso.

A equipe de futebol, dirigida pelo técnico Mano Menezes, durante a Copa América, atingia 1 ano de trabalho. Todos os especialistas estavam com uma grande expectativa em torno do resultado, e mais, em torno do desempenho do time, na esperança de já vislumbrar um “esqueleto” de esquema tático que trouxesse os primeiros fios de esperança em relação à Copa 2014, que será disputada no Brasil. Não foi assim.

Mano iniciou seu trabalho pregando a filosofia da renovação. Para tanto, prospectou de maneira igualitária, em solo brasileiro e na Europa, os melhores jogadores que se enquadrassem nesse perfil. Como estrelas da companhia, dois destaques do Santos – Neymar e Ganso. Mas ficou claro que a equipe carecia de outros expoentes que pudessem equilibrar responsabilidades, aliviando a carga de quem estava entrando – ou mesmo dos veteranos que nunca se viram na responsabilidade de decidir (2). Talvez, caso haja o retorno à boa forma, de maneira contínua, de um quarteto já conhecido, tenhamos um grupo mais equilibrado e com capacidade de enfrentar a pressão que virá. Estou falando de Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Luis Fabiano e Adriano. Vocês podem perceber, portanto, o quanto é grave a crise.

Já a Copa América de Basquetebol Masculino pode e deve ser entendida como o primeiro de dois picos num trabalho sério – como há muito tempo não víamos estruturado da maneira como está – voltado para resgatar a posição da seleção brasileira no cenário mundial. Mais do que isso, para trazer de volta ao patamar que já teve no passado em termos de gosto do público todo o basquete brasileiro.

Para tanto trouxemos um técnico campeão olímpico – Rúben Magnano – para treinar um time ansioso por fazer história. Desde as Olímpiadas de Atlanta (1996) que o basquete masculino não participava dos Jogos. Com um discurso firme, pautado por seu currículo vencedor, o técnico argentino soube como cooptar a atenção e dedicação de um grupo que, num olhar distante, poderia se ver fragilizado pela ausência de alguns.

Magnano dirigindo a seleção brasileira de basquete

Mas ao contrário, a garra e a vontade de dar a volta por cima foram maiores que quaisquer adversidades. Isso, associado a uma nova mentalidade tática, em que a defesa se tornou prioridade para se buscar os resultados pretendidos, fora a serenidade diante de um ligeiro momento de instabilidade na primeira fase – derrota para a República Dominicana – fizeram com que os rapazes nos surpreendessem com atuações soberbas, em especial nas três partidas que eram realmente decisivas – diante de Argentina, Porto Rico e novamente República Dominicana.

Chego à conclusão de que, enquanto o futebol em termos estruturais, no que tange à seleção brasileira, enfrenta o dilema de atender demandas por resultados imediatos, ainda numa etapa de construção. Sua cultura típica, porém, pode atrapalhar todo um projeto. Já o basquete vem pouco a pouco construindo um novo mundo. Melhor, não tão novo assim, mas o retorno a um sentimento que já tivemos no passado de estar entre os melhores. Num, temos a certeza de que somos e nos angustiamos porque os resultados não vêm a toda hora. Noutro, temos a possibilidade de nos reconstruir, vivenciando mais uma pressão interna, dos profissionais ali envolvidos – e não do público – por tempos melhores. Ou seja, as comparações são salutares, desde que colocadas as coisas nos seus devidos lugares.

(1)    Um ponto interessante é que os jogadores de basquete profissional dos Estados Unidos fizeram um locaute, ou seja, uma greve entre duas associações, no caso em relação ao grupo que gerencia sua principal liga, National Basketball Association (NBA), por conta de impedir o avanço da estipulação de um teto salarial. Para mais detalhes sobre a NBA ver www.nba.com .
(2)    Não digo isto para “aliviar a barra” do André Santos (Arsenal), que na minha opinião, tanto quanto o Fred, do Fluminense, foram mal convocados naquela ocasião. Não eram os melhores na sua posição naquele momento. Minha preocupação está com o ícone dos pênaltis perdidos, Elano, jogador de dedicação extrema e que havia sido um dos destaques do Brasil na Copa de 2010, mesmo atuando numa posição de coadjuvante!