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domingo, 10 de outubro de 2010

UMA BREVE FÁBULA DA VIDA

O cão olhava ao redor e não compreendia: como os demais animais não percebiam a beleza da vida? Como isso era possível?

Olhava para o gato, sempre ensimesmado, afoito pela sua comida e casa, sem observar o céu azul que se avizinhava.

Olhava para o macaco, preocupado que estava em correr atrás das bananas, troféus fugazes em torno de uma busca maior – a felicidade.

Olhava para o leão a alisar sua juba, contente que estava em receber as benesses de ter uma leoa que tudo lhe dava. E ainda assim reclamava do calor da savana.

Olhava a girafa, penalizada que estava por não poder reclamar seu direito a brincar de esconde-esconde.

Olhava para a baleia, que questionava o porquê de ter que buscar ar na superfície, uma vez que seu verdadeiro habitat era o fundo do mar.

E assim por diante, todos os animais tinham um motivo de reclamação. Mas o que é a vida senão superação?

O gato, com suas carícias e ronronar, trazia a reboque os humanos a lhe acariciar.

O macaco, com suas peraltices, trazia o sorriso das crianças a lhe alegrar.

O leão, com o seu rugir, a todos protegia, imponente como era considerado o rei dos animais.

A girafa, majestosa, alcançava o topo das árvores a vislumbrar o sem fim da beleza natural que a cercava.

A baleia traçava os sete mares, respirando por breves momentos para depois retornar alvissareira para o seu mundo subaquático.

O cão assim entendia que mesmo por vezes incompreendido, mesmo que por vez sendo alvo do ralhar dos seres humanos, ainda assim tinha um papel a cumprir, uma lacuna a preencher. Ao se superar, ao vencer as dificuldades da vida, cada pequeno passo lhe trazia um saborear daquele momento de vitória que fazia com que ele seguisse adiante.

Mesmo no momento de maior turbilhão, percebia que a esperança expressa no céu azul, no sabor das frutas, no sol a brilhar, no verde das árvores, e no frescor das ondas do mar pintava um quadro que nem mesmo o maior dos impressionistas poderia igualar. Assim, quando um dos seus companheiros do mundo animal se aproximava para reclamar ele falava:

- Olhe a sua volta. Veja como a vida é bela. Veja como você se supera a cada dia e como até mesmo a possibilidade de contestar pode ser considerada uma dádiva. Não existem verdades absolutas. O tempo dos reis que tudo podiam, que tudo sabiam, já passou. Hoje nós somos seres conscientes de que o nosso próprio esforço é que faz a diferença no mundo. E se tivermos como premissa de que este é o nosso mundo, a nossa vida, e de que merecemos de que ela seja bela, nada poderá impedir o nosso caminhar.

10 comentários:

  1. Excelente. Achei que iria encontrar um texto leve e comico, mas me deparei com uma excelente reflexao.
    Bjs
    Rachel

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  2. muito legal! parabéns pelo texto... já pensei em criar algo do tipo, mas me deu uma preguiiiça... :P

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  3. Passamos tanto tempo convivendo e posso dizer que vc ainda me surpreende bastante! Parabéns!!!!

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  4. Breves respostas: Rachel, há momentos e momentos. Estou soturno agora, mas em breve a virada chegará; Amaury, seu comentário preguiçoso não me surpreende ;)) ; Ana, as surpresas nos ajudam a dar alguns saltos. Espero que este seja suficiente tanto para vcs, meus amigos quanto para mim próprio.
    Abs, e obrigado pela leitura.

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  5. Ah! Finalmente consegui postar aqui. Obrigado por colocar as novas opções, Leo!

    Bom, seu texto já foi comentado por e-mail,então não vou repetir o dito só para fins de divulgação. No entanto, gostaria de mencionar algo que me pareceu especial: você DEFINITIVAMENTE adotou, pelo menos nessa primeira obra, um tom bastante distinto daquele de outrora, "abandonando" a posição de observador, e exacerbando outra. Muito mais interessante, por sinal.

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  6. Fernando, a posição de observador, vez por outra, retornará. Mas a escrita é o exercício de exarcerbar sentimentos. E estes servem a múltiplos objetivos - palavra esta a ser entendida no sentido mais amplo possível.

    Abs,

    Leop

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  7. O ser humano (e como retratado neste post, os animais) é um eterno insatisfeito. Aproveito este espaço para dividir o com você e seus leitores o dilema de quem muda para o exterior. Essa é uma discussão muito comum com os meus amigos brasileiros que vivem aqui nos Estados Unidos. Agora que estamos aqui e temos acesso mais fácil a bens materiais e a infraestrutura inigualável que este país oferece sentimos saudade da familia, dos amigos que estão no Brasil, da comida, da beleza natural, da informalidade e criatividade do brasileiro, e por ai vai. Te garanto que se voltar vou sentir falta da infra daqui. Vivo dizendo para mim mesmo... quem mandou ser curioso e vim ver como é viver aqui.

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  8. Na vida há duas coisas, Vitor: as escolhas e as faltas delas. Considere-se abençoado pois, se um dia bem o quiser, poderá tomar o caminho inverso. Mas, por hora, curta de montão todas as vantagens que esse mundo tem a oferecer.

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  9. ERRATA-

    onde se le: " as escolhas e as faltas delas..."

    leia-se: " as escolhas e a falta delas..."

    tchus!

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  10. Leop, voltando a velha forma! Parabéns! E o amadurecimento está também em fazer o de melhor da forma e momento que estamos vivendo!
    Brilhante como sempre!

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