Não, eu não irei declarar o meu voto tal qual fez Caetano Veloso no primeiro turno. Aliás, eu nunca disse meu voto para ninguém, nem mesmo para a minha família – e a pressão não foi pouca.
Lembro-me que tomei esta decisão desde que comecei a minha vida de eleitor. Primordialmente por entender que não tinha o direito de influenciar as pessoas para um determinado lado. Afinal, a grande conquista de uma verdadeira democracia deveria ser a possibilidade do eleitor, com grau de informações que tivesse sobre o seu futuro representante político, decidir pelo melhor candidato baseando-se em seus princípios e naquilo em que ele acredita ser o melhor para a sociedade, não? Mas eu volto para esse tema – formação do voto ideal - mais adiante.
Não achava correto, por exemplo, dizer para a minha mãe – “Léo, diz em quem você vai votar? Assim eu posso votar também!” - com a consciência tranqüila de que isso não seria um retorno canhestro ao antigo voto de cabresto. Depois outro fato reforçou essa minha atitude: passei a trabalhar nas eleições, sempre como Presidente de Seção, algo que o fiz por 10 anos. Entendi então que a posição mais adequada e ética seria de realmente nunca informar o meu voto para quem quer que seja. E assim tem sido desde então, mesmo já tendo passado esse meu período de contribuição eleitoral “voluntária”.
Eu diria que quem me conhece tem uma leve desconfiança do meu voto, mas aqui vou aproveitar então para descrever o que considero a formação de pensamento ideal para proceder com tal ato cívico. Para isso vou relatar a situação em que pela primeira vez pude verbalizar essa minha teoria de viva voz, mesmo que não tivesse sido necessariamente bem sucedido naquela ocasião, creio.
Estava em Brasília, a trabalho, perto de um período eleitoral, quando o motorista de táxi, a guisa de puxar assunto, me perguntou – “E o senhor, Doutor – nada como botar um terno em Brasília, viramos PhD automaticamente – em quem vai votar?”. Então iniciei a seguinte explanação, após informar que não declarava meu voto para ninguém:
“Acho que o voto tem que ser formado do seguinte modo: a avaliação entre três dimensões – a pessoal, a da comunidade e a da sociedade. O melhor voto seria aquele que pudesse incluir a combinação equilibrada destes três elementos. Explico.
Primeiramente o eleitor deveria avaliar como aquele candidato poderia beneficiá-lo diretamente, quer seja por apoiar teses que vão garantir sua manutenção no emprego – por exemplo, obras, caso ele fosse da trabalhador da construção civil – como o bem estar de sua família. Depois o eleitor deveria avaliar como o candidato iria beneficiar a comunidade em que está inserido – promessas de postos de saúde para o seu bairro, por exemplo; e finalmente como o candidato, baseado em seu programa de governo, traria um bem maior para a sociedade de seu país, para o Brasil enfim.
Esse último aspecto talvez seja o mais difícil, pois se faz necessário acreditar em princípios, em ideais que devem (ou pelo menos deveriam) ser seguidos. Porém, como o nosso sistema eleitoral privilegia o personalismo, ou seja o candidato em si, e não programas político-partidários – em linguagem simples, vota-se na pessoa, não importando o partido, pois estes são fracos e não seguem programa nenhum, fazendo acordos espúrios com qualquer um – a construção deste voto que considero ideal se complica.
Como eu enfrento esta situação: para as eleições de cargos de maior peso – Presidente, Governador, Prefeito e Senador – normalmente escolho um candidato, mesmo que seja o menos ruim, mas escolho. Me recuso a votar em branco ou nulo. Seria um desrespeito a um direito duramente conquistado. Para os demais cargos – Vereador, Deputado Estadual e Deputado Federal – voto em legenda. É a minha parcela ingênua em acreditar um ideal, em um modelo para a nossa sociedade, mesmo vivendo no cenário político que coloquei anteriormente. Existe uma tática interessante ainda – reflexo da fraqueza partidária – que é votar num candidato do partido A para o cargo do Executivo e na legenda do partido B para os cargos do Legislativo, criando um equilíbrio e reforçando o caráter fiscalizador que a oposição deve (ou pelo menos deveria) ter. E assim se formaria o voto ideal e mais equilibrado, a meu ver”.
Pergunto a vocês: depois desta minha explicação, em quem que você acha que o motorista de táxi votou? Eu não sei, porque a explanação acima relatada tomou todo o tempo do trajeto até o aeroporto, e eu não o questionei, mas eu tenho a ligeira impressão que ele pensou – “É, é melhor mesmo eu votar no deputado X, que me prometeu um emprego de motorista do Congresso”. Enfim, a luta continua!
O monstro foi criado e ganhou vida própria. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Se ficarmos só nos direitos que conquistamos até agora, não vamos conseguir mais nada além. Nosso dever é exigir sempre mais do que o "sistema" oferece... ainda falta muita coisa... a gente anda aceitando muito pouco.
ResponderExcluiras. anarco-punk-sindicalista
ps: td q falei é sério...
Caro Anarco-punk-sindicalista,
ResponderExcluirEntendo as significativas deficiencias que o sistema capitalista possui. Isso me leva muitas vezes a assumir a posição de crítico do mesmo, mas jamais a negá-lo. Nao creio, definitivamente, na possibilidade de mudança.
A razão para tanto decorre do crescente individualismo e egocentrismo, que torna os seres humanos cada vez mais cegos para os seus arredores, focados, como máquinas que se tornaram, na vida e ganhos particulares.
Ainda que haja uma certa curiosidade da minha parte com relação a sua pessoa, anarco-punk, e uma certa vontade de revelar ao mundo sua verdadeira identidade, me contentarei agora em talvez contribuir por desmascarar a hipocrisia do ser humano, que menos opta pelo voto ideológico, moral e ético, e cada vez mais escolhe o voto pragmático e de fácil retorno.
Assinado: Obcecado por Transparencia
O que dizer: meus primeiros comentaristas anônimos não são tão anônimos assim.
ResponderExcluirPois para mim são anônimos. E, sinceramente, não gosto de comentários anônimos. Se não posso falar o que acredito colocando a cara para bater, não falo. Mas, isso é uma posição pessoalíssima. Nada contra quem faz - a não ser quando usa o véu para acusar, difamar, essas coisas.
ResponderExcluirVoltando ao tema do post...
Discordo de você, Leo. Sou ainda mais utópica. Concordo quanto aos três critérios, mas na ordem inversa. Meu primeiro quesito é o que o candidato propõe ao país/estado/município, apenas por último penso no que vou ganhar com isso. Para falar bem a verdade, não penso nisso na hora de votar. Diria, até mesmo, que já votei contra meus interesses pessoais.
Mas, antes de tudo MESMO está o que hoje se conhece como "Ficha Limpa" e comportamento ético.
Isso não significa que o candidato não possa mudar de idéia (claro!!), mas ter atitudes coerentes e responsabilidade pela inteligência alheia são fundamentais.
Além do mais... estou gostando desse negócio de ficar escrevendo.
Lúcia,
ResponderExcluirTens razão. Talvez a minha colocação quanto aos critérios não deveria vir pautada por uma determinada ordem. Estes deveriam ser válidos independente de ordem. A busca poderia ser pelo equilíbrio deles - em verdade, o voto ideal seria assim, acho mesmo que esse era o tom que gostaria de ter dado. Enfim, vida que segue, e continue escrevendo. Que descarado que sou, falar isso para ti - rs.
Abs,
Leop
Leo, não sou muito de escrever publicamente, mas como me sinto um pouco responsável por esse post, lá vai:
ResponderExcluirConcordo com o anônimo 1 e 2, mas apesar de ser normalmente pessimista, tenho meus momentos ingênuos de crença na utopia: acho que é um sistema difícil de funcionar "de forma justa" da maneira como está, mas tb acho que é assim que vamos melhorar um dia: batendo cabeça mesmo. Para começar, acho que cabe a nós que, pelo menos, queremos pensar nesse assunto, falar e debater cada vez mais esse tema em qq mesa de bar ou caminhada na praia, mesmo que sejamos tachados de chatos.
Por outro lado, com o resquício de socióloga que me resta, não posso deixar de pensar que os critérios para escolha do voto não são ordenáveis; todos tem sua importância e justificativa: como posso pedir para uma pessoa que dorme na rua por não ter dinheiro ou tempo para voltar para casa depois do trabalho, pensar me nome do país?? Aí já acho que utopia não é o nome mais adequado...
Bom, não arrisco dizer em quem o taxista votou, mas teho certeza q ele pensou "nunca mais falo abro minha boca com esses PhDs de Brasília....!" rsrsrs
Parabéns pelo blog!
abs, Rachel (a Bottrel).
* só escolhi anônimo pq não consegui escolher outro perfil....
Ô,Léo, dá pra botar uma letra decente nessa bagaça?!? Só dá pra ler essa bosta cinza se manchar a tela!
ResponderExcluirBreves comentários:
1)Respeito o ponto de vista, mas acho que política é um espaço próprio para o exercício da argumentação, da pressão e da influência. Não vejo o voto como um fator concernente à esfera privada. Ao contrário, o voto é uma forma direta de intervenção do indivíduo sobre a vida pública, uma das modalidades (ou dimensões) da luta social.
Declarar o voto e tentar, com isso, influenciar terceiros são formas de exercício da cidadania. Vale comentar, discutir, protestar e até jogar bolinha de papel ou rolo de fita durex. Vale também ir de Campo Grande a Botafogo para fazer tomografia e arrumar uma capa na Veja. Tudo isso é parte do jogo de cenas e efeitos que compõem a disputa política e dão forma à democracia. É claro que tudo isso tem a parte ruim, mas, na vida, o que não tem?
2) O motorista do táxi deve ter achado o "doutor" chato pra cacete...
Um abraço, irmão! Saudades da turma toda da MV 09. Vamos em frente, com Dilma e Luxemburgo na cabeça!!!
Rachel e Mala,
ResponderExcluirLevando-se em conta que ambos concordaram que eu sou um chato, como divergir? Cada um vê a democracia de um jeito. Isto é ou não é a verdadeira democracia?!
Abs,
Leop
sabem o que é super- mega-interessante-tabajara??? os posts do blog estão sendo um capítulo a parte em matéria de diversão...
ResponderExcluirLeop, vc sabe que sou mais engajado que você... mas não deixo de concordar contigo... ainda mais na situação atual... nenhum causa hogeriza, mas também não empolga... e nesta reta final passou a um nível que achei que tínhamos deixado para traz! Ainda bem que não poderei votar!
ResponderExcluirConcordo com o Fernando Cassibi, os comentários estão o máximo, mas isso é reflexo dos seus textos e de sua credibilidade. Até o Carlos já fezx comentário!
Paulo,
ResponderExcluirConcordo contigo. Só o fato de ter feito o Mago da Luz Azul se manifestar já valeu!
Abs,
Leop
Ahhhhhhhhhhhhhhh se eu estivesse com animo para polemizar isso aqui estaria um prato cheio. Fica para a próxima, nao faltara oportunidade.
ResponderExcluirNum tenho conta em nada, entao vou de anonimo mesmo. Mas eh a Laurinha que vos parla.
ResponderExcluirGostei muito do post sob o voto. Gostei mesmo. Ainda que eu tenha um perfil oposto sobre a mesma questao (vide a minha facebook wall planfetaria antes, durante e depois das eleicoes ;)), acho que voce esta completamente correto em sua posicao. Quando cheguei aqui na Belgica, fiquei, inicialmente, assustada que o meu marido nao sabia (e nem perguntava) em quem os pais votariam e a mesma coisa valia em relacao aos pais com o voto dele. Quando perguntei-o sobre o assunto, ele foi categorico: "a instituicao do voto secreto nao deve valer somente para a justica eleitoral. Em ultima analise, NOS construimos a justica eleitoral e temos que ser parte do pacto que insitui o que achamos correto. Voto secreto se comeca em casa". Tive que fechar-me em copas diante disso. :)
That being said, faz 6 meses que a Belgica esta sem governo e a vida continua normalmente. Imagina se isso acontece no Brasil??? Para mim, a decisao eleitoral no Brasil desse ano tinha um aspecto vital para o futuro do pais (bom, minha opiniao eh que TODA eleicao tem esse carater.... por isso que eu vou a luta com aquela polidez que voce conhece desde os tempos de PPGRI ;) ). No fim das contas, acho que o x da questao esta no que voce mencionou no seu post: COERENCIA. Voce explicou sua coerencia eleitoral and I really respect that. :)