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quinta-feira, 21 de abril de 2011

POR QUE EU AMO TANTO ESPORTES?

Há alguns meses uma conhecida jornalista me perguntou se eu adoro futebol. Ok, não foi uma pergunta, foi uma afirmação. Ela falou: “Você gosta muito de futebol, não é?”. Eu respondi que gostava, mas como aquela colocação se deu por conta dos posts, tive que retrucar relembrando que o Leopideas tratava de outros assuntos também.

Além do mais, eu não gosto apenas de futebol. Gosto de todos os esportes em geral. Os esportes estão para a minha vida como uma filosofia. Com eles eu consigo alcançar exemplos de conduta para todas as áreas do meu dia-a-dia. Por isso que normalmente meus textos estão entremeados de citações que têm como referência os esportes. Paulo Coelho, numa entrevista ao canal Sportv, no final do ano passado, afirmou: - “Esportes são a coisa mais importante do mundo”.

Os esportes nos ensinam o respeito ao próximo, a sermos disciplinados, a saber trabalhar em equipe, a saber identificar qualidades e defeitos, a dar a volta por cima, que a vida nos dá inúmeras oportunidades, etc, etc, etc. Eu teria um rosário sem fim de todas as lições que aprendi acompanhando a vida esportiva, presenciando grandes gestos de ídolos de gerações, ou testemunhando ações mesquinhas daqueles que não viam nada mais adiante que não fosse a vitória e os seus desdobramentos financeiros e de poder.

Porém, como eu aprecio mais os grandes gestos, vou apresentar para vocês duas boas histórias das quais tive conhecimento recentemente por intermédio de documentários esportivos. A primeira trata-se do impacto da Guerra dos Balcãs, no início dos anos 90, sobre a vida daqueles povos que viviam na antiga Iugoslávia. Esta encontra-se retratada no documentário da ESPN “Once Brothers” (2010).

Aquele país tinha uma das melhores equipes de basquete do mundo então. Foram campeões mundiais na Argentina, em 1990, tendo como destaques um sérvio e um croata, respectivamente, Vlad Divac e Drazen Petrovic. Divac era um ala-pivô de grande talento, enquanto Petrovic era o cérebro, o armador daquela equipe. Eles eram como irmãos, dividiam quarto, e pouco se importavam com suas respectivas nacionalidades. Porém, quando a intolerância racial emergiu na Iugoslávia, uma divisão foi semeada naquela grande equipe, que tinha em sua maioria jogadores da Croácia.

Divac pouco se importava com a guerra. Ele se entendia iugoslavo e pronto. Porém uma cena ao final do supracitado campeonato mundial fez com que nada fosse mais o mesmo. Um simpatizante croata invadiu a quadra com a bandeira nacional da Croácia. Vlad Divac entendia que aquele não era o momento para uma manifestação política e o expulsou de quadra. Isso não foi bem visto pelos demais jogadores de origem croata, inclusive pelo seu grande amigo até então, Drazen Petrovic.

O clima estava por demais tenso na Iugoslávia, os jogadores recebiam notícias aterradoras do que estava acontecendo nos Balcãs, porém eles estavam distantes, lutando para abrir espaço para os jogadores europeus na Liga Profissional Norte-Americana – NBA (sigla para o original em Inglês para National Basketball Association). Enquanto Petrovic tinha mais dificuldades, até então contava com o apoio de Divac, que vinha obtendo sucesso no Los Angeles Lakers de Magic Johnson, ambos – Drazen e Vlad – mantendo contatos telefônicos quase diários. Tal conexão foi cortada após o episódio do Mundial da Argentina. O próprio Divac afirma no documentário: - To build a friendship takes so much time and so many years (…). To ruin it, just seconds”.

Divac e Petrovic tentando a sorte na NBA.

Infelizmente eles não tiveram a oportunidade de reatar o antigo relacionamento. Petrovic viria a falecer num acidente automobilístico na Alemanha, em 1993, quando se preparava para atuar pela já separada Croácia, e Divac somente voltou a solo croata para reencontrar a família do amigo e visitar seu túmulo quase 20 anos depois. Vidas interrompidas sem ter a possibilidade de uma reconciliação por conta de um ódio idiota semeado externamente à amizade cultivada por anos, tudo isso por questões raciais e pela violência da guerra. Será que isso não tem algo a nos ensinar? Será que não devemos saber ouvir os outros, a perdoar, a olhar para o amigo com condescendência em função de toda uma trajetória pregressa?

A outra história é de um dos maiores treinadores de basquete colegial dos Estados Unidos: Bob Hurley. Ele dirige o time do St. Anthony, um colégio instalado em comunidades carentes. Sendo um treinador de grande sucesso recebeu inúmeras propostas para atuar em Universidades e times da NBA, com valores astronômicos. Mas ele jamais aceitou. Por que? Ele entende que tem uma missão maior, que é a de preparar aqueles garotos para a vida.

Bob Hurley

Ao ver as imagens do documentário “The Streets Stop Here!” (2009) – lema do St. Anthony – observamos um treinador duro, que não deixa de usar palavras pesadas em relação aos seus jovens jogadores, punindo-os quando necessário para que aprendam lições de respeito aos mais velhos, de disciplina, de humildade. Certa vez, contra um dos melhores times do campeonato, que contava nada mais nada menos do que com o grande astro de hoje da NBA, Kobe Bryant, ele tirou todos os seus melhores jogadores, deixou-os no banco, para demonstrar a capacidade que os então considerados reservas tinham de superar as adversidades. Pois a equipe dele venceu, e mais um ensinamento estava dado, o da humildade.

Ele mesmo, do alto dos seus 62 anos e 25 títulos estaduais conquistados, afirma no documentário que acha que nenhum de seus alunos deve achá-lo o professor mais dócil e amigo do mundo, mas ele está fazendo o que acha que é certo para que eles cresçam como homens e cidadãos. As declarações daqueles adolescentes, de respeito, a ponto de se aconselharem com o mestre sobre o rumo futuro de suas vidas, são comoventes. E assim, cena após cena, nós vamos aprendendo a como ser pessoas íntegras em nossas vidas. O próprio Bob Hurley, em recente entrevista, afirma:

Sometimes the older you get there can be a disconnect with either the kids you are coaching or with society.  I am certainly at the age now of a grandfather but I don't have any grandfatherly tendencies except with my grandchildren. I still have the same fire. I understand backgrounds of kids. The kids understand that I know who they are. I don't coach No. 11, I coach the person who is inside that uniform. The kids know that you care about them. I am urging them all the time to be better in school, stay away from the negative influences where they live. You play the game as long as you can but when you put the ball down you begin your other life. In urban areas, a lot of times there isn't a Plan B and if basketball doesn't work out the guy is just out of luck.

Enfim, é como diz o lema da NBA – “I love this game”! Viram, o mais impressionante é que eu não falei em nenhum momento sobre futebol neste post. É, eu realmente tendo a concordar com o Paulo Coelho.

Fontes – acessadas em 08 de Janeiro de 2011:


3 comentários:

  1. Muito bom post. Feliz Páscoa!

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  2. Leop os exemplos no esporte são muitos! Ainda mais nos esportes coletivos, onde aprendemos a confiar e trabalhar em equipe. Muitas vezes faltam este sentimentos e experiências nas vidas de muitos para saberem como o esporte é importante. Tão importante quanto a família e a religião.

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  3. Leopoldo, lembrei de um comercial com o Chico Buarque, em que ele conta que, certa vez, perguntaram a um grande jogador de futebol, aposentado, do que ele mais tinha saudade dos seus tempos de jogador, se das vitórias, das conquistas, da fama etc. Ele respondeu que não era de nada disso: "o que sinto mais falta é da da sensação que tinha ao olhar para o lado e de me lembrar de que jamais estava sozinho".

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