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quinta-feira, 7 de abril de 2011

F1 2011

Estamos novamente num início de temporada da Fórmula 1 (F1), categoria que para muitos perdeu sua razão de ser após o falecimento do ídolo Ayrton Senna. Em que pese o baque ter sido gigantesco, não sou partidário de tal sentimento. Acredito – e posso levar pedradas de tudo quanto é lado por esta minha opinião – que Felipe Massa tem um potencial enorme para ser campeão mundial – como o quase foi em 2008, naquela emocionante prova em Interlagos, em que ganhou, mas não levou, em função da ultrapassagem do piloto inglês Lewis Hamilton, da MacLaren, sobre o alemão Timo Glock na última volta.

Acreditar no Massa, e de maneira mais genérica, ter um ídolo, é atributo essencial para motivar alguém ou todo um povo a acompanhar determinada modalidade esportiva. Temos outros exemplos de tal faceta aqui mesmo no Brasil, quando na época do Guga todos nos transformamos em especialistas no tênis, e mais recentemente o fenômeno César Cielo, que leva a muitos acompanharem as provas de velocidade na natação. Se o piloto brasileiro é capaz de tal aglutinação de sentimentos é a questão.

Por outro lado, o problema na F1 é que cada vez mais a característica de perversidade que sempre lhe foi inerente está de maneira contundente exposta após uma série de eventos significativos – pelo caráter negativo - nos últimos anos. A idolatria por Senna por vezes empanava esse aspecto, uma vez que grande parte da população brasileira se deliciava com suas vitórias, deixando de lado o esforço hercúleo que era necessário nos bastidores para se manter um mínimo de decência na disputa entre os pilotos.

Dessa forma, o raciocínio que tento apresentar hoje para vocês é o seguinte: a F1 é um ambiente profissional em que a competitividade extrema leva à convivência com as atitudes mais vis que um ser humano pode vir a ter. Alcançar conquistas sem se atropelar a ética – e que verbo mais apropriado este para o contexto do qual estamos tratando – parece, ao se olhar de maneira próxima, um desafio quase impossível.

Os nossos principais pilotos – Rubens Barrichelo e Felipe Massa - nos últimos anos têm, então, como característica central – e vejam aonde a inversão de valores pode nos levar – algo que pode ser visto como um defeito: buscam vencer decentemente num meio em que esta lógica não prevalece, infelizmente. Não é mera coincidência que os momentos de maior felicidade esportiva para Rubinho – à exceção da primeira vitória na F1, no Grande Prêmio (GP) da Alemanha no ano de 2000, pela Ferrari, que para qualquer piloto deve ser inesquecível – tenham sido quando ele esteve à parte de disputas diretas pelo campeonato, tendo a liberdade para desenvolver carros, como na época da Stewart e agora na Williams.

Os anos de Ferrari foram uma verdadeira tortura para ele, submetido ao jugo draconiano do heptacampeão Michael Schumacher e todo o seu favorecimento pela equipe italiana. A história começa a se repetir no relacionamento entre Massa e o espanhol Fernando Alonso. Dessa forma, talvez a melhor solução para o piloto brasileiro seria uma saída para uma equipe que tivesse outras ambições, tais como crescer paulatinamente utilizando-se do conhecimento de um profissional tarimbado como ele já o é.

Em meio a todo esse ambiente, a temporada se iniciou com um GP da Austrália decepcionante. Os mesmos protagonistas – Sebastian Vettel, da Red Bull Racing (RBR) em destaque – demonstraram que pouco se alterará em relação ao campeonato do ano passado, mesmo com mudanças tecnológicas de grande envergadura – somente quem acompanha automobilismo mais amiúde poderia compreender a diferença que faz mudar a marca de pneus e fazer com que a asa traseira se abra em determinados momentos de uma corrida. Não os aborrecerei com estes temas, dêem Graças à Deus!

Com isso, a promessa que se avizinha é de que teremos os Touros Vermelhos disparando na frente, e como Vettel apresenta-se como um talento muitas vezes superior ao seu companheiro de equipe, o australiano Mark Webber, dificilmente terá essa diferença retirada pelos demais competidores. Dessa forma, caso tenha a cabeça no lugar, e não cometa as mesmas bobagens que levaram a decisão do campeonato passado para última prova, o novo fenômeno germânico caminha a passos largos para o bicampeonato. E digo isso para vocês tendo visto apenas a primeira prova! Quanto aos brasileiros, infelizmente serão meros coadjuvantes mais uma vez. E isso para nós vai minando pouco a pouco até mesmo o interesse dos mais devotados em acompanhar corridas, pois seria algo como assistir à “Corrida Maluca” vendo o Dick Vigarista ganhar sempre – e não é que padecemos disso recentemente!?

No programa “Linha de Chegada”, do Sportv, exibido em reprise no dia 02 de Abril de 2011, pela manhã, com entrevista comandada pelo apresentador Reginaldo Leme – que também se demonstrou decepcionado com a primeira prova de 2011 – o piloto Tarso Marques, que já esteve em meados da década de 90 na categoria máxima do automobilismo, colocou exatamente que é difícil ver um campeão de F1 realmente “decente”. E nesta mesma ocasião foi enfatizado por ambos que Fernando Alonso é exatamente o perfil de “atropelador” da ética e decência, fazendo prevalecer sua vontade de vencer acima de tudo e de todos.

Fonte: http://www.barrichello.com.br/pt/historia/4-historia.html - acesso em 02 de Abril de 2011.

5 comentários:

  1. A competitividade, por incrível que pareça, leva às pessoas a atos extremos e repudiáveis, que acabam por revelar o caráter. Lembro-me das brincadeiras de Piquet com Mansell, que era favorecido dentro da Willians e mesmo da sequência de colisões entre Senna e Prost, em 1989/1990. Schumacher foi também campeão em vigarices (jogou o carro contra Damon Hill para ser campeão), ate se dar mal com Jacques Villeneuve. Será que só o $ explica issso? Não creio. Há a pressão do ambiente, o status de ser o campeão, o mais veloz entre os mais velozes. O sentimento de fazer-se superior aos demais é um combustível estimulante para alguns, entorpecidos de ambição desmedida.

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  2. vc viu o documentário do Ayrton Senna recém lançado nas locadoras? Excelente. Excelente MESMO.

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  3. Fernando, não vi o documentário. Vi apenas, há época do lançamento, diversos comentários elogiosos sobre o mesmo, com breves cenas apresentadas para aguçar o sabor de quero mais. Acredito que um dos motivos para eu não ter tido o ímpeto de assisti-lo nos cinemas tenha sido pelo fato de ter acompanhado a carreira do Senna na F1 desde o início - ou até pouco antes, quando já pintava como um fenômeno na F3 inglesa, período em que transformou Silverstone em Silvastone, nas palavras de um períodico especializado britânico, em função das inúmeras vitórias no mítico circuito inglês. Assim, como um aficcionado do esporte em geral, sempre procurei me informar pelos detalhes e bastidores. Sei que um dos méritos do documentário é inclusive acrescentar fatos novos, desconhecidos até então - como, por exemplo, a cena da reunião de pilotos em que o próprio Ayrton questionou uma decisão que favoreceria o Prost. Mas nada vai mudar o simples fato de que este grande campeão não está mais entre nós. E digo isso tudo sem medo de afirmar que na disputa Senna X Piquet eu torcia por este último. Mas não misturo tais querelas antigas com a incontestável percepção que Senna foi um piloto excepcional, e que por um acaso de Deus não teve a oportunidade de ser, em números, o maior de todos os tempos.

    Quanto ao comentário do Carlos Maurício, concordo que o $ apenas não explica determinadas atitudes. Índoles negativas são aguçadas quando encontram o ambiente propício. E talvez Schumacher e Alonso - para me ater aos exemplos expostos no post - tenham trazido de experiências de suas própria vida, anteriores à F1, uma abordagem de carnificina total em relação aos seus adversários. Recentemente tivemos um exemplo trágico de como fatos pregressos podem ser perversos para o futuro de determinadas pessoas que muitas vezes não têm a mínima relação com os mesmos.

    Abs,

    Leop

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  4. Concordo Leopoldo, E sobre a questão das colisões Senna/Prost, por mais que a de 90 possa ter sido um "revide" a de 89 e que eu tenha admiração pelo caráter do Senna, até hoje me pergunto se aquela atitude era necessária. Mesmo com todas as tramóias da FIA de Balestre a favor de Prost, campeões como Senna não deveriam necessitar daquilo. E olha que entre Senna e Piquet, sempre fui mais pelo primeiro, apesar de uma das maiores ultrassagens da história da F1 ter sido de Piquet sobre Senna, na Hungria, em 1986.

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  5. Sobre o documentário,é mesmo ótimo. Vi no cinema. Ganhou prêmio no festival de Sundance.

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