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quarta-feira, 13 de julho de 2011

O PROFETA

Profetas e poetas são bem próximos. Ambos se manifestam por meio do poder da palavra, o que esta pode provocar sentimentalmente em relação ao ouvinte ou leitor. Burilar a construção das seqüências de modo a que estas produzam um torvelinho de pensamentos e emoções são os melhores qualificativos para estes especialistas na arte de projetar cenários por meio de metáforas.

Poderia se dizer que ambos surgiram juntos. Mas será que a relação direta se dá na mesma magnitude, ou seja, um profeta necessariamente é um poeta? E um poeta é necessariamente um profeta? Diria para vocês que todo profeta é um poeta, pois as qualidades que este último apresenta, todas elas aquele primeiro detém, multiplicadas pela capacidade de hipnotizar multidões, no bom sentido da palavra, fazendo com que estas se sintam tocadas a ponto de alterar de atitude e visão sobre suas próprias vidas.

Já o poeta tem ambições mais modestas. Muitos se satisfazem se apenas puderem externar para si próprios seus sentimentos mais secretos. Eles não necessariamente têm a intenção de mover céus e terras, o que dirá gerar seguidores. Claro que existem suas exceções nos dois grupos, mas em geral creio que seja esta a sua relação para com o seu propósito de vida.

Existe ainda um aspecto que faz com que os profetas alcancem um nível, digamos, sensorial, mais elevado. A construção de sua imagem, com o apoio direto da expansão da religiosidade na humanidade – e estamos falando de todas as religiões, cada qual com o seu próprio profeta – fez com que esse sempre fosse entendido como um ser especial, possuidor de uma sabedoria em muito superior dos meros mortais.

No livro “O Profeta” – GIBRAN, Khalil – Ed. L&PM – Porto Alegre – 2009 – 128 págs. – fica clara esta relação direta entre o sábio e aqueles que buscam uma orientação. O autor, Khalil Gibran (1883-1931), libanês de nascimento, mas que percorreu diversos países em toda a sua vida, apresenta a estória de Mustafá, que após 12 anos em Orfalese, encontra-se prestes a partir. Porém, os cidadãos daquela cidade se reúnem, e um a um vão solicitando pérolas, o maior tesouro, suas palavras e sabedoria, sobre diversos aspectos da vida:

Amor
Casamento
Filhos
Doar
Comer e Beber
Trabalho
Alegria e Tristeza
Casa
Vestir
Comprar e Vender
Crime e Castigo
Leis
Liberdade
Razão e Paixão
Dor
Auto-Conhecimento
Ensinar
Amizade
Falar
Tempo
Bem e Mal
Prece
Prazer
Beleza
Religião
Morte

Se observarmos com atenção a seqüência de temas abordados perceberemos como o personagem-profeta foi delineando cada um destes pontos que envolvem a vida de todos nós, em cada uma de suas fases – nascer, crescer, multiplicar, envelhecer e morrer. Para cada uma delas temos que buscar a sabedoria de saber como vivenciá-las em sua plenitude.

O Líbano, terra de origem de Gibran, é pródiga para se falar em profetas. País dividido entre o Cristianismo e o Islamismo, possuidor de uma grande mesquita em Beirute, sua capital, ao lado de uma igreja católica, pode abraçar duas das religiões que possuem mais seguidores no planeta sem necessariamente se auto-destruir. A falência política da região, na qual se viu envolvido, mais se deveu a incursão de atores externos do que a própria capacidade de convivência inerente ao libanês. Nas ruas pode-se encontrar pessoas falando Inglês e Francês, além do Árabe, denotando ainda mais a característica inata de sobrevivência em meio à diversidade, algo que poucos em função dos conflitos militares que lá surgiram – eu incluído - poderiam imaginar.

Nesse sentido, a mensagem principal do livro me parece ser essa: tolerância. Entender o outro, compreender que visões distintas podem conviver plenamente sem que as pessoas se matem por discordar. A vida seria tão mais fácil assim, não nos parece óbvio? Ou como o próprio Mustafá fala logo no início do livro – “Povo de Orfalese, o que eu posso falar exceto do que ainda está se movendo dentro de vossas almas?”.

Um comentário:

  1. Gentileza gera Gentileza. Coincidentemente, hoje vi um táxi na Rio Branco com um adesivo - bem grande, até - reproduzindo a famosa frase do chamado 'Profeta Gentileza'.

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