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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

ALASCA A PÉ

Quantas vezes nos perguntamos se somos capazes disso ou daquilo? Tarefas mínimas nos parecem como gigantescas montanhas a escalar. Olhamos para o que temos a fazer e não imaginamos como conseguiremos chegar ao fim daquilo. Esportes normalmente têm milhares de metáforas para a superação. Mas a história que vou descrever aqui talvez não possa ser considerada um mérito esportivo, mas sim uma epopéia pelo autoconhecimento. Se superação é uma palavra suficiente para o que vou descrever a seguir, somente vocês poderão me dizer ao final.

Ao comprar a National Geographic Brasil, de Março/2011, instigado pela colega Rachel Bottrel principalmente por duas matérias que envolviam a Guerra do Sudão e a nova era que homem está vivendo – Antropoceno – me deparei com pelo menos um par de outras histórias tão interessantes quanto. Uma delas é a de Andrew Skurka.

Andrew Skurka, o desafiador de limites, no Alaska


O título da matéria era “Volta ao Alasca em 176 Dias”. Pensei eu: vem aí mais um desses malucos que gosta de fazer trilha ou então é a descrição de uma corrida de aventura com equipes supergabaritadas fisicamente e que superam as condições da limitação que o ser humano tem para enfrentar as intempéries da natureza. Porém a chamada da reportagem já dava a dimensão do que estava por vir: “Ninguém jamais tinha feito isto: percorrer 7.530 quilômetros a pé, de esqui e de bote, atravessando oito parques nacionais, dezenas de cordilheiras e a região do Yukon de ponta a ponta. Aí apareceu Andrew Skurka”.

Para vocês terem uma idéia de como as dimensões do que era ali apresentado minimamente já eram impactantes para mim, tenho como padrão de distância – e cada um tem o seu, pensem um pouco e descobrirão sua referência pessoal – uma viagem Rio - São Paulo, em torno de 400 Km, que de ônibus leva uma média de 6 horas. Qualquer distância superior a isso para mim é uma viagem deveras longa – e de ônibus! Só de pensar no feito eu já ficava cansado.

Minha admiração apenas fez crescer quando soube de detalhes do desafio vencido. “Dias de caminhada ou navegando com os pés secos: 20 em 118 / Maior distância sem ver nenhuma estrada: 1.057 Km / Maior período sem ver outro ser humano: 24 dias” (grifos nossos - pág. 87). Poderia-se imaginar que este é um meio pelo qual ele buscava reconhecimento ou fama para sustentar uma vida de dificuldades. Mas Skurka não está vinculado a tais estereótipos. Teve uma criação com tudo de bom, com direito a boas faculdades e uma promissora carreira em Wall Street. Mas, de repente, um clique o fez ver que aquilo tudo não era o centro do mundo. Aí se inicia a verdadeira saga pessoal deste homem, que buscava o sentimento de ser, simplesmente isso, ser.

Para se ter uma idéia do que ele se propôs a partir de 1999 seguem aqui alguns de seus feitos: o início de tudo - jornada a pé por 3,5 mil km da Trilha dos Apalaches; andar 11.064 Km traçando um enorme arco pelo oeste americano – em média 53 Km/dia; e caminhar 12.517 Km, da costa do Atlântico em Quebec até a costa do Pacífico em Washington (Rota Mar a Mar) – pág. 89. Como se pode perceber, o meu padrão de distância é fichinha para esse cara. Somente isto já poderia ser uma lição de superação, mas o que ele buscava era uma lição de humildade. E isto está espelhado de maneira primorosa nos 3 últimos parágrafos da reportagem a qual estou me referenciando aqui neste post. Vejam abaixo os principais trechos:

“Por dois dias os insetos o atormentavam. Depois veio uma tempestade, com rajadas de vento que quase arrancaram seu abrigo do chão. Seus suprimentos estão acabando, e ele se sente frágil, esmagado pela solidão e pela aspereza da paisagem. O que inicia a transformação, no meio disso tudo, é a súbita descoberta de que ele não precisa de mapas. A rota está evidente, traçada pela colossal manada de renas, um caminho tão antigo e pisoteado que parece quase uma estrada. (...) As lágrimas então voltam a rolar. ‘Sei lá por que estou chorando’, fala olhando para a câmera. ‘A visão desses caminhos me faz chorar... Sou igualzinho a esses bichos. Sou apenas uma criatura desta Terra’. (...) Não sei se aquele momento com as renas indica que ele encontrou algo mais profundo, mas, pelo tanto que viajou e pela dificuldade da jornada, não resta dúvida de que Andrew Skurka fez algum achado. ‘Eu me senti humilde’, conta. E essa pequena conscientização foi uma de suas maiores emoções”. (pág. 97)

Sugestão de Leitura:
National Geographic Brasil – Março/2011 - Volta ao Alasca em 176 Dias – KOEPPEL, Dan – págs. 84-97.
Para saber mais sobre Andrew Skurka e seus desafios ver http://www.andrewskurka.com/ .

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