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domingo, 1 de janeiro de 2012

A CABANA

Comecei a ler o livro “A Cabana”, de William P. Young – Ed. Sextante – 2008 – 238 págs. – no final de março/2011. A expectativa em torno do mesmo era grande, uma vez que era um dos Best Sellers já há algum tempo. Mais do que isso, como havia passado por momentos de grande introspecção e reflexão sobre a vida, achava que ele poderia apontar mais uma visão útil sobre a mesma.

Comecei a leitura enquanto viajava a trabalho, o que por si só serviu como uma abertura para um espaço reservado para a concentração sobre o seu conteúdo. E é engraçado, porque recentemente recebi algumas críticas por essa minha mania de “concentração” para fazer as coisas, deixando a flexibilidade de lado. E de uma certa forma, uma das mensagens do livro – são inúmeras – é justamente essa: sermos mais flexíveis uns para com os outros. Assim, entendo que esta resenha se presta perfeitamente como texto de início de ano.

Voltando ao impacto do livro em si. Como disse andava muito reflexivo há época em que comecei a lê-lo. Como já tinha uma outra leitura engatada preferi deixá-lo de lado, o que devo confessar gerou-me uma sensação de certa alívio. Isto, credito, ao fato dele iniciar tocando em determinadas feridas as quais não queria cutucar naquele momento. E para tanto, ele usa de uma situação de extremo peso para o leitor.

Apenas para vocês terem uma idéia vou reproduzir aqui o primeiro parágrafo da orelha:

Durante uma viagem que deveria ser repleta de diversão e alegria, uma tragédia marca para sempre a vida da família de Mack Allen: sua filha mais nova, Missy, desaparece misteriosamente. Depois de exaustivas investigações, indícios de que ela teria sido assassinada são encontrados numa velha cabana.

Ora, para quem possui filhos a estória já seria por demais pesada. Para quem possui uma filha, pequena, mais ainda. E para quem está reavaliando valores de sua vida – e em como esta pode parecer ingrata ou dura de vez em quando – pior seria. E eu me encaixava nas três situações naquela ocasião.

O ano de 2011 passou, e foi um ano pesado, eu diria. Muitos embates, reviravoltas, soerguimentos, novos tombos, novas reflexões, o buraco se abrindo novamente, uma luz que se aproxima, saídas pela esquerda, pela direita, em pé para enfrentar novos desafios. E aí, coincidentemente, me vejo novamente com ele nas mãos para continuar a leitura.

Como coloquei anteriormente, inúmeras são as lições e mensagens que ele passa. E como todo livro, sua percepção depende igualmente das experiências pessoais do leitor. Essa interação – leitor-texto – pode ter múltiplos resultados, uma vez que cada um transpõe seus anseios de maneira distinta em relação ao que está sendo relatado, sendo tocado em pontos que não necessariamente são os mesmos que para um outro leitor.

Tive um exemplo disso recentemente: num debate sobre a rigidez, espaço de poder e hierarquia comentei com dois amigos que “A Cabana” questionava esses fatores, digamos, limitantes, em dado momento. Ao que recebi em resposta, meio que afastando este livro como sendo válido para tal argumentação, a seguinte frase: “Este foi um dos livros que mais me deixou triste quando o li!”. Somente agora, terminada a minha própria leitura, posso imaginar – e somente imaginar, nunca saber – o que esta determinada pessoa sentiu.

Porém, devo dizê-lo: talvez este atue como “O Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupéry. Ou seja, um daqueles livros em que você, em momentos diferentes de sua própria vida, terá leituras distintas das mensagens passadas. E assim acredito que este leitor desiludido poderia dar mais uma chance para ele, mas adiante, se despindo da experiência passada.

Vou colocar, para vocês abaixo, o que eu depreendi do mesmo, em frases isoladas:

·         O amor supera todas as dificuldades;
·         O perdão é uma força libertadora;
·         Mais flexibilidade na vida nos ajuda a sermos pessoas melhores;
·         Devemos evitar julgar as pessoas;
·         As instituições não são maiores ou melhores que as pessoas que as compõem;
·         A confiança mútua só se alcança quando se deixam os preconceitos de lado e o diálogo é realmente praticado;
·         Os relacionamentos e a maneira como são conduzidos são a base de tudo.

Alguns dirão – mas isto são lugares comuns constantes em livros de auto-ajuda. Mas, a pergunta que lhes faço então é: se isso é realmente tão simples de ser identificado, porque é tão difícil de ser praticado? Talvez “A Cabana” ajude você a encontrar algumas respostas para essa pergunta. E seguindo a própria filosofia pregada no livro, ele talvez não apresente as respostas definitivas, mas todos nós temos o direito e a liberdade de procurá-las.

Feliz 2012!

PS 1 – o livro centra o seu esforço na percepção que temos de Deus em nossas vidas. “Intenso, sensível e profundamente transformador, este livro vai fazer você refletir sobre o poder de Deus, a grandeza de seu amor por nós e o sentido do sofrimento que precisamos enfrentar ao longo da vida”. Porém, não quis enfatizar tal aspecto nesta minha análise, pois ela poderia afastar aqueles menos “religiosos” então de sua leitura. Acredito que o livro sirva para todas as correntes e para todos os credos, por suas lições de paz para a humanidade – “[...] o sistema do mundo é o que é. As instituições, as ideologias e todos os esforços vãos e inúteis da humanidade estão em toda parte e é impossível deixar de interagir com tudo isso. Mas eu posso lhe dar liberdade para superar qualquer sistema de poder em que você se encontre, seja ele religioso, econômico, social ou político. Você terá uma liberdade cada vez maior de estar dentro ou fora de todos os tipos de sistemas e de se mover livremente entre eles. Juntos, você e eu podemos estar dentro do sistema e não fazer parte dele”. (pág. 168). As críticas foram contumazes, tanto por parte de evangélicos quanto de católicos, em sua maioria baseados numa fraca teologia na qual estaria estruturado. Porém, pelo que me parece, a intenção do autor não foi a de ser um teólogo strictu sensu, e sim de passar uma mensagem de amor e paz, e como a força desses sentimentos pode ser transformadora. Mas esta é apenas a minha opinião. Para que você tenha a sua, tem que ler o livro.

PS 2 – O livro gerou um site interativo - www.theshackbook.com – mas eu aconselho ler o livro primeiro antes de acessá-lo.

8 comentários:

  1. Li o livro, há muito tempo, foi bom, fez bem. Acho até que preciso ler novamente, mas o exemplar tomou caminhos desconhecidos. Adotei uma nova posição diante da minha capacidade de perdoar. Definitivamente, preciso ler novamente.
    Sobre o fato de ser visto como mais um livro de auto ajuda... isso não importa. Se um livro te ajuda a alguma coisa, distração, conhecimento, leveza... tá valendo.

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  2. Fala Leop! Eu li o livro, em um momento muito difícil de minha vida e me ajudou bastante... acho que até hoje ele me ajuda, mas concordo que deveria novamente, com uma utra visão. Mas eu sou dos que gostaram muito do livro.
    Abraços.
    PS.: Cara escreva e faça uso do seu tempo livre com prazer, já somos escravos do sistema, não sejamos do nosso tempo pessoal.

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  3. Olá, Leopoldo! Obrigado por dar uma olhada no meu blog; quanto à questão do 'livre-arbítrio', bem...temos que operar com ela (ou seja, considerar que temos 'livre-arbítrio') para viver em sociedade, maso quanto realmente temos de livre-arbítrio? A meu, ver, muito pouco (o que não retira a importância do conceito). Mas o 'livre-arbítrio' não resolve as questões acerca de como agiria o deus cristão - fundamentalmente, esse ser hipotético (a meu ver) evidentemente colocaris suas criaturas em péssimos lençóis para então aplicar suas punições/recompensas. O inferno é só o cúmulo da incompetência/perversidade desse deus. É o que venho defendendo em alguns daqueles textos de memórias. Por isso que 'A Cabana' não tem como fazer parte da minha estante...mas continuo leio do teu blog,sem dúvida.

    Abraço!

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  4. Paulo e Lúcia, continuarei lendo e escrevendo, para conhecer e expor diferentes pontos de vista. Isso vem bem a calhar com as palavras do Thiago, das quais discordo.
    Thiago, sua interpretação de um Deus cristão está muito apegada à interpretação literal da Bíblia. Ela trata-se de um documento de cunho histórico, e que por isso deve ser contextualizada em relação à época que se refere. Inúmeros povos tentavam justificar suas batalhas como sendo conduzidos por um Deus vingador. Partindo desse pressuposto, eu não poderia ler nada que fosse oriundo de outras religiões, sendo católico praticante como sou. Não poderia ler, por exemplo, A Cabana - livro o qual continuo recomendando a leitura para ti, pois enfrenta, de peito aberto, inúmeras questões por ti levantadas. A Cabana é um livro de um autor evangélico, que mesmo assim não teve problemas em colocar em xeque a condução do discurso religioso pelas Igrejas - quer sejam católicas ou protestantes. Ele colocou a mensagem de amor e paz acima de tudo, e para mim, particularmente, é isto que prevalece. Quanto ao ponto de irmos ou não para o inferno, que cada um tenha a sua consciência tranquila de que é uma pessoa de bem, pois ao final da vida tenho para mim que todos apelam para o divino, querendo expiar os seus pecados, por mais ateus que sejam. Isso porque é natural do ser humano buscar saídas, a salvação enfim, para suas maiores angústias. E a morte é uma delas! Porém, para o que vem depois, não temos resposta. Essa será uma incógnita que carregaremos até o fim. Qualquer que seja ele! Temos que fazer aqui e agora um mundo melhor, e não ficar questionando o que vem depois, independentemente da religião que seguimos.
    Abs,
    Leop

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  5. Olha nós aqui outra vez, rsrsrsrsrs...mas prezado Lepoldo, essa 'interpretação literal' é a que vigora em grande parte das denominações protestantes, por exemplo - digo isto como alguém que foi evangélico e bastante engajado. Sei que os católicos divergem dos protestante em alguns pontos. Quanto à Bíblia ser um documento histórico...mas é exatamente nisso que eu acredito - não vejo como 'a palavra de Deus', mas como uma coletânea de textos, com mensagens diversas - algumas boas, outras detestáveis, outras 'non sense'. Quando critico deus, não estou criticando um deus em que acredito, mas um personagem literário. É fato que grande parte dos cristãos - protestante e mesmo católicos - acreditam que ser cristão é 'o que deus quer'. Fomos ensinados assim! Especialmente os protestante, mesmo os moderados, vão em sua esmagadora maioria defender que hindus, judeus, muçulmanos, ateus (enfim, não cristãos) estão errados (e portanto, 'afastados de deus'). Não apelo mais ao divino, embora gostaria que houvesse uma continuidade consciente após esta vida (gostaria, mas concluo, pesando evidências pró e contra, ser muito pouco provável). Mas te digo tranqüilo que, se o mundo/universo realmente fosse criado por um ser que envie pessoas à tortura eterna, seria simplesmente uma grande desgraça existir. Já li e ainda leio pensadores que tentam (tentam, mas não conseguem) dar conta dessas questões - a do inferno é a mais absurda. Mas quero deixar claro que não sou militante do ateísmo,apenas tenho relatado minhas experiências e meposicionado quanto ao que penso - e o que penso não provém só das experiências (boas ou ruins) mas também - e principalmente - das minhas elucubrações e leituras.
    Grande abraço!

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  6. Peço licença para comentar mais sobre os comentários do que sobre o post.

    Léo, a Bíblia não pode ser a palavra de Deus apenas quando é conveniente. O que se vê são fiéis, católicos ou protestantes, que passam ao largo das chacinas, dos incestos, da apologia à escravidão, da ideia da inferioridade da mulher, e muitos etc., como se a Bíblia fosse só o Sermão da Montanha. Quando a Bíblia é virtuosa, é a palavra de Deus. Quando é repugnante, não a devemos interpretar literalmente, temos que contextualizar...

    A questão é que não parece suficiente a retumbante importância que a Bíblia teve e tem no mundo como o conhecemos, mesmo sendo um livro com muitas contradições e flagrantes equívocos históricos e cronológicos.

    A Bíblia defende do início ao fim a noção da redenção por meio do sofrimento, desde os sacrifícios de animais, passando pela verdadeira apologia ao sofrimento pregada, entre outras coisas, pelo apóstolo Paulo, sem esquecer do sacrifício supremo, o de Jesus, para expiar os pecados da humanidade. Por isso não me surpreende que você espere que todos, ao apagar das luzes, apelem para o "divino" para "expiar os pecados", buscando a "salvação". Posso imaginar situações desesperadoras que me fizessem dobrar os joelhos e implorar para ser ouvido por um ser superior, mas que coerência, sabedoria, bondade, misericórdia teria um deus que acolhe um volúvel de última hora enquanto assiste, com assombrosa impassibilidade, a todo o sofrimento que existe no mundo?

    Voltando ao post, ler é essencial para desenvolver o senso crítico e nos ajuda a respeitar o ponto de vista alheio... ou a mudar o nosso! Já li livros de autoajuda que me foram bastante importantes em certos momentos da vida.

    Abraços e feliz 2012!

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  7. Carlos Eduardo,

    A única questão que me parece estar sendo confundida é a minha percepção pessoal da Bíblia. Para mim ela é um registro histórico, com um discurso moldado para conquistar a população na época em que foi escrita, e ponto.

    Outro ponto é o fato d'eu, com uma lógica muito particular da minha parte, acreditar na existência de um Ser Superior, Deus portanto. Essa minha escolha foi pautada pelo seguinte dilema: tinha duas opções - (A) ser agnóstico - ou seja, duvidar e ficar nesta eterna incógnita até o fim dos meus dias; ou (B) acreditar, ter fé, de que algo Divino pode nos abençoar e nos proteger dos (des)caminhos da vida.

    Ou seja, não acredito num deus repressor, mas na ideologia, principalmente, pregada por Cristo, em que o amor prevalece. E não vejo nenhuma contradição nesta minha postura.

    Além do que, Cadu, olhando para o seu argumento final, o da leitura de livros de auto-ajuda, a Bíblia de uma certa forma, com sua filosofia própria, também pode ser olhada desse modo. E os livros de auto-ajuda, muitas vezes selecionamos o que nos interessa, o que se aplica a nossa situação, não é mesmo!?

    Abs,

    Leop

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  8. Beleza, Léo, concordamos em várias coisas e discordamos em uma ou outra, nada mais saudável. Na verdade eu nem iria comentar, só o fiz mesmo por discordarmos que no fim todos recorram a Deus. Talvez sejam tantos quanto os que desistem de Deus ante uma tragédia pessoal das mais brabas. Vivo numa boa com as minhas dúvidas, mesmo certo de que o mundo digere melhor quem tem fé. Mantenha a sua :-)

    Abs

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