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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

CUBA

Cuba me intriga. E acho que ela é mesmo intrigante para aqueles que não mergulham verdadeiramente na sua história. Infelizmente sou um deles. Meu contato com esta ilha caribenha – à parte aspectos profissionais da área de cooperação internacional – se restringe a duas características: sua política esportiva e a “teimosia” de vida de Fidel Castro.

Os comunistas vão me execrar pelo que vou dizer, mas desde a época do Mestrado, quando pela primeira vez vim avaliar seriamente a dinâmica capitalista, que não vejo como esta ser sobrepujada por quaisquer outros regimes. O capitalismo tem diversas facetas, mas a principal delas, a que garante sua permanência como principal modelo de governo no mundo, é a sua capacidade de adaptação a diferentes contextos.

Economias distintas – e hoje as mais distantes são Cuba e a Coréia do Norte – vivem a meu ver um falso hiato em suas trajetórias não capitalistas. A guinada para um modelo dito de “esquerda”, até o ponto que tais conceitos ainda prevalecem, foi na verdade uma necessidade de rearrumação por conta da existência de governos autoritários de “direita” que ultrapassaram os limites da decência. Porém, quando eu falei em conceitos, direita e esquerda são balelas. Autoritarismo pode surgir em quaisquer governos, não importando suas matizes. O capitalismo, senhoras e senhores, entendo como o modo de viver que a humanidade identificou com o intuito de organizar suas relações em sociedade. E mesmo o comunismo é apenas uma vertente do capitalismo! Eu lhes disse que os comunistas iriam ter problemas com o meu discurso!

Óbvio que o exemplo mais claro que surge às mentes de todos é a China. Os chineses têm como característica uma paciência enorme para negociar. A essa paciência, por conta da experiência acumulada, acresce uma sabedoria ao observar as tendências em seu entorno que podem lhe ser benéficas. No passado, viveram como uma monarquia feudal, pois este era o modelo prevalecente. Quando imaginaram, num mundo bipolar, que para manter sua força política e capacidade de interferência nos rumos do mundo, deveriam ser vistos como uma economia comunista, logo surgiu um movimento para implantá-lo. Mas não hesitaram, quando perceberam que era chegado o momento de darem o grande salto, em se voltar para o capitalismo – que de uma certa maneira sempre esteve lá presente, porém escondido, a espera de uma oportunidade para se explicitar. E esta veio a surgir paulatinamente, primeiramente como estabelecimento das chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEE’s).

Cuba, nesse sentido, é dissonante do seu irmão oriental por padecer do que eu chamei acima de “teimosia” de Fidel Castro. Após reverter um caos social que a população sofria nas mãos de Fulgência Batista, na década de 50 do século passado, Castro deve ter tido inúmeras oportunidades, até pela proximidade geográfica, de se adaptar aos novos tempos que se aproximavam. Talvez quando da queda da União Soviética tivesse sido o maior deles. Mas ele “teimou”, empacou na lógica de que o modelo de gerenciamento estatal que eles haviam adotado ainda poderia prevalecer num contexto de um mundo globalizado, no qual o capital circulava a procura de oportunidades. E eu não estou aqui falando do capital oportunista, mas sim aquele que realmente busca fincar raízes num determinado lugar, gerando produção e bem estar social ao aumentar as possibilidades de sustento e escolha daqueles que nele se integram.

Aparentemente, ao se aproximar da curva final em sua vida, Castro teria indicado que pequenas adaptações seriam necessárias se ele quisesse deixar um legado verdadeiro para o povo cubano. E para isso colocou seu irmão para desenvolver tal missão. Desta forma observamos as mudanças que pouco a pouco vão sendo vividas na ilha. É claro que não se deve negligenciar a importância da entrada do governo de Castro no cenário internacional, como já sinalizado anteriormente, que foi a de extirpar um governo autoritário que estava explorando demasiado o povo. Mas ele, ao ir ao extremo oposto, também parece ter virado o fio.

Querem um exemplo disto: as constantes deserções de esportistas cubanos com o passar dos anos. Isso tendo uma política esportiva decantada como sendo de inserção social, por resgatar talentos da massa, retirando-os de uma vida de dificuldades para lapidá-los para serem ícones internacionais – em que pese poder sofrer uma crítica por terem se transformado em bandeiras políticas, algo que eu relativizo, pois os americanos também o sabem explorar, de modo mais sutil, o enaltecimento do seu “way of life”, quando seus atletas alcançam o estrelato. Mas a questão é: se o comunismo fosse realmente um modelo de sucesso absoluto, haveria a necessidade de resgate de pessoas para uma vida de privilégios num determinado nicho de competência?

Pois bem, para citar apenas um exemplo, nos últimos anos temos visto alguns jogadores de vôlei cubanos – masculino e feminino – buscando atuarem em campeonatos profissionais de outros países, inclusive na Superliga brasileira, e de maneira legítima, sem serem vistos como desertores. Como isso se dá: o Governo Cubano estabeleceu a regra de que eles devem ficar pelo menos dois anos inativos para serem então inseridos no mercado internacional. Como tem sido grande a quantidade de casos nesse sentido, parece-nos que eles consideram esse um preço razoável a pagar para alcançarem... a liberdade.

Taí, talvez seja esse o segredo de Cuba. Sua política e sua economia viveram dias de exploração extrema por um governo dito de direita, “capitalista”, depois anos de dependência extrema comunista – subsídios soviéticos à produção de açúcar, por exemplo – para então passar a viver num descompasso do tempo pelos últimos 20 anos, como que a espera de ter, finalmente, uma liberdade que nenhum dos modelos vividos pela sua população até então lhes deu verdadeiramente. Como eles puderam suportar isso durante tanto tempo? O povo cubano, enfim, é o grande herói desta história. Deve-se sempre respeitar suas escolhas. Mas que é intrigante, ah, lá isso é.

2 comentários:

  1. Leo, gostei muito da sua definição de comunismo como uma vertente do capitalismo. É complementar, talvez, a outra expressão que gosto muito: o oposto do comunismo é a liberdade.
    Não acredito em teimosia de Fidel, nem que ele esteja cedendo à tal "teimosia". O que existe para mim é autoritarismo puro, como na Coréia. A China, espertamente, começou a distenção lenta e gradual para se modernizar.
    Quanto à escolha do povo cubano. Ela foi feita lá tras, na época de Fulgêncio Batista. Mas não deram a ele a oportunidade de rever seus conceitos, um exercício que requer liberdade. Fechamos o círculo.

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  2. Leo, vou comentar, na verdade, o comentário da Lucia: o oposto do comunismo pode ser a liberdade, mas não esqueçamos que a liberdade é uma valor capitalista (ou pelo menos, a idéia de liberdade individual)...!
    *Cd Amaury?? Será q ele vai nos abandonar após BSB??
    abs,
    Rachel.

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