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sábado, 13 de novembro de 2010

ESPN Brasil e o Fã do Esporte

Tenho acompanhado inúmeras coberturas esportivas com o passar dos anos. Sempre fui aficionado do talento do jornalismo esportivo brasileiro, e não me atenho tão somente ao futebol, carro-chefe deste, mas a todas as modalidades que o esporte tem a apresentar.

Lembro-me de quando Luciano do Valle era o principal narrador da Globo – até a Copa de Mundo de 1982, na Espanha, de tão doce e dolorosa lembrança ao mesmo tempo - acompanhando logo depois sua transição para a Bandeirantes. Naquela época o invejava por ter tido a idéia de criar um dia totalmente dedicado à programação esportiva – domingo, preenchendo uma lacuna até hoje existente na TV aberta, precária em sua programação dominical.

O advento dos canais fechados trouxe uma nova perspectiva para os apreciadores de esportes em geral. Passamos a ter acesso, não somente aos domingos, mas em todos os dias da semana, a um sem número de atrações esportivas para todos os gostos. Se formos nos restringir somente ao futebol, hoje um dia um viciado nessa modalidade pode assistir os campeonatos Brasileiro, Inglês, Argentino, Espanhol, Alemão, Italiano, Francês, Português, Holandês, Norte-Americano e Russo, além das ligas continentais.

Este fenômeno hoje somente é possível por termos como principais competidoras duas grandes empresas, com profissionais de qualidade – a Sportv, do Sistema Globo, e a Entertainment and Sports Programming Network (ESPN) do Brasil (ESPN Brasil), que pertence à rede americana ABC e à Hearst Corporation, um dos maiores conglomerados jornalísticos do mundo.

Em que pese o alto nível de todos os profissionais presentes nesta última existem alguns pontos que me incomodam nas suas diretrizes jornalístcas. A ESPN Brasil baseia suas ações nos seguintes preceitos:

·         Valoriza o fã do esporte: ele opina, critica, elogia, participa dos programas, além de dezenas de promoções todo o ano;
·         Jornalismo independente: analisa o esporte com imparcialidade e sem ufanismo;
·         Inovação: além dos dois canais de TV, tem ainda o seu premiado site, a parceria com Rádio Eldorado ESPN e a presença ativa no celular. Hoje, o resultado é uma empresa multiplataforma provedora de conteúdo esportivo;
·         Preocupação social: desenvolveu o projeto Caravana do Esporte, que atendeu mais de 60 mil crianças e 9 mil professores da rede pública de ensino em 15 estados.

Seguindo a linha do politicamente correto, tudo que foi aqui acima elencado teria pouca resistência de quaisquer pessoas em se entender como algo legítimo e razoável, até mesmo louvável para uma empresa de comunicações. Porém existe, em cada um desses pontos, questões em aberto, senão vejamos:

1º - de fato todo o telespectador tem acesso, por diversos meios, aos inúmeros programas, podendo participar com perguntas e opiniões. Porém, o tratamento dado às opiniões contrárias, na maior parte das vezes, em especial pelos comentaristas Juca Kfouri, Paulo Calçade e Mauro Cezar Pereira, é de desdém. Devo ressaltar que respeito a qualidade técnica de suas opiniões, porém da mesma forma gostaria de ver as opiniões diversas respeitadas e não diminuídas;

2º - a colocação clara de jornalismo sem ufanismo tem dois problemas – um que parece uma premissa divulgada para criticar diretamente seus concorrentes, que enalteceriam exageradamente as vitórias esportivas brasileiras; e o segundo é que não me parece que eles se perguntaram algum dia qual é a característica principal daqueles que acompanham o esporte, ou seja, não seria torcer e se locupletar com a vitória de seu time e país? A isenção e apontar possíveis erros é sempre válido, mas também é válida a comemoração exacerbada quando alcançamos um êxito após duras penas, fato não raro para um país que enfrenta tantas dificuldades como o nosso. Neste segundo ponto cito como exemplo o tratamento dado pela Globo na última Copa do Mundo a um problema entre o Dunga e um dos seus principais representantes, o jornalista Alex Escobar. Enquanto a Vênus Platinada tratava a questão de maneira objetiva, não alimentando polêmica em prol de seus interesses, quer sejam financeiros quer sejam de preservação de acesso às fontes, a ESPN Brasil preferiu pisar e repisar um ambiente que já era de difícil convivência com a comissão técnica de seleção brasileira, atitude esta que considero supérflua. O torcedor que ver o Brasil ganhar, isso é o que interessa, e não esse tipo de debate;

3º - a inovação aqui pregada em verdade pode ter sido promovida pela dificuldade de acesso à transmissão dos campeonatos nacionais – ela transmite os jogos pela rádio Eldorado. Será que eles teriam adotada a solução da parceria com a rádio se tivessem os mesmos direitos alcançados pela Globo em termos de exclusividade? Será que a ESPN Brasil, se tivesse oportunidade, não teria fechado contratos em termos exclusivos também? De qualquer forma teremos uma idéia melhor dessa estratégia para o próximo ano, uma vez que a emissora carioca perdeu na justiça esse artifício;

4º - o balanço social é uma arma de marketing usualmente utilizada hoje em dia pelas grandes empresas. Nada contra, uma vez que beneficia diretamente a sociedade em que se encontra inserida. Tenho certeza, no entanto, que esta não é uma exclusividade ESPN Brasil.

Por último, devo dizer que sou fã das análises e do debate esportivo empreendido pela ESPN Brasil. Assisto o Linha de Passe às segundas-feiras, o Futebol no Mundo e o Fora de Jogo sempre que posso, assim como as diversas transmissões esportivas. Porém, percebo uma preocupação exagerada em questionar o concorrente, quando o mesmo não se dá no sentido inverso. Acredito que a ESPN Brasil só teria a ganhar caso se preocupasse mais com a análise técnica do que com a de contexto. Não digo para não deixar de fazê-lo, porém poderia ser mais propositiva, ou até mesmo, positiva, ao invés de impor a negatividade no discurso.

Fonte: http://espnbrasil.terra.com.br/quemsomos - acessado em 03 de Novembro de 2010

8 comentários:

  1. Concordo com vc Leo! A ESPN Brasil teima em querer competir com a gigante da TV brasileira e sua Sportv. Em pouco tempo, deverá perder para sua rival os bons nomes que ainda possui como Mauro Cézar Pereira,a enciclopédia PVC e a hilária dupla Greco e amigão. Enquanto o truculento José Trajano comandar os trabalhos por lá, sei não....

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  2. Não gosto de muito de comentários esportivos. Só assisto decisões. Quando termina, mudo de canal. #carachatoprakct

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  3. Leopoldo, você me irrita de tanta felicidade.

    Até em um texto sobre esportes, e muito bom, por sinal, você demonstra seu olhar de gestor. Em um texto novamente que possui como pano de fundo um determinado assunto, há outras questões tão ou mais profundas, inclusive e principalmente, do ponto de vista dos negócios. Sem querer, ou muito por querer, você evidenciou o que seria talvez o próprio plano de negócios da ESPN e suas falhas. Para tanto, eu lançaria um questionamento: seria quiçás esse modelo "importado" inadequado para o público brasileiro?

    O que você chama de balanço social, ou responsabilidade social, também, é uma das questões que mais questiono de maneira geral em virtude dos interesses reais por detrás deles. Hoje em dia, qualquer atividade desse tipo é vendida como uma benesse, enquanto na realidade - para muitos dos casos - a verdadeira benesse são os ganhos acionários e dedutivos no imposto de renda das empresas. Confesso que prefiro as associações com finalidade lucrativa em uma atuação social do que vice versa. Ou, ainda, aquelas que possuem um viés social claro, e que possam verdadeiramente auxiliar a sociedade civil, entidades privadas e o Estado a se aproximarem em torno de um objetivo comum.

    Creio que seu texto deva ser lido com muito cuidado, porque esse segmento esportivo e cultural ganha ares mais notórios em seu viés empresarial para a sociedade brasileira após a Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2014 e 2016, respectivamente. O setor esportivo, que já possui preponderância no olhar público, vide a triste eleição do Bebeto e do Romário - que ao contrário do que defendem muitos, não tem a ver com a importância do segmento e sim da popularidade dos mesmos, mas enfim - e também do privado, ao longo da próxima década pelo menos.

    Depois de ler uma entrevista em que o Eike Batista comentava um eventual interesse de sua parte em adquirir o SBT ante a crise do Panamericano e do SSS como um todo- rapidamente desmentido por assessores próximos a ele- fica aí o sinal de que deveremos sentir sinais mais fortes por parte do ambiente empresarial.

    Se o SBT, antiga TVS, passar a se chamar TVX, não haverá tão-somente uma mudança de nome. Esperemos por uma evidenciação mais clara sobre as diferenças editoriais de cada canal ou mídia. E os desdobramentos? Quem sabe?

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  4. Anônimo, em uma perspectiva do jogo do contente da Pollyana, você é divertido.

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  5. O Anônimo já confessou publicamente - isso seria um paradoxo? - de que ele não é tão anônimo assim, e que por isso poderia inclusive abdicar da assinatura de seus comentários.

    Abs,

    Leop

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  6. Leop, concordo com sua análise. Apesar de trabalhar na Globosat, também sou fã do ESPN Brasil e alguns de seus comentaristas, mas a postura dels é essa mesmo. Acredito que parte dessa postura tenha relação com a questão da exclusividade dos campeonatos e do PPV.
    Em relação a este ponto, só uma observação: a Globo não perdeu a exclusividade. A Justiça derrubou a cláusula de direito de prefência que a Globo tinha, independente do valor oferecido pelos concorrentes. Agora, qualquer emissora pode ganhar o direito, dependendo da oferta, mas a exclusividade pode ser mantida por quem ganhar os direitos.
    Saudações.

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  7. Edu,

    Vlw pelo esclarecimento. Confesso que este era um ponto confuso. Da próxima vez vou pesquisar com mais cuidado para evitar informações equivocadas.

    Abs,

    Leop

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  8. Com atraso, cheguei aqui. Vou ser antipática (alguns dirão que isso seria um pleonasmo) mas já estou acostumada com este título.
    Os dois canais são jornalísticos e este é o ponto. Se todo brasileiro é também um técnico de futebol, a mesma comparação de dá com o jornalismo.
    Por vivermos em um mundo em que a informação é tão fundamental como o oxigênio todo mundo se considera um "expert" em comunicação. E, de fato, é. Porém, essa expertise se dá como consumidor. Daí a sair fazendo considerações sobre posicionamento, técnica, tendência, parcialidade é um pulo (e dos pequenos).
    Não estou desmerecendo os comentários, longe disso. Apenas colocando tudo nas devidas dimensões e perspectivas.
    Não conheço em profundidade os meandros do esporte como nosso mestre Coutinho, mas sou apreciadora do esporte como arte - prezo mais o esporte que o teatro (já estou eu, aqui, colocando a cara para apanhar mais uma vez). Acho mesmo, como consumidora de informação, que é muito bom ter dois canais tão diferentes. Eu os acho COMPLETAMENTE diferentes. E isso é bom, muito bom. Tem espaço para todo mundo.

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