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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

BASTARDOS INGLÓRIOS

Depois de uma longa espera finalmente consegui ver “Bastardos Inglórios” (2009), de Quentin Tarantino. O filme sofreu do que chamo “excesso de expectativa”. Isto não é raro de ocorrer sobre os espectadores tardios de um filme de grande sucesso. Os sintomas são bem conhecidos.

Primeiramente, um filme é lançado com grande pompa e circunstância pelas pretensas qualidades que o cercam: um diretor famoso, um astro do cinema – no caso Brad Pitt, em papel que se pretende ir além dos atributos físicos, afinal seu personagem tem uma queixada de fazer inveja ao Mário Gomes – e um tema de recorrente sucesso, desta feita, a Segunda Guerra Mundial e a cruzada antinazista.

Posteriormente, filas se formam, repletas dos fãs de carteirinha do diretor e/ou do ator principal que interpreta o protagonista. E aqueles primeiros espectadores, ao saírem do cinema, justificando e se congratulando pela proeza de terem assistido o filme tão esperado, exaltam suas virtudes, ou com desdém identificam um defeito ou outro, que passa a ser objeto do desejo daqueles que ainda não o assistiram para a sua confirmação ou não.

Quando finalmente então estes espectadores tardios conseguem assistir ao filme, estão eles esperando a suprema obra-prima, uma película que os marcará pelo resto da vida, quer seja por sua alta qualidade ou pelo aspecto mais mesquinho de conseguir apontar defeitos naquele alvo de tantas atenções. O que geralmente ocorre estes mesmos espectadores tardios se desiludem, ou se decepcionam, saindo das salas de cinema como se alguém lhes houvesse passado um engodo.

Em “Bastardos Inglórios”, infelizmente para mim, à parte a excelente atuação de Christoph Waltz no papel do oficial nazista ‘Caçador de Judeus’, o roteiro se demonstra apenas uma pálida representação de violência sem um propósito específico. Este ponto destoa dos demais filmes de Tarantino, em que esta mesma violência representava um papel significativo nas histórias, principalmente como instrumento para fazer a ligação das distintos "contos" paralelos representados na tela. Podemos citar como exemplos máximos desta característica “Pulp Fiction – Tempo de Violência” (1994), “Jackie Brown” (1997) e “Kill Bill” (o qual particularmente exulto a 1ª parte) – 2003/4.

Mesmo o humor sarcástico presente nas obras citadas acima como pano de fundo de cada uma das cenas não encontra igual nível em “Bastardos Inglórios”. Porém, como mérito estilístico, devo dizer que existe algo que está em alta conta neste filme: a tensão permanente pelo que vai acontecer. Como os filmes de Tarantino são reconhecidos pela ação violenta de grande intensidade, não economizando em sangue e closes explícitos – se bem que depois de “Tropa de Elite 1” (2007) isso pode ser relativizado em termos de excelência – a cada take fica-se na espera, em tom crescente, por quando se desencadeará a volúpia sanguinolenta. E o diretor se aprimora em esticar tal ato ao máximo.

Finalmente, talvez o fato que tenha prejudicado o filme tenha sido justamente sua ambientação numa das épocas mais sangrentas da história da humanidade. A Segunda Guerra Mundial, além de já ter sido filmada com distintos olhares, a meu ver atingindo o grau máximo de representatividade em “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), de Steven Spielberg, já é por si só uma época que dispensa malabarismos para ser pintada com cores fortes. Na tentativa de dar um toque diferenciado, Tarantino erra a mão no roteiro e caminha por trilhas desnecessárias. Melhor faria ele se buscasse, como já o fez anteriormente, enaltecer personagens do submundo, do que tentar envolver nomes históricos em tramas de frágil estrutura para serem sustentadas.

Enfim, resta-me melhores perspectivas após ter assistido “Tropa de Elite 2”. O Capitão Nascimento, que agora subiu na vida, não deixou que o poder lhe subisse a cabeça e deu seu recado. Mas isso é conversa para outro post.

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6 comentários:

  1. Tb fiquei levemente decepcionada com esse filme: concordo q não se compara as outras obras dele (aliás, se não viu Cães de aluguel-1992, veja). Talvez pq a 2GM já tem sangue demais na história real para q o diretor possa usar isso a seu favor como linguagem. Na verdade, acho q esses momentos históricos mto retratados em livros, cinema, etc, acabam padecendo desse "perigo": para marcar o público, a criação tem q se superar mesmo.
    Agora, sobre o cap. nascimento, vou aguardar seu post....
    abs, Rachel.

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  2. Entro no cinema. Senta a duas cadeiras da minha duas senhorinhas. Ficam excitadas quando vêem Brad Pitt. Comentam: está queixudo, né. Resposta: mas lindo, né.
    Começa a cena da caverna, sai o americano com porrete e acaba com a cabeça do nazistas. As senhorinhas quase vomitam, se levantam e vão embora do cinema praguejando Tarantino.
    Eu me esborracho de rir e vou assim até o fim. Já havia sido conquistado pela cena da fuga da Shoshana, depois disso foi só prazer. A chacina no bar, o incêndio no cinema, o führer estilizado para pior, tudo foi diversão. Este filme para mim prova que "Cinema é Diversão".

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  3. Sergio e Rachel,

    Acho que suas opiniões, mesmo que em caminhos diferentes, se complementam. "Cinema é Diversão", e este filme deve ser visto somente com este intuito. Mas o que me decepcionou é o que o Tarantino já nos divertiu anteriormente com mais qualidade no roteiro.

    Abs,

    Leop

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  4. Acho que os mestres andam sem inspiração, talvez o mundo ande meio pasteurizado em termos culturais ultimamente. O último do Woody Allen é fraquíssimo, saiu até uma ótima coluna da Cora Ronái comentando. Especificamente sobre o Tarantino, ainda não vi "Bastardos Inglórios", mas sei bem do que fala sobre expectativas exageradas. Como a Rachel, lembro de "Cães de Aluguel", que também considero fantástico. Quando não tem o Harvey Keitel nos filmes dele, já perde pontos para mim. Mas, mesmos os piores Tarantinos e Woody Allens são melhores do que a boa parte dos filmes que estão por aí.

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  5. E eu que pensava que era o único que não tinha visto...

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  6. Ardissone e Leo, eu não vi tb. E não vi Bastardos Inglórios. E não verei. Tenho meus problemas com filmes que tratam da temática Guerra. Sei que Bastardos Inglórios é engraçado mas o pano de fundo não me faz bem.
    A partir das avaliações que li e ouvi deve ser um bom filme mas nada além disso.

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