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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

MANO MENEZES + DUNGA = MURICY RAMALHO

Passados alguns meses da última Copa do Mundo e da definição do novo técnico da seleção brasileira, aqueles que me acompanham no Facebook sabem qual era a minha preferência: Muricy Ramalho, atual técnico do Fluminense.

Muricy possui como filosofia o trabalho contínuo, a preservação de seus princípios, mas não sem ser flexível o suficiente para tomar decisões que podem beneficiar o grupo, mesmo que não estejam a contento de estrelas do elenco e até mesmo da diretoria do clube ao qual está vinculado. Sua única preocupação é com o resultado a ser alcançado: o(s) título(s), e para isso baliza a escolha de seus jogadores pela meritocracia.

Reflexo disto estão os números: alcançou um tricampeonato brasileiro seguido com o São Paulo, teria sido campeão pelo Internacional de Porto Alegre caso a confusão no campeonato de 2005 não tivesse prejudicado o andamento do mesmo, e no ano passado conduzia o Palmeiras por um bom caminho até faltarem 6 rodadas para o término. Ou seja, é o rei do campeonato por pontos corridos, modelo utilizado somente a partir do início desta década, com (quase) 5 triunfos nesse período.

Todos estes aspectos me levavam a crer que ele seria um bom técnico para a seleção. Imaginava mais ainda, que ele realmente seria a primeira opção, como se confirmou posteriormente – cheguei a postar no Facebook meu contentamento, antes da reviravolta que levou Mano Menezes ao comando da seleção brasileira. Baseava essa minha convicção no fato de que Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), sempre pautou por escolher os melhores treinadores em termos de resultado ou então, em momentos de crise, treinadores dispostos a reverter uma filosofia inteira.

Vou exemplificar:

Treinadores Revolução – colocou Sebastião Lazaroni, que implantou o 3-5-2 pela primeira vez na seleção; colocou Paulo Roberto Falcão para fazer uma renovação de valores – foi o primeiro a convocar Cafú; pela primeira vez uma dupla efetiva, com muita experiência de Copas – Parreira-Zagallo, para acabar de vez com o jejum brasileiro que já alcançava 24 anos; colocou Leão para convocar apenas jogadores que atuavam no Brasil (2000-2001); e colocou Dunga para impor linha dura depois da moleza de 2006.

Treinadores Consagrados – repetição Zagallo (1998); repetição dupla Parreira + Zagallo (2006); Wanderley Luxemburgo (1999-2000); Luiz Felipe Scolari (2001-2002).

Dessa forma, a sua escolha sairia do perfil de um dos dois grupos acima. Uma prova de que ele não estava preocupado com o relacionamento com a imprensa foi que sua primeira opção era o Muricy Ramalho, que notoriamente tem tantas dificuldades com o chamado 4º poder quanto teve o seu antecessor, Dunga. Suas vantagens sobre este último, na qualidade de “consagrado” eram: ser um treinador na acepção da palavra, com conhecimento técnico, vivência e capacidade para lidar com um grupo de estrelas. E mais, sem problemas para fazer modificações no grupo caso surgisse uma novidade estupenda. Faria uma revolução – principal demanda para a nova gestão, mas com conhecimento de causa.

Devo dizer ainda que, para finalizar a comparação, mais do que opções táticas – os resultados alcançados durante os últimos 4 anos remetem à qualidade do trabalho – o grande pecado do Dunga foi ter abraçado um grupo sem estar aberto às possíveis novidades. Recentemente Jorginho, seu auxiliar-técnico durante a última Copa, comentou em entrevista concedida ao canal a cabo Sportv que a decisão mais difícil para fechar a lista de convocados foi a de deixar Paulo Henrique Ganso de fora da Copa de 2010. Perdíamos assim uma vantagem em relação aos nossos adversários: qualidade no banco e o fator surpresa. Mas Dunga, e sua filosofia de preservação dos mesmos componentes de um grupo – fator extraído de sua experiência como jogador nas Copas de 1990 e 1994 (nesta última o Parreira teria feito um pacto com o grupo de jogadores – Dunga incluído - que com ele pelejou durante as eliminatórias de 1993), algo natural para quem nunca tinha exercido a função de treinador, fracassou justamente na hora principal, a da escolha final dos jogadores.

Acredito que seleção é momento, e que não devemos permanecer de olhos fechados para as múltiplas possibilidades que o futebol brasileiro nos apresenta cotidianamente. Muricy era o melhor técnico, a melhor opção, não tenho dúvidas. Apenas não foi confirmado por uma ausência de habilidade profissional da própria CBF, que não foi cuidadosa nas negociações nesse sentido – poderia ter aberto mão, por exemplo, para que este acumulasse os cargos – Flu e Seleção - durante este semestre, para somente no ano que vem exigir exclusividade. Resta a Mano Menezes provar que a equação presente no título deste post não é verdadeira, ou seja, que é um técnico tão melhor que a transforme em Mano = Muricy > Dunga. E isso vai além de ser um cara bem educado nas entrevistas.

Site acessado: http://www.cbf.com.br/php/campeoes.php?ct=1 – em 14/Nov/2010

9 comentários:

  1. Ainda não li, mas vou adiantando: gostei da mudança. Como fui uma a participar do "clamor", devo dizer que gostei da repaginada.
    Quanto a tirar lições de futebol e outros temas, devo dizer que aprendo até com bula de remédio, então tá valendo ler tudo. Da bula aprendo tudo o que não preciso escrever. Me aguardem nos futuros comentários sobre este post.
    Beijos e bom fim de semana.

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  2. Excelente exemplo a ser seguido. Parabéns.

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  3. Ainda sou uma aprendiz de feiticeira neste universo. Tenho que aprender a me expor da mesma forma como faço no dia a dia (cara a cara). Apesar de não postar outras vezes, tenho acompanhado o blog. A repaginada ficou ótima!!
    Fecho com seus comentários. A CBF tem que ser repaginada. Apesar da trajetória do técnico Mano Menezes, dava como certo que a melhor escolha era Muricy. Fiquei na dúvida se era uma opção pessoal disfarçada de pressão do clube. Vale lembrar que o Horcades rompeu com Ricardo Teixeira.
    Mas a CBF não avança e continua com uma estratégia de retranca e com conceitos ultrapassados de longa data.
    Quanto análises esquema táticos de técnicos, deixo para outro momento (que sei que você fará).Ainda quero ver o que o Mano Menezes tem para apresentar.
    Bom fim de semana
    * A primeira vez a gente nunca esquece!

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  4. Maratan,

    Devo dizer que estou muito feliz de ver seu comentário por aqui! Obrigado pela audiência, e apareça mais vezes!

    Abs,

    Leop

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  5. Leo, fiquei aqui pensando... "que tipo de 'treinadores' nós somos?"

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  6. Muito curioso para ver a resposta para a Lúcia.

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  7. Lúcia e Fernando,

    Acho que temos um conhecimento técnico de bom nível. O diferencial seria se temos ou não capacidade de lidar com adversidades, algo vinculado diretamente ao emocional. E como lidamos com muitas dificuldades no dia a dia, não?

    Alguns de nós esbravejam, outros racionalizam, e outros ainda fazem ambas as coisas - esbravejam primeiro, desabafando, para depois racionalizar. Acho que de uma certa forma todos os treinadores estão inseridos num destes perfis.

    O problema é que estas características não significam dizer que temos capacidade de lidar com adversidades. E é esta capacidade que faz a grande diferença - entre o bom treinador e aquele que vc jamais esquecerá na sua vida.

    Enfim, dar a volta por cima é difícil, cultivar treinandos ao mesmo tempo durante este processo mais ainda, mas se não tentarmos por nós mesmos, quem tentará?

    Abs,

    Leop

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  8. Leo, muita gente fala na tal "inteligência emocional" e acho que não tenho isso, não. Talvez um "conhecimento emocional"... O fato é que já fui da turma dos esbravejadores e hoje sou mais racional, para não dizer calculista - que tem um sentido muito pejorativo. Então, não nasci com inteligência emocional mas desenvolvi um conhecimento e uma capacidade de administratar o tal "emocional" no trabalho.

    O que tenho certeza é que o Muricy está absolutamente certo quando diz que um "treinador" não deve meter a mão no time, ou que deve fazer isso apenas quando é muito necessário. Espero não ofender ninguém, mas o que um "treinador" precisa é saber "tanger" o gado porque cada um dos boizinhos tem suas próprias qualidades e capacidades que precisam ter o ambiente para acontecer.
    Sei lá, estou escrevendo assim, sem pensar.
    Urgh
    Bjs

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