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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

PATRÍCIA & DILMA

Duas mulheres, duas nações, desafios semelhantes. Diferença: uma já teve 1 ano de mandato, controverso, com resultados pífios. A outra ainda tem 4 anos para mostrar a que veio.

Patrícia Amorim surpreendeu a todos do mundo do futebol quando ao final de 2009, ano em que o Flamengo viria a ser campeão brasileiro de futebol com Adriano & Cia, e Andrade no comando, ganhou as eleições para presidência do clube. Com um mandato de três anos a ser cumprido, teria que honrar as tradições da camisa rubro-negra de sempre lutar pelas conquistas.

O seu sopro renovador, porém, também estava atrelado a uma concepção de clube distinta, pelo menos na área esportiva, daquela do torcedor comum de futebol. Deve-se ressaltar nesse caso que ela foi eleita para um cargo que tem como responsabilidade cuidar de um clube, e isto não se atém somente ao time de futebol. Para essa área a responsabilidade deve ser ou de um vice-presidente ou de um diretor específico.

Agora, nada é tão simples assim. Com sua história vinculada aos esportes olímpicos, grande nadadora que foi e, na gestão anterior a sua, já tinha atuado como vice-presidente do Flamengo nesta área, auxiliando o clube a ganhar, por exemplo, a liga nacional de basquete e a ter um mínimo de estrutura para a ginástica olímpica, tendo entre suas hostes como expoente maior o campeão mundial Diego Hypólito, uma de suas primeiras atitudes foi contratar um patrocínio que tivesse uma verba exclusiva para o time de basquete, resolvendo a questão de salários que o afligiu em anos anteriores. Além disso, contratou o supercampeão da natação, César Cielo e seu colega Nicholas dos Santos para retomar a estrada vitoriosa que o Flamengo já teve um dia nessa área.

Mas no esporte há vencedores e vencidos, e não se pode ganhar sempre. Sua gestão administrativa no clube pouco aparece para o público externo, então não podemos analisar este aspecto. No entanto, no que diz respeito à seara esportiva são esses os fatos: o clube de futebol, em meio a decisões controversas, teve um ano de 2009 a se lamentar, pois por pouco não caiu para a 2ª divisão. Somente este fato já seria de grande peso para a massa em coro reclamar e a oposição se aproveitar para aumentar o tom das críticas. Isso sem falar no caso Bruno para complicar um pouco mais o trato da imagem. Mas, pelo menos disto ela não pode ser acusada como fator gerador.

Agregado a isto, num campeonato super-equilibrado, a equipe de basquete perdeu a final para o Brasília e Diego Hypólito teve que iniciar o tratamento para uma séria contusão que o impossibilitou de disputar o mundial. Como fator positivo apenas as contínuas vitórias de Cielo, mas sinceramente, devidas muito mais à preparação externa e até então com pouco retorno ao clube em si, pois o nome do nadador é muito mais forte – isto é um fato – do que o do clube no momento, pelo menos no que diz respeito aos esportes aquáticos.

Creio que Patrícia, com dois anos de mandato pela frente, ainda tem tempo para reverter o quadro e demonstrar suas qualidades. A escolha de Wanderley Luxemburgo como treinador do time de futebol é mais uma daquelas decisões polêmicas, uma vez que este não vem alcançando bons resultados nos últimos anos. Porém não deixa de ser um nome de peso adequado para um clube das dimensões do Flamengo, assim como o são as contratações de Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves. Críticas virão se os êxitos não surgirem, mas, repito, não se pode esquecer que ela é presidente de um clube, e não de um time de futebol. Dessa forma, caso obtenha vitórias em outras áreas – tanto esportivas quanto administrativas (aceleração da construção de um Centro de Treinamento de alto nível, por exemplo) – ela já poderá ter deixado um legado considerável. Resta-nos torcer e rezar para São Judas Tadeu que no meio desta trajetória não voltemos a ter sustos como em 2010.

Já a nova presidente da república, Dilma Roussef, tem sim alguns paralelos a enfrentar em relação à Patrícia Amorim. Da mesma forma que aquela, estará cercada pela desconfiança de uma sociedade ainda machista no sentido de demonstrar sua competência a frente do cargo. Mais do que isso, terá que lutar para deixar algum tipo de legado que faça frente aos dois últimos mandatários – Fernando Henrique Cardoso, com o mérito da estabilização monetária, e Lula, com o início efetivo de um processo de longo prazo de redistribuição de renda e aumento do nível formal de emprego. Numa reportagem da Revista Exame – edição nº 983, de 29/12/2010 – colocou-se que um possível caminho a se trilhar seria tornar o Brasil competitivo de fato na disputa pelos mercados do mundo globalizado, mantendo ao mesmo tempo os logros dos presidentes antecedentes.

Acredito que da mesma forma que Patrícia, Dilma não conseguirá agradar a gregos e troianos. Porém, igualmente não podemos nos esquecer de que ela é presidente de um país inteiro, e não de determinados grupos ou regiões. Assim, quando se for analisar ao final dos seus quatro anos de mandato o que alcançou, o critério deverá ser amplo o suficiente para abarcar uma multiplicidade de áreas. Mas, como disse num post anterior - O Voto (Out/2010), esta é uma visão difícil de introduzir no eleitor comum, que já tem uma percepção distorcida na hora de decidir o seu voto. Da mesma forma que Patrícia terá dificuldades com a avaliação não do sócio do clube Flamengo, mas mais do que nunca do torcedor do Flamengo – que é o que gera impacto na mídia – Dilma terá que saber equilibrar entre ações que gerem dividendos junto à população tanto quanto com atitudes não tão facilmente compreensíveis para o Seu João do armazém, mas que poderão gerar bem-estar em longo prazo para todos.

Enfim, duas mulheres e dois enormes trabalhos a serem desenvolvidos pela frente. Terão tempo suficiente? Mais do que isso: seus avaliadores terão paciência suficiente? Veremos.

5 comentários:

  1. Tomara que a Patrícia mude a cultura do "chinelinho" do Flamengo. O clube merece não só titulos, mas uma completa reestruturação relativa ao comportamento de todos que trabalham lá.

    Emerson

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  2. Hey, teacher, I'm surprised with your comment. Unfortunately I don't believe three years are enough to change this lazy culture. But we have to start some day... It is possible we are living these beggining days... Just the future can say to us!
    Regards,
    Leop

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  3. Olá, Leopoldo!
    Gostei muito deste texto, pois torço pelas duas mulheres em questão.
    Antes mesmo de ser uma torcedora do Botafogo (atual campeão carioca), torço pelo meu Rio. Portanto, ver o Flamengo, time com uma das maiores torcidas do mundo, na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro, confesso, foi muito BIZARRO.
    Sem dúvidas, torço pela Patrícia.
    Quanto à Dilma... Como não torcer? O que está em jogo não é a força do PT, não é a influência política de Lula, não é a força da mulher, mas sim o destino de um país, o nosso. Dilma, Presidente, tem que dar certo.
    Um abraço.
    That's all folks!
    Gi Negrão.

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  4. ambas são fortes, mas contam com a política como sua inimiga. Uma é vereadora e deveria ter saído a deputada federal e não veio por conta da imagem negativa que, a poucos meses de sua gestão, como você bem o disse, já havia acumulado. Ao mesmo tempo, Patricia trouxe alguns cacoetes, vícios e ranços desse meio que, honestamente, não ajudam. Pelo menos da maneira como tem feito. Dilma é tida como excelente tecnoburocrata, mas o seu desafio é o de justamente não ser ainda uma líder e ter que lidar com uma alcatéia de lobos-águias que tudo farão para e sua carne se alimentar; e Patricia também os tem em suas costas, não vos iludeis. Pesados.
    A saída encontrada pela presidenta do país parece ter sido terceirizar essa função, ao passo que Patricia parece que ainda não aceita essa saída, a de talvez, de algum modo, sucumbir ao próprio sistema que a criou como personalidade política.

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  5. Sem trocadilhos, Leop, temos que torcer e muito.
    Por ambas.
    Lecy

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