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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

PERFECCIONISMO

Qual é o limite do perfeccionismo? Seria o perfeccionismo útil para as nossas tarefas do dia a dia? Pus-me a refletir sobre este tema ao observar as vitórias de César Cielo no Mundial de Piscina Curta, disputado no recém-findo mês de Dezembro de 2010, em Dubai.

No meio do ano, no Pan-Pacific, Cielo havia conquistado o ouro nos 50 m borboleta e prata e bronze nas suas especialidades, 50 m e 100 m livre respectivamente, provas desta feita disputadas em piscina longa. Ao sair destas duas últimas demonstrou um desalento de tal monta por sua performance que afirmou que deveria repensar uma série de coisas para voltar ao alto do pódio.

Levando-se em conta sua excelente atuação no final do ano, sua reflexão àquela época redundou em alguma melhoria. Porém o que chamou a atenção é que ele se questionou mesmo tendo alcançado excelentes resultados, se comparados com o que a concorrência obteve. Mas estes resultados não eram suficientes para o seu nível de exigência. Daí a vinculação com o perfeccionismo.

Ser perfeccionista traz como principal contribuição para o ser humano a busca pelo melhor, sempre. Atingir o inatingível, a perfeição, tem a função tal qual um coelho para atrair os galgos na corrida de cães: faz-nos buscar um aprimoramento contínuo, trazendo a reboque resultados de grande qualidade que são motivo de admiração para aqueles que cercam o profissional em questão.

Porém, tem também seus limites, e o principal deles é o nível de stress associado a esta busca. Como coloquei anteriormente, a procura pelo “inatingível” pode ser um fator gerador de frustrações, de pressão de uma maneira desmesurada que traz mais malefícios do que benefícios. O segredo do profissional bem sucedido é saber dosar seu desempenho sobre a linha tênue que limita os dois campos. Seria como andar no fio da navalha numa escalada: ao mesmo tempo em que se pode atingir o cume corre-se o risco de se cair no abismo, ladeira abaixo, por não ter atingido o nível de excelência que se imaginava.

No caso de Cielo, ele se desafia com tempos escritos em pequenos pedaços de papel os quais ele mentaliza atingir. É a tentativa de condicionar a mente em favor de um grande resultado. Esta estratégia tem sucesso mais facilmente para as tarefas individualizadas. Transportando tal atitude para trabalhos mais mundanos, quando nos auto-impomos um prazo e fazemos de tudo para cumpri-lo não é nada mais do que o nadador brasileiro faz com seu papelzinho mágico. Quando atingimos o resultado imaginado temos um sentimento de dever cumprido inigualável.

Existe, no entanto, outro aspecto que não pode ser negligenciado: no trabalho em equipe outros fatores – o ser humano e seus distintos perfis – fundamentais entram na equação. E aí o bom gestor tem que saber dosar o nível de exigência não somente para não se frustrar com o resultado alcançado pelo seu próprio time como para também não ser identificado como a razão direta por este mesmo mau resultado. O equilíbrio quando estamos tratando de um grupo de pessoas é mais dificilmente atingido, na minha opinião, quando o foco se dá sobre um único profissional. As dificuldades que o estilo “Bernardinho” teve quando dirigiu a seleção feminina de vôlei – nunca alcançou o nível de excelência como possui no masculino – a parte fatores externos (como por exemplo uma geração cubana fantástica, tricampeã olímpica) e em seguida o sucesso atingido pelo Zé Roberto Guimarães demonstra que um determinado estilo de conduta pode fazer toda a diferença para se obter resultados mais elevados, ou mais próximos da perfeição.

Fato é que vivemos atuando para obter o melhor resultado possível, que nos dê segurança para que possamos seguir em frente com a confiança de que estamos no caminho certo. Esbravejar, questionar insistentemente em função de um modelo que se acredita o mais correto sem olhar em torno, percebendo as diferentes alternativas que se apresentam, pode significar estar atuando sem a devida qualidade. E isto serve tanto para os esportes de alto nível quanto para se escrever um relatório.

Sobre perfeccionismo e o seu impacto sobre o trabalho em equipe recomendamos o documentário “Gastronomia e Filmes”, da Pixar Studios. Pode ser encontrado como bônus especial no DVD de “Ratatouille” (2007), da mesma produtora.


Sugestão de Leitura:

MUSSAK, Eugenio – “A Busca da Perfeição” – Revista Vida Simples – Jan/2011- nº 101 – Ed. Abril – págs. 32-34.

8 comentários:

  1. Não chamo de perfeccionismo. O Cielo sabia que não tinha atingido o seu máximo, não era perfeccionismo, era consciência de seus limites. Quando é individual, dá para perceber ou ter uma idéia.
    Em equipe é diferente.
    Em equipe 100% pode ser 120% e a perfeição pode estar nos 80%. O motivo é que em grupo cada um age diferente de quando está só. Isso pode significar um rendimento maior com nível de detalhamento menor (e vice-versa). Entra nesta composição, o stress, a alegria de fazer, o estado de espírito de cada um no momento do trabalho. Ao gestor cabe administrar isso com o objetivo de 120% de 120%, sabendo que a perfeição NÃO EXISTE.

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  2. Lúcia,
    Concordo em quase tudo contigo, menos na análise sobre o Cielo. Ele é perfeccionista sim, porque um atleta de alto nível tem que sê-lo para alcançar resultados. Pergunto-lhe: conhecendo-se o seu limite, se vc quer dar o máximo dentro dele - 100% - isso pode ou não ser classificado como perfeccionismo?

    Abs,
    Leop

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  3. Perfeccionismo seria ultrapassar os 120% de eficácia e eficiência.

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  4. Nem o super-homem, Lúcia, nem o super-homem, afinal, como vc mesmo disse, perfeição não existe... e a Kriptonita, sim!

    Abs,

    Leop

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  5. Como diria minha avó: "perfeitos só os meus filhos".

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  6. Leopoldo, estou numa fase de exercício contínuo de humildade e pragamatismo e total desapego em relação a qualquer objetivo perfeccionista que tinha em relação a minha tese. Creio que, no que tange ao trabalho em equipe, o "feeling" do gestor, aliado a algumas estratégias e conjunturas favoráveis é a equação mais próxima para se atingir objetivos ao menos satisfatórios.

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  7. Oi Leopoldo. Concordo com o Carlos Maurício 100%. Bacana que, em matéria de feeling para trabalho em equipe, todos os que trabalharam contigo e te conhecem, sabem que melhor não há. Mas deixemos o óbvio de lado, até porque, número 1, se fosse só eu, mas parece que você tem proliferado seguidores nos últimos tempos, e número 2 esse assunto ficou chato de repente.

    Gostaria de compartilhar com vocês alguns pensamentos previamente germinados no meu facebook. Na discussão por você levantada, me pus com muita sinceridade a pensar sobre esse termo....perfeccionismo. Fiquei muito pensativo inicialmente por conta do peso da palavra. Pensei muito, daí a minha demora em postar algo, e finalmente cheguei a conclusão de que essa é uma nomenclatura "simplória e simplista". Discordo do seu uso reiterado e indiscriminado que, no meu entender, apenas faz o enorme desfavor de acoplar em um mesmo grupo aqueles acometidos de alguma psicose qualquer e os entusiastas, um segundo grupo de pessoas que possuem a integridade como seu motor de combustão. Auto-conscientes com relação ao seu próprio conhecimento e ao potencial que todos nós seres humanos temos para nos superar e alcançar a excelência, algo digno de seres perfeitos que podemos mas não somos na prática, com capacidade para fazer o bem e resolver problemas, possuindo um enorme respeito pelos outros, entendendo suas limitações e necessidades.É o que penso, muito sinceramente. Peço desculpas, mas não quero ofender ninguém com meus pensamentos, talvez por isso tenha optado em compartilhá-los primeiramente no facebook.

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