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quinta-feira, 31 de março de 2011

SEMPRE AO SEU LADO

A estória do filme “Sempre ao seu Lado” (2009), estrelado por Richard Gere, é vendida como sendo a narrativa de um conto sobre a lealdade entre um cão e seu dono. A meu ver, trata-se em verdade de duas coisas: a passagem do tempo e das escolhas que fazemos na vida.

A passagem do tempo é pontuada no filme em diversos aspectos. O narrador é o neto do personagem principal, um professor universitário de música chamado Parker que ao encontrar o filhote de Akita chamado Hachi na estação de trem que utiliza todos os dias para ir ao trabalho se afeiçoa de tal modo que após inúmeras tentativas de dar um destino ao cão decide levá-lo para casa, mesmo contra a vontade de sua esposa, Cate, interpretada pela atriz Joan Allen.

Com o decorrer do filme intuímos que tal resistência se deve ao fato, talvez, de que o professor já ter sido apegado no passado a outro cão, chamado Lucky, e que provavelmente este deve ter ficado muito abalado quando da morte do seu companheiro anterior. Com o tempo todos da família, até mesmo Cate, se aproximam do cão, e o laço de amizade entre os dois contamina a todos da pequena cidade em que vivem.

Considero Richard Gere, um ator nascido em 1949, o protótipo de quem sabe lidar com a passagem do tempo. Talvez o fato de ter tido seu ápice como sucesso interpretando um personagem numa fase já madura, em “Uma Linda Mulher” (1990), dez anos depois do seu primeiro filme de relativo êxito, “Gigolô Americano” (1980), tenha auxiliado, assim como sua filosofia de vida pautada pelos preceitos budistas. A tranqüilidade, trazida pela possibilidade de fazer escolhas a partir de um determinado ponto da carreira, fazendo com que ele tivesse a oportunidade de manter um nível de filmes medianos – assim como de atuações do mesmo naipe, sem altos e baixos – foi outro fator que certamente auxiliou nesta trajetória.

“Sempre ao seu Lado” me parece ter sido mais uma dessas escolhas nesse sentido. Estar vinculada a uma história verdadeira passada no Japão é uma das pistas nessa linha, em função da filosofia oriental supracitada. O fato de que o passar do tempo na vida até mesmo simplória do professor, voltada para o ensino da música, é pautada pela felicidade nas pequenas coisas que a vida proporciona, por intermédio das escolhas que fazemos a cada dia, indica outro vínculo que certamente atraiu o ator principal para o que estava expresso no roteiro, dirigido pelo diretor sueco Lars Hallström – não é a toa que diretores europeus são mais afeitos a filmes “autorais”, não comerciais, digamos.

Em termos de contexto externo, pois sabemos que a interação entre o expectador e o filme é o que faz a mágica do cinema acontecer, tenho que confessar que este me pegou numa fase de reflexão. Fiz 40 anos em 2010, o que por si só já leva a qualquer ser humano refletir sobre... a passagem do tempo e escolhas feitas até então. Sou um felizardo, um sortudo mesmo, pelas amizades – escolhas – que fiz durante a vida. Mais do que isso, a principal delas, tenho uma esposa que me auxilia, me dá suporte, me atura porque não dizer, já há 18 anos, pelo menos. A passagem do tempo só fez reforçar o sentimento de amor que temos um pelo outro.

Dessa forma, “Sempre ao seu Lado” teve o mérito do título em Português ser – o que é difícil – mais fidedigno à mensagem – e comercialmente vendável - do que o título original do filme: “Hachiko: a Dog’s Story”. Em que pese o personagem principal ser realmente o cão, mas a mensagem que o filme ambiciona vai muito além do simples relacionamento entre ele e o seu dono. Trata-se sim do relacionamento que mantemos com todos a nossa volta, desde nossos familiares mais próximos até o homem que vende o cachorro quente na esquina. Trata-se de sermos mais humanos, de nos alegrarmos com as pequenas coisas da vida, de observarmos a beleza que existe em cada uma de nossas vitórias, no aprendizado com as dificuldades que enfrentamos, enfim, em tratar a passagem do tempo e as escolhas que fazemos no seu decorrer com o devido carinho que eles merecem.

Enfim, para aqueles que gostam de filmes de ação, não recomendo este. Agora para aqueles da minha geração, que se encontram em seu momento de reflexão particular, não deixem de assisti-lo. Feliz Aniversário para todos!

Fontes – acessadas em 28 de Dezembro de 2010:


4 comentários:

  1. Muito bonito, lindo mesmo, seu texto. É uma bela declaração de amor: aos amigos e sua familia, especialmente a Fátima, que merece sempre mesmo!!!

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  2. Também achei lindo seu texto, concordo com o Fernando sobre sua bela homenagem à esposa, a valorização da famímilia e às alegrias do dia a dia. Os laços de amizade e os de camaradagem que a gente vai tecendo pela vida nos torna menos egoístas e mais humanos. É muito bacana esse seu apreço pelos amigos, colegas e sua família. Adorei esse filme; poderia ter sido um dramalhinho, mas, a história foi vivida com a leveza de um puro amor.

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  3. Belo texto Leopoldo, parabéns. Foi uma brisa de vida e bons fluídos para mim. Este filme é tocante, justamente por ser singelo. Abs, Carlos

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  4. Pois é... Este texto tb me emocionou!!!
    Tenho apreço pela rotina, sabe? Gosto de dar valor aos pequenos momentos do dia a dia, poder olhar as pessoas conversar com elas e sentir falta, ter saudade...
    Mas o que gostei mesmo foi da declaração de amor à sua companheira!!!! hehehehehe

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