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quinta-feira, 2 de junho de 2011

RONALDO - O FENÔMENO

E Ronaldo finalmente parou. Ou vai parar. Ou está parando. Mas enfatizo a palavra “finalmente” da minha primeira frase. Uma vida por demais acelerada viveu esse menino criado no subúrbio do Rio de Janeiro. O freio teria que ser muito forte para conter sua investida sobre si próprio. Inúmeras foram as contusões e confusões em que este se meteu, principalmente no terço final de sua carreira.

A meu ver ele alcançou seu ápice em 2002, e agora passado quase dez anos daquele momento no Japão, ele a encerra. Foi uma trajetória, portanto, tal qual a escalada de uma grande montanha. Tendo iniciado sua vida de jogador profissional muito cedo – em 1992, no Cruzeiro de Belo Horizonte, após o surgimento nas categorias amadoras do São Cristóvão do Rio de Janeiro – 10 anos depois ele dava a grande reviravolta, surpreendendo os críticos ao se recuperar de uma grave contusão no joelho, com o rompimento da patela em jogo pela Internazionale de Milão contra a Lazio de Roma, pela final da Copa da Itália.

Nesses últimos momentos, no entanto, quando tudo apontava para uma possível execração pública de sua imagem, esta se demonstrou tão forte, geradora de bons sentimentos para com seus admiradores – milhões mundo afora – por sua história de vida e superação profissional, que até mesmo a imprensa, que esteve tão enfática na construção do discurso sobre o seu ponto de parada, no qual somente ele mesmo poderia identificar, que esta passou a enaltecer suas conquistas e o vácuo que ele deixaria na esfera do futebol. Tal fato foi perceptível e externado em forma de congratulação pelo treinador do Corinthians, Tite, em entrevista coletiva já na semana posterior da aposentadoria do principal astro do time que dirigia.

Esse sentimento foi apontado, com certo estranhamento, pelo jornalista Lédio Carmona do canal a cabo especializado em esportes Sportv, no programa “Redação Sportv”, na manhã do mesmo dia da entrevista em que Ronaldo anunciou que se retiraria dos gramados. Ele o sintetizou afirmando que havia, de certa forma, um clima de “velório” rondando o anúncio que estava prestes a acontecer. E tudo isso foi gerado, não coincidentemente na era de seres midiáticos e de circulação da informação quase instantânea, em menos de 24 horas, pois ao final do domingo, dia anterior, a notícia havia vazado por intermédio do jornalista Daniel Piza, do Estadão, que havia sido contatado pelo próprio Ronaldo, a quem conhecia de longa data. Assim, a dinâmica de alta velocidade de sua vida permanecia.

Outro ponto colocado no mesmo programa supracitado e para qual, confesso, não havia atentado até então, era o fracasso da Copa de 1998, na França, sob outro prisma. Para aqueles que não se recordam, aquela era para ter sido a Copa do Ronaldo, seu verdadeiro êxtase 4 anos antes do que ele efetivamente alcançou. Naquela época ele era considerado o melhor jogador do mundo, premiado pela FIFA como tal, e estava na plenitude física. Além disso, seria ladeado por Romário no ataque da seleção, repetindo uma dupla que jamais perdeu quando esteve junto em campo. Dois anos antes, em 1996, ambos protagonizaram a final da Copa das Confederações em que o Brasil derrotou a Austrália por 6 X 0, com três gols de cada um.

Porém, uma contusão sentida pelo Baixinho, ainda na fase de preparação para a Copa, já na França, impossibilitou tal fato histórico – a atuação conjunta deles num Mundial (em 1994 Ronaldo sequer entrou em campo, apesar de estar no grupo que foi tetracampeão). Vocês podem imaginar o que teria sido aquela Copa com os dois juntos? Vou apenas citar um único ponto para vocês perceberem qual seria a diferença: a convulsão pela qual passou o Fenômeno no dia da final foi decorrida, muito provavelmente, pela alta pressão que o mesmo sentia sobre si, para confirmar uma expectativa gerada de que ele conduziria o Brasil para aquele título. Caso tivesse Romário ao seu lado, os holofotes seriam divididos, e esse nível de estresse inexistiria. O que poderia ter acontecido na final? De tudo, uma vez que a França jogou muito bem aquela partida, mas o Brasil certamente não a perderia – se isto viesse a acontecer – da forma como foi. Porém, isto nunca saberemos.

Por último, devo dizer que Ronaldo foi emblemático, na medida que foi o grande jogador brasileiro do qual testemunhei a carreira do início ao fim. De Zico, por exemplo, meu ídolo maior, não tive a oportunidade de acompanhar a arrancada inicial, pois era muito pequeno em meados da década de 70. Mas a carreira do Fenômeno eu pude seguir, desde o seu comecinho, facilitado pelas múltiplas ferramentas que a comunicação dispõe hoje em dia. Fiquei decepcionado por ele não ter jogado no Flamengo, mas não posso relegar o fato de que ele me deu muitas e grandes alegrias com a Seleção Brasileira. Sendo assim, obrigado Ronaldo, e vamos em frente até que outro jogador surja para nos alegrar no mesmo tom, afinal de contas, o Brasil é ou não é um celeiro de craques?

Um comentário:

  1. Ontem, no "Bem Amigos", foi dito que o Ronaldo, por seu carisma e simplicidade, é incondicionavelmente querido pelo brasileiros, independentemente das bobagens que faça. É verdade. E com todas alegrias que nos trouxe, só podemos mesmo ser gratos e generosos com ele. Quanto ao auge, concordo que, em termos de consagração, 2002 foi o ápice, mas os anos de 95-97 dele no Barcelona também foram inesquecíveis.

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