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quarta-feira, 22 de junho de 2011

A VINGANÇA

- Nós éramos amigos – respondeu Bella. – Colegas. Nos conhecemos seis anos atrás em um evento em Chatham House, um think tank em Londres. A maioria dos participantes trabalha com questões de segurança nacional. Publicam artigos, dão palestras, organizam simpósios, esse tipo de coisa. (1)

Ao ler esse trecho do livro “A Vingança”, de Christopher Reich, volume que dá continuidade à saga do Dr. Jonathan Ramson no mundo da espionagem, tive um sobressalto. Entre 2003 e 2004 fui convidado pela referida Chatham House – que até aquele momento sequer sabia que existia – para participar de uma pesquisa sobre a proteção dos recursos genéticos em países emergentes.

O convite me foi feito provavelmente porque naquela ocasião eu ainda era um dos representantes do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), unidade localizada internamente na estrutura do Ministério do Meio Ambiente (MMA). De toda forma, me senti lisonjeado, e mais ainda porque o convite era acompanhado da possibilidade de participação em um seminário em Londres sobre o tema da pesquisa. Infelizmente não pude participar naquela ocasião, e a capital britânica somente foi conhecida alguns anos depois, quando tive também a oportunidade de jantar um maravilhoso peixe na casa da minha prima, Mariana, que morava por lá.

Voltando ao livro e a sensação que ele me passou, posso dizer que me dei conta do quanto a ficção muitas vezes se aproxima da realidade. Imaginei-me envolto num projeto de prospecção de informações mundial para beneficiar determinados grupos ou países. Ora, sabemos que na maior parte das vezes os think tanks como o Chatham House têm seus patrocinadores “ocultos”, que buscam colocar os holofotes sobre temas de seu interesse de modo a influenciar para determinada direção a opinião pública. Porém, por outro lado, se o debate não for oportunizado de alguma forma, teríamos uma sociedade sem a chance de se posicionar. Basta ter o cuidado de não nos sentirmos tal qual ovelhas sendo conduzidas para uma determinada direção.

Aliás, se tem um expert nesse pastoreio é o autor do livro em questão, Christopher Reich. O primeiro volume desta série denominado “A Farsa”, já foi objeto de um post (Novembro/2010). Aquele tem sua trama por demais centrada nos meneios possíveis de serem engendrados por intermédio do sistema financeiro mundial para o financiamento de atividades terroristas. Sendo ainda o primeiro da série, consumiu-se um tempo para a explicação da origem de grande parte dos personagens centrais.

Chatham House surge no segundo volume como uma citação para uma realidade que vivemos já tem algum tempo: o poder que a informação privilegiada propicia a quem a detém. A trama inicia-se justamente com o assassinato de um lorde inglês que tinha como sustento, além de suas posses hereditárias, a profissão de analista de informações para uma agência privada. Esta vendia os seus serviços para quem o bem pagasse, com profissionais gabaritados para coletar dados e analisá-los, antecipando tendências e fatos que poderiam influenciar a economia mundial. Pergunto-me se estaria eu sendo, alguns anos atrás, uma fonte não-oficial deste tipo?

Neste segundo volume, o autor acelerou o tempo da estória, transformando-a num verdadeiro thriller, com muitas perseguições, além de construções e desconstruções de cenários que se acentuam cada vez mais quando se aproxima o final. Envolvem-se o MI5 e o MI6 (2) do Governo Britânico, além do Governo Norte-Americano, Francês e Italiano com suas agências de segurança internas. Personagens pacatos são de repente transformados em espiões de grosso calibre. Reich realmente superou em termos de adrenalina a primeira parte. O leitor fica com um gosto de “quero mais”, imaginando como será o passo seguinte. Acho que da próxima vez vou pensar duas vezes antes de aceitar determinados convites.

(1)    REICH, Christopher – A Vingança – Ed. Sextante – Rio de Janeiro – 2009 – pág. 176 (total: 346 págs).
(2)    MI5 é responsável pelos assuntos internos, enquanto o MI6 pelos assuntos internacionais – Revista VEJA – págs. 98-101 – “A Serviço de Sua Majestade – mas de verdade” – edição 2.200 – ano 44 – nº 3 – 19 de Janeiro de 2011.

Um comentário:

  1. Interessante ponto de vista Leopoldo. De fato, com a ascensão dos emergentes, a sede de informações estratégicas sobre o nosso país tende a crecser cada vez mais. Temos que nos preparar para forjar nossos próprios "think tanks", como a Rodada Uruguai já nos mostrou no passado.

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