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quinta-feira, 16 de junho de 2011

SANTA JULIANA E TIRADENTES

Mártir Juliana, filha de ricos pagãos nasceu na cidade de Nicomedia (Ásia Menor) no ano de 286. Aos nove anos seu pai African a prometeu em casamento a um jovem de origem nobre chamado Eleusius cujo pai era fidalgo da corte. Devido à pouca idade dos dois o casamento foi adiado até sua maioridade. Durante os anos que seguiram Juliana conheceu a fé cristã, acreditou e foi batizada. Eleusius se promoveu no serviço civil e tornou-se governador de Nicomedia. Quando se aproximava a data do casamento, Juliana começou a contar ao seu noivo pagão a respeito da fé cristã e tentou convencê-lo a se batizar. Quando Eleusius se recusou, Juliana também desistiu de desposá-lo. Grosseiro e descontrolado pela cólera, African, ao tomar conhecimento da união do cristianismo desprezado por ele e da rejeição a tão invejado noivo, se enfureceu muito com ela e começou a agredi-la. E Juliana dizia ao pai: “Venero a Cristo, amo a Cristo e não tenho medo de suplícios por Ele.” Então, African mandou sua filha a julgamento ao próprio Eleusius. Encantado pela beleza de sua ex-noiva, Eleusius em princípio tentou convencê-la carinhosamente a renunciar a Cristo e a desposá-lo. Depois, vendo sua firme determinação começou a ameaçá-la de diversas maneiras. Mas, nem o medo da morte foi capaz de fazer Juliana renunciar a Cristo. Ela foi fortemente açoitada e torturada; em seguida foi jogada em um calabouço. Ali uma nova provação aguardava Juliana: o demônio apareceu em forma de anjo tentando convencê-la a ser razoável e firmar um pequeno compromisso. Pelas palavras dele, Juliana adivinhando que era o inimigo que falava com ela, foi acorrentado pela decisão dessa grande santa, rezou a Deus e o demônio sumiu envergonhado, na Igreja ao lado de sua imagem tem a figura do demônio acorrentado. Vendo a firmeza da mártir de Cristo e os milagres durante as torturas, muitos moradores de Nicomedia passaram a crer em Cristo. Todos foram decapitados. Depois disso também executaram Juliana, a qual completava 18 anos. Isso aconteceu no ano de 304. A santa mártir Juliana é venerada como padroeira da castidade e pureza. Partes de suas relíquias são preservadas em muitas igrejas.

Deus escreve certo por linhas tortas, diz o ditado popular. Muitas são as lições que extraímos da História. Tiradentes se tornou mártir de nossa independência por participar de um movimento do qual acabou por ser delatado, mantendo sua posição republicana em que pese a possibilidade que vislumbrava, e que depois se confirmou, da morte pela forca. Ele acreditava num país melhor, igualitário, em que os brasileiros teriam a oportunidade de crescer semeando seus sonhos.

Em Niterói temos a rua Tiradentes, próxima a minha residência, e de grata lembrança por ser o endereço da Faculdade de Economia, a qual cursei entre 1989 e 1995. Nessa mesma rua estava instalada a Clínica Ortopédica Santa Juliana. Há muito tempo desativada, acabou por se tornar abrigo de sem-tetos, trazendo a preocupação para a vizinhança por também poder se tornar local de consumo de drogas e esconderijo para ladrões. Esta situação minorou recentemente, quando teve sua entrada vedada por tapumes que acredito sejam dos donos da antiga clínica.

Mas o que me chamou atenção é a estranha coincidência que faz com que duas figuras da História tenham suas trajetórias cruzadas em função de homenagens prestadas aos seus nomes, e que numa ironia extrema, apontem para o descaso da sociedade, refletindo a desigualdade entre os homens, justamente algo que ambos buscavam extirpar, cada um a seu modo. Santa Juliana, conforme apresentado acima, teve como maior mérito, na visão da Igreja Católica, a preservação de sua castidade por defender o Cristianismo contra os poderes estabelecidos. Acreditava num ideal, pois, e fez o que considerou necessário para que sua mensagem fosse compreendida. Mesmo tentada, não se corrompeu. Já Tiradentes, numa outra época, no Brasil, seguiu trajetória semelhante, permanecendo firme em sua fé política de que merecíamos um futuro melhor.

Infelizmente o Brasil não alcançou ainda nem o paraíso imaginado por Tiradentes, nem o respeito pelo outro e pela divergência de opinião, o que na prática foi também uma pregação de Santa Juliana. Quando observamos, portanto, uma clínica – que deveria ser um local de cura - desativada que contém o nome da santa, situada na rua batizada com o nome do mártir brasileiro, se tornar representativa do pior dos resultados que a nossa sociedade pode produzir, será que não há aí além de um problema grave, uma dolorosa mensagem a ser refletida? Até quando permitiremos que os sonhos de nossos mártires sejam em vão? Até quando teremos uma comunidade que não respeita a si própria? Até quando?

OBS.: ironia das ironias – Santa Juliana também é o nome de uma cidade do interior de Minas Gerais, assim como Tiradentes.

Um comentário:

  1. Assim como Jesus tomou os pecados da humanidade para si, outros santos e mártires, de diferentes formas, seguiram seu exemplo, movidos por diferentes sonhos. Mas fizeram isso não para demontrar apenas o merecimento das promessas celestiais. Tais exemplos devem ser encarados, principalmente, como motivação e inspiração para as transformações terrenas no campo da política, da justiça social etc. A fé e a boa-vontade são sempre armas mais poderosas que a violência, por mais que a História aparente o contrário, é o que penso.

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