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quinta-feira, 9 de junho de 2011

VINCENT CASSEL

Minha relação com a França e os franceses em geral é conflituosa. Vocês são sabedores da paixão que tenho por esportes e os patriotas da Queda da Bastilha estão na história esportiva brasileira como um travo amargo difícil de aceitar. Ora somos eliminados em Copas do Mundo por eles, ora os ganhamos no vôlei masculino – me lembro que no Mundial de 1986, disputado na França, os eliminamos e fiquei enlouquecido gritando sozinho dentro de casa, como se isso vingasse a eliminação no Mundial do México, nos pênaltis. Vivemos ainda o início da década de 1990 envolvidos no duelo entre Senna e Prost, personificando dessa forma o embate entre as duas nações.

Mas o mundo dá muitas voltas. Em que pese a construção desse sentimento refratário, me vi anos mais tarde trabalhando na área internacional e sendo levado à necessidade de aprender o idioma original do personagem Asterix. Tive ótimos 3 anos e meio de aprendizado na Aliança Francesa de Niterói, com grandes colegas de turma e uma professora exemplar, Ruth, que me acrescentaram ao termos de observar como se conhece melhor um povo ao se aproximar de sua cultura. E nesse sentido devo confessar minha admiração em relação à trajetória de vida do ator francês Vincent Cassel.

Monsieur Cassel tem uma extensa filmografia – para mais detalhes ver http://www.imdb.com/name/nm0001993/ . Recentemente pude conferir “À Deriva” (2009), dirigido pelo brasileiro Heitor Dhalia, em que interpreta o escritor Mathias. O filme é falado em português, idioma que Cassel domina. Trata-se de um drama, em que o seu personagem trai a esposa, com quem tem 3 filhos, e a filha mais velha, interpretada pela jovem atriz, Laura Neiva, passa pela fase de afirmação da adolescência. De temática até simples, o filme serviu mais, pessoalmente, para matar minha curiosidade sobre a atuação de um profissional de alto gabarito, reconhecido no cenário mundial, com participações em blockbusters e filmes menos cotados, numa produção brasileira. Dessa forma, acabou por reafirmar o que eu já tinha conhecimento: a paixão daquele ator por nosso país.

A primeira vez que tive tal insight foi observando seu trabalho no filme “Doze Homens e Outro Segredo” (2004), em que ele interpreta um ladrão que é concorrente dos protagonistas do filme, interpretados por sua vez por George Clooney, Matt Damon e Brad Pitt. Neste filme, numa de suas principais cenas, ele se utiliza da capoeira para driblar um sistema de alarme e ter acesso a um bem precioso. Tal cena representa, desta forma, uma das contribuições da cultura brasileira para o imaginário internacional, ao lado do futebol e do samba, espalhadas pelo mundo todo como sendo aspectos que validam a nossa alegria, que é esse misto de arte marcial e dança que desenvolvemos a partir da herança africana.

Assim, a mensagem que o ator passa com a escolha de seus trabalhos é que não ter preconceitos pode não somente fazer um mundo melhor como trazer uma ampliação de oportunidades de entrelaçamento de idéias entre diferentes culturas. Em “À Deriva”, por exemplo, ele tem uma boa química com Débora Bloch, que faz o papel de sua esposa, e que por sua vez também domina o idioma francês – uma observação à parte: o elenco jovem, infelizmente, não acompanha a qualidade dos protagonistas, a meu ver. Observar profissionais que possuem tal atitude para com a vida pode certamente ser de valia para o crescimento de qualquer um.

Apenas para demonstrar como a mente aberta pode proporcionar um desenvolvimento contínuo, pode-se dizer, por exemplo, que este mesmo ator que já representou personagens marginais, como no filme francês “O Ódio” (1995), ou “Irreversível” (2002), encontra-se no filme “O Cisne Negro” (2010). Dessa forma vem construindo uma filmografia digna daqueles atores que têm a possibilidade escolher os projetos dos quais participarão. Ou seja, é um cara para se acompanhar, saindo um pouco daquela mesmice dos rótulos típicos do cinema europeu, quebrando preconceitos e levando não somente a França no coração, mas um pedacinho do Brasil também.

Sugestão:

Ver o vídeo de “Doze Homens e Outro Segredo”, em que Vincent Cassel utiliza a capoeira: http://www.youtube.com/watch?v=xMuheGTAXew . E sua cena de preparação, no mesmo filme: http://www.youtube.com/watch?v=K_yu0JQ5aBk .

Um comentário:

  1. Também considero o Cassel um grande artista, além de um super felizardo, pois, afinal, é casado com a Monica Bellucci! Para mim, é a mulher mais linda do cinema, além de ter feito bons filmes, como o próprio "Irreversível" (com cenas fortíssimas e difíceis, por sinal) e "Malena", de Giuseppe Tornatore.

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