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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

MUNIQUE EM TRÊS LIÇÕES

Estive ao final de Março/2011 em Munique, Alemanha. Fui à convite do Escritório Europeu de Patentes (EPO, de sua sigla em inglês), que lá possui uma de suas sedes – as outras seriam Haia, Viena e Bruxelas, sendo esta última uma pequena representação em função da atuação junto à Comunidade Européia, que tem seus principais órgãos administrativos localizados na capital belga.

Em meio às diversas reuniões às quais compareci tive tempo de conhecer alguns pontos turísticos da capital bávara. O primeiro – e que se tornou uma área comum de trânsito, pois ficava muito próximo do hotel em que me hospedei, NH Hotel Deutscher Kaiser, que fica a 500 metros do centro da cidade – foi a Marienplatz, onde localiza-se o prédio da prefeitura, que segundo uma espanhola que nos ciceroneou na visita ao EPO, é a prefeitura nova, que data de 1900.

Na Marienplatz tive minha primeira lição sobre o povo alemão: permissão. Estava andando por esse centro nervoso da cidade, cheio de lojas, algumas de grife, outras típicas lojas de departamento para compras mais populares, restaurantes, etc, quando me deparei com uma – não era a única, devo ressaltar - barraca de frutas. Nela, uma penca de bananas sendo vendida. Tive a idéia de tirar uma foto, para mostrar para minha esposa quanto valia esta fruta, de que tanto gosto, na Alemanha.

Pois bem, ao efetuar tal aquisição fotográfica a dona da barraca chamou a minha atenção por não ter solicitado permissão para que tirasse a foto. Expliquei para ela minha intenção, ao que aparentemente amainou o sentimento de revolta e ultraje por tal ousadia.

A banana da discórdia

Naquela mesma jornada localizei a loja em que no penúltimo dia de viagem compraria uma camisa do Bayern de Munique. Minha intenção era comprar também do primo pobre, o Munique 1860, mas percebi que quem manda mesmo são os alvirrubros, pois as camisas deste segundo time da cidade não têm nem o nome dos jogadores estampados, o que a desvaloriza. Acabei por adquirir a nº 25, de Thomas Müller, jovem jogador que foi destaque da seleção alemã durante a Copa da África do Sul. Mas não sem antes em levar um choque ao descobrir que no elenco do tradicional time alemão existia um brasileiro, chamado Gustavo – mais um daqueles que surge do nada e vai para a Europa sem ter feito carreira no Brasil, para deleite do meu companheiro de viagem, homônimo do rapaz que viria a ser convocado por Mano Menezes meses depois.

Nessa loja tive minha lição nº 2: quando nos dirigimos a ela era próximo às 20h, horário de fechamento. Gustavo estava a procurar mais alguns artigos esportivos, enquanto eu aguardava no corredor. Acercou-se de mim então uma funcionária, falando alemão – devo ter cara de germânico, pois o primeiro contato era sempre assim. Quando lhe expliquei que não falava alemão, ela me informou de maneira firme: - “Vamos fechar!”. Disse que Ok, que meu amigo estava apenas vendo os preços, mas que já iríamos nos retirar.

A prefeitura "nova" de Munique na Marienplatz

Como disse anteriormente, a Marienplatz e seu entorno, por estar localizada tão próximo de nosso hotel, foi o meu meio ambiente comum nesses dias. Quando não tinha nada para fazer, dava uma caminhada por lá. Tive a oportunidade de conhecer a Catedral de Munique, que fica em suas cercanias, assim como jantamos um dia por lá num restaurante localizado no basement da prefeitura e denominado “Ratskeller”. Nessa ocasião, pedi um peixe, que veio acompanhado de uma erva que quase me fez chorar de tão ardida. O pior foi que eu nem descobri o que era afinal aquilo, mesmo olhando o cardápio em Inglês.

O passeio mais longo se deu após o término dos trabalhos. Fomos ao Mundo da BMW – BMW Welt, no original alemão – que nada mais é que um show-room com direito a carros e motos históricas da famosa marca alemã. Nos restringimos ao prédio principal, mas observando a folheteria que foi colocada à disposição, percebemos que existe passeio guiado pago, mas a entrada no local para o qual nos dirigimos era franca. Depois fomos ao Parque Olímpico, onde se concentraram as competições de 1972. Nossa expectativa era tirar uma foto do Estádio, onde até antes da inauguração da Allianz Arena se davam os principais jogos de futebol da cidade. Porém, este encontrava-se fechado, e não foi possível. Deu tempo apenas para um alemão gritar “Ronaldo” ao ver o meu gorro com a bandeira brasileira.

O mundo da BMW

Minha 3ª lição se deu, em meio a essas andanças. Ao utilizar a escada rolante, devemos nos postar ao lado direito, dando passagem para o mais apressado ao lado esquerdo. Aprendi isto após levar pelo menos uns dois esporros em alemão por estar de maneira folgada frente a frente com o meu colega.

O que tirei desta jornada? Ora, sou descendente de alemão, mas bem longínquo. O traço que carrego é o de ser um amante da organização, e isso se confirmou em relação ao estereótipo imaginado para aquele povo. Se isto é bom ou ruim? Tudo em exagero tende a ser problemático, e o brasileiro, com sua flexibilidade, poderia auxiliar em alguns momentos – lembrem-se do que falei, flexibilidade em exagero também atrapalha. Provavelmente eu ganharia uma banana de graça se estivesse no Brasil; a vendedora tentaria empurrar mais uma comprinha de última hora; e a escada rolante, pois bem, após o horário de trabalho as pessoas deveriam ser mais relaxadas. Enfim, adoro conhecer novas culturas, mas o que eu amo mesmo é o meu Brasil.

7 comentários:

  1. Finalmente um texto que não me parece que termina precocemente. Gostei muito, viajei junto, até porque sei que nessa viagem vc e gustavo me trouxeram uma lembrança, e pq conheci todos os lugares a que você se refere. Fiquei esperançoso com o último parágrafo. Acho que há esperança na frase final da conclusão.

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  2. Fernando, eu diria que o seu comentário não me surpreende, dado os fatores emotivos que o ligam à Alemanha. De qualquer forma, obrigado pelo elogio.

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  3. Acho que o Fernando está com saudade da Mariam...

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  4. Adorei o seu relato, Léo! Quanto à permissão na banca de frutas, eu e as meninas já tivemos a oportunidade de lidar com isso aqui mesmo, no Brasil, mais precisamente em Niterói. Antes de tirar as fotos nas lojas do Plaza para o "Dia das Mâes" pedimos a permissão à Gerência. Viu? Temos um quê de civilidade... rsrsrs
    Mas em relação à alegria do brasileiro... Não há comparação! Com esta beleza natural... É impossível não se contagiar!
    Outro assunto: Estou com saudades de vocês! Mas a vida anda tão corrida que está difícil de propor algum programinha com as famílias. Fica aqui o registro: Vocês fazem falta!!! Beijos pra vocês, especialmente para a minha amiga Fátima! Bye.

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  5. é por essas e outras que os 'importados'que conheço, incluindo os da família, vêm pra cá e não desejam mais voltar.
    Post muito bom. Como disse o Cassibi, a gente viaja lendo.

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  6. O excesso de organização, de disciplina, por vezes me irrita Leopoldo. Claro que organização e disciplina são necessários, mas sem engessar a espontaneidade. Aliás, tudo em excesso não é bom. Sei que meu avô (falecido em 1998), quando esteve na Alemanha, nos anos 70, passou por uma situação engraçada. Em uma loja de doces, foi provar um bombom (que pensava ser para prova) e a alemã deu um tapa na mão dele!! rs Bom..ele era bem guloso, verdade...rs. Mas lembro que ficou danado com o tapa! E era General do exército e meio pavio curto. Sorte que não teve confusão com a alemã!! rs

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  7. Leopoldo, nessa cidade eu vivi um dos dias mais lindos da minha vida, na abertura da Copa de 2006. Primeiro porque era um sonho meu participar de uma Copa do Mundo como turista e depois pela espetacular festa que se deu no centro da cidade, e em especial naquela Marienplatz, com gente da minha "praia" ou seja, torcedores de futebol, festejando juntos. Brasileiros, mexicanos, costariquenhos(abriram a copa contra os alemães), japoneses, italianos, holligans ingleses, todos se confraternizando de uma forma que jamais imaginei ver um dia. Nesse evento eu tive uma experiência totalmente diversa da sua, os alemães estavam extremamente gentis, hospitaleiros, simpáticos, naturalmente porque o ambiente pedia. Mas, quero registrar que eles também são capazes de agir diferente quando a situação assim pede.

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