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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

GUERRA

Guerra. Se existe algo mais extremo no ser humano é o ímpeto pela batalha. Viver se degladiando, por mais que o bom senso, a lógica, digam que viver em paz, de maneira colaborativa, seja o melhor dos caminhos, deve ter diversos motivos, e não apenas uma motivação inata pela luta. Senão vejamos.

Somos animais. Os animais normalmente brigam por território. Assim foi desde o início dos tempos e para conosco também. As populações das diferentes tribos buscavam espaço para suas crescentes demandas de alimento e habitação. Como desdobramento disto, tínhamos que ter alguém que colocasse um pouco de ordem e liderasse a malta no sentido de alcançar os objetivos ao que o grupo se propunha.

Aí então surge a segunda motivação: a partir do momento em que se cria um líder – por necessidade – se cria também um monstro, digamos assim, o qual a humanidade não soube – e creio não saberá no futuro próximo – lidar: a sede de poder. O líder uma vez empossado dificilmente não é picado pela chamada “mosca azul”, expressão popular que designa o desejo do poder pelo poder. Ter desapego à função exercida é uma qualidade para poucos, muito poucos. Vemos isto até mesmo em algumas religiões, que em tese deveriam pregar no sentido contrário, com suas estruturas hierarquizadas, em que o jogo político também ocorre.

Aí fazemos o vínculo com o conceito de que o homem é um animal político. Tal fato provavelmente decorre diretamente das duas postulações acima – foi imposto pelo ambiente, e introjetado pelo próprio ser humano, uma vez tendo sentido o doce gosto do poder. Esses dois fatores se retroalimentam, sendo que a disputa política – ou por poder, como queiram – ganhou relevância, se tornando a locomotiva para os embates humanos, vitaminada pelo capital gerado. Isso mesmo: a riqueza é a vitamina que acelera a ânsia pelo poder. Ela é reflexo do status alcançado por alguém, e não é a razão profunda do contencioso entre as pessoas. A humanidade luta para estar no topo da escala social, o benefício econômico sendo considerado um resultado óbvio para tal situação.

Mas poderíamos extrair da guerra algo de benéfico? Difícil pergunta, não. A meu ver o único bem palpável desta seria a possibilidade de recomeço. Pós-terra arrasada as populações envolvidas, mesmo as derrotadas – e hoje em dia dificilmente existe um povo que tenha sido sobrepujado em 100% de suas intenções, sendo o término das batalhas muito mais negociado que sacramentado pela força física – podem auferir algum tipo de “oportunidade” de renascimento. Talvez o último exemplo de vitória total de um dos lados tenha sido a 2ª Guerra Mundial, em função das bombas atômicas, e mesmo assim o Japão é um exemplo do argumento que vou lhes apresentar de agora em diante.

Recomeçar passa a ser então a obrigação de todos os envolvidos, vencedores e vencidos. Aos vencedores solicita-se o suporte para que os vencidos tenham uma vida digna mediante as condições apresentadas pós-batalha. Seria como um mínimo de condescendência para com os mesmos. O interessante é que na sociedade globalizada de hoje em dia cada vez mais essa condescendência se torna mais larga, mais ampla, pois as demandas populacionais em termos de bem estar cresceram enormemente.

Mesmo assim, ainda existem recantos dos quais só tomamos conhecimento, de maneira surpreendente, após algum instrumento da mídia se interessar em reportar sua realidade. Foi desta forma que dei maior atenção – afinal de contas, a notícia em si eu já tinha conhecimento por uma breve exposição no Jornal Nacional – às oportunidades que surgiram para o povo do futuro Estado denominado Sudão do Sul. Por princípio sou contra a separação de comunidades, devo dizer. Incomoda-me, por exemplo, as duas Coréias ainda estarem separadas, mais de 50 anos depois da guerra por lá ocorrida. Mas a África e sua história de colonização, desrespeitando limites territoriais antiqüíssimos, se torna um desafio para a compreensão de um ocidental padrão como eu.

Haverá esperança para a humanidade? Ou pelo menos para esta criança sudanesa?

Somente ao ler a reportagem exposta na National Geographic Brasil, na edição de Março/2011 – págs. 98-119 – pude compreender melhor como o povo do Sudão tem como ânsia uma oportunidade de se recontar, de reiniciar a vida da forma como eles próprios imaginam ser a mais correta. E se para isso terão que se separar em dois países, que o seja. Lendo-se a reportagem verifica-se que não será um caminho fácil, pois como todo movimento diplomático internacional enseja uma série de interesses políticos e econômicos – neste caso, o que não é surpresa, mais uma vez vinculado à extração de riquezas minerais em determinado espaço do território a ser dividido.

Mas recomeçar é necessário, e aparentemente eles lutarão para viver esse novo desafio, transformando seu espaço em mais um campo de oportunidades. A guerra, assim, gerou um novo momento. Resta saber até quando ele será prolongado num ambiente de paz, em que a busca por território, pelo poder e pelo dinheiro não sobrepujam o anseio maior por uma vida digna.

Leitura sugerida:
Com uma abordagem voltada para o recomeço de que cada indivíduo é capaz, sugiro ler “Um Novo Começo”, texto de Eugenio Mussak, para a edição de Maio (nº 105) da Revista Vida Simples, da Editora Abril – págs. 38-40.

3 comentários:

  1. Recomeçar, recriar, refazer: tantas palavras para confirmar a necessidade do ser humano na busca de uma nova chance. Desde as brincadeiras infantis, pedimos sem cessar: - Mais uma chance!
    Que a humanidade nunca desista de tentar se entender e de se dar mais uma chance... E outra... Mais outra...
    Feliz Dia das Crianças!

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  2. Grande Léo,

    Guerra, poder, religião, benefícios da guerra, suporte e condescendência para com os vencidos, Sudão, interesses políticos e econômicos internacionais, paz, vida digna... Ufa, mal comecei a comentar e vi que corria o risco de ficar maior que o próprio post! Por isso me ative à frase "a riqueza é a vitamina que acelera a ânsia pelo poder". Não seria uma explicação para quase todas as guerras? Como tudo era mais simples no tabuleiro do War, o exército vencedor ocupando o território conquistado e ponto final, sem a divisão do bolo previamente discutida, sem os grandes conglomerados desembarcando para ajudar na reconstrução do país... e sem a oportunidade de recomeço despindo-se em oportunidade de negócios. Se o interesse genuíno pelo bem estar do próximo não é do cotidiano de tantas famílias, como esperar que floresça dos campos de batalha?

    Mas não posso terminar sem observar que, ao dizer que a busca pelo poder existe até em algumas religiões, você revestiu este pronome indefinido de uma generosidade angelical.

    Aliás, isso valeria outro post.

    Abraços,

    Carlos Eduardo

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  3. Giselle e Cadu,

    Ambos tiveram um olhar benevolente para com este escriba. Giselle resumiu muito bem o espírito do post, e Cadu me instiga a um novo escrito, ao final, sobre um tema que realmente dá o que falar - religião. Um desafio e tanto!

    Fica aqui o meu muito obrigado pelos comentários. Certamente sem eles o blog não teria valor.

    Abs,

    Leop

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