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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

TORCEDOR

Minha trajetória como torcedor foi moldada a partir de vitórias do Flamengo na décadas de 70 e 80 do século passado. Mas isso seria uma explicação por demais simplória para identificar as raízes de uma paixão irrefreada que caracteriza os torcedores mais exaltados. Me classifico como um torcedor racional, por uma qualidade específica inerente a mim próprio, o interesse pela análise do todo. Porém minha intenção neste texto não é me avaliar – sou apenas uma peça que se encaixa no conceito de torcedor que elaborarei de agora em diante.

Conheço mais proximamente, é óbvio, torcedores dos clubes do Rio – o meu Flamengo, o Fluminense, o Vasco e o Botafogo. Poderia acrescentar ainda meu bom amigo Gustavo, torcedor inveterado do Corinthians. Mas minha motivação abarca igualmente Jack Nicholson, torcedor apaixonado do Los Angeles Lakers, time de basquete profissional norte-americano; ou os torcedores de rúgbi da África do Sul e da Nova Zelândia, potências nesse esporte; ou os torcedores de escolas de samba durante o Carnaval! O que colocarei são as motivações do torcer, e o que seja tal ato.

Torcer, por sua definição direta, leva ao verbo co-irmão “distorcer”. Este se aplica imediatamente a todo torcedor que eleva sua paixão acima de tudo e de todos. Vou citar aqui alguns destes seres que habitam o meu universo mais próximo: Vasco – Celso; Botafogo – Mauro; Fluminense – Wágner; Flamengo – Mala. Isso para não repetir o nome do Gustavo, citado acima, vinculado ao alvinegro paulistano. Cada um deles profissionais de profundo conhecimento em suas áreas de atuação, mas que deixam toda a clarividência de lado quando o assunto é futebol e seus times. Nos voltemos então o que seria a definição formal de torcer:

Torcer = verbo transitivo direto (...) 12 esfregar (as mãos), por nervoso, ansiedade, satisfação, etc. 13 sentir inquietação por motivo de raiva, inveja, ciúme, etc; roer-se 14 distorcer o sentido, o significado ou a proporção real de (algo) [em outra coisa]; alterar, desvirtuar 15 obrigar (alguém ou a si mesmo) a dar-se por vencido, ou render-se a (...) 16 dispor para alguma coisa; levar ou induzir (...) 18 desejar vivamente (algo) 18.1 manifestar sua predileção (pela vitória de uma equipe esportiva, uma agremiação, etc) (...) Etim. Torcer, tornar, torturar, atormentar, (...).
Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa – Ed. Objetiva - 2004

Cada um destes torcedores por mim citados anteriormente jamais contestará sua paixão. Isso nem passa pela sua cabeça, inexiste no seu mundo consciente. Todos eles terão uma história para identificar o momento zero da geração do amor que tem para cada um dos seus clubes, mas isso fica no passado, eles não se preocupam com isso, são o que são e ponto. No presente, qualquer coisa que seja contrária à vitória e à qualificação dos seus times serão execradas como pusilânimes orquestrações de todos os seus adversários para pulverizá-los da face da terra.

Dessa forma, é impressionante como a definição formal identificada no Houaiss se presta a dar brilho ao significado de sua existência. Antes de se chegar à formalização direta do que seria torcer esportivamente – “manifestar sua predileção (pela vitória de uma equipe esportiva [...])” – tem-se cerca de 6 outras definições – ansiedade, raiva, inveja, ciúme sendo sentimentos centrais para sua concepção - que apontam de maneira mais próxima o que se vê quando o torcedor se manifesta.

Com o passar do tempo, infelizmente ou felizmente, depende do ponto de vista, eu fui me afastando desta tipificação, pelo menos no que tange à paixão clubística – eu como torcedor do Brasil, nos mais variados esportes, é outro papo. Talvez a minha paixão maior sejam os esportes e o que eles significam como aprendizado e filosofia de vida. E ao acompanhar tudo que gira em torno do mesmo, ganhando conhecimento sobre os mínimos detalhes, tenha me feito gerar uma massa crítica que já não me permite ser leviano em meus comentários.

Porém isto, como já disse anteriormente, é uma característica particular minha, pessoal e restrita. Fato é que os torcedores na acepção da palavra estão pouco se lixando para a razão. O risco que corremos é apenas de fazer com que essa irracionalidade extrapole para a violência. Enquanto pudermos torcer e nos relacionarmos, como pessoas civilizadas, brincando sim uns com os outros por conta da vitória ou derrota de nossos times, teremos esse sentimento como algo saudável, evitando assim exageros extremos. Sublinho a palavra “extremos” porque o torcedor em si é um exagerado mesmo, e isto não há como contornar, apenas tolera-se. Quanto a mim, sigo em frente, torcendo, porém não distorcendo, e convivendo com esses loucos apaixonados dos quais prezo muito a amizade.

PS – Devo dizer que a minha filha é Flamengo, do contrário, o couro ia comer lá em casa! Torcer com consciência é uma coisa. Ser torturado no seu próprio quintal é outra - rs

3 comentários:

  1. Oi Leo,

    Estou sempre ligado aos textos do blog, mas leio e não comento. Talvez um pouco tímida (rs) nesse universo. Ainda sou do estilo de falar diretamente com o autor.

    Entretanto, sua Leopideas desta semana me fez lembrar o tempo em que era uma TORCEDORA (ou sofredora, como muitos classificam os torcedores botafoguenses). Não daquelas mais exaltadas, de discutir, brigar, defender com irracionalidade o clube. Mas uma torcedora que, nos meus idos vinte e pouquinhos anos, era uma “seguidora”. Explico.

    Já imaginou morar em Copacabana e ir ao treino do time, sábado de manhã, isso mesmo, de manhã, em Marechal Hermes!!! Vê as goiabeiras, campinho miserável, jogadores magricelos, posição no campeonato estadual sofrível e ainda por cima achar que era um tremendo “programão”. É amigo, não é para qualquer torcedor.

    E mais. Sair do trabalho, na quarta-feira, e ir direto para o Maracanã para ver o time jogar. Nada demais, correto? Só que sozinha. E não ficava acanhada. Logo dava um jeito para ficar perto da Torcida Jovem. E berrava, me esgoelava, xingava e por aí vai... E achava um tremendo “programão”.

    Outra. Ir para a porta do vestiário para, junto com a torcida, gritar uma hino de “guerra” para dar força pro time, sem fazer parte do grupo das “Marias Chuteiras”. Nada contra as mocinhas, mas que mau gosto, os caras eram muito feinhos. E outras e outras situações.
    Mas de todas essas aventuras, a mais inusitada foi estar na torcida do seu Flamengo, vibrando, torcendo, agitando bandeira. Isto aconteceu na Torcida Fla-Diretas, criada no verão de 1984. Tinha com padrinhos a atriz Cristiane Torloni e o zagueiro rubro-negro Cláudio Figueiredo e camiseta com o urubu do Henfil carregando um voto. Era um momento da história para, enfim, viramos a mesa. O movimento das “Diretas Já” tomou conta não só das grandes torcidas como de todo o País.

    Estava lá na torcida do Mengão e não era uma vira-casaca, apenas uma Torcedora por um novo Brasil. Porém, como se sabe, perdemos esta partida. Vieram outras, mas isto é uma outra história...

    Hoje, não faço mais esses devaneios. Não assisto a um jogo do Glorioso em campo faz tempo, que fará assistir aos treinos. E moro em Botafogo. A sede do Fogão é logo ali.

    Entretanto, poder de tempos em tempos comparecer a uma Zona Eleitoral e escutar aquele som “tirilim” no final, isto sim, pra mim é um tremendo “Programão”.

    Em tempo: aqui em casa o marido é flamenguista, mas o filho é botafoguense, “do contrário, o couro ia comer”. rs rs

    PS.: Parabéns por um ano de ótimos e diversificados textos no blog.
    Maratan Marques

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  2. O melhor da vida é todo dia poder conhecer/reconhecer pessoas que imaginávamos já não poder nos apresentar grandes novidades.
    Uma nova Maratan apareceu hoje. E gostei muito.

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  3. Que Maratan gostosa de se ler. É imperativo: Maratan, faça um blog para a gente ter ler, vai!
    (o Leo é tão gente fina, mas tão bacana mesmo, que ficou maravilhado - e não ciumento - com esse eclipse chamado Maratan).
    Beijo em todos

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