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quinta-feira, 19 de abril de 2012

RIO

Desde que foi anunciada aqui pelo Brasil, a produção cinematográfica “Rio” (2011), de Carlos Saldanha – brasileiro responsável pela trilogia “A Era do Gelo” – trouxe uma grande expectativa para todos aqueles amantes dos desenhos animados. O público deste gênero cresceu com a percepção da indústria cinematográfica de que a atração poderia ainda mais congregar interesses não somente das crianças, como também dos adultos, que na verdade são os responsáveis pela aquisição de ingressos e badulaques que acompanham sua estratégia de marketing e geração de dividendos para os produtores, como brindes e brinquedos associados (incluindo aí games, softwares, etc).

Mais do que o apelo singelo aos brasileiros de ver retratado o principal cartão-postal do País, com a tecnologia de última geração que Hollywood possui, tínhamos o anseio de verificar qual visão seria exposta na telona: se a estereotipada – samba e mulatas, terra da malandragem e do futebol, abrigo seguro de ladrões, entre tantas outras – ou se algo próximo do que realmente vivenciamos. Tarefa difícil esta, pois podemos imaginar uma reunião de produtores americanos avaliando se aquele filme tem ou não potencial mercadológico, e aí eles não estariam pensando apenas no Brasil, mas no mundo inteiro.

O Rio de Janeiro, aproveitando o boom internacional em torno do País, surfou em águas plácidas – não sem muito trabalho de bastidores – alcançando uma visibilidade enorme, maior do que já possuía, com a vinda de grandes eventos – Copa do Mundo e Olimpíadas sendo os mais conhecidos. Mas somente isso seria justificativa suficiente para que mega-capitalistas apostassem nessa produção?

Creio que não. Eles perceberam que havia um roteiro que poderia trazer retorno. Certamente o crédito alcançado por Saldanha contribuiu para este convencimento. Mas a pergunta que não me sai da cabeça é mais singela: o filme convenceu a nós, brasileiros? Sim, porque esta questão pode não ser crucial para os produtores hollywoodianos, mas tenho certeza de que para aquele brasileiro responsável pela sua geração tal ponto tocava diretamente ao coração.

Foi dessa forma que fui assistir a esta película, juntamente com a minha filha. Ela adorou, o que é um bom sinal em termos de atender o gosto do público infantil. O filme conta com uma suavidade enorme, de uma certa forma alguns pontos abaixo da velocidade na trilogia “A Era do Gelo”, aqui já citada e maior referência da qualidade ambicionada por Saldanha. Talvez isto seja reflexo justamente da intenção de diferenciar o jeito de ser brasileiro para com os demais países do mundo. Seria algo como dizer que “A Era do Gelo” era um filme de ação, com toques de comédia, enquanto “Rio” seria uma comédia romântica, com toques de ação.

Este, para o meu gosto particular, foi o problema. Esperava uma coisa, e fui brindado com outra, o que não significa dizer que sem qualidade. Mas não pude me libertar do sentimento de frustração. Este sentimento acabou aumentando com a citação das mazelas – contrabando de animais e “macaquinhos” que furtam turistas. É claro que essa sensação é similar a como se estivessem falando mal do seu próprio filho. Você sabe que ele tem problemas, mas não gosta de vê-lo sendo julgado por terceiros! A coisa se agrava quando nos lembramos que na origem temos um brasileiro na produção.

Mas como disse ao início, mesmo ele tendo crédito, devia passar pelo crivo dos seus produtores. E estes não dispensariam a ambientação durante o carnaval, como não dispensaram os macaquinhos. O contrabando de animais nem podemos questionar muito, afinal era o eixo central da estória que estava sendo ali apresentada.

Enfim, acho que alcançar o ideal, o retrato da realidade que vivemos no meio cinematográfico, seria mesmo muito difícil para um desenho animado que objetivava ser atrativo também para os pequenos. Eu estava, podemos assim dizer, com uma expectativa apontada para o lado errado, pelo menos nesse quesito. Desse modo, até pelo marco histórico e pela disposição em cultivar a fantasia e imaginação da minha filha, adquiri o DVD deste filme de que ela tanto gostou. Quanto aos meus anseios, é mais crível que eu os encontre na literatura, meu porto seguro de sempre, do que numa produção de Hollywood.

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