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sexta-feira, 11 de março de 2011

MULHERES

Confesso que sou um grande admirador das mulheres. Estou cercado por elas, tanto no trabalho quanto na minha família, e posso dizer que, sendo modesto, pelo menos 90% delas demonstra uma força interior muito grande para ultrapassar os obstáculos que a vida impõe. Porém, um mistério para mim se coloca quando penso nesta questão: se as mulheres são tão fortes assim, porque a seleção feminina de vôlei do Brasil fraqueja quando menos se espera?

É fato que sob o comando de José Roberto Guimarães elas deram um salto de qualidade. E isso não é pouco, levando-se em conta que o comandante anterior era o supervitorioso Bernardinho. Na fase em que estavam sob o comando do atual treinador da seleção masculina possuíamos uma geração tão talentosa quanto à atual, com jogadoras do naipe da Ana Moser, Márcia Fú, Ida, Fernanda Venturini, entre outras. Os maiores resultados alcançados por esta geração foram duas medalhas de bronze olímpicas (1996/2000), um tricampeonato do Grand Prix (1994/1996/1998) e um vice-campeonato mundial (1994) – o que não é pouco, diga-se de passagem.

Naquela ocasião resultados melhores não advieram talvez pelo fato delas terem sido contemporâneas de uma geração cubana fantástica, que tinha à frente um talento assombroso como Mireya Luiz. As cubanas foram então tricampeãs olímpicas (1988/1992/1996), sempre superando a equipe de Bernardinho nas principais competições, inclusive no Mundial de 1994 disputado no Brasil, em que perdemos a final em frente a 12.000 torcedores em São Paulo, e ainda tendo protagonizado cenas de pugilato explícito nas Olimpíadas de Atlanta com as brasileiras, ao término da semifinal, quando as caribenhas também saíram vitoriosas.

O fato de terem sido as cubanas uma pedra no sapato das brasileiras naquela época põe por terra um argumento falacioso que o destempero ou falta de controle dos nossos nervos se daria em função de nosso sangue latino, uma vez que as caribenhas possuem o mesmo fator. Poderia se dizer que o modo extremado de Bernardinho não seria o mais adequado para as mulheres – até acho isso, mas não para resolver esta questão, pois ele é vencedor em clubes femininos e ganhou Grand Prix com a seleção. Considero isso verdade em benefício da seleção masculina, onde seu estilo se encaixa com mais facilidade. Aliás, este é um mérito da Confederação Brasileira de Voleibol, ter invertido os técnicos em prol do esporte brasileiro como um todo.

Assim, me parece ser difícil para nós admitir simplesmente que as cubanas tinham uma geração superior a nossa, e ponto. Mas acredito que este seja o fato, e os resultados não deixam de demonstrar. Ultrapassada esta etapa e iniciada a gestão de José Roberto Guimarães, outras atletas de ponta surgiram, assim como a geração cubana já não era mais a mesma. No entanto a luta para alcançar grandes resultados com constância não tem sido 100% exitosa.

As meninas foram campeãs olímpicas pela primeira vez em Pequim, 2008, devolvendo um resultado adverso que tiveram em relação às russas quatro anos antes, nas Olimpíadas de Atenas, quando perderam uma semifinal que vinham ganhando no 4º set – numa partida em que venciam por 2 sets a 1 – por 24 a 19 e não conseguiram fechar, com as russas vencendo o jogo no tie-break que veio em seguida. Então, no ano passado, quando todos nós imaginávamos que iríamos finalmente vencer um Mundial, com uma campanha invicta até o jogo final, assim como chegou o time russo, perdemos. Ou seja, uma rotina de idas e vindas nos degraus do pódio das principais competições.

Dessa forma, digo-lhes, a única conclusão que chego é que, mesmo que no masculino estejamos sempre por 1 ou 2 pontos de diferença entre a vitória ou a derrota, pelo menos por lá a mentalidade vitoriosa já está assentada. Entramos nos jogos nos imaginando superiores e que vamos ganhar ao final, o que não necessariamente nos faz atuar acomodados, pois uma das diretrizes do Bernardinho é que tão difícil quanto ser o nº 1 é se manter nesta posição, e que temos que provar a cada jogo que somos dignos dela.

Pois as mulheres, talvez respeitando um ciclo natural de altos e baixos, tal qual o ciclo menstrual que vivem todo mês – e falo isto apenas como semelhança abstrata, e não como razão ou motivo para os resultados “negativos”, até o ponto que ser vice-campeão mundial pode ser considerado como tal – ainda não introjetaram esse modo de pensar. Além disso, claro, temos equipes de alto nível do outro lado que também buscam o mesmo resultado – assim como no masculino, por isso nos questionamos sobre qual é a diferença, ora bolas!

Dessa forma, no momento decisivo, elas ainda se vêem a enfrentar aquele dilema: será que somos capazes? Será que vamos sair vitoriosas? Os homens, pelo contrário, estão entrando com essa certeza interior, não fazem este tipo de questionamento, ao ponto de fazer de tudo para alcançar o objetivo almejado, o que já gerou uma polêmica danada por aqui (ver post Razão, Paixão e Ética no Esporte – Out/2010). Mas fato é que esta abordagem tem funcionado.

Será que o x da questão é que as mulheres são mais paixão que razão? É, pode ser, mas isso também é um estereótipo pra lá de batido. De qualquer modo continuarei torcendo para que elas se afirmem no cenário mundial no mesmo nível que o já alcançado no masculino. Em verdade, já somos respeitadíssimos em ambos os gêneros no vôlei mundial, mas faz parte de nossa cultura querer sempre mais, ainda mais quando sabemos de onde podemos tirar, não? E de nossas mulheres, sabemos que pode vir muito mais!

Fontes acessadas em 31 de Dezembro de 2010:


4 comentários:

  1. Não pude deixar de dar um sorrisinho de canto ao ler a última frase que, fora de contexto, poderia ter o significado dúbio de "sai de baixo, porque são imprevisíveis!" Sei que não foi bem isso que você quis dizer...rs
    Mas, refletindo sobre o assunto, lembrei-me do João Saldanha, que dizia: "se macumba desse resultado, as partidas de futebol baiano teriam resultado empatado".

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  2. Caracoles, Susana, devo estar meio lento, mas confesso que não entendi a relação entre o texto e a citação futebolística relacionada ao campeonato baiano! - rs

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  3. A analogia é porque, se as mulheres fossem sentimentais e não racionais, o time adversário - também composto por mulheres - padeceria do mesmo "mal"...rs

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  4. Pois eu entendo perfeitamente a "travada" da seleção nos momentos decisivos. É uma questão cultural e familiar.
    Tentem se lembrar de uma situação que pode ter acontecido com vocês ou com algum conhecido: mamãe empurrava o caminhãozinho da casa todos os dias, resolvendo aqueles problemas rotineiros de faxina, dever de casa, arrumar os filhos para a escola, levar, buscar e esperar nos cursinhos - logicamente ainda tinham que trabalhar fora (mas isso é um detalhe) - até que surge uma questão mais polêmica (qualquer que seja ela) como "posso ir ao cinema hoje?", "posso passar o fim de semana na casa da amiga?". E a resposta é: fala com seu pai.
    Entenderam? Na hora "H" a decisão era com uma instância superior.
    Alguém poderia dizer: na minha família não era assim. Certo. Na minha não era. Sou de uma família essencialmente matriarcal. Mas esse era o comportamento padrão na minha infância. E na infância daquela seleção feminina de Bernardinho. As coisas estão mudando, como demonstra a seleção de José Roberto, mas é uma mudança lenta. Paciência e fé nas meninas.
    As coisas não mudaram tanto assim, um amigo comentou comigo recentemente que ele não tem autoridade nenhuma com a filha nas questões do dia a dia (como ocorria antigamente). Fica a pergunta: na hora que você, meu amigo, disser NÃO como será a reação da filhota? Garanto que será um não definitivo. É o machismo atávico que ainda nos domina inconscientemente.

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