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quinta-feira, 24 de março de 2011

YOGA

Sou um ocidental. Imerso em minha própria cultura, fui doutrinado a buscar resultados, sempre os melhores possíveis, em curto prazo. Fazer o primeiro milhão o quanto antes, atender as exigências do mercado adotando o que há de mais moderno em sua atuação profissional. A família seria a primeira beneficiada pelo êxito financeiro. Uma boa educação para os filhos, uma ótima estrutura, com casa própria e carro na garagem, enaltecendo o lado material do viver.

Esta cultura foi um pouco abalada quando o Japão demonstrou sua força ao ressurgir economicamente após a 2ª Guerra Mundial. Adaptando-se a um novo contexto, soube associar uma das diretrizes da cultura oriental – a disciplina – identificando tal característica como a chave para o enfrentamento pelo acesso aos mercados internacionais perante os países desenvolvidos ocidentais. O sucesso chegou a tal ponto que os japoneses – apenas para citar um exemplo – começaram a comprar negócios no maior mercado do mundo – os EUA – em áreas consideradas ícones da cultura norte-americana – cinema, música, automóveis, até o Rockfeller Center em Nova York.

Quando os Estados Unidos pensaram que tal onda havia passado, com retração da economia japonesa, veio um segundo movimento liderado pelos Tigres Asiáticos. Em parte copiando o modelo japonês que havia sido vitorioso anteriormente, em parte apoiando-se em características próprias – no caso da Coréia do Sul, por exemplo, em conglomerados apoiados abertamente pelo próprio Governo em termos financeiros – mais uma vez a cultura oriental se fazia presente, aproveitando-se de uma contramaré nas fronteiras econômicas ocidentais.

Estabilizado o crescimento estratosférico dos anos 90, se firma com força o Dragão Chinês. O império contra-ataca deixava de ser título de filme de Hollywood para passar a representar a retomada de terreno na dianteira econômica mundial, apoiada em índices de crescimento espantosos, tanto populacional como produtivo, tendo como pilar central a adaptação ao modelo capitalista dentro de uma sociedade oficialmente comunista. O bambu verga, mas não quebra (1), e a China anseia por ser o centro financeiro mundial, papel que em sua ótica já lhe pertenceu no passado e que apenas está voltando ao seu devido lugar. A reboque deste contexto surge o termo BRICs, em que se tenta colocar numa mesma denominação países emergentes como Brasil, Índia, Rússia e China. Definitivamente a cultura oriental não poderia ser mais negligenciada como um fator de sucesso.

Poderiam vocês na altura deste post estar se perguntando: porque será que o Leopoldo deu o título de Yoga para este texto? A minha intenção foi demonstrar que em meio à roda-viva a que fomos acostumados, de intensa disputa por espaço, uma urgência constante em demonstrar o quão melhores somos do que os outros, muitas vezes nos esquecemos o que de melhor a cultura oriental tem a nos ensinar: a tranqüilidade com que eles lidam com os problemas do dia-a-dia. E o yoga é um exemplo disto, ou mais, é uma das ferramentas para isso.

Baseio minha análise após ter lido o livro “Yoga – Sabedoria, Liberdade e Felicidade” – Fátima Miranda – Ed. Mauad – 2005 – 151 págs. Neste percebemos que o mundo caminhou para uma aceleração tal que esquecemo-nos de relaxar e de aproveitar o que de melhor ele nos tem a oferecer. A disputa atingiu ao nível que somos levados a perder tempo fazendo considerações maquiavélicas sobre possíveis estratagemas que estariam sendo arquitetados contra nós, ao invés de fazermos uma avaliação positiva sobre os acontecimentos em nossa vida.

A autora tem o mérito de não forçar o leitor para um determinado caminho. Faz inclusive comparações com a religião católica para demonstrar os pontos em comum entre as filosofias ali inseridas. Jesus, por exemplo, seria um grande yogue, um mestre em seus ensinamentos. A partir daí, fui surpreendido em termos práticos em como as técnicas de postura e relaxamento muito se assemelhavam às que praticava quando tinhas aulas de alongamento. Descobri que o canto típico dos monges – OM – tem um objetivo voltado à concentração e à meditação. Reforcei meu conhecimento sobre a prática da respiração dirigida para o relaxamento – ver post “A Química da Alegria” – Nov/2010. E como todas essas coisas se encaixam no caminhar futuro?

Digo a vocês que quanto melhor pudermos fazer a associação das duas culturas – ocidental e oriental – mais bem sucedidos seremos nos projetos que viermos a abraçar. Relaxar é preciso, e este é um dos principais mantras da obra supracitada. Como fazer isso em meio ao nosso tresloucado dia a dia, somente lendo o livro, o qual recomendo tanto para aqueles que pretendem ter uma porta de entrada para a prática em si como para terem um conhecimento básico sobre a sua filosofia. Porém, lhes digo: o segredo dos orientais é perseverança, flexibilidade e capacidade de adaptação. Assim eles estão dominando o mundo. Será que não temos o que aprender com eles?

Abaixo encontrarão um pequeno trecho do livro. Relaxem e tenham uma boa leitura. Namastê!

“O contentamento, a confiança e a positividade são recomendados para aqueles que desejam seguir este caminho. Saber transformar o negativo em positivo é muito importante. Hoje conhecemos que as pessoas intransigentes, mal-humoradas e negativas ficam com a defesa do organismo mais baixa. As pessoas alegres, bem-humoradas, tolerantes e compreensivas adoecem menos, vivem mais e com melhor qualidade de vida. O yoga ensina isso: sempre tentar enxergar as coisas pelo melhor lado, jamais perder a confiança. [...] Importante é saber analisar com tranqüilidade as situações e vivê-las da melhor maneira possível, tentando resolver os problemas com calma, tentando conversar com quem se convive e que muitas vezes nos afeta, desenvolvendo a paciência e a paz interior. Saber conversar é muito importante. Saber escutar também. Procurar uma solução harmônica, mais ainda” – págs. 67/68.

(1)     O provérbio chinês original fala em árvore, e não em bambu. Esta foi uma pequena adaptação minha. Abaixo, o original, retirado do livro aqui referenciado à pág. 71:
“Ao nascer, o homem é suave e flexível.
Na sua morte é duro e rígido.
Plantas verdes são tenras e úmidas.
Na sua morte são murchas e secas.
Um arco rígido não vence o combate.
Uma árvore que não se curva, quebra.
O duro e o rígido tombarão.
O suave e flexível sobreviverão”.

Um comentário:

  1. Leo, coincidentemente, hoje na fila da exposição do Escher tinha uma mãe jovem, que costumar ir às exposiçōes no CCBB, com sua filha de uns 9 anos. Na boca da entrada para a primeira sala da exposição, o segurança barrou a fila - bem na vez delas - porque estava lotado de estudantes e precisava diminuir o número de pessoas para o conforto de todo mundo. Por algum motivo, ela chiou e o segurança respondeu: "aqui é uma área de lazer, relaxe, aproveite o momento!" Sorri para duas meninas da fila e comentamos que ele estava correto. Na hora H ela perdera o humor por bobagem.
    Seu post é bastante apropriado para nossa reflexão.

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