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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

SIMPLESMENTE COMPLICADO

As chamadas “comédias românticas” por certas vezes ganham um refinamento que nos faz trazer à baila uma série de questionamentos. O filme “Simplesmente Complicado” (2009), estrelado por Meryl Streep, Alec Baldwin e Steve Martin é um desses que nos proporciona momentos de reflexão.

A estória gira em torno do relacionamento de um casal (Streep e Baldwin) divorciado há mais de 10 anos, já com três filhos criados, e que resolvem reatar, mesmo estando o ex-marido casado novamente. Ou seja, a ex-mulher vira amante. Isso, levando-se em conta que a atual esposa foi motivadora da traição que gerou a separação do ex-casal anos atrás, com um filho pequeno gerado numa relação extraconjugal da qual o atual marido tem que dar conta, o quadro não é tão fácil de relatar, não?

Para tentar facilitar a compreensão do contexto vamos analisar a situação considerando-a de duas formas:

·         Complicada

Cada um dos personagens centrais vive um furacão de sentimentos. Cada diálogo poderá pautar sua ação seguinte, cada ação motivada por distintas variáveis. Mas não é assim a vida? Não estamos cercados de inputs que recebemos, gerando outputs a todo momento? E estes outputs serão inputs para outrem? E a roda segue, girando desta forma?

O personagem de Meryl Streep encontra-se num momento singular da vida. Tendo já criado os filhos passa a olhar para si própria como tendo o direito de usufruir tudo aquilo que postergou durante tanto tempo – prazeres individuais como cozinhar por prazer (ela é uma chef dona de uma loja especializada em gostosuras, digamos assim), reformar a casa, curtir novos relacionamentos, tricotar com as amigas, etc.

Mesmo passando por este momento de tranqüilidade, ela vive se questionando. Ora, o ser humano é assim, duvida do seu próprio tirocínio a todo instante, e isto é o que nos diferencia dos demais animais – “penso, logo existo”, já diria o filósofo. Caso contrário, viveríamos agindo baseado em nossos instintos. O problema é que não nos conformamos com nosso próprio raciocínio, e buscamos então conselhos... com outro ser humano! Mas conselho se fosse bom, não se dava, se vendia. Então, faz-se a luz e nasce o terapeuta!

Devo ressaltar que este profissional encontra-se no filme, mas de maneira muito leve, não é o caso de uma presença constante que altera o rumo dos acontecimentos. Que, aliás, esta isenção é a postura típica deste especialista, que tem por premissa nos ajudar a romper determinadas barreiras para que por nós mesmos possamos resolver nossos questionamentos. Novamente, penso, logo existo. Precisamos olhar para o nosso próprio umbigo e nos ver! Complicado, não!?

O engraçado é que até mesmo a postura ideal do psicólogo em dado momento é colocado em xeque no filme, mesmo que seja numa única cena entre Streep e seu psicólogo. Neste ponto, então, chegamos à segunda abordagem:

·         Simples

Vocês imaginam qual tenha sido o aconselhamento dado (ou vendido, dependendo do ponto de vista) pelo psicólogo? Let it flow, darling! É o famoso “deixa a vida me levar” do Zeca Pagodinho. Devemos ou não devemos nos preocupar demasiado com as conseqüências de nossos atos? Estes não são apenas um pequeno grão de areia no imenso universo em que cada um de nós se encontra metido?

Deixar os sentimentos fluírem em sua plenitude nos proporciona uma série de experiências das quais vivemos tentando evitar. E assim não saberemos nunca o que teria ocorrido se tivéssemos utilizado aquela palavra ou frase em determinado momento. Fazer com que as coisas corram um pouco mais soltas pode sim trazer um extremo benefício para a nossa paz de espírito. E talvez esta seja a grande mensagem deste filme – a simplificação da vida, ao reverso do que imaginamos ser um cenário em eterna construção administrado por nós mesmos.

Não temos o controle total nem sequer sobre o que vamos comer pela manhã, quando acordamos – de repente dá uma vontade de comer aquele bolo de chocolate e chutar o balde para com aquela dieta tão duramente seguida, não é!? Então, porque não deixamos a vida nos tocar com suas diversas facetas e a aproveitamos ao máximo? Simples, não? Just live your life and have fun!

Ah, quanto ao filme em si, recomendo. É uma estória leve, divertida, que tem ainda o mérito de ter um Steve Martin vivendo um personagem contido, ao contrário dos normalmente histriônicos que ele abraça. Isto à exceção de uma cena de dança numa festa em que ele deixa, digamos, seus sentimentos fluírem. Mas não é exatamente sobre isto que falamos aqui o tempo todo?

Fonte: http://www.portaldecinema.com.br/Filmes/simplesmente_complicado.htm - acessado em 27 de Fevereiro de 2011

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