Uma pergunta que atormenta a todos que estão iniciando sua trajetória profissional, logo ao saírem da faculdade, é como lidar com a pressão de se manter no emprego, ainda mais se for aquele que sempre foi almejado e que, por seu talento, obtido quando ainda se está em início de carreira. Particularmente sempre achei que a melhor resposta para esta questão é a dedicação esmerada em suas tarefas, que, via de regra, lhe trará um crescimento qualitativo paulatino, na medida em que se adquire maior e mais profundo conhecimento sobre as ferramentas atinentes ao seu trabalho.
Porém, a resposta não é tão simples assim. Na maior parte das vezes estamos inseridos numa competição ferrenha por espaço, o que nos leva em dado momento a nos questionarmos se os princípios os quais sempre acreditamos são realmente válidos para nos tornarmos vitoriosos em meio à luta na selva. Este é o início da derrocada, a meu ver. Por receio ou por uma falta de competência ainda não adquirida nos aferramos a práticas que inibem nossa participação e crescimento profissionais efetivos mediante a exposição ao risco, inerente a cada ato e decisão que tomamos em nossas vidas.
O célebre ditado popular “Manda quem pode, obedece quem tem juízo” espelha a situação acima descrita. O profissional muitas vezes se vê tolhido diante de um superior hierárquico que não necessariamente possui as mesmas qualificações e não tem coragem de expor claramente suas idéias com receio de ser, no mínimo, advertido aos olhos de todos os demais colegas. Na pior das hipóteses, infelizmente fato corriqueiro na iniciativa privada, corre até mesmo o risco de ser demitido. Afirmo: pior para a empresa que referenda tal atitude.
O problema é que em tempos de busca desenfreada por emprego, não se pode condenar aqueles que passam a jogar na defensiva, sem se expor, por adotarem esta atitude. Lamenta-se, mas não se condena. O bom colega, ao observar uma situação como essa, deve ser prestativo e apontar possíveis saídas e oportunidades para que aquele profissional possa crescer. Estaria eu sendo ingênuo ao afirmar isso? Sou sabedor da disputa direta existente por cargos e funções. Mas pense em longo prazo. Se a empresa em que trabalhas for bem sucedida e lucrativa, seu emprego estará garantido e novas oportunidades surgirão. Além disso, ganharás um companheiro tremendamente agradecido pelo apoio que destes.
Talvez, nesse momento, os críticos “realistas” do discurso até aqui por mim apresentado digam: - “Mas e a vaidade humana, meu caro? É, esta mesma que impede que fiquemos alegres em elogiar um amigo? Aquela que gera a inveja e nos imobiliza em tomar uma boa atitude?”. É verdade. Rotineiramente nos vemos enredados por tais sentimentos, e não sabemos em lidar com eles. Ou pior. Escolhemos o caminho mais fácil, que é o de não se envolver. Afinal, o problema não é nosso, não é?
Não é? Mais uma vez lhes digo: falta visão de longo prazo, falta visão sobre que imagem será gerada e deixada não somente para os colegas de trabalho, mas também para aqueles amigos e entes próximos que tanto de admiram. Ou vocês acham que estes passarão a mão em suas cabeças quando observarem que você adotou atitudes vis para subir na carreira?
Outros poderiam dizer: - “Ah, mas você fala isso porque está no serviço público, não tem o que temer. Não pode perder o emprego!”. É fato! A estabilidade é um bem enorme dado ao serviço público e muitas vezes subestimado. Ele foi dado em prol de que o profissional uma vez lá instalado possa atuar da melhor forma possível, consciente dos seus limites enquanto um prestador de serviços ao povo. E uma das principais qualidades geradas por essa característica é liberdade irrestrita de questionar decisões consideradas equivocadas, para o bem da atuação governamental em prol da população que paga seus salários.
Mas o pior é que mesmo em ambientes assim vemos, infelizmente, o quanto a luta pelo poder gera profissionais que mais bem buscam seu próprio benefício, alçar sua imagem a um patamar elevado, em detrimento de valores e princípios éticos de conduta e atuação na busca por um melhor resultado visando o bem da população. Se perdem nos descaminhos mesquinhos da vivência na “repartição”, tal qual séria produzida há alguns anos pela Globo, denominada “Os Aspones”, conhecida corruptela para “assessores de p... nenhuma”.
Estaremos nós um dia livres de tal mazela? Infelizmente penso que não, pois desde que o homem é homem se entende que poderá dobrar o outro pelo meio da força e persuasão. E se compraz com o prazer de fazê-lo sem se preocupar com as conseqüências. Seria isso uma singela definição de “poder absoluto”? Acredito que sim. Porém, lhes digo que se depender de mim o mundo será melhor nesse sentido, pois sempre buscarei respeitar o trinômio ética, bom senso e justiça. O trabalho pautado por estas características sempre será duradouro em longo prazo, não importa o ambiente, se privado ou público, não importa se grande ou pequeno, se com cargo ou sem função. Temos que preservar nossa humanidade, e nada mais importa. Aos demais, lamento, pois estes podem até mandar, mas não têm juízo algum. E os loucos, com o passar do tempo, fenecem.
Senti alguns desabafos...rs..
ResponderExcluirMto bom!
Muito bom, mesmo, Léo!
ResponderExcluirGostei bastante do texto... acho que essa é uma discussão importantíssima, mas a debatemos pouco. Todo mundo fica com receio de expressar sentimentos de descontentamento ou inadaptação, exatamente porque nos convenceram que somos nós os culpados se algo der "errado". O trabalho ainda pauta e SEMPRE pautará muito da nossa vida (não é papo de marxista!!).
ResponderExcluirRecentemente estive relendo um livro que comprei em 2008, "A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Richard Sennet". Em resumo, o autor, com uma linguagem bem acessível para quem não é da área, teoriza sobre possíveis danos que o atual modelo de flexibilidade e curto prazo no trabalho trazem para as relações pessoais.
Além de deteriorar o processo de confiança e lealdade, que, por natureza, são de médio/longo prazo, o atual formato do mundo do trabalho não permitiria a construção de uma narrativa coerente e sustentável de vida, por se pautar exatamente no curto prazo. Como ser flexível e, ao mesmo tempo, manter grandes valores? Entende? É incompatível!
Você mesmo se deu conta essa questão, a partir de sua própria análise, em "(...) Mais uma vez lhes digo: falta visão de longo prazo, falta visão sobre que imagem será gerada e deixada não somente para os colegas de trabalho, mas também para aqueles amigos e entes próximos que tanto de admiram".
Tenho o costume de não me ater ao caráter individual das questões, pois penso que sempre estamos desempenhando papéis sociais. Construímos a nossa história, mas sob condições determinadas antes de nos entendermos por gente.
Infelizmente, acho que insistir em "grandes valores", no atual contexto, é remar contra a maré. É uma opção de vida (tudo virou isso...), com suas consequências positivas e negativas. Há uma ditadura da ascensão profissional, que atropela toda a diversidade de potenciais que podem ser desenvolvidos por nós fora do trabalho. Toda nossa energia deve ser mesmo gasta no trabalho? Sou contra! Isso é reduzir demais nosso potencial. Querem mediocrizar nossa existência. Obs: fiquei revoltado no final...
Uma leitura importante para ser colocada em seu aquário a disposição dos que assim o quiserem.
ResponderExcluirÓtimo texto !!! Gostei tb do comentário do Aumary...
ResponderExcluirGuiddens diz que a identidade é a capacidade do indivíduo de manter uma narrativa biográfica. Em contextos pré-modernos a tradição ocupa espaço prioritário na articulação de referenciais ontológicos e de ação, fornecendo aos indivíduos elementos de organização da vida social. A tradição cria uma sensação de firmeza das coisas que normalmente mistura elementos cognitivos e morais, o mundo é como é porque deve ser. Para Kierkegaard a ansiedade vem da possibilidade de liberdade, característico do mundo moderno com suas bandas largas de escolhas indivíduais, um terreno movediço, maleável e fragmentado. A medida que os valores tradicionais da sociedade que ancoravam a estrutura da identidade foram sendo desconstruídos, a empresa moderna surgiu como o locus privilegiado e sedutor de suporte da identidade dos indivíduos, colocando-se como a solução para os problemas existenciais e como objeto de identificação. Neste sentido, a construção identidade é algo muito importante para o indivíduo para se deixar majoritariamente na mão das corporações.
Em outras palavras... Vai surfar que cura...
Ótimo texto Leopoldo! Para mim, a questão do reconhecimento é das mais delicadas, das que mais me aflige. Por vezes, aquele que tem apenas uma boa aptidão é mais reconhecido e valorizado do que o que tem várias e que, por ser requisitado para muitas coisas, acaba por prejudicar sua trajetória.
ResponderExcluirOutro ponto que me chamou atenção é o do comportamento de chefias. Há chefes que vêem no reconhecimento do bom trabalho de um subordinado um sinal de fraqueza e de prestígio desnecessário a um eventual competidor. Pensar assim é pensar pequeno ou nem pensar.
Parabéns pelo texto!
Leo, confesso q estava com saudades de textos mais "duros": amei! E, dessa vez (ao contrário do UFC....)concordo com Amaury: para não nos confrontarmos com esses dilemas, tendemos a não discuti-los e, no nosso caso especialmente, se acomodar na estabilidade. E, para mim, o mais angustiante é que a discordância e o debate se tornam sinônimo de conflito e, me parece, q a tendência é ver isso como algo negativo: daí, para vivermos em harmonia com a equipe, vamos entubando literalmente... perdemos nós e a instituição/empresa. Como vc disse: "É o início da derrocada".
ResponderExcluirAcho, mesmo, que nos inquietamos pouco e, talvez nesse ponto, discorde um pouco do Amaury: isso é pessoal sim, na medida em que é a nossa atitude q pode/deve mudar o cenário. Entendo os papéis sociais e as circunstâncias históricas, etc, mas corremos o risco de tirar uma responsabilidade que, a meu ver, é nossa!
Leo, obrigada pelo texto!
*Bom, esse papo deveria continuar pessoalmente, com Cassibi, quem sabe...!
**Amaury: q isso? Viva o Marxismo!!rs
Rachel, nossa atitude pode não dar em nada (no sentido de repercutir no coletivo). Isso, entretanto, não a invalida. Podemos tomá-las como um meio de estar em paz com nossa consciência, por exemplo, ou por qualquer outra finalidade individual... e, como falei, mesmo assim, se prepare para as consequências.
ResponderExcluirO que muda o coletivo são movimentos coletivos. Na atual conjuntura, poucos estão dispostos a isso. Tudo é orientado por e para o mercado. Estamos em constante risco de exclusão. A correria de todos é muito mais para não ser excluído do que para se sentir incluído.
Muito bom o texto! E os comentários também! Aprendi várias coisas. O mais difícil é assimilar tudo e traduzir em uma postura melhor. Abraço em todos.
ResponderExcluirFantásticos os posts. Eles são tão relevantes quanto o texto propriamente dito. Vou até compartilhar na minha página do facebook.
ResponderExcluirPrezados, primeiramente o meu agradecimento a todos pelos comentários. Eles enriquecem o blog tremendamente. Sem eles tudo parece mais árido, sem perspectiva. Gerar impacto e discussão, "o pensar" enfim, é um dos fatores motivadores de um instrumento como este.
ResponderExcluirFeitas as devidas loas, portanto, coloco as minhas conclusões particulares sobre o que foi dito acima:
(1) O ser humano é complexo, isso é fato. Múltiplas são suas variáveis motivadoras das ações e é muito difícil condenar A, B ou C porque tomou determinadas atitudes;
(2) O que não deve nos impedir de sermos forças motrizes de mudanças na sociedade, pelo menos aqueles que têm por ambição construir uma comunidade melhor, e não apenas olhar para o próprio umbigo!
Traduzo dessa forma o sentido de coletividade x individualidade: nós, como indivíduos, somos os agentes de mudança. Poucos têm o perfil de liderança necessário para mover as massas. Mas mesmos estes têm que fazer uma opção individual antes de tomar quaisquer atitudes, do tipo "eu sou aquele que pode fazer as coisas funcionarem. E se eu posso ter o apoio dos demais, por que não!?". Ah, Carlos Maurício, atenção, pois eu disse "liderança" e não "chefia", ok!?
Mas isso é o que eu penso, são as minhas conclusões, como eu disse acima. Que cada um tire as suas e vá surfar de vez em quando, como bem sugerido pelo Wander.
Verdade Leopoldo...acho que a questão é que nem todos os chefes são líderes, na realidade poucos conseguem ser líderes ao invés de apenas "chefes".
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