Quantas histórias guardamos de nossa infância? As amizades construídas, as traquinagens de criança, os lanches, a não-preocupação constante, tudo isso mais tarde que demonstra-se ser o que nos dá a base para seguir em frente.
O personagem principal de “Le Petit Nicolas”, de René Goscinny e Jean-Jacques Sempé – Ed. Folio Jr – 168 págs. – 2007 – serve justamente para que rememoremos a graça daquela época com um humor tipicamente francês. O pequeno Nicolas gerou uma série de estórias desde 1959 quando foi criado pela dupla acima citada. Goscinny, que juntamente com Uderzo criou também o famoso Asterix (além de Lucky Luke), veio a falecer ao final de 1977, o que impediu a continuidade desta criação (1).
Eu tive o primeiro contato com o universo de Nicolas enquanto estudava na Aliança Francesa, entre 2007-2010. Havia uma estória colada na parede da sala, porém como não tinha vocabulário o suficiente, ou pela correria do dia-a-dia e dos afazeres do próprio curso, nunca tive tempo para lê-la toda. Essa curiosidade ficou, e terminado o curso, no ímpeto de me manter em contato com o idioma, resolvi comprar o livro.
Para vocês terem uma idéia da criatividade dos autores, os “esquetes”, podemos assim dizer, giram em torno de situações normalíssimas. Isso por si só denota a capacidade de criação dos mesmos, que devem buscar a comicidade em cada um dos atos. Depois que os lemos, damo-nos conta de que vivemos situações similares hilárias de igual maneira em nossas vidas como crianças.
No livro em questão temos os seguintes cenários: o dia em que se tira a foto da turma no colégio; uma brincadeira de cowboy e índios; o dia em que o monitor do recreio substituiu a professora; o jogo de futebol no terreno baldio; a visita do inspetor ao colégio; o dia em que Nicolas tentou levar um cão para casa; o aluno estrangeiro que entrou na turma no meio do ano; a tentativa de dar um presente para mãe; ficar doente em casa e faltar a aula; o recreio em si; etc...
Em meio a estas situações, temos uma série de personagens típicos, além do próprio Nicolas – Agnan, o cdf da turma e “le chouchou de la maîtresse”, o qual não podia ser atingido no rosto por usar óculos; Geoffrey, o filhinho de papai – “Geoffrey a un papa três riche qui lui achète tous les jouets qu’il veut”; Alceste, o gordinho que come todo o tempo; entre outros.
Tais estórias alcançaram tanto sucesso que foram objeto de uma adaptação cinematográfica no ano de 2009. Nesta ocasião “[...] Nicolas (Maxime Godard) é um garoto muito amado pelos pais, que leva uma vida tranquila. Até o dia em ouve uma conversa entre seus pais, que o faz achar que a mãe está grávida. Nicolas entra em desespero e já pensa no pior: ao nascer um irmão, eles deixarão de lhe dar atenção. Para escapar de seu terrível destino, o menino faz campanha para mostrar a seus pais o quanto é indispensável e, por tentar agradá-los demais, acaba cometendo vários tropeços o que faz com eles fiquem enfurecidos com Nicolas. Desesperado, ele muda de tática e, com seus amigos desastrados, bola diversos planos para achar uma solução para seu problema” (2).
Interessante notar que algumas das cenas do filme foram justamente retiradas do livro ao qual tive acesso. O roteiro foi adaptado a partir das distintas estórias, tendo como linha central o tema acima apontado. Ou seja, recomendo o filme, mas antes a leitura do livro, que sempre aguça o desejo de resgatar a criança que temos em cada um de nós.