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segunda-feira, 21 de maio de 2012

O IMPÉRIO CONTRA-ATACA

Já faz alguns anos que o técnico Bernardinho aceitou o desafio de trocar o comando da seleção feminina de voleibol para ficar a frente da seleção masculina. Naquele momento era situação repleta de incertezas, uma vez que ele vinha de um trabalho de excelente nível, levando o Brasil a conquistar duas medalhas de bronze em Olimpíadas, além de algumas conquistas em Grand Prix. Porém se almejava algo mais. E parecia que a geração de Fernanda Venturini, Márcia Fú e Ana Moser não supririam o nível imaginado. Pelo menos não com a metodologia que então estava sendo aplicada.

Por outro lado, na seleção masculina havia o diagnóstico de que após o ouro olímpico de Barcelona (92) aquele grupo havia perdido o rumo, tendo como único sucesso relevante posterior a conquista de uma Liga Mundial em 1993. Ou seja, vínhamos, em ambos os casos, de uma década de relativo êxito, mas o século XXI se avizinhava, e havia a sensação de que o vôlei brasileiro poderia alçar vôos mais altos.

Desta forma, com a assunção de Zé Roberto Guimarães no feminino e Bernardinho no masculino se iniciava uma nova era. Passamos a viver os tempos dourados do esporte, com inúmeras conquistas – ouros olímpicos, campeonatos mundiais (no masculino), além de diversas Ligas Mundiais e Grand Prix. Passava a ser desenhado um predomínio verde-amarelo no jogo de seis contra seis, com uma rede levantada no meio.

Italianos, russos e norte-americanos, entre outras potências as quais víamos como fora de nosso alcance (não podemos nos esquecer de citar Cuba, principalmente no feminino), passaram a invejar não somente os nossos jogadores como também nossa organização fora de quadra. Mas havia um plano sendo arquitetado. Uma tentativa de retorno a tempos passados que podem até ter sido devidamente camuflados, mas que não passaram despercebidos pelo menos aos meus olhos.

O ícone maior de Bernardinho era a geração dourada norte-americana de Karch Kiraly, maior jogador de todos os tempos. A seleção americana havia sido bicampeã olímpica e campeã mundial entre os anos de 84 e 88. Hoje somos tricampeões mundiais – igualando a poderosa Itália de Zorzi – e temos dois campeonatos olímpicos, porém não seguidos. Esse era o nosso indicador de sucesso, e assim o buscamos incessantemente e os ultrapassamos.

A Itália, perdida em meio ao seu modelo de um campeonato nacional forte, porém recheado de estrangeiros, não conseguiu até hoje retomar um nível de excelência e supremacia que tinha no passado. Mas os mestres da estratégia e organização atendem pelo nome de Estados Unidos da América. E o seu retorno ao topo do pódio já está bem traçado, tendo já alcançado alguns frutos.

Sob o comando do neo-zelandês Hugh McCutcheon os EUA iniciou o seu contra-ataque. A estratégia norte-americana está baseada na sua já reconhecida organização e, mais do que isso, em beber na fonte pela qual vinha sendo sobrepujada. Ou vocês acham que é mera coincidência que nos últimos anos a nossa Superliga tem convivido com a presença de jogadores das seleções masculina e feminina de voleibol dos Estados Unidos?

Isso mesmo: além de melhorarem a metodologia interna de treinamento e darem o devido incentivo individual para que cada jogador viesse buscar atuar junto dos expoentes da nação que estava dominando o panorama mundial, existia ainda a possibilidade inerente a se ter acesso a novas táticas e a identificar os possíveis futuros adversários.

Fato é que desde que o Sr. McCutcheon surgiu no palco, temos sofrido alguns reveses. Primeiro no masculino, com a derrota na última Olimpíada, em Pequim. E no feminino, com os EUA ganhando a Liga Mundial e trazendo sua seleção feminina para um patamar do qual estava distante já havia algum tempo. E sempre está lá, o carequinha que fala inglês, o Sr. Mc sei lá o quê. Vocês tem dúvida de que ele se encontra motivado pessoalmente a igualar o feito do Zé Roberto, qual seja, ser medalha de ouro no masculino e no feminino? E vocês têm dúvida de que cada vez mais, pelo menos enquanto eles acharem necessário, os atletas americanos estarão por aqui?

Não defendo um fechamento de fronteiras, longe disso. Nos beneficiamos também com a presença dos americanos em nossos campeonatos, com maior visibilidade, mais patrocinadores, e um intercâmbio internacional que é tremendamente salutar. Não devemos cometer o mesmo erro de Cuba, por exemplo, com o fechamento das fronteiras esportivas. Mas devemos sim ter a noção de que o Império acordou. E seus súditos estão entre nós para colher vitórias contra nós. Se liguem!

2 comentários:

  1. A seleção brasileira masculina penou este final de semana. Ganhou, ontem, porque... sei lá. Mas, é a tal estória: somos a seleção a ser batida há muitos anos. Se não dermos alguns passos à frente, seremos atropelados.

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  2. Lúcia, o Bernardinho sempre disse: "Somos os melhores? Ganhamos por diferenças de 2 pontos, diferenças mínimas... Ou seja, a diferença entre sermos os melhores e apenas o segundo colocado são apenas 2 pontos". Essas são minhas palavras a partir de diversas declarações dele. E acredito firmemente serem verdadeiras. Um movimento mínimo, ou "os passos", conforme seu raciocínio, poderão fazer com que voltemos ao prumo. De todo modo, derrotas deixam cicatrizes que no final sempre são válidas para um objetivo maior.

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