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segunda-feira, 7 de maio de 2012

CONTRASTES

Duas competições, nomes idênticos, porém objetivos distintos. Distintos não apenas em sua materialidade, ou seja, no que realmente buscavam, mas em sentimentos e dedicação também. Estamos falando da Copa América de Futebol e da Copa América de Basquetebol Masculino, em 2011.

Enquanto na primeira tivemos o auge de uma etapa inicial de trabalho, envolvendo jogadores profissionais que possuem uma remuneração considerável dentro do universo em que habitam, na segunda também encontramos jogadores profissionais, mas o nível de rendimento financeiro está longe do alcançado nos centros mais desenvolvidos, em especial nos Estados Unidos (1).

É claro que estamos generalizando para melhor compor a idéia que vamos expor a seguir. Existe uma forte corrente entre a população que advoga que a questão financeira é a preponderante para estabelecer o estímulo e dedicação dos profissionais do esporte a uma determinada meta a ser atingida. Creio, porém, que esta não é o caminho para melhor compreender os fatos. As variáveis são múltiplas. Vamos olhar caso a caso.

A equipe de futebol, dirigida pelo técnico Mano Menezes, durante a Copa América, atingia 1 ano de trabalho. Todos os especialistas estavam com uma grande expectativa em torno do resultado, e mais, em torno do desempenho do time, na esperança de já vislumbrar um “esqueleto” de esquema tático que trouxesse os primeiros fios de esperança em relação à Copa 2014, que será disputada no Brasil. Não foi assim.

Mano iniciou seu trabalho pregando a filosofia da renovação. Para tanto, prospectou de maneira igualitária, em solo brasileiro e na Europa, os melhores jogadores que se enquadrassem nesse perfil. Como estrelas da companhia, dois destaques do Santos – Neymar e Ganso. Mas ficou claro que a equipe carecia de outros expoentes que pudessem equilibrar responsabilidades, aliviando a carga de quem estava entrando – ou mesmo dos veteranos que nunca se viram na responsabilidade de decidir (2). Talvez, caso haja o retorno à boa forma, de maneira contínua, de um quarteto já conhecido, tenhamos um grupo mais equilibrado e com capacidade de enfrentar a pressão que virá. Estou falando de Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Luis Fabiano e Adriano. Vocês podem perceber, portanto, o quanto é grave a crise.

Já a Copa América de Basquetebol Masculino pode e deve ser entendida como o primeiro de dois picos num trabalho sério – como há muito tempo não víamos estruturado da maneira como está – voltado para resgatar a posição da seleção brasileira no cenário mundial. Mais do que isso, para trazer de volta ao patamar que já teve no passado em termos de gosto do público todo o basquete brasileiro.

Para tanto trouxemos um técnico campeão olímpico – Rúben Magnano – para treinar um time ansioso por fazer história. Desde as Olímpiadas de Atlanta (1996) que o basquete masculino não participava dos Jogos. Com um discurso firme, pautado por seu currículo vencedor, o técnico argentino soube como cooptar a atenção e dedicação de um grupo que, num olhar distante, poderia se ver fragilizado pela ausência de alguns.

Magnano dirigindo a seleção brasileira de basquete

Mas ao contrário, a garra e a vontade de dar a volta por cima foram maiores que quaisquer adversidades. Isso, associado a uma nova mentalidade tática, em que a defesa se tornou prioridade para se buscar os resultados pretendidos, fora a serenidade diante de um ligeiro momento de instabilidade na primeira fase – derrota para a República Dominicana – fizeram com que os rapazes nos surpreendessem com atuações soberbas, em especial nas três partidas que eram realmente decisivas – diante de Argentina, Porto Rico e novamente República Dominicana.

Chego à conclusão de que, enquanto o futebol em termos estruturais, no que tange à seleção brasileira, enfrenta o dilema de atender demandas por resultados imediatos, ainda numa etapa de construção. Sua cultura típica, porém, pode atrapalhar todo um projeto. Já o basquete vem pouco a pouco construindo um novo mundo. Melhor, não tão novo assim, mas o retorno a um sentimento que já tivemos no passado de estar entre os melhores. Num, temos a certeza de que somos e nos angustiamos porque os resultados não vêm a toda hora. Noutro, temos a possibilidade de nos reconstruir, vivenciando mais uma pressão interna, dos profissionais ali envolvidos – e não do público – por tempos melhores. Ou seja, as comparações são salutares, desde que colocadas as coisas nos seus devidos lugares.

(1)    Um ponto interessante é que os jogadores de basquete profissional dos Estados Unidos fizeram um locaute, ou seja, uma greve entre duas associações, no caso em relação ao grupo que gerencia sua principal liga, National Basketball Association (NBA), por conta de impedir o avanço da estipulação de um teto salarial. Para mais detalhes sobre a NBA ver www.nba.com .
(2)    Não digo isto para “aliviar a barra” do André Santos (Arsenal), que na minha opinião, tanto quanto o Fred, do Fluminense, foram mal convocados naquela ocasião. Não eram os melhores na sua posição naquele momento. Minha preocupação está com o ícone dos pênaltis perdidos, Elano, jogador de dedicação extrema e que havia sido um dos destaques do Brasil na Copa de 2010, mesmo atuando numa posição de coadjuvante!

4 comentários:

  1. Leopoldo, sobre o quarteto que mencionou, considero o Ronaldinho Gaúcho e o Adriano "favas contadas". Tenho ainda esperanças de que o Kaká e Luis Fabiano possam ser úteis. Quanto aos atuais momentos das seleções de basquete e futebol, acho que o fato de pessoas como Hortência, Janeth e Oscar terem se disponibilizado a trabalhar junto com a CBB (ou na própria) agregou muito em termos de sentimento e profissionalismo, processo que só ganhou mais impulso com a vinda do Magnano. Já o futebol..infelizmente, cada vez mais me convenço de que o fato de sediar a Copa está sendo mais um fardo do que uma benesse para o Brasil. Fora os problemas administrativos e políticos que a CBF atravessa, o ambiente de pressão em torno dos jogadores não está sendo bem administrado e já se faz sentir. Finalmente, a prematura aposentadoria "de fato" de jogadores como Adriano criou um limbo entre duas gerações e a transição ficou muito prejudicada. Tudo isso, sem contar a precariedade de nossos técnicos que precisam se reciclar. Pelo menos, a despeito das resistências, tivemos a inteligência e humildade de chamar um grande técnico estrangeiro para dar um ar de renovação. Sei que no futebol isto seria bem mais complicado, mas só o fato de Guardiola ter sido cotado para a seleção já revela que o que mais preocupa os brasileiros é resgatar nossa cultura e amor pelo jogo.

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  2. Leia-se "Pelo menos, no basquete, a despeito das resistências.."

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    1. Volto a dizer: para trazer um técnico estrangeiro para a seleção, tinha que ser o Mourinho. Não acredito que o Guardiola aguentasse ficar sem uma estrutura próxima a da que tinha com Barcelona - creio mesmo que ele é mais técnico de clube que de seleção. Agora o Mourinho, por ter uma mega-ambição, acredito que aceitaria o desafio e o levaria até o final.

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  3. Também acho que o Guardiola não se adaptaria Leopoldo, talvez só depois de um "estágio" em algum clube grande do Brasil. Mas acho que o fato de ter sido cotadó é reflexo do brasileiro se sentir saudoso do futebol bem jogado, de valor à posse de bola, o que sempre foi nosso grande trunfo. Isso é um bom sinal.

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