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quinta-feira, 3 de maio de 2012

GOOGLED

Quando eu era pequeno ouvi falar pela primeira vez de um dito popular que dizia: toda família deve ter um advogado, um contador e um médico. Claro, por trás disso havia basicamente dois preceitos – eram carreiras respeitáveis numa sociedade então com outros valores em mente; e eram profissões muito úteis para emergências familiares.

No que diz respeito ao segundo aspecto por mim citado – o das emergências – o dito continua válido. Porém, o vínculo com a respeitabilidade de uma carreira profissional futura bem sucedida se viu abalado quando entramos na chamada era do conhecimento. A engenharia, nesta nova época de tecnologias avassaladoras e destruidoras de mercados, assumiu o posto da mais alta relevância em termos de perspectivas de ganhos, não somente em termos de visibilidade como também em termos financeiros.

Este é um dos pontos – porém não o mais relevante, a bem dizer – na obra “Googled – a história da maior empresa do mundo virtual – e como sua ascensão afeta as empresas do mundo real” – Ken Aulleta – 2011 – Ed. Agir, Rio de Janeiro – 508 págs.. Nunca um subtítulo espelhou tão bem o principal objetivo do autor.

Aulleta, jornalista por formação, de posse de um grande trabalho de pesquisa em torno da trajetória do Google (https://www.google.com.br/intl/pt-BR/about/) soube como ninguém identificar as implicações do desenvolvimento desta empresa do Vale do Silício e seu impacto sobre o nosso dia-a-dia.

Poderíamos dividir o livro em duas partes: na primeira, o enaltecimento da cultura da engenharia como o meio para a solução dos problemas da sociedade moderna é trabalhada como o instrumento motivador para que os fundadores, Larry Sage e Sergey Brin, levassem adiante sua idéia de um superbuscador. Dessa forma foi construído o perfil de um engenheiro típico, com suas inúmeras perguntas, seus “Por que...??” (ver trecho transcrito abaixo) e como cada desafio representava um novo salto na procura por uma solução otimizada para um problema. Para mim, em particular, que atuo numa empresa repleta de engenheiros, foi de grande valia a obra para entender sua alma inquieta e por vezes demasiado ansiosa.

A segunda parte do livro é mais voltada para os jornalistas. Seria, talvez, uma dívida a qual Aulleta tinha para consigo mesmo. Seria muito difícil que ele não desviasse o olhar para os seus pares, ou até mesmo para os principais dirigentes da mídia tradicional, via o impacto da ascensão do Google e de seu modelo de negócio sobre o mercado de notícias. Tal caminhada passa pelos grandes dilemas que empresa enfrentou, no seu relacionamento com o Governo Norte-Americano em função dos Direitos Autorais e defesa da concorrência – em função de possíveis fusões com empresas do mesmo ramo ou de áreas correlatas – até às questões empresariais em si, ou seja, a mudança de visão sobre os rumos da mídia e seu contato com o anseio dos usuários.

O grande mérito da obra é de ter sido construída sobre uma escrita de fácil leitura. Sem dúvida a formação de jornalista de Aulleta auxiliou neste aspecto, conhecedor que ele é do domínio das letras para o público comum. Dessa forma recomendo este trabalho, o qual considero de grande valor não somente para os profissionais enquadrados nas categorias acima citadas, mas também para todos aqueles que gostam de entender como nosso mundo evolui, e para que direção. Assim, não ficamos defasados em seu entendimento e teremos maior capacidade de diálogo com as gerações futuras, essas muitas vezes mais ligadas nos resultados alcançados, do que no caminho trilhado.

“O Google é administrado por engenheiros, e engenheiros são pessoas que perguntam o porquê das coisas: Por que precisamos fazer as coisas do modo como elas sempre foram feitas? Por que todos os livros já publicados não podem ser digitalizados? Por que não podemos ler qualquer jornal ou revista na internet? Por que não podemos ter televisão de graça em nossos computadores? [...] Os líderes do Google não são homens de negócios frios; são engenheiros frios – cientistas sempre em busca de novas respostas. Eles procuram um constructo, uma fórmula, um algoritmo que possa ser demonstrado ao mesmo tempo por meio de gráficos e preveja comportamentos. Ingenuamente, acreditam que a maior parte dos mistérios, inclusive os do comportamento humano, pode ser desvendada apenas com dados” (págs. 10-11).

OBS.: O pósfácio de autoria de Pedro Doria é muito interessante no sentido de termos uma noção atualizada de como as grandes batalhas ali traçadas pelo Google evoluíram desde a edição do livro.

5 comentários:

  1. Taí uma boa dica, deve valer cada página. Não apenas as empresas, mas parece que o mundo todo está ao alcance dos tentáculos do Google e, cada vez mais, do Facebook.

    Como curiosidade, busquei no Google por "Googled" e "Ken Auletta", logo apareceu uma entrevista intitulada "10 things Google has taught us", mais uma amostra da era da informação instantânea, disponível e, bênção ou maldição, superficial.

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    1. Cadu, de seu comentário o que me preocupou mesmo foi a expressão "Taí uma boa dica..." - rs. Mas não vou desistir de te importunar com minhas opiniões de vez em quando!

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    2. Rsrsrs, assumo a culpa pela interpretação distinta do que imaginei e revelo desnecessária sua preocupação, visto que teria me expressado adequadamente com um "Taí mais uma boa dica" e não com um "Enfim uma boa dica".

      Abs

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  2. Apesar do avanço da era da informação ter representado, para muitos, a desqualificação da qualidade literária e substantiva das notícias e dos eventos mundiais, creio que os benefícios do agigantamento das mídias digitais tenderão a superar os problemas. Aos poucos, as pessoas aprenderão a elaborar com cada vez com mais conhecimento os seus filtros e os indíviduos e movimentos sociais desempenharão a importante função de se apresentarem como os "freios e contrapesos" no universo digital, para torná-lo menos tendente aos oligopólios corporativos.

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    1. A roda gira, e a sociedade avança, Carlos Maurício, algumas vezes por linhas tortas. Cabe a cada um de nós zelar para que em nosso pequeno núcleo de convivência os efeitos maléficos - existem em todo o tipo de contexto, digital ou não - sejam minorados. A era digital, a meu ver, é apenas + uma nova etapa da evolução da humanidade, como o foram tantas outras.

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