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quinta-feira, 17 de maio de 2012

PHILIP K. DICK

Recentemente li a coluna publicada em um periódico eletrônico interno do meu trabalho em que um colega – Cristóvam, minhas loas! – relata seu estranhamento e, ao mesmo tempo, deslumbramento para com a narrativa presente no filme “Agentes do Destino” (2011) - http://www.adorocinema.com/filmes/filme-144404/ . Este filme é mais um daqueles que lida com um provável futuro, no qual identificamos estranhos desdobramentos, em função de um controle externo. Complicado, não!? Vou tentar facilitar.

O que temos em comum entre Blade Runner (1982), Minority Report (2002) e Total Recall (O Vingador do Futuro [i]) (1990), apenas para citar os mais conhecidos, e o filme acima citado, cujo título original é “The Adjustment Bureau”? Philip K. Dick é a resposta!

Autor de ficção científica norte-americano, que morreu precocemente aos 53 anos, em 1982, Philip K. Dick tem sido o responsável, por intermédio de suas obras, por ser uma das maiores influências cinematográficas na desde as últimas décadas do século passado, até estes primeiros anos do novo milênio [ii].

Isso não se dá por acaso. Sua obra caracteriza-se por questionar o desenvolvimento dos parâmetros de convivência em sociedade por conta dos requisitos que pouco a pouco a humanidade vem se auto-impondo com o passar dos tempos. Controles externos cada vez mais extremados, sendo a representação máxima desta alegoria a interface que temos via redes sociais, para citar apenas um exemplo, acabam por representar a velocidade em que vamos nos inserindo numa cadeia global de circulação de informações. Será que em algum momento vamos nos perguntar se é necessário um agente externo para produzir alguma ordem no caos e no grau de acessibilidade que nos predispomos em favor de uma interação cada vez maior? É o fantasma do Big Brother se tornando realidade sem sentirmos.

Em “Agentes do Destino”, o filme supracitado, estrelado por Matt Damon – astro da trilogia Bourne – a fantasia de Dick indica a existência de um Escritório (o Bureau, do título original em Inglês) que mantém os acontecimentos ocorridos com cada um – pelo menos os mais relevantes – dentro do chamado Plano estabelecido pelo Presidente. Porém, quando algo sai errado, o Bureau tem que entrar em ação para corrigir (Adjustment), colocando a história de volta para o “destino” que havia sido traçado “externamente”, anteriormente.

Existe uma brecha no filme para que este Plano seja “retraçado”, digamos. Observa-se ainda o fato do Presidente – nunca visto – ter deliberado, em dados momentos da História, para que a Humanidade se autorregulasse, sem sucesso, no entanto. Loucura ou uma representação válida das maiores crenças por um Deus controlador e o poder do Livre Arbítrio? Poderia o amor alterar os rumos da vida de cada um? Essas são respostas que ficam para serem dadas individualmente. Generalismos são perigosos. Mas a principal função de Dick, neste caso, é trazer à baila tais temas para serem discutidos. Pelo suas estórias, que geraram tantos filmes de sucesso – de linhas muito próximas no que diz respeito à discussão sobre os nossos parâmetros de vida em sociedade – acreditamos que ele tenha alcançado seu intento.

[i] A mesma obra de Philip K. Dick que deu origem a este filme estrelado por Arnold Schwarzenegger em 1990 – “We Can Remember It For You Wholesale” (Nós podemos lembrar isso para você, atacadista [tradução livre]) http://www.imdb.com/title/tt0100802/ – serviu de inspiração para uma nova adaptação para o cinema, desta feita com Colin Farrell, neste ano de 2012 - http://www.imdb.com/title/tt1386703/ ;

[ii] De acordo com o seu site oficial - http://www.philipkdick.com/aa_biography.html - “(...) That's an average of roughly one movie every three years since Dick's passing - a rate of cinematic adaptation exceeded only by Stephen King. And there are other big-money film options currently held by Hollywood studios”;

[iii] Tenho um único livro de Philip K. Dick em minha biblioteca. Trata-se do “O Homem do Castelo Alto” – Ed. Brasiliense – 2ª Edição (1987) – 269 págs. Neste livro o autor elabora “um desconcertante conflito de verdades, (narrando) a história da Terra sob a hegemonia nazista, sob o jugo de um império tecnologicamente superdesenvolvido e racista. Mas há alguém que vislumbra um universo paralelo, onde os vencedores foram os aliados...”. O livro foi publicado originalmente em 1962, o que não deixa de ser emblemático, por conta de ser no início de uma época marcada pela Guerra do Vietnã, ainda não totalmente alheia ao discurso propagandista herdado da 2ª Guerra Mundial.

2 comentários:

  1. Gosto muito do pouco que conheço da obra de Philip K. Dick, já que o único livro que li foi "Do Androids Dream of Electric Sheep?", que inspirou Blade Runner.

    Acho Minority Report um filme espetacular e profético, tanto pela sofisticação das drogas como pelo fim da privacidade, que o diga a publicidade personalizada com base na leitura da íris. A semelhança com os virtualmente onipresentes Google e Facebook é evidente.

    Já com O Vingador do Futuro minha ligação é mais afetiva, assisti várias vezes mesmo com suas falhas e seu clima irresistivelmente "trash". Não sabia que o título original era esse, talvez uma tradução mais próxima ao enredo do filme seria "Nós podemos lembrar isto para você por atacado".

    E sem dúvida vou atrás deste "Agentes do Destino". Philip K. Dick é ficção de primeira!

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    1. Putz, Cadu, com certeza sua tradução foi melhor que a minha. Many thanks!

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