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segunda-feira, 5 de março de 2012

CASA COMIGO?

O que uma pergunta singela como esta representa? Na verdade, de todas as perguntas a ser feita pelo ser humano, esta é uma das mais complexas. O ser humano por si só já é bem complexo. Imagine então quando um convida o outro para juntar suas complexidades e trilhar um caminho em comum. Uma infinita gama de variáveis se soma a partir daí, levando a múltiplas possibilidades, concertos e soluções nunca antes planejados quando um dos futuros companheiros vivia isolado em meio aos seus dilemas individuais.

De toda forma, algo leva a um indivíduo fazer essa proposta. A resposta mais simples é o amor. Na verdade é a melhor das respostas, em que pese, ao analisarmos friamente – se é que isso é possível quando se fala de sentimento – sabermos não ser a única resposta. Coragem é outro atributo que se deve associar a esta ousadia, pois o casamento trata-se de um mergulho fundo num mundo desconhecido. E enfrentar o inóspito é ainda muito difícil para o ser humano em geral.

O atrevimento de seguir adiante se dá impulsionado pelo desejo e pela paixão gerados no relacionamento entre o casal. Nada poderá parar o trem que vai a toda num trilho que se pensa construir como uma linha reta para a felicidade. Porém para chegar nesta estação teremos que passar por inúmeras montanhas, túneis escuros, sempre na esperança de alcançar o outro lado sem perder nenhum passageiro no meio do caminho.

A sociedade moderna pouco a pouco vai construindo atalhos para evitar as intempéries desta jornada. Hoje em dia é muito comum os casais buscarem o chamado “test-drive”, ou seja, a convivência sob o mesmo teto mesmo sem ter um compromisso firmado. O objetivo é ver como cada um se adapta à nova rotina e se essa não se torna massacrante em torno das metas comuns do casal e também em relação às ambições individuais de cada um, que já existiam anteriormente ao casamento.

Um filme que trata tal possibilidade de maneira alegórica, e que aponta para o triunfo do sentimento sobre a razão é a produção americana-irlandesa “Casa Comigo?” (2010), dirigida por Anand Tucker. Película de tom leve, como é praxe nas comédias românticas, se vale do humor irônico irlandês para sustentar a trama em torno da jovem Anna Brady, interpretada pela atriz Amy Adams, que está convicta de que será convidada a se casar pelo seu noivo. Surpreendida num primeiro momento com o adiamento imprevisto de tal ocasião, ela vai atrás do pretendente que tem como profissão cardiologista e que tinha viajado à Irlanda – Dublin mais precisamente – para um congresso médico. Porém, no meio do caminho tinha um irlandês – Declan, numa atuação no tom exato necessário do ator Mathew Goode – que com a intenção de ajudá-la a chegar à capital irlandesa – criando a oportunidade para o tal “test-drive” acima mencionado - se vê entretido em outros “objetivos” inesperados, digamos.



A alegoria por mim citada está exatamente no fato de que as terras irlandesas, com suas inúmeras curvas, apresentam-se como o cenário ideal para o ir e vir complexo de mentes e corações envoltos em sua jornada que, a seguir o caminho natural, teria como fim o casamento planejado pela personagem principal. O próprio jeito de ser irlandês é um personagem à parte do filme, com tipos caracterizados de tal forma que fazem com que tenhamos a impressão que este país dos duendes foi feito mesmo para confundir, e não para simplificar. Seriam quase como os portugueses anglo-saxões, que em relação aos brasileiros possuem sua lógica distinta bem peculiar.

No fim, o espectador faz suas reflexões, tentando identificar se teria agido da mesma forma que a personagem principal. Uma mensagem que está exposta no entremear dos diálogos é a de que devemos valorizar devidamente aquilo que temos ao alcance da mão. Muitas vezes os valores materiais acabam se sobrepondo numa relação de tal maneira que não percebemos como os sentimentos são o verdadeiro cimento que mantém unidos aqueles que possuem um amor genuíno, sem a ânsia da posse ou das cobranças contínuas. Portanto, o dinheiro pode bem ajudar, mas não é o componente essencial da química ambicionada pelos alquimistas da paixão. Agora, lhes consulto: a pergunta “Casa Comigo?” ficou mais fácil de ser respondida? Longe disso, mas quem disse que eu estava aqui para facilitar as coisas...

Fonte: http://interfilmes.com/filme_v5_23024_Casa.Comigo..html#Imagens – acessada em 09 de Abril de 2011.

2 comentários:

  1. Vi esse filme algumas vezes e sempre me divirto. Aquele chefe da estação de trem é impagável. As imagens belíssimas. As situações, invejáveis.
    O cinema tem a capacidade de condensar em duas horas o que na nossa vida levam meses, anos. O resultado é a possibilidade de visualizar a transformação do ser humano a partir das situações que vivencia.
    Quem dera que pudéssemos ver a vida como um filme e não essa camera lenta angustiante.

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  2. Não conseguimos ser os editores de nossas vidas; se pudesse, cortaria um bocado de "tomadas", retomaria umas tantas cenas, mudaria os protagonistas em outras e usaria efeitos especiais nas mais chinfrins, porém interessantes de se manter. O futuro se transforma em passado muito rapidamente.

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