Pesquisar este blog

sábado, 24 de março de 2012

DIFERENÇAS

Conviver com as diferenças é uma arte, mas de difícil consecução. Fui testemunha de uma reação num tom por demais forte à exposição de idéias que uma amiga minha, jornalista, fez por intermédio do seu blog, sendo contrária às ações afirmativas baseadas no conceito de raça. Ela propunha que a política de cotas fosse vinculada à reserva de vagas para escolas públicas, não importando a cor ou credo que o postulante professasse.

Após ter exposto sua opinião, foi atacada como sendo racista, nazista e que tais. Isso, levando-se em conta de alguém que é neta de índios soa no mínimo estranho. Para mim mais ainda e não foi a toa que o lema que escolhi para o meu blog preconiza a troca de idéias, pois não somos detentores absolutos da verdade suprema. Cada um de nós vê uma determinada situação por um ângulo muito particular, um prisma diferente que deve ser respeitado, mesmo que contestado. Mais do que isso ter respeito pelo interlocutor faz parte do processo.

Ok, alguns de vocês poderiam se questionar que quando necessariamente aquele com quem entabulamos diálogo é alguém comprovadamente de má índole, como devemos agir. Não tenho uma resposta pronta para isso. As reações das quais somos pegos de roldão, incontroláveis mesmo, ditam em momentos extremos nossas atitudes. Ter um discurso consciente de como se portar é fácil, estando fora da situação em si. Mas se não tentarmos pelo menos...

Indo por este viés, não devemos nos deixar perturbar pelo destempero ou irracionalidade de terceiros. Devemos buscar sempre sermos ponderados, frios até, para dobrarmos aqueles que, em nossa visão, estão no caminho errado da estrada. Agora, que não podemos é nos furtar de ouvir a opinião alheia e, ainda mais, atacar de maneira vil aquele com quem se abriu um canal de comunicação. Taxar pessoas, encontrar seus defeitos, é a coisa mais fácil do mundo. Busque fazer um elogio e perceba a diferença!

Tal esforço ganha em dificuldade quando juntamos diversas cabeças para debater um único tema. Quantas foram as reuniões das quais participamos que se não se tem uma orientação, um foco, se perdem em debates inúteis, sem sentido e sem fim? Buscar parâmetros comuns numa miríade de idéias, ser neutro o suficiente – mesmo tendo aquela mosquinha interna que incomoda quando vê projetos estapafúrdios ganharem forma a sua frente sem ter como impedir – é uma ação para mestres zen do maior grau.

Mas, e se chegarmos a conclusão que não somos moldados para tal tarefa – conduzir discussões de maneira isenta, digo - o que fazer? Uma das alternativas é deixar o fluxo passar, não chamar para si a responsabilidade e colocar de maneira clara sua opinião de forma a contribuir para a tomada de decisão. É uma atuação mais cômoda, sem dúvida, mas se de maneira consciente se tomar esta decisão, não estaríamos contribuindo de forma muito mais efetiva do que ao tentar bagunçar um debate?

O maior cuidado com essa postura é não se deixar levar por um comportamento de manada. Se eximir de todo de expor sua opinião é até aceitável, por prudência ou por achar que ainda não possui os elementos suficientes para posicionar-se. Porém, corroborar decisões que considera equivocadas de cara, mesmo sem ter uma resposta contrária de pronto, parece mais casuísmo do qualquer outra coisa.

Enfim, este post não teria fim se fôssemos buscar na memória exemplos de condutas do que pelo que foi aqui explanado entendo serem as atitudes mais adequadas e as mais incorretas. Mas este não é o meu objetivo. Construir uma trajetória que permita olhar para trás e ter a tranqüilidade de dizer que se tomou uma decisão, expôs uma opinião, se contribuiu para um projeto de acordo com as informações que tinha a mão é a principal idéia aqui a ser incutida em termos de postura, respeitando-se as diferenças que possam vir em sentido contrário. Espero ter plantado esta semente em vocês. De outro modo, respeito a sua escolha, assim como peço respeito em relação à minha e a de quaisquer outros. Estaria eu sendo ingênuo demais?

2 comentários:

  1. O que seria da Sansung, se todos gostassem da Apple?

    Léo, o fato é que opinar é um exercício de coragem quando não estamos entre amigos. Além daqueles que não concordam - posição legítima -, há os espíritos de porcos de plantão e os que não entendem, mesmo.

    ResponderExcluir
  2. Susana, como quase sempre (vide sua opção pelos icoisas), está certa. Como a citada jornalista, euzinha, sabe muito bem, dar opiniões provoca reações. Porém, o pior é a intolerância. Este, sim um mal que assoma o mundo cercado de guardas da correção intelectual.
    Neste assunto, dois jornalistas que não gosto me deixaram grandes ensinamentos: Nelson Rodrigues e Paulo Francis.
    Sem entrar no mérito de que ensinamentos são esses, devo dizer que sou intelectualmente fruto de pessoas que não gosto. Parece confuso. E é.
    A unanimidade não só é burra, como emburrece. Gosto de me cercar de pessoas que não concordem comigo e de provocar a platéia com opiniões fora de consenso. É saudável, criativo, instigante e outros tantos adjetivos que resultem em novas ideias. Desde que sejam tolerantes.
    Conseguem identificar os dois jornalistas na minha luta contra as férias?
    Quanto ao comportamento alheio... bem, luto com minhas próprias armas. Aquelas que sei manejar. Não sei ser vil, desonesta, falsa. Então, enfrento essas situações colocando minhas idéias. Às pedradas vindas do lado oposto, que usa armas de destruição em massa, uso uma característica que forjei em anos de "diferença": a resiliência.
    Perder faz parte do jogo. Certo, Leo? O importante é que a nossa parte no jogo seja feita. Jogo escondido não é jogo jogado. É fraude.
    E, para concluir, mandou bem nossa amiga Susana. Há sempre os que não entendem... esses terão, sim, seus minutos de glória. Mas, uma glória efêmera e sem brilho.

    ResponderExcluir