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terça-feira, 13 de março de 2012

ÍNDIA X PAQUISTÃO - TACO PELA PAZ

Quando viajamos para países mais distantes uma das dificuldades que sofremos é a adaptação ao fuso horário. Não, eu não fui nem a Índia e nem ao Paquistão, pelo menos fisicamente. Porém pude sentir um pouco de sua alma na viagem realizada à Alemanha no ano passado. Explico.

Na tentativa de me adaptar ao fuso horário europeu – 5 horas à frente, chegada a hora de dormir, muito cedo para nós, buscava ligar a televisão, tida como um calmante sensacional, sintonizando no noticiário da BBC (British Broadcasting Corporation - http://www.bbc.co.uk/portuguese/), famosa rede de radiodifusão britânica. Por intermédio desta pude acompanhar dia após dia a evolução do campeonato mundial de críquete. Este esporte tipicamente anglo-saxão foi espalhado pelas antigas colônias inglesas, se tornando em algumas delas a principal atividade esportiva. E não foi diferente com Índia e Paquistão, duas das potências no que se refere a este passatempo que nos remete ao taco que por vezes é disputado em nossas ruas.

A maneira mais fácil para o brasileiro entender o cricket é por meio da semelhança com o taco ou betes, que parece uma forma simplificada do jogo inglês. O princípio é o mesmo: o arremessador tem que derrubar a "casinha" ou wicket, e o rebatedor tem que bater a bola e correr até o outro wicket para marcar pontos, ou runs.
Mas, enquanto o taco é jogado em duplas um time de cricket é formado por 11 jogadores: dois rebatedores, os batsmen, e onze fielders no campo tentando impedir que a equipe da vez (a que rebate) complete as runs, e tentando eliminar os rebatedores. Além de derrubar a casinha, o rebatedor pode ser eliminado se a bola for pega no ar; ou se a wicket for “quebrada” antes de os rebatedores chegarem a ela ao tentar marcar suas runs A equipe da vez tem que marcar o maior número de runs possível, enquanto o outro time tenta eliminar dez rebatedores. Uma vez que todos esses rebatedores são eliminados, os times trocam de posição, passando a rebater o que estava arremessando e a arremessar o que estava rebatendo. O vencedor é o time com o maior número de runs ganha o jogo. (grifo nosso)
Fonte: http://www.brasilcricket.org – acessado em 13 de Agosto de 2011

O que mais chama a atenção neste contexto específico é o poder que o esporte tem para trazer o congraçamento entre povos que se vêem como inimigos históricos, por conta de suas disputas territoriais (1). A vitória indiana nas semifinais, com 260 runs contra 231 dos paquistaneses, foi o que menos importou nesta partida disputada em Mohali, Índia, no final de março/2011 – esta acabaria se tornando campeã mundial, posteriormente. O mais impressionante foi a percepção de paz entre as duas equipes, sem nenhum tipo de embate mais sério, assim como o respeito e a visão de ali estavam apenas adversários, e que terminado o jogo a vida seguiria e ambos poderiam se relacionar como amantes de uma mesma paixão.

Ou seja, em meio as minhas tentativas de buscar o sono, pude me deixar tocar e emocionar pela observação de que o mundo pode ser melhor se deixarmos os seres humanos identificarem o que têm em comum, não importando as suas nações. A amizade pode ser construída quando todos percebem que professam a mesma fé do bem querer, que a disputa esportiva prega. Esta tem como base também o respeito ao adversário, vendo-o como um próximo que apenas adora se divertir e se distrair com o mesmo jogo que o “outro”. E por que não se distrair juntos, voltando ao espírito de crianças que se encontram nas ruas para mirar a lata do adversário e ao final rirem uns com os outros?

O clássico aperto de mão, símbolo máximo da paz.

Lembro-me de jogando taco nas ruas de São Francisco, em Niterói, quando Chaves, grande amigo, fez questão de “profissionalizar” um pouco o jogo produzindo um taco com empunhadura de borracha na oficina do pai, JJ. Pois bem, no primeiro dia em que ele apareceu com aquele taco todo modernoso, este foi emprestado para que Maguila, um “do bando”, pudesse jogar. E não é que já na primeira partida o taco foi quebrado ao meio, após ter batido no chão. E vocês pensam que houve uma briga por conta disso? Não, estávamos ali para nos divertir, para rirmos das caras uns dos outros, e foi isso que efetivamente fizemos, exalando a alegria típica de uma época sem maiores preocupações. Pois foi essa a lição que indianos e paquistaneses nos apresentaram nesta disputa do Mundial de Críquete. A de que podemos ser pessoas melhores se efetivamente deixarmos algumas “questiúnculas” de lado.

(1)      Muhammada Ali Jinnah, com o apoio da Liga Muçulmana, por ele fundada em 1916, lutou ao lado do Partido do Congresso Indiano contra a dominação britânica e reclamou, a partir de 1940, a criação do Estado Islâmico do Paquistão, separado da Índia, para agrupar os muçulmanos do subcontinente indiano. O princípio da partição foi aceito pelo Partido do Congresso e pela Liga Muçulmana em 1947 [...], ficando aos Estados principescos a liberdade de escolha. Dois deles, Hyderabad e Caxemira, questionaram o princípio da partição e foram anexados pela Índia, sem o reconhecimento pelo Paquistão. [...] A questão da Caxemira continuou sendo uma fonte de tensões entre a Índia e o Paquistão, que entraram em guerra em 1965, sem resolver o problema. [...] As tensões com a Índia cresceram no primeiro semestre de 1998, com a realização de testes nucleares pelos dois países, fato que causou sérias preocupações na comunidade internacional quanto às conseqüências de um possível conflito militar na região.
Fonte: Grande Enciclopédia Larrousse-Cultural – Editoras Larrousse (1995) e Nova Cultural Ltda (1998) – págs. 4430-4432.

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