Pesquisar este blog

sábado, 31 de março de 2012

O FUTURO DA HUMANIDADE

Um livro, quando classificado de “auto-ajuda”, ironicamente carrega junto consigo uma pecha que tende a colocá-lo no nível de literatura de baixa qualidade. O leitor tem duas opções quando se depara com esse dilema: por princípio, jamais os compra; ou por curiosidade, os compra e deixa os sentimentos decidirem por si próprio se valeu à pena.

Este debate resvala perigosamente em outro que vira e mexe assola a nossa sociedade, que é a diferenciação entre programas audiovisuais de alto nível e os Reality Shows. Digo isto porque em ambos os casos acaba-se estratificando a audiência – no primeiro caso, os leitores, e no segundo os telespectadores- entre aqueles que aceitam qualquer coisa e os de “faro” mais apurado, intelectualmente falando.

No meu caso particular, não tenho porque esconder que paradoxalmente fui um apaixonado espectador das primeiras edições do BBB, enquanto até bem pouco tempo evitava com afinco ler os livros de auto-ajuda, em que pese minha característica de leitor compulsivo do que me venha à mão. Muito recentemente tal barreira psicológica caiu por terra, e tive a possibilidade de vivenciar algumas idéias transpostas para tais livros com o intuito de dar algum alento às pessoas que imaginam necessitar (1).

Um dos quais tive oportunidade de ler foi “O Futuro da Humanidade” – Augusto Cury – 251 págs – Ed. Sextante – 2005. O autor alia nesta que é a sua primeira obra de ficção, o manuseio correto das palavras para expor na boca do personagem principal, um psiquiatra denominado Marco Polo, suas principais propostas e teorias de conduta para o ser humano estar voltado ao bem-viver (2).


 
O fio condutor gira em torno da formação de Marco Polo como profissional da psiquiatria, tendo uma trajetória um tanto quanto heterodoxa, ao aplicar diretamente ensinamentos obtidos em função de sua convivência com um mendigo chamado Falcão - para alguns parecerá uma inspiração talvez buscada diretamente do Profeta Gentileza. A narrativa aponta para a luta cotidiana de se implantar no cotidiano um olhar mais humano em torno dos moradores de rua e doentes mentais, rejeitados pela sociedade por seus distúrbios psiquiátricos, ao invés de simplesmente colocá-los a margem, lidando com os mesmos via tratamentos químicos puros, sem se buscar a razão, as mentes brilhantes e o equilíbrio que estariam soterrados abaixo de histórias de sofrimento em seu passado.

Para tanto o verbo central é “contestar”, não aceitar receitas prontas, dialogar e argumentar, sempre com o intuito de elevar a consciência do papel que cada um de nós pode exercer no futuro da humanidade. Obviamente, levando-se em conta a sociedade materialista em que vivemos, o choque de se colocar o ser humano no centro de nossas vidas ao invés do ganho financeiro imediato e egoístico é um baque duro para uma grande parte das pessoas. Não por culpa delas, mas sim porque todos estão contaminados pelos parâmetros com os quais, no passar dos séculos, a comunidade em que estamos inseridos se pauta.

Para finalizar, vou exemplificar contando três histórias, demonstrando inclusive como eu mesmo cometo atos falhos que demonstram nossa maneira, hoje em dia, enviesada de se observar o mundo ao redor. Na semana em que li o livro ocorreu a queda de três edifícios no Centro do Rio de Janeiro, ceifando a vida de cerca de três dezenas de pessoas. Em meio aos inúmeros relatos jornalísticos daquela ocasião, um me chamou a atenção. A repórter colocou que a queda se deu próxima ao Teatro Municipal, que havia recém passado por uma reforma. Ela afirmou que, Graças a Deus, o teatro não havia sido atingido. Naquele mesmo período, observo um pai que acompanhava o filho brincando com um tablet. O garoto quase levou um tombo, distraído que estava com o novo brinquedo eletrônico. O pai deu um grito, ao que o menino respondeu que estava tudo bem, que ele não havia se machucado. O pai, então, retrucou: “Você se machucar é o de menos! Imagina se tivesse quebrado o computador novinho!”. Por último, o meu próprio caso. Ainda durante aqueles dias, o Rio de Janeiro vivia o fim-de-semana de estréia do musical Xanadu (3), no Teatro Leblon. Numa das cenas, os atores Thiago Fragoso e Daniele Winnitz sobrevoam a platéia pendurados por cabos de aço. Justamente na noite de sábado – ou seja, numa das primeiras apresentações – os cabos se romperam e os protagonistas ficaram seriamente feridos. Sabe qual foi o meu comentário imediato ao saber do ocorrido: “Que pena! Eu estava tão interessado em ver a peça. Não vai dar para ser agora”. Cai o pano!

Espero, sinceramente, que o nosso futuro em sociedade seja pautado por outros valores. A continuar assim, talvez não tenhamos muito que lamentar, pois simplesmente não existiremos. Estaremos erradicados da face da Terra muito antes do colapso do Sol.

(1)    É interessante que, se ao observar de maneira desapaixonada, todo o raciocínio acima exposto pode, de alguma forma, ser aplicado a um clássico da literatura mundial, como “O Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupéry.
(2)    Uma das coisas que me desanima nos livros de auto-ajuda é a pretensão, de alguns deles, em vender um modelo. No caso de Cury, isso se dá no pósfácio, quando se indica a possibilidade de se interagir com o mesmo por intermédio do Instituto Academia da Inteligência – www.escolainteligencia.com.br , entidade criada pelo autor com o objetivo, como pelo próprio descrito, de “preparar os alunos para serem pensadores e não repetidores de idéias [...]”.
(3)    Peça inspirada no filme homônimo de 1980, que teve a participação de Olivia Newton John. Para mais detalhes ver http://www.cineplayers.com/filme.php?id=1945 .

Sugestões de filmes, que podem ter servido como referência e inspiração para Cury em sua obra:
  • “Hair” – 1979 – “Claude (John Savage), um jovem do Oklahoma que foi recrutado para a guerra do Vietnã, é ‘adotado’ em Nova York por um grupo de hippies comandados por Berger (Treat Williams), que como seus amigos têm conceitos nada convencionais sobre o comportamento social e tenta convencê-lo dos absurdos da atual sociedade. Lá Claude também se apaixona por Sheila (Beverly D'Angelo), uma jovem proveniente de uma rica família” - http://www.interfilmes.com/filme_13511_hair.html .
  • “O Jardineiro Fiel” – 2005 – “Uma ativista (Rachel Weisz) é encontrada assassinada em uma área remota do Quênia. O principal suspeito do crime é seu sócio, um médico que encontra-se atualmente foragido. Perturbado pelas infidelidades da esposa, Justin Quayle (Ralph Fiennes) decide partir para descobrir o que realmente aconteceu com sua esposa, iniciando uma viagem que o levará por três continentes” - http://www.adorocinema.com/filmes/jardineiro-fiel/ .

5 comentários:

  1. Léo, a humanidade é muito estranha, mesmo!, a gente não se cansa de se espantar consigo e com os outros. Haja aprendizado! Beijos

    ResponderExcluir
  2. Acho que nunca vou me entender. Mas, tambem, de que valeria esse entendimento?
    Esse inusitado da vida eh que faz pessoas tao diferentes, com formacoes e origens tao dispares se encontrar regularmente em torno de uma mesa de almoco.

    ResponderExcluir
  3. Já me autoajudei com livros, mas concordo que a venda de um modelo é tudo neste gênero. Fico a me perguntar quantas vezes o Augusto Cury já deu mamadeira com roupa de trabalho a um bezerrinho numa bela área verde antes ou depois desta foto do post.

    ResponderExcluir
  4. Leopoldo, também me pego em situação semelhante, com meu filho, a cada brinquedo novo (e, em algumas ocasiões, caro) que ele ganha. Fico tão preocupado que meu filho não quebre o brinquedo que, por vezes,chego a tolir o divino direito dele brincar. Os valores têm mesmo que ser repensados. Tenho uma tia que tem uma tese interessante: "toda casa muito arrumada tende a ser uma casa infeliz". Acho que o que ela quer dizer é que para uma casa ter vida, é preciso ter coisas fora do lugar, ou seja, uma casa em que as pessoas vivem e desfrutam do espaço. De que valem os bibelôs e todos os objetos de valor na decoração (com tudo no lugar sempre) se as pessoas não podem gozar dos prazeres que o lar proporciona?

    ResponderExcluir