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quarta-feira, 13 de junho de 2012

COISAS DAS QUAIS SENTIMOS FALTA

Recebi no final do ano passada a dica de leitura e possível sugestão de escrita sobre um tema o qual o Sr. Cassius Medauar, jornalista free-lancer, teria elaborado. Ele escreveu um texto sobre as “Sete Coisas de que o Freela Sente Falta” – http://www.publishnews.com.br/telas/colunas/detalhes.aspx?id=66523 .

Inspirado pela abordagem então adotada, imaginei o que poderia escrever em termos similares. Uma alternativa seria produzir algo genérico, do tipo “o que eu sinto falta”. Mas, acompanhando o ponto de vista de que ele o fez a partir de sua experiência profissional, escolhi escrever com base no que um servidor público sente falta. Não sei se alcançarei o número de 07 coisas, mas farei um esforço pela minha inventividade.

(1)    Como servidor do Poder Executivo, sentimos falta da possibilidade de ganhar salários similares aos praticados no Poder Judiciário e no Legislativo. Porém, o senso de cidadão aponta, de modo contrário, por um maior equilíbrio de valores. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Antes precisamos fazer valer o reconhecimento por nossos serviços, o que leva ao segundo ponto;
(2)    Maior reconhecimento. O serviço público é uma área em que a máxima de que muitos pagam por poucos é válida para diversos campos, inclusive o financeiro acima apontado. Porém, o que me incomoda mais é que enquanto alguns literalmente “se encostam no balcão”, reforçando o estereótipo do servidor público que não quer nada com o trabalho, tantos outros, de grande dedicação à sociedade para qual trabalham, têm que agüentar os comentários do tipo: - “Ah, você é servidor público? Que vida boa, heim!?”. Poucos são os que vêem aqueles que chegam cedo e saem tarde, que dão sangue, suor e lágrimas para bem representar o Brasil e conduzir dignamente suas ações;
(3)    Algum tipo de Fundo de Garantia, como existe na área privada. Muito se discute a construção de algo nesse sentido, em função do impacto benéfico que poderia ter sobre as contas públicas caso isso minorasse o buraco da Previdência. Porém, pouco se evolui nesse sentido, pois o temor pela perda dos benefícios é maior do que a vontade de ter um instrumento deste tipo;
(4)    Algo que Medauar citou no seu texto e que temos em comum: trabalhar de bermudas. Ele se corrigiu ao final, falando que possui tal benesse por trabalhar em casa, mas os servidores públicos – e da área privada também – não o tem. Num país tropical como o nosso o Casual Day poderia ser pensado de maneira mais flexível, radical mesmo;
(5)    Estrutura. Um dos grandes dilemas do serviço público é como lidar para construir uma estrutura que beneficie aqueles que o buscam sem termos os melhores instrumentos de mercado para atender o contribuinte. Isso se reflete em função da Lei 8.666, que regula todo o processo de compras na área pública. A política da vitória do menor preço, sempre, contribui, por exemplo, para desvios de conduta. Recentemente foi divulgado como servidores mal-intencionados, de conluio com empresas privadas, podem burlar esta regra num processo licitatório. Caso nós tivéssemos a possibilidade, com o devido acompanhamento e transparência, de praticar a política de preço e qualidade do produto, com uma abordagem de custo-benefício, certamente a máquina do Governo poderia ter os melhores instrumentos – equipamentos, software, profissionais especializados para o desenvolvimento de um projeto, etc – para construir a melhor estrutura possível de trabalho;
(6)    O estabelecimento do exame psicotécnico como uma das etapas do concurso público. Levando-se em conta a indústria de concursos hoje em dia, mais e mais profissionais bem qualificados iniciam carreira junto ao Governo. Porém, também existem os chamados “Concurseiros Profissionais”, que muitas vezes são a semente daqueles servidores “de balcão” citados acima. E existem até mesmo os casos de loucura típica. O contrangimento em limá-los do trabalho quando do estágio probatório é tanto que estes são mantidos em detrimento da boa condução do trabalho – e da segurança dos colegas, algumas vezes;
(7)    Por último – e não é que eu cheguei ao ponto 7 – voar de executiva em viagens longas, a trabalho. Este privilégio é reservado apenas aos dirigentes máximos das instituições. Porém, muitos são os gerentes de nível médio que dedicam horas de trabalho em viagens de longo curso, representando os interesses do Brasil, e que têm que viajar de econômica, chegando “quebrados” para tal tarefa de alto relevo.

Entenderei perfeitamente as considerações contrárias ao que muitos já entendem como uma classe superprivilegiada. Isso faz parte do processo de reconhecimento supracitado – de longe, a meu ver, o ponto mais importante da lista acima, pois geraria benefícios sobre todos os demais apontados. Mas não podemos exigir que o contribuinte entenda a realidade de pressão e pouca estrutura com a qual convivemos. Diria, assim, que isto foi apenas um desabafo. E vida que segue, pois há muito trabalho a se fazer.

4 comentários:

  1. Léo, perfeito! Minha identificação maior foi com os ítens 5, 6 e 7, mas os demais - exceto bermuda -, assino embaixo.

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  2. Ai, estou me sentindo levemente culpada, pois se vc só escreveu agora sobre a sugestão q enviei no ano passado, imagino o backlog de sugestões q vc tem...!
    Sobre as 'coisas', acrescentaria:
    1. um sistema/grupo representativo menos "viciado": o termo não é exatamente esse, mas me refiro ao núcleos de base e associações de servidores. Td bem que o movimento sindical/trabalhista ficou perdido nos últimos anos, e fazer um movimento político sendo do próprio governo é complicado, mas sinto falta de uma visão mais inovadora (ai, esse INPI me contamina!); mais atual da realidade.
    2. Uma visão mais consciente/cidadã do próprio servidor com seu trabalho e sua classe. Na verdade, o tratamento e a visão do próprio servidor com os colegas é bastante defasado: desde a política de RH (e não é de catraca de q estou falando) até entre setores.

    Mas, acho q isso td está dentro dos pontos q vc abordou de certa forma. Espero mesmo q isso mude com o tempo, mas não demore tanto...

    *Sobre a bermuda, se aprovada, ia aparecer cada microshortinho...rs!

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  3. Leo, só agora vi este texto. Tenho um monte de outras coisas a acrescentar e comentar, mas não tenho tempo.
    Bota aí o item 8, então: tempo.

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  4. Tempo deve ser coisa que se compra na Tiffany e vem embrulhado naquelas caixinhas verde-piscina.

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