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domingo, 10 de junho de 2012

TOCA DE ASSIS

Já fui chamado de mestre do desapego. Em que pese gostar do título – e de elogios diversos, quem não gosta, até mesmo aqueles que dizem não gostar! – infelizmente não acredito ser merecedor do mesmo. Para avaliar essa questão deveríamos começar pelo que entendemos como “desapego”.

Na minha visão, desapego, para ser total, deveria ser a desvinculação irrestrita de tudo que venha a ser um bem material. Poucos podem, portanto, trazer essa alcunha para si. Mesmo os comunistas mais ferrenhos – Oscar Niemeyer, por exemplo – não se “desapegam” dos seus bens materiais. Continuam a viver nos seus palácios de cristal, pregando a igualdade entre os povos e distribuição igualitária de posses – desde é claro que tais não compreendam os seus já ditos palácios de cristal.

Mas aí, para não dizer que eu fui demais parcial na minha análise, o que o sistema capitalista tem a oferecer como contraponto? Aqueles que têm posses, digamos, “exageradas”, descobriram um grande veio para contribuir para a sociedade, muitas vezes – a maioria, digamos – com interesses fiscais e de conquista de consumidores para os seus produtos. São as atividades de cunho social que servem não somente como propaganda de suas empresas, mas como também para apaziguar almas conturbadas com seus ganhos, como dito acima, “exagerados”.

Ora, fiz acima dois retratos caricatos de situações extremas. O exagero no meu discurso tem o objetivo de demonstrar, claramente, que o desapego irrestrito é extremamente difícil. Assim como o ser humano é por demais complexo, com múltiplas facetas. Mas aí lhes pergunto: por conta disso, de não sermos completamente “desapegados”, devemos nos condenar? Claro que não. Mas também não podemos avocar para nós mesmos essa qualidade quase super-humana.

Digo a vocês, porém, que existem sim exemplos muito próximos desse perfil. Os franciscanos, uma ordem católica que prega a dedicação extrema ao semelhante, sem nada em troca, poderia ser um exemplo. Os críticos da Igreja Católica poderiam argumentar que eles seriam um instrumento de manipulação para sua própria propaganda, no sentido de atrair multidões com sua face de beneplácito extremo. Mas e se olharmos para os indivíduos engajados, será que eles têm realmente este tipo de preocupação?

Para tanto, sugiro a vocês que conheçam o projeto chamado “Toca de Assis” – www.tocadeassis.org.br . Localizada em diversos pontos do Brasil e até mesmo do exterior, é uma instituição na qual franciscanos respeitam de forma rígida os votos de pobreza, castidade e obediência, tendo como missão, além do aspecto religioso, cuidar dos pobres em situação de rua.

Pois bem, era aí que eu queria chegar. Quem já tentou sair da proteção do seu lar, com a iniciativa de buscar um diálogo com a população de rua, deve saber o quão difícil é esta empreitada, principalmente no aspecto emocional. E olha que eu estou falando de pessoas que se predispõem a fazer isso tendo a segurança de que voltarão para o seu ninho com toda a estrutura que ele pode oferecer. Então, o que dizer de pessoas que largam suas famílias, seus lares, para viver em abrigos simples, sem aceitar nenhum bem material para si, mas somente para a ordem, de maneira a criar um sustentáculo que lhes propicie a oportunidade de cuidar de moradores de rua? Muitas vezes passando noites em claro abordando esses mesmos moradores, tentando indicar-lhes um caminho de retomada da vida. Isso sim é desapego!

Olha, vou ser sincero, mestre do desapego, não, estou muito longe disto. Se eu puder, ao menos, seguir um pouco da filosofia de São Francisco, talvez eu esteja um centésimo próximo do exemplo que dei acima:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa , que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado;
compreender que ser compreendido,
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe
é perdoando que se é perdoado
e é morrendo que se nasce para a vida eterna...
Fonte: http://www.caminhosdeluz.org/A-116Ca.htm - acessado em 31/12/2011.

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