Vez por outra nos deparamos em relembrar os tempos passados e a imaginar os tempos futuros, e apenas administramos o tempo presente. Buscamos no nosso interior o poder de prolongar os momentos de felicidade e de apressar os momentos de tristeza, sem apurar a necessidade de simplesmente senti-los em sua plenitude.
O tema do controle do tempo volta e meia retorna, como sendo uma ambição suprema da humanidade. Fala-se em elixires da juventude, identificam-se novos métodos e cirurgias plásticas, adotam-se modelos de dietas e exercícios físicos em sua maior parte buscando atender um ego estético que cultivamos minuto a minuto, como se quiséssemos derrotar algo que está além de nossas forças.
Existem locais, porém, em que verdadeiramente nos sentimos parados no tempo, tal qual a Shangri-lá decantada no romance de James Hilton, datado da década de 30 do século passado, “O Horizonte Perdido” – Ed. Círculo do Livro, São Paulo – 254 págs.. Shangri-lá era uma cidade em que as pessoas não envelheciam, e viviam sua sabedoria com paciência, desfrutando de cada momento.
Aqui no Brasil poderíamos pinçar diversos exemplos disto. Tive contato com um deles por três vezes nos últimos anos: Conservatória, no interior do Estado do Rio de Janeiro. Aglomerado urbano que viveu seu auge no ciclo do café, hoje vive da fama de ser a “cidade das serenatas”. Composta, em seu núcleo central, por duas ruas principais apenas, sente-se no ar o seu ritmo mais vagaroso em saborear o passar do tempo. Tem como principal atrativo turístico uma série de pousadas e hotéis fazenda que sugerem os mais distintos tipos de lazer, desde os mais agitados, em que se podem curtir gincanas e brincadeiras que mais agradam às crianças que aos adultos, como também se podem encontrar estabelecimentos que têm como principal ambição apenas o descanso integral, o lagartear ao sol sem nada mais fazer, à beira da piscina.
Algo em comum é a dificuldade, por incrível que pareça, de acesso à internet e ao contato via celular. Identificar um ponto onde a banda larga funcione a contento é uma pescaria daquelas dignas das feitas em alto mar, muito diferentes dos pesque-pagues que existem por lá. Outro aspecto é a fartura em termos culinários, com todos os empreendimentos buscando superar os dotes caseiros sabidamente reconhecidos em nossas progenitoras maternas.
Na minha última passada por lá, por motivos profissionais, tive a experiência de contato com quatro animais: o cão vira-lata, doido por um colo para se encostar; galos e galinhas, fugindo da chuva e se demonstrando incomodados com a invasão que parecíamos representar ao terreno de sua propriedade; um sapo chamado “Jorge”; e passarinhos que vinham enfeitar as refeições diurnas, quer seja o café-da-manhã ou o almoço, invadindo, de maneira esvoaçante, o restaurante do hotel em que nos encontrávamos.
Cada um deles pareceu dar o seguinte recado: aqui não há necessidade de pressa. O tempo é mais vagaroso, se apresenta como um deleite para ser desfrutado. Isole-se do resto do mundo e curta natureza. Devo confessar, porém, que sou um ser urbano. Já me deparei com aquele questionamento clássico – mar ou montanha? Normalmente opto pelo mar, com uma especial exceção à Petrópolis, cidade que aprendi a admirar.
Digo isto e acrescento ainda – não consigo viver isolado. Estar num lugar em que o celular não funciona de maneira adequada, que a internet vive caindo, e que a TV a Cabo é uma raridade, não combina exatamente com a minha idéia de paraíso. Ainda mais se for acompanhado de mordidas de pernilongo! É fato: o tempo passa a incomodar mais que apaziguar quando estamos com uma coceira braba!!!
Para mais detalhes sobre Conservatória ver: